CANCÚN, O CARIBE DOS BRASILEIROS

Depois de invadir a Europa, o sonho de consumo da nova classe média brasileira é se banhar nas águas mornas e calmas do mar azul turquesa de Cancún, no extremo leste do México. E nós, mesmo sendo considerados pelo IBGE como membros da velha classe média, mas que só agora estamos realizando as viagens turísticas que demarcam o imaginário brasileiro (as praias do litoral nordestino, a natureza de Fernando de Noronha e as medievais velharias arquitetônicas europeias), também fomos nessa onda de cumprir o nosso roteiro em Cancún. Fomos através da CVC em comemoração aos meus 60 anos de idade, festejando a chegada da minha velhice e também inaugurando o novo estado civil do casal como de “velhinhos aposentados”: Magda y Yo estamos jubilados!
Viajamos para Cancún no início de dezembro contrariados, pois queríamos ir em fevereiro, no auge da temporada. Mas os preços das passagens aéreas estavam tão exorbitantes para aquele período do ano que quase inviabilizaram a viagem. Então, por já sermos aposentados e podermos viajar quando quisermos, pudemos flexibilizar a escolha da data da viagem até encontrarmos valores compatíveis. Fechamos um pacote de nove dias, com saída direta de Porto Alegre em voo da Copa Airlines, com conexão no Panamá, por cerca de seis mil reais por pessoa, incluídos três passeios. Na linguagem popular, o pacote turístico saiu pela bagatela de oito salários mínimos parcelados em dez vezes no cartão de crédito ao longo de 2015, como lembrancinhas nas faturas mensais da nossa viagem ao Caribe...
O fuso horário de Cancún é de menos quatro horas, ou seja, quando se está tomando café da manhã lá, já estão almoçando por aqui; quando está se jantando nos hotéis “all inclusive” (com comida e bebida, tudo incluído e liberado), o pessoal aqui já está dormindo pesado. O problema não é o fuso horário, isso as redes sociais, o WhatsApp e a internet resolvem; o problema começa quando tardiamente nos damos conta da inversão das estações do ano: enquanto em dezembro estamos entrando no verão aqui, em Cancún está começando o inverno. Percebi virtualmente isso no site da Vivo, quando ativava o roam internacional no celular, ao visualizar que o México não fica geograficamente na caliente  América Central, fica na fria América do Norte, junto com EUA e Canadá... Maus presságios. Sentimos na pele a grande decepção da viagem ao entrarmos eufóricos pela primeira vez no mar do Caribe: a linda água azul turquesa de Cancún é fria nesta época do ano! Imagino como seria em fevereiro, no auge do inverno caribenho.
 Lamento informar, mas não se tem muito como escapar desta cilada, pois no verão do Caribe mexicano, quando a água do mar efetivamente realiza nossos sonhos de consumo, de ser azul turquesa e quentinha, é também a chamada temporada oficial de furacões em Cancún (que vai de julho ao final de outubro). É também a época de chuvas na região. Por isso, o verão em Cancún é considerado de baixa temporada turística, e dizem que se paga preços bem mais baratos pelos riscos implícitos. Mas nem só de mar caribenho é feito o turismo local, aliás isso é o que menos fazem por lá. As praias privatizadas na zona hoteleira ficam praticamente vazias, enquanto as piscinas dos hotéis com serviços de “all inclusive” passam os dias lotadas e com programações diárias de recreacionistas. Tem também a opção de passeios a parques aquáticos naturais, como Xcaret e Xel-Há; e principalmente os passeios culturais às ruinas maias. Entretanto, conforme nos comentou o guia turístico nativo durante um passeio, apenas 8% dos turistas de Cancún visitam as pirâmides que ficam nas proximidades da região; preferem ficar ganhando peso nas piscinas dos hotéis, comendo e bebendo "all inclusive".

Não foi o nosso caso, pois nem entramos na piscina e, sobretudo, porque não nos adaptamos nada com os temperos das comidas mexicanas e nem com as versões mexicanizadas dos cardápios internacionais que ofereciam. Como não comíamos, também não tínhamos vontade de beber, nem tequila de graça. Com o passar dos dias a rejeição alimentar foi crescendo e, como cada hotel funciona feito um navio em alto mar, fornecendo tudo a todos, não visualizamos alternativas de como romper com o isolamento deste regime de dieta forçada em cruzeiro marítimo, e fomos nos alimentando cada vez menos até pegarmos, nos últimos dias, uma forte gripe com tosse, creio que em decorrência do frio intenso do sistema de ar condicionado em tudo que é lugar.

Mas antes disso, fizemos belos passeios. Fomos de barco à Isla Mujeres, onde só não nadamos com os golfinhos adestrados por termos ficado com pena dos bichinhos que vivem em cativeiros e trabalham várias horas para atenderem ao assédio de centenas de turistas todos os dias. Ficamos assistindo aos shows dos humanos surfando nos golfinhos, como se estivéssemos naquelas filmagens cinematográficas e televisivas dos famosos golfinhos de Miami.
Outro dia visitamos Tulum, ruínas de uma interessante cidade maia à beira-mar, protegida por muralhas e habitadas por enormes iguanas, onde depois de curtirmos relíquias arqueológicas e monumentos históricos, demos um mergulho no frio Caribe mexicano. Seguimos dali para o parque natural Xel-Há onde almoçamos e passamos a tarde vendo araras e peixe-boi.
 O ponto alto da nossa viagem, sem dúvida, foi o dia que conhecemos um cenote maia pela manhã e à tarde passeamos em Chichén Itzá. Cenotes são formações geológicas em que uma cratera enorme de terra cedeu e fica expondo águas subterrâneas profundas. Os cenotes do México eram usados em alguns rituais de sacrifício da civilização Maia. Hoje cenote é parte de um ritual de mergulho turístico cultural, onde mergulhei de corpo e alma!
Chichén Itzá é uma cidade arqueológica maia que funcionou como centro político e econômico da civilização maia. Estima-se que Chichén-Itzá foi fundada por volta dos anos 435 e 455 a.C., é da época do mais famoso trio grego: Sócrates, Platão e Aristóteles. As várias estruturas – a pirâmide de Kukulkán (El Castillo), o Templo de Chac Mool, a Praça das Mil Colunas e o Campo de Jogos dos Prisioneiros (os maias eram fissurados por jogos de bola!) - fizeram com que este reduto se tornasse patrimônio da humanidade e Chichén Itzá fosse eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno, junto com o Cristo Redentor do Rio de Janeiro.
A joia de Chichén Itzá é a pirâmide de Kukulkan.  Esta construção rendeu culto ao deus maia Kukulkan ("Serpente Emplumada ou alada”, na língua maia), construída no século XII d. C., cerca de 400 anos antes de Colombo e Cabral invadirem as nossas praias. Seu desenho em forma geométrica piramidal conta com nove níveis ou patamares (tempo de gestação da vida). Cada uma das suas faces alinha-se com um dos pontos cardeais, e cada lado contém uma escadaria central que termina no patamar superior onde fica o templo. A pirâmide servia aos sacerdotes como local para fazerem os seus discursos e que, mesmo falando em voz baixa, todos podiam escutar. O mesmo acontecia no campo de jogos. Isto nós pudemos verificar in loco: ao se bater palmas em frente a pirâmide ela responde com o eco que imita o canto de um pássaro da região; no campo de jogos, que os maias jogavam com bolas de borracha maciça, qualquer som emitido ecoa por sete vezes. Acreditem, eu vi e ouvi!
As pirâmides maias demonstram o domínio técnico da civilização maia na astronomia e arquitetura. A pirâmide de Kukulkan é um relógio solar. Cada um dos quatro lados contém 91 degraus que somados à plataforma superior, totalizam os 365 dias do ano. O mais fascinante dos mistérios da pirâmide dizem ocorrer nos dias do equinócio de primavera e outono (21 de março e 22 de setembro). Nesses dias, o sol nascente reflete os raios na escada da face norte da pirâmide e vai formando o corpo de luz  de uma serpente, degrau por degrau,  até chegar na parte inferior da pirâmide, onde  há a escultura da cabeça de uma cobra que é completada pelo corpo de luz. Neste momento, todos  podiam ver a imagem da deidade Kukulkan, uma serpente emplumada descendo a escada ( o reflexo da luz solar vai se apagando de cima para baixo) e a serpente vai desaparecendo como se penetrasse na terra para fertilizá-la. Um deus que pode ser visto duas vezes por ano é um poderoso rito, é de arrepiar!  Chichén Itzá é merecidamente uma das sete maravilhas do mundo moderno, nem tanto por sua beleza, muito mais por sua ciência e por conter segredos perdidos da civilização maia.

Talvez por predestinação astrológica nos foi revelado, meio sem querer querendo, por um xamã maia (que faz biscate como guia turístico em Chichén Itzá) o significado do mistério da profecia que teria anunciado o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012. A questão tem a ver com o sistema numérico dos maias que era “bidecimal”, baseado nos vinte dedos que temos.. A propósito destes assuntos iniciáticos, não contavam com a minha astúcia, tivemos uma aula de antropologia aprofundada e voltamos de lá como charlatães especialistas no tema. Resumindo, a numeração maia era representada por apenas três símbolos básicos: a bolinha (unidades de 1 a 4), o traço (=5 unidades) e a concha (=zero e que gera os múltiplos de 20 unidades). Consta, por isso, que eles foram os inventores do “zero”, um grande avanço praticado por esta civilização, pois nem a romana possuía símbolo para o zero. As combinações destes três símbolos formavam os números: 2 bolinhas sobre uma concha (2x20) = 40. Centenas é tipo 2 bolinhas sobre duas conchas (2x20x20) = 800. Simples assim.
 Porém o sistema numérico bidecimal dos maias tinha uma limitação operacional das combinações possíveis dos seus três símbolos numerais, ele só conseguia especificar de milhares de anos antes até a dita data fatídica. Depois disso, o sistema de contagem tem que ser reinicializado do zero: uma bolinha, duas bolinhas... Por concepção, de tempos em tempos deve se Iniciar um novo ciclo não só numérico,  sobretudo existencial. A conexão do sistema numérico maia com o universo ficou demonstrado pelos alinhamentos astronômicos de vários corpos celestes que ocorreram naquela data de 21/12/2012, de final de ciclo. Isso, isso, isso! - Como diria o Chaplin mexicano, Chaves Chapolin, que viveu e morreu em Cancún.

Alguns mistérios novos se introduziram da magia mexicana durante esta nossa viagem e voltaram em nossas bagagens vazias de compras e lembrancinhas, mas pesando mais que a pedra opsidiana que trouxe como amuleto pra minha coleção de amostras de rochas de um engenheiro de minas. Por exemplo, depois das treze horas de viagem POA-Panamá-Cancun (sobrevoando trechos da Amazônia, uau!) não paravam de acontecer coisas. Na chegada, ainda no aeroporto, perdi a única jaqueta que tinha levado; de cara no hotel Park Royal (em frente ao Shopping Isla) verificamos que o cofre do apartamento não funcionava e ao lado estava hospedado um nenê chorão... No dia seguinte, como eu estava contando no início desta narrativa, além da decepção da água azul turquesa ser fria, na ânsia daquele primeiro mergulho no mar do Caribe acabei perdendo na areia os meus óculos de aumento “fundo de garrafa” para enxergar os detalhes pequenos do mundo. Até aí, tudo bem, é do jogo de ganha e perde da vida. 

Mas o mistério é qual espírito maia fez com que eu levasse, como reserva, também o óculos antigo, de aumento já bastante insatisfatório, se nunca antes tivera esta premonição em viagens de que iria perder os óculos? Graças a esta misteriosa premonição, pelo menos pude continuar lendo os títulos dos cardápios e não ficar completamente às cegas durante o tempo todo por lá: salvou o veraneio. 
E não é que a jaqueta que eu havia perdido na chegada voltou para mim, trazida pelo motorista da van do receptivo do aeroporto para o hotel? Mas nunca pararam de acontecer coisas estranhas. No último dia, mesmo gripado e meio febril, decidi aproveitar para realizar o sonho de voltar a andar de jet-sky, já que por aqui passou a ser proibido para não habilitados. Na medida em que eu me aproximava do ponto de aluguel do jet-sky, os três equipamentos que estavam disponíveis entraram mar adentro na minha frente. Então, novamente algum espírito maia me soprou no ouvido que aquilo era um aviso para eu não pegar uma pneumonia na água fria daquela tardinha ventosa com chuviscos e aguaceiros. 
Cancún quer dizer “ninho de cobras” na língua maia. Pela quantidade impressionante de brasileiros que encontramos ocupando a zona hoteleira de suas praias e os points top de passeios, acabo este relato de viagem concluindo que no imaginário da nova classe média brasileira o Caribe se resume a Cancún, que é o ninho caribenho dos brasileiros. Mas fiquem espertos para escolherem o período e os objetivos certos para irem a Cancún, pra não caírem em ciladas e decepções que os façam voltar com a sensação de que faltou praia, que faltaram banhos de sol e de mar; pra não voltarem até achando ótimo Capão da Canoa.

MANIFESTO AOS ASSOCIADOS DA AEAPOPPA

Neste momento convém resgatarmos o histórico que em 2010 eclodiu uma crise interna da diretoria anterior, quando veio ao conhecimento público dos associados a grave situação financeira da AEAPOPPA, em decorrência das ações irregulares atribuídas ao então presidente da entidade. Devido à pressão do quadro social as eleições foram convocadas, na maior mobilização de todos os tempos na associação. Compareceram nas urnas 225 associados, sendo que com 80% dos votos foi eleita a chapa Renovação, composta por Antônio da Motta Gonçalves como novo presidente, tendo como vice-presidenta Silvia Fabbrin, como tesoureira Ângela  Vargas e como secretário Celso Lima, e mais os respectivos suplentes e membros do Conselho Fiscal, por um mandato de quatro anos.
Hoje, completando o quarto ano de mandato, exercido com uma gestão de austeridade e transparência, a atual diretoria conseguiu restabelecer o equilíbrio financeiro da associação que, inicialmente, estava com débito de cerca de cem mil reais, e que vai entregar a entidade com patrimônio financeiro superior a este valor, recurso que está sendo investido e gerando rendimentos. Possibilitamos assim que a AEAPOPPA comemorasse o seu “Cinquentenário” com orgulho de sua trajetória e realizações do passado, bem como com vigor para realizar conquistas importantes no futuro. 
Plano de saúde Unimed
No corrente ano a Aeapoppa foi multada pela Receita Federal por débitos com as contribuições previdenciárias de INSS relativas ao plano de saúde da Unimed, tributo que historicamente nunca foi pago e que nem estava computado nas mensalidades dos conveniados. Apesar de mais recentemente o STF ter reconhecido a inconstitucionalidade desta cobrança, continua sendo necessário que a Aeapoppa siga depositando judicialmente o valor mensal de  15% de INSS incidente sobre o valor de serviços prestados pela Unimed, até que ocorra o despacho final da justiça. Em função disto, a partir de junho/2014, as contribuições previdenciárias (que chegaram a ser descontadas dos conveniados como chamada extra por dois meses e depois efetuada a devolução destes valores), passaram a ser pagas exclusivamente com recursos da própria associação, recursos estes acumulados durante a atual gestão. Estes pagamentos estão sendo feitos na perspectiva de que serão resgatados posteriormente pela Aeapoppa, assim que os trâmites jurídicos institucionalizarem o acatamento do parecer do STF na forma da lei.
Alterações estatutárias
Depois de recuperarmos a AEAPOPPA e o Plano de saúde Unimed do colapso financeiro, também revisamos o estatuto da Associação com o intuito de corrigir as distorções e garantir a lisura, transparência e anuência de todos atos  administrativos. A atual diretoria visou preservar os direitos de todos associados em detrimento dos desvios de verbas e o nepotismo até então institucionalizado na entidade, inclusive restabelecendo o prazo dos mandatos de dois anos para as futuras diretorias eleitas.
Missão cumprida
Neste momento, a atual Diretoria declara que a sua missão, assumida em caráter emergencial lá em 2010, foi cumprida com sucesso, e conclama a todos os associados da Aeapoppa, especialmente aos conveniados da Unimed, a se mobilizarem novamente para comporem e elegerem uma nova diretoria também comprometida em manter a vitalidade da entidade e do plano de saúde.

Calendário Eleitoral para eleição da Diretoria da Aeapoppa em 2015
Em conformidade com a deliberação constante na Ata 26 da Assembleia Geral de 09/jan/2014, o mandato da atual diretoria se estende até meados de abril de 2015. A diretoria deliberou por estabelecer um período mínimo de um mês para que ocorra a campanha eleitoral das chapas inscritas, e definiu o seguinte Calendário Eleitoral de 2015:
- Realização das Eleições para a Diretoria e Conselho no dia 1º de Abril de 2015.
- Edital de Convocação das Eleições e nomeação do presidente da Mesa Eleitoral no dia 18/fevereiro/2015.
- Início das inscrições de chapas e da campanha eleitoral no dia 19/fevereiro/2015.
- Data limite de inscrição de chapas no dia 19/março/2015.
Conclamação aos associados
Considerando que nos meses de verão fica bem mais difícil reunir as pessoas, queremos colocar a sucessão na diretoria da Aeapoppa para ser discutida ainda neste mês de novembro/2014, tendo em vista que quatro anos de mandato demandou muito tempo e dedicação dos atuais componentes. Fazemos este Manifesto, não enquanto diretoria, mas como um grupo de associados, conclamando que outros associados assumam esta luta e não deixem a peteca cair. Para tanto, estamos marcando uma reunião e convidando todos aqueles que se identificam com a atuação do nosso grupo de trabalho, para construirmos outra renovação na diretoria da Aeapoppa.
Participe pela sobrevivência do Plano de Saúde da Unimed e dos convênios comerciais na Aeapoppa. Colega, saia da zona de conforto e venha participar agora para não lamentar mais tarde se a entidade for tomada por novos aventureiros:
Reunião em 24/11/2014 (2ª feira)
Local: Auditório Tatuzão do Dmae Moinhos de Vento
Hora: 17 hs.

Fizemos a nossa parte, a Aeapoppa 2015/2017 é você quem faz!

PLANO DE CARREIRA & EFEITO CASCATA

Saiu a Revista da Astec, edição especial em comemoração aos 20 anos da Associação dos Técnicos de Nível Superior do município de Porto Alegre, e estou nela. Eu não aderi à Astec na época, fundada no movimento pela GIT, e nem havia me associado até às vésperas de me aposentar. Entendia que as buscas por gratificações particularizadas era entrar no jogo divisionista das administrações. Os governos são adeptos da máxima maquiavélica de “dividir para governar”, sempre preferiram desenvolver uma política de remuneração por gratificações, concedendo vantagens a grupos de profissionais e achatando os reajustes salariais unitários para todos o corpo funcional. Política que após duas décadas resultou no desmantelamento do Plano de Carreira, cujos salários básicos quase não se diferenciam mais. Paciência, o velhinho rançoso aqui é do tempo em que se fazia movimento com unidade sindical da categoria na AMPA, a associação dos municipários, construída na luta pela redemocratização do país (da qual eu fui presidente da diretoria de fundação) e que, logo que a nova legislação permitiu a sindicalização dos servidores públicos, se constituiu no primeiro sindicato de municipários do Brasil, o SIMPA. Não é pouca coisa não!
 Mas, como um técnico científico, ainda que tardiamente, precisei reconhecer que as leis de Newton continuavam vigorando, e que toda reação ainda é causada por uma ação. Especialmente quando a maçã de Newton caiu na minha cabeça, no Movimento dos Capacetes Brancos iniciado em 2010, em que os Engenheiros, Agrônomos e Arquitetos da Prefeitura de Porto Alegre fizeram “capacetaços” em atos públicos. Protestavam pela implantação da Verba de Responsabilidade Técnica (VRT), que visava a equiparação salarial da classe com os Procuradores do Município, cuja mobilização acabou conquistando a Gratificação de Alcance de Metas (GAM), inclusive para nós, os cabeças brancas que já aposentaram o capacete. Assimilando os novos tempos, por solicitação da Margareta Baumgarten, então brilhante primeira presidenta da ASTEC, no meu final de carreira tive que dar o braço a torcer e me associar na entidade. Reconheci que a associação qualificou  politicamente a classe dos técnicos científicos, e que se consolidou como um fórum importante para aprofundar o debate das questões de interesse geral dos servidores municipais portoalegrenses.
Parabéns Astec pelos seus 20 anos de intensas atividades de lutas sociais, técnicas e culturais. Eventos, trabalhos técnicos, lutas e festejos que estão presentes nesta edição da Revista da Astec, que resgata um pouco da história (integralização de 100% da GIT em 2010) e contextualiza  as bandeiras de lutas e pautas atuais, tais como o Plano de Carreira e o Efeito Cascata. O ano de 2010 está na origem de todas estas questões, como veremos a seguir. Sei disso por que em julho de 2010 se consagrava o meu direito adquirido à absolvição do jugo do trabalho: data a partir da qual eu poderia dispor da minha Carta de Alforria para usá-la no momento em que quisesse. Havia fechado o número cabalístico 95 da previdência, da minha idade somada ao meu tempo de serviço, e poderia me aposentar finalmente. Havia recebido dois meses antes a minha última vantagem de fim de carreira, o meu último “avanço trienal de 5%”, não restando mais nada o que acrescentar aos meus vencimentos. Pelo contrário, só surgiam pela frente cada vez mais ameaças de perdas salariais, as quais não eram poucas e vinham de todos os lados.
 A partir de meados de 2010, ainda trabalhei mais seis meses pela esmola do  “Abono  Permanência”, mas com o regulamento embaixo do braço. Assim, se surgisse um bicho muito feio, antes que o bicho me pegasse eu correria até o Previmpa para cadastrar o meu pedido de aposentadoria, onde pensava que ficaria protegido pelo ferrolho do “direito adquirido”. Casualmente naquela época surgiram dois bichos papões de vantagens adquiridas bastante feiosos, que ameaçaram os aposentaNdos o suficiente para nos colocar em pânico. Um foi a ameaça de corte da insalubridade em decorrência da implantação do novo laudo da perícia no Dmae. Passado o susto inicial, a racionalidade voltou a imperar e tudo serenou sobre esta ameaça de perda salarial às portas da aposentadoria. O outro bicho papão, o do efeito cascata, foi anunciado pela própria SMA em seu informativo online: O Comitê de Política Salarial da prefeitura reuniu-se com representantes do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa). Dentre os temas tratados, o Simpa mostrou especial preocupação com a ação civil pública movida pela Promotoria Pública sobre o cálculo de concessão das gratificações adicionais e por regime especial (RTI e RDE) dos servidores municipais. O governo enfatizou, durante a reunião, que o tema da ação também é uma preocupação do executivo municipal.

O “Exterminador do Efeito Cascata”, bicho que se fez de morto de lá pra cá, agora ressurgiu de sua hibernação, faminto por devorar as vantagens salariais dos municipários. A pendenga se refere ao fato que o Ministério Público considerou irregular o cálculo de gratificações concedidas a servidores públicos municipais de Porto Alegre. Trocando em miúdos, o tal efeito cascata que pretendem exterminar se trata da incidência dos Regimes de Dedicação (RTI e RDE) sobre os avanços adicionais (de 15% e 25%) e às funções gratificadas incorporadas. Consideram que há vantagens incidindo sobre vantagens, o que constituiria um efeito cascata. Foi, já naquela época, o anúncio de um rombo bem maior do que todas as outras ameaças de perdas anteriores, pois o promotor pedia a revisão de todos os benefícios já concedidos anteriormente aos servidores ativos e também aos inativos. É o tipo de bicho papão que não adiantaria correr para o Previmpa e se esconder no pijama de aposentado, o danado iria pegar igual! 
A prefeitura foi notificada naquela ocasião para prestar informações ao juiz. O governo, através da Procuradoria Geral do Município, dizia estar elaborando a defesa jurídica para preservar os vencimentos dos servidores. Bueno, quatro anos depois aquelas assombrações, que julgávamos mortas e enterradas, reaparecem como zumbis nos meus e-mails me convocando para um seminário promovido pela Astec, no dia 29 de outubro, cuja pauta era o Plano de Carreira e o Efeito Cascata. Junto com meus colegas de diretoria da Aeapoppa fui no seminário, fui para me beliscar e conferir se o monstro acordou mesmo e se vai me pegar também. Quanto ao Projeto de Plano de Carreira, fiquei sabendo que também esta discussão se arrasta desde 2010, num longo lenga-lenga de etapas de projeto básico, entrevistas, diretrizes, e diagnósticos para chegar, sabe-se lá quando e como, na construção de uma proposta de plano de carreira de ascensão por competências, cuja elaboração está a cargo de uma empresa de consultoria contratada. Já vi este filme várias vezes!
Sobre a questão do efeito cascata, foi esclarecido que em 2010 o Ministério Público entrou com ação liminar contra o município (processo 001/1.10.0165223.2 no site do Tribunal de Contas), arguindo que as gratificações começassem a ser pagas sem o efeito cascata (os regimes de trabalho não incidindo mais sobre os avanços adicionais e funções gratificadas). Na ocasião a liminar foi negada, com o juiz acatando a defesa de que RTI e RDE têm nome de gratificação mas não são, em essência são renumeração das 20 horas de acréscimo na carga horária de trabalho semanal. E tudo continuou igual. Contudo o Ministério Público entrou com recurso e o Tribunal de Justiça julgou procedente, determinando que fosse cumprido no município a eliminação do efeito cascata. Esta é a notícia ruim, a administração acabou de entrar com uma apelação pedindo o efeito suspensivo, até que seja julgado em instância superior. Mas o caso vai para o STF, que em casos análogos já se manifestou contrário a este tipo de efeito cascata, tem mandado cortar o pagamento de uma vantagem incidindo sobre outra vantagem.
Portanto, sem margem de dúvida, é só uma questão de tempo, e calcula-se que de 20% até 30% dos vencimentos de muita gente vai ser engolido logo logo por este bicho papão dos salários dos servidores municipários. A expectativa é de que a administração municipal faça alguma mágica para evitar esta desgraça que está anunciada há mais de quatro anos. É preciso que o governo apresente uma saída, um “plano B” rapidamente! Por enquanto o truque que a Prefeitura estava ensaiando era o de tirar da cartola de um novo Plano de Carreira algumas pombas brancas para compensar as perdas de quem fosse atingido quando a cascata secar. Contudo, pelo andar da carruagem, este projeto está dando a pinta de ser mais um Plano de Carreira, como tantos outros contratados, a ser engavetado por falta de um consenso mínimo nos métodos e nas diretrizes, sobretudo por desembocar para votação em final de mandato e em ano eleitoral, lá por 2016. Até o Simpa parece que já saltou fora de remar nesse barco! 
No clima da gostosura de festa com jantar dançante do aniversário pelos 20 da Astec, da qual participei pela primeira vez esperando dançar agarradinho à moda antiga, dois pra lá e dois pra cá (mas só rolou ritmo bate estaca; kkkk), também o seminário da Astec nos deu motivos para festejar: Não há o pedido de efeito retroativo no acórdão, assim não teremos que devolver tudo o que recebemos desde 1998 (quando uma emenda na nova Constituição enquadrou como ilegal o efeito cascata), pois o tribunal considerou que os funcionários receberam de boa fé as “irregularidades”. E também ficamos sabendo no seminário de uma outra notícia melhor ainda, pelo menos para nós aposentados: Os inativos e pensionistas, por não constarem na petição inicial do Ministério Público, ficam excluídos dos efeitos da sentença desta ação; podendo virem a ser questionados em outra ação futura. O Lobo Mau vai primeiro papar os porquinhos ativos, que estão mais gordinhos com a ração fortificante fornecida a partir de 2012, com a Ampliação da Progressão Funcional que criou duas novas referências (letras E e F) e que destruiu com a ilusão de paridade que havia entre os ativos e os inativos Dinossáuricos. Assim, o bicho papão do efeito cascata não vai pegar os aposentaNdos que correram pra dentro do pijama no ferrolho do Previmpa, ou seja, os aposentados vão continuar ganhando as gratificações de regimes de trabalho incidindo sobre avanços e funções gratificadas (por enquanto)!...Já o pessoal da ativa, não querendo ser alarmista, é bom que se mexam rápido que o STF é fogo, já colocou muita gente graúda em cana: o bicho vai pegar mesmo!

FINAL DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE VOTOBOL

          Este pleito eleitoral de 2014 está sendo um campeonato com fortes emoções, ao contrário do Brasileiro de Futebol que desde o início do primeiro turno tem o mesmo time na liderança, mas também já teve na segunda posição vários perseguidores do líder se alternando entre si como o “menos pior” da rodada. Percebe-se que Minas Gerais está em alta no cenário nacional, não só com a equipe do Cruzeiro, mas também com a do Real que o Aécio Neves se apropriou, e com o time do Bolsa da família da Dilma Rousseff, ambos questionando reciprocamente o DNA de paternidade da cria do oponente.
             O clube Cruzeiro venceu o Campeonato Brasileiro passado e, assim como a Dilma do clube do PT, busca ser bicampeão agora. Ambos dispararam na frente e garantiram longa vantagem sobre os outros concorrentes. Diferente do Cruzeiro que segue tranquilo na ponta de cima da tabela, a Dilma viu a sua vantagem ser ameaçada quando, de repente,  a Marina Silva passou de reserva a titular do PSB, com a morte do candidato Eduardo Campos na primeira quinzena de agosto. A polaridade entre esquerda e direita, entre PT e PSDB, que já estava sendo administrada com tranquilidade pelo plantel  governista (que até já considerava a possibilidade de vencer no primeiro turno), foi substituída por um embate com uma oposição inesperada de dentro do campo da esquerda que ergueu a faixa em defesa da sustentabilidade ambiental no meio do jogo. Então, as pesquisas passaram a indicar um empate técnico entre as duas candidaturas, e a projetar a vitória da Marina Silva no segundo turno, com o tucano Aécio ficando fora da disputa.
          As estruturas tremeram, o que fazer? A temida tropa de choque petista iniciou então a guerra de guerrilha televisiva para a desconstrução da seringueira do Acre, com a candidata oficial tendo seis vezes mais tempo de TV do que a sua adversária aspirante à faixa de presidenta. Entre vacilações e jogadas baixas de um lado e outro, as rodadas de pesquisas do mês de setembro foram indicando a tendência de queda da Marina, até que nas vésperas do pleito em outubro o petismo conseguiu ressuscitar o abominável monstro das Neves, o Aécio, para disputar a vaga no segundo turno, por ser o adversário preferencial da Dilma, uma vez que o PSDB é freguês de caderno de perder para o PT. Foi assim que, numa virada emocionante, do ponto de vista das expectativas geradas, resultou das urnas como classificados para o confronto final os mineiros Aécio e Dilma (e o Cruzeiro?). Ele ungido pela histórica política do “café-com-leite”, com os votos de São Paulo; ela alicerçada na clientela cativa do Bolsa Família no norte-nordeste.
           O efeito do aquecimento eleitoral da Marina foi o de degelar blocos de eleitores dos dois polos, mais do polo da esquerda do que do da direita, para devolvê-los no segundo turno como torcedores na proporção inversa para cada polo, de modo a equilibrar a disputa num empate técnico no tempo regulamentar,  até que as cobranças das penalidades máximas pelo povo nas urnas no dia 26 de outubro defina o escore. A marola Marina foi novamente a sensação desta temporada eleitoral e pode ter sido decisiva para o resultado final do Campeonato Brasileiro de Votobol deste ano, ao contrário do anterior em que ela se omitiu de exercer o seu protagonismo no segundo turno. 
          Apesar de tudo, das besteiras e acertos que o governo petista fez, e sobretudo pelo que deixou de fazer para mudar o modo de se fazer política neste país, meu auto patrulhamento ideológico não me permite (ainda?) votar na direita. Ainda não consigo fazer isso, nem como sendo um mero cartão vermelho para que a esquerda vá para o chuveiro mais cedo, esfrie a cabeça e repense suas jogadas ensaiadas doutrinariamente.  Mas já consigo me colocar no lugar do outro, no caso, no lugar da Marina Silva. Se eu sofresse a patrolada impiedosa que os ex-companheiros praticaram sobre a protagonista da bandeira universal da sustentabilidade, luta que deveria constar na pauta de qualquer partido que se pretenda de esquerda, eu também iria querer manter este mesmo protagonismo no segundo turno. Respaldado nos mais de 20 milhões de votos recebidos, eu também jogaria todas as minhas fichas em promover a “alternância no poder” como uma forma de desarticular a corrupção daqueles que se mantêm no comando e aparelhando por muito tempo a máquina pública.
É compreensível esta postura da Marina, até por que a grande agenda política da nova gestão no Palácio do Planalto, além do feijão com arroz de manter as conquistas sociais do Bolsa Família e de promover o crescimento econômico, será a de fazer a famigerada Reforma Política.  Reforma que agora ficou mais encruada ainda pela composição do Congresso que emergiu mais conservador das urnas neste pleito.  Eu boto fé é no pé da moçada que promoveu o Movimento dos “Vinte Centavos” de junho de 2013, o maior movimento popular de povo na rua da história política deste país, pedindo mudanças, ainda que de forma caótica, por não se sentir representado por este caótico sistema político-partidário. Senão vejamos, no primeiro turno 39 milhões de brasileiros não assinaram a súmula para entrar em campo na cabine de votação. Apesar do voto ainda ser obrigatório, a alienação eleitoral mostra que no mínimo 27% da população não se sente representada nesta panaceia de democracia não participativa.
A propósito, faltou neste certame eleitoral a seguinte discussão: Qual é a reforma política que queremos realizar? De minha parte lanço aqui meia dúzia mais um pitaco: 1– Acabar com o financiamento das campanhas políticas feitas por empresas (pessoas jurídicas), que é a fonte nascente da corrupção. 2– Acabar com as coligações em prol candidatos majoritários no primeiro turno, que é a fonte da vertente que torna moeda de troca os tempos nos horários eleitorais, tornando os partidos pequenos legendas de aluguel dos grandes em coligações sem nenhuma unidade programática. 3– Acabar com o preenchimento das vagas nas eleições proporcionais pelo atual critério do “coeficiente eleitoral” por legenda, onde um candidato bem votado pode eleger vários nas suas costas com votações muito inferiores a outros concorrentes de outros partidos. 4- Acabar com a vaga de suplente de senador, brecha para que os grandes capitalistas patrocinem a campanha e se tornem senadores sem terem sido eleitos diretamente, numa jogada ensaiada do titular sair para exercer algum cargo no executivo. 5– Criação do voto distrital, onde cada deputado mantenha vínculos com a sua região eleitoral e possa ser cobrado nas ruas pelos eleitores de sua comunidade. 6- Resgatar o voto como um direito e não como uma obrigação, pelo fim do voto obrigatório, como uma forma de tornar o ato de votar uma atitude facultativa e menos sujeito ao cabresto. 7 – Que os votos nulos recuperem a honrosa condição de “Votos Válidos” na legislação, pois diferentes dos votos brancos, que significam “qualquer um serve”, os votos nulos protestam afirmando que #nenhumcandidatonosrepresenta! E você, caro (e)leitor, quais questões colocaria na sua reforma política?...
Será que o Cruzeiro e a Dilma Rousseff vão conquistar o bicampeonato, ou vai haver mais uma reviravolta na competição? No futebol, os perseguidores do líder (São Paulo, Inter, Grêmio, etc.) têm poucas chances, mas no votobol tudo pode acontecer, pois o Aécio está chegando empatado na reta da semana final desta campanha eleitoral. E se ganhar o Aécio, qual é o grande medo mesmo? O tucano vai ter que cumprir as duas agendas, a dele, de fazer do PIBinho um PIBão, e a do PT (tipo dando 13º e férias para os beneficiários do Bolsa Família), para poder chegar competitivo e tentar eleger o seu sucessor em 2018, sabendo que vai  enfrentar o bicho papão do Lula: o gigante vai voltar! Enquanto a Floresta Amazônica segue agonizando, passivo encerro esta catarse ficando com o consolo dos ditados populares que rolam de boca em boca nas arquibancadas pelos estádios padrões Fifa: Há males que vêm pro bem, e não há bem que nunca se acabe, nem que a vaca tussa! No fundo sabemos que outros campeonatos de futebol e de votobol virão, quem sabe com outros times e novos craques...


Marina e eu, os filhos da floresta

Sem querer me comparar à candidata presidencial Marina Silva, que só se alfabetizou aos 16 anos de idade, eu só consegui me desvencilhar do curso primário e ingressar no ginásio também aos dezesseis. Por consequência deste atraso, sem querer entrar no detalhe de suas causas pedagógicas, só fui concluir o curso científico (o atual ensino médio) aos 21 anos de idade e ingressar na universidade apenas quatro anos depois, e demorei 12 anos patinando para conseguir o canudo de engenheiro. Definitivamente não sou um bom exemplo de aplicação escolar para os meus filhos, a não ser o de ser persistente.
 A exemplo da Marina Silva, de origem pobre que saiu da floresta amazônica abrindo trilhas na mata e continuou sempre ampliando sua visão de mundo com o seu talento, guardada as proporções, eu saí das matas da FEBEM, no Morro Santa Teresa, e também procurei continuar sempre ampliando a minha capacidade de conquistar novos domínios culturais. Apenas que sempre fazendo meus versinhos, para não perder a poesia da vida jamais:
Hoje sou agnóstico e apartidário, mas confesso que me interesso pelas questões religiosas que envolvem a reencarnação neste planeta e acompanho o jogo político, vendo a política como um jogo de movimentação estratégica de peças por interesses. Quando pela primeira vez a senadora Marina silva, ex-ministra do meio ambiente do primeiro governo Lula, levou toda a sua história de luta amazônica (junto com o Chico Mendes) para o Partido Verde do Gabeira, eu tentei me iludir que estava se formando o tsuname da esperada Grande Onda Verde.
Como dizia a canção do Belchior: Nossos ídolos ainda são os mesmos, mas o novo sempre vem...Outras lideranças, como o presidente Mujica do Uruguai, estão surgindo para formar a Grande Onda Verde em defesa da sustentabilidade do planeta e contra a cultura de consumo desenfreado. Cada movimento político, em seu respectivo momento histórico, contribui para o avanço das sociedades. Na década de 1980 se construiu o partido dos trabalhadores, feito com caras novas que, contrariando todas as previsões, chegaram ao poder. Mas, ao se misturarem com as caras das velhas raposas políticas, ao final de três mandatos já não se distingue mais quem é quem.
 Por consequência do trágico acidente aéreo que matou Eduardo Campo, a substituição do incipiente candidato presidencial fez ressurgir Marina Silva que havia tido o registro do seu partido estranhamente negado pela justiça eleitoral, inviabilizando sua candidatura e a levando a ser vice do PSB. Ressurgiu de repente, por desígnio do destino, como uma pedra no caminho do continuísmo petista no governo. Estranhamente por que dezenas de milhares das assinaturas de apoio exigidas por lei foram impugnadas para justificarem a negação do registro do Partido Rede Sustentabilidade, talvez inclusive a minha. Ao mesmo tempo, o Paulinho da Força Sindical, como um auxiliar do governo, teve facilidade para fundar um tal de Partido da Solidariedade Nacional, imagina-se com quantas falcatruas nas assinaturas que foram amigavelmente toleradas pelo TSE. Enquanto isso, a reforma política pedida pelos movimentos de rua de junho de 2013 continua sendo apenas retórica nestes políticos e partidos que não nos representam e sim seus patrocinadores de campanha e corruptores.
Marina Silva ressurgiu das cinzas que a burocracia da chamada “Justiça Eleitoral” incinerou, como uma pedra no caminho, nem que seja só para propiciar um tropeço na soberba dos petistas que, mesmo com suas maiores lideranças presas por corrupção e desvio do dinheiro público, sequer admitem nem fazem autocrítica. Marina ressurgiu para provocar uma alternância no poder, pelo menos por um mandato, para fortalecer esta alternativa política e propiciar que o país supere de vez o cenário enfadonho da polarização entre apenas dois partidos, ampliando assim o leque de opções de escolhas para a população. Em apenas um mandato de alternância no poder já dá para desmantelar as conexões de corrupção estabelecidas como permanentes, conexões que ocorrem sempre em todos os governos que se prolongam por muito tempo dominando a máquina pública. Na próxima eleição o Lula voltará a concorrer como o legítimo artífice da ascensão petista ao poder, quando teremos um embate de titãs entre as duas maiores lideranças populares surgidas na redemocratização do pais: Lula Silva x Marina Silva.
Como brilhantemente escreveu a repórter Eliane Brum, OS SILVA SÃO DIFERENTES: Lula e Marina, os dois fenômenos políticos mais fascinantes da história recente, são filhos de Brasis que se desconhecem. Há uma ideia no Brasil de que os pobres são todos iguais. Ela explica a afirmação de que Luiz Inácio Lula da Silva e Marina Silva têm biografias parecidas – e a de que Marina teria sido a sucessora mais natural de Lula. Para chegar ao poder num país desigual como o Brasil, Lula e Marina fizeram uma travessia impressionante, uma espécie de jornada de herói. Mas as semelhanças acabam aí. Há enormes diferenças entre a trajetória de um filho de sertanejo que fez o caminho de São Paulo e se tornou operário e depois líder sindical, na região mais industrializada do país, e a trajetória de uma filha de seringueiro, seringueira ela também, na floresta amazônica, que iniciou sua carreira política em um estado como o Acre. Para alcançar a riqueza desse momento histórico do Brasil é preciso compreender que os Silva são diferentes.
Quando candidato, o operário metalúrgico era desconstruído por não ter escolaridade de nível superior e não dominar a chamada língua culta do país. A evangélica candidata tem sido desconstruída por suas limitações teológicas no campo científico da genética de células tronco e também na área dos comportamentos sociais, tais como na questão do aborto e da homossexualidade. Mas a defesa do meio ambiente planetário há de ser algum dia uma distinção inconfundível de racionalização da política e da vida!... A seca causando falta de água para a população de São Paulo não pode ser tratada como um mero acaso dos caprichos da natureza, a falta de chuva é notoriamente uma consequência direta do desmatamento na Amazônia. A Grande Onda Verde de produção e consumo sustentável é o sonho possível de ser sonhado hoje por nós, juntamente com os nossos filhos, como uma preocupação de minimizar a depredação da qualidade de vida dos netos dos nossos netos.
Ao fim e ao cabo desta eleição, poderemos dar continuidade às inovações no quadro político mundial. Depois da eleição de um negro nos EUA, de indígenas que assumiram o governo de países na América do Sul, de um operário na presidência do Brasil, da primeira mulher presidenta, poderemos apresentar ao mundo a primeira mulher negra no comando de um país com a maior população de negros fora da África. Assim caminha a humanidade...