SIGA AS SIGLAS DOS SISTEMAS INFORMATIZADOS

      sexta-feira – 12/fevereiro
     A minha geração é do tempo da pedra lascada no serviço público, somos da Era da Revolução Mecânica, das geniais máquinas de datilografia e até das calculadoras das quatro operações totalmente mecanizadas, antes da incorporação da eletricidade na genética das máquinas.
     A transição para os primeiros computadores, através do editor de texto “Carta Certa”, do programa de banco de dados “Dbase” e o gerador de planilhas “Lótus” e ainda o gerador de interfaces gráficas “Dialog”, foi um processo traumático. Os computadores, por incrível que possa parecer aos jovens, ainda não possuíam grandes memórias próprias, não tinham ainda inventado os poderosos discos rígidos (HDs); tinha-se que introduzir os disquetes bolachão (os de 5.1/4” flexíveis, antes da última versão de 3.1/2” também já extintos) para carregar primeiramente o próprio sistema operacional (DOS), depois colocar o disquete com o programa que se queria utilizar e, finalmente, introduzir outro disquete para arquivar o trabalho gerado pelo usuário. É, essa gurizada não tem noção do que passamos para chegar até aqui: a Era dos Lap-Tops & Celulares IPhone.
     Naturalmente que alguns de nós tiveram mais dificuldade do que outros para esta adaptação às novas ferramentas de trabalho, com a agravante que elas evoluíam alucinadamente rápido, tanto em termos de hardware como de software, até o mercado mundial ser monopolizado pelos produtos da Microsoft com o Word, o Excel, o Access e, mais recentemente, com o PowerPoint.
      Em paralelo aos chamados computadores pessoais (PCs), desenvolveu-se também os sistemas interligados coorporativos para conectar em rede os microcomputadores, como se chamava na época. A partir daí foram se instalando programas específicos para os usuários de cada área de trabalho (Terminal Procempa –AMT - GPA - MAN), os quais se tornaram fonte de um novo tipo de problema crônico da informática, que é o fato dos programas não se comunicarem entre si, constituem ilhas de informações rodeadas de perguntas sem conexão às respostas por todos os lados. E quanto mais o tempo passava, mais proliferavam estas soluções segmentadas de manipulação das informações.
      Mesmo com o advento mágico da internet, esta tendência se manteve crescente, tal como podemos visualizar ostensivamente na página da Intranet do DMAE a lista de Sistemas Informatizados necessários para realizarmos rotineiramente nossas tarefas gerenciais: PSI (REM – SDO – GOR - SER), SCA, SIGA, SIGES.
     Diante das novas e desafiadoras realidades virtuais que se descortinavam, desenvolveu-se uma cultura de cooperação mútua entre os funcionários da área operacional, setor mais “chão-de-fábrica” industrial do Departamento, de modo que aqueles que tinham maior facilidade de adaptação servissem de “suporte de informática” aos demais, como um reforço aos cursos básicos que o Departamento promovia. A propósito, uma das minhas atividades funcionais atualmente tem sido de “Supervisionar a Gestão dos Contratos de Terceiros da Manutenção”, ou seja, supervisionar significa desenvolver e manter controles junto com os gestores, paralelos aos dos grandes sistemas, dos valores empenhados e faturados dos contratos da DVM. Em suma, supervisionar quer dizer “dar suporte técnico informatizado no âmbito interno” para se lidar com a parafernália de Sistemas e modos operantes peculiar de cada um deles.
      Nos últimos anos, por exemplo, entre outros tantos sistemas que inventaram, tem um doméstico da Superintendência de Desenvolvimento denominado SIGA (Sistema de Gerenciamento Administrativo) que foi determinado que teríamos que utilizá-lo, ou seja, entrar com os nossos dados de contratos e faturas nele. Resistimos bravamente por dois ou três anos, por percebê-lo como sendo um re-serviço totalmente inútil, que não agrega nenhuma informação consistente da nossa área de trabalho. Mas, como “ordens são ordens” e “manda quem pode e obedece quem precisa”, passamos a “jogar” os dados pedidos para dentro do tal programa, ressentidos como quem carrega água em peneiras morro acima e não tem pra quem argumentar contra esta determinação e, ainda, tendo que silenciar sobre esta distorção imposta de contrabando da área do planejamento e obras para a área operacional do DMAE.
      Este é apenas um exemplo, pois há vários SIGAS que funcionam como verdadeiros Sistemas Ininteligíveis de Gestação de Atrofias Sistêmicas, não só pela PMPA afora, mas também, como pude constatar na Caixa Econômica Federal, por toda a gestão pública nacional. PERSIGA os Sistemas: SIGA em frente que atrás vem gente, é a máxima coorporativista reinante. SIGA apertando parafusos que é esta a tua função. SIGA cumprindo ordens, que elas vêm de cima e lá, como no céu, se imagina que deve haver seres com capacidades superiores pensando o que realmente é o melhor para todos.
      O problema é que somos de uma geração em que as decisões estavam no seu âmbito e que fazia com as próprias mãos os desenvolvimentos das soluções; nós éramos os sistemas e as engrenagens. Imersos neste nível de envolvimento e conscientes de que prestávamos um serviço público à comunidade portoalegrense, suávamos a camiseta do DMAE pelo sucesso da nossa equipe de trabalho. Hoje em dia os Sistemas da concepção de mundo do estilo BigBrother tornam todos meros espectadores das decisões, e fazem nos sentir pequenos e impotentes diante do Grande Cabeção do Sistema Central Informatizado.
      Como somos de um outro tempo, só nos resta continuar dando suporte aos colegas enquanto aguardamos o apito final da nossa participação nesta partida, que já dura 36 longos anos, em que demos o melhor de nós com dedicação ao clube que servimos. Iremos, então, para a torcida da galera dos cidadãos de Porto Alegre e ficaremos torcendo para que a equipe de colegas que segue na ativa fabricando água potável e manejando o esgoto (neste serviço essencial para a cidade e para o planeta) SIGA em paz!

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