VERGONHA: DMAE NÃO SEPARA O SEU LIXO SECO!

          Nos últimos 50 anos a população mundial duplicou e o consumo de água quadruplicou. Há um crescimento exponencial da população e a demanda de água cresce ainda mais devido ao aumento de consumo.
          É altamente meritória a campanha publicitária do Dmae com a frase “Eu bebo água da torneira”. Água servida direto das hidráulicas de tratamento, como a distribuída nos copinhos plásticos envasados pelo próprio DMAE, é beleza, sem problemas. Pelo menos em Porto Alegre não resta dúvida sobre a qualidade da água potável produzida. Todavia, nós todos sabemos que pode haver problemas na distribuição e no armazenamento da água nos reservatórios coletivos de condomínios e de residências particulares.

           A QUESTÃO DA ÁGUA ENGARRAFADA – que teve grande repercussão na internet  com a divulgação da “história da água engarrafada” ( link do vídeo legendado no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=AM9G7RtXlFQ ) – se tornou um monstro contaminador do planeta a partir da demanda gerada em conseqüência da possibilidade de poder haver problemas de contaminação da água durante a distribuição e no seu armazenamento antes de chegar na torneira. A questão, em última análise, se tornou crucial devido a destinação inadequada do lixo plástico gerado pelas garrafas descartáveis de água mineral que assumiu volumes catastróficos.
        A propósito, deu nos jornais na primeira quinzena de março de 2011 que a Coleta de lixo será monitorada pelos moradores da Capital que poderão controlar em casa os caminhões pela Internet e evitar que os detritos permaneçam nas ruas. O prefeito José Fortunati apresentou o novo sistema de rastreamento dos caminhões coletores na Capital, produzido pela Procempa, com o qual o DMLU poderá monitorar o andamento e informar a comunidade que poderá observar as rotas pelo mapa do Google.
       Fortunati lamentou o fato de a cidade ainda não separar bem seus resíduos. Apenas 100 quilos de lixo seco são separados entre 1,1 mil toneladas de resíduos domiciliares recolhidos ao dia em média. "Isso quer dizer que a maior parte das pessoas não faz o seu dever de casa. Temos que fazer mais", convocou o prefeito.

Que feio, senhor prefeito, pois nem a própria prefeitura  faz o seu dever de casa! Este é um tema que estava na minha pauta desde o início deste blog, aguardando um “gancho” para manifestar a minha indignação pelo fato do DMAE até hoje não ter implantado uma infra-estrutura para a separação do lixo seco. Um órgão de saneamento público, que busca a qualificação dos seus processos gerenciais, não se comprometer com a destinação dos lixos que produz, é como  dar uma declaração pública que não está minimamente comprometido com  proteção do meio ambiente e com o combate à degradação do planeta. Todo o esforço de reestruturação por processos do DMAE resulta como a velha e surrada pregação demagógica: façam o que digo mas não façam o que faço!
       Seguidamente sofro ironias dos meus colegas, que me chamam de Rodrigo (referente ao mendigo que coleciona garrafas plásticas no bairro Santana) por causa do meu hábito de recolher as garrafas plásticas que trago diariamente com a sobra de água mineral que compramos (minha mulher e eu) em nossos almoços pelos restaurantes da cidade (onde não bebemos refrigerantes!), a fim de levá-las vazias para poder dar em casa o devido encaminhamento como lixo seco reciclável na coleta seletiva.
       Lamentavelmente já estivemos mais próximos do que agora de adotarmos uma cultura de consciência ecológica junto ao quadro funcional do Departamento. No final da década de 90, época em que eu era Diretor da DVM, lembro que chegamos a implantar tonéis de lixo diferenciados para lixo seco e lixo orgânico nas dependências da Divisão. Todavia, como não havia coleta de lixo seco no bairro, dependíamos da DVE disponibilizar o caminhão de carregar container para transportar o lixo seco até um centro de triagem. Como um dia não tinha caminhão disponível e no outro faltava motorista, tanto furou o esquema, que regredimos todos à estaca zero do descrédito e da irresponsabilidade ecológica.
Mais de dez anos se passaram e nada foi feito. Outro dia, em outubro de 2010, vibrei de contente ao ver um comunicado na Intranet, anunciando que o “DMAE começa campanha para separação de resíduos”. Busquei saber mais sobre o assunto, como seria o processo  e de que forma poderíamos nos integrar e contribuir...Que nada, tomei um banho de água fria: era balela! Ainda não existe a chamada vontade política, por parte da atual administração (como também não houve das anteriores!), de realmente fazer a coisa acontecer, o que é um absurdo.
       Sei que há elogiáveis iniciativas isoladas de colegas em algumas divisões tentando fazer o que é possível, sem o apoio logístico institucional necessário. Calculo que cerca de 90% dos resíduos sólidos produzidos no DMAE sejam caracterizados como lixo seco, entretanto, contribuímos com todo este volume de material para entulhar por centenas de anos os aterros sanitários e os lixões, ao invés de estarmos fazendo o dever de casa que o prefeito cobrou dos cidadãos portoalegrenses.
      De minha parte, vou continuar fazendo o meu tema de casa em relação ao lixo gerado por mim, vou ter que carregar lixo seco pra casa até me aposentar.
       Como diria o caricato jornalista Boris Casoy:
- Isso é uma vergonha!

MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA - II

A SEGUNDA E MENOR METADE DA VIDA
         Ah! Os 50 anos que me espreitavam logo ali adiante, atrás das placas de sinalização de quilometragem desta auto-estrada de altíssima velocidade em que escoamos nossas vidas, já ficou para trás. Seus grandes olhos, outrora ameaçadores, já não se parecem tão impiedosos e cruéis. Nem os cabelos estão tão brancos, nem a pele está tão enrugada e nem a energia está tão esgotada, como eu imaginava que estaria quando o visualizava de muito longe deste ponto da linha do tempo.
Naturalmente que  para um jovem adolescente o horizonte longínquo dos 50 anos já significaria a extrema velhice do fim da vida, principalmente naquela época, antes das academias de musculação, das cirurgias plásticas, dos silicones e dos jeans que unificaram as indumentárias e rejuvenesceram a aparência de todas as faixas etárias. Imagine o que significava esta barreira do tempo para a minha geração que teve a forte influência literária do livro O Lobo das Estepes, de Herman Hess, cujo personagem central se havia prometido  a libertação das mazelas desta vida através do suicídio quando chegasse aos 50 anos. Eu próprio reli este livro várias vezes, em diferentes décadas de minha vida, mas não pretendo relê-lo agora para não dar mole aos fantasmas do passado.
          Como eu ainda nem consegui resolver o que eu quero ser quando eu crescer, uma coisa é certa, ao invés de fazer uma simples adaptação tipo “o que eu quero ser quando envelhecer?”, no mínimo preciso reformular esta crucial questão para: afinal, quem sou eu? O que eu realmente preciso para ser feliz nesta vida? Ao invés de suicídio, estou planejando um renascimento para uma nova vida com  a vantagem de poder aproveitar este corpo, esta vivência e esta identidade de Celso, sem precisar reaprender todo o básico de novo, desde o be-a-bá, em outra encarnação. Mesmo assim é preciso agir rápido, pois esta segunda metade da vida é geralmente menor que a primeira, pois poucos conseguem chegar aos 100 anos!
           Quem sou eu? Eis a questão! Como eu sou, como os outros me vêem e como eu gostaria de ser? Até então tenho sido um personagem mais Kafkiano do que Shakespeariano, me debatendo pela sobrevivência entre os pilares urbanos de uma sociedade medíocre, oferecendo a mais valia do meu tempo em troca de comida, diversão e arte. Mas será que, para quem sou eu, isto é felicidade? Após quase meio século de convivência íntima comigo mesmo (nem tão íntima assim), ainda não posso afirmar peremptoriamente que sei quem sou eu, mas algumas necessidades básicas minhas eu já posso enumerar com convicção. Não são muitas, mas estas poucas já definem algumas características peculiares da minha individualidade.

           Por ser uma “consciência solitária no universo”, tenho prescindido  de interagir mais profundamente com as pessoas em geral, tem me bastado ter uma interação com uma pessoa que me beije a boca, faça sexo comigo e que seja interlocutora inteligente e crítica para longas conversas. Pareço ser uma Consciência simples e modesta? É, mas o beijo e o sexo do qual preciso não são nada simples nem modestos, pois eles precisam preencher todo o éter da solidão partilhada a dois, no silêncio que há entre as longas conversas que também não são nada simples e nem sempre  tão amigáveis. E o amor? Também neste campo tenho algumas pistas recolhidas pelo caminho, pois a vida tem me propiciado a experiência do amor incondicional, esta relação umbilical com os filhos, em contra-posição ao amor conjugal que é extremamente condicionado e até conjuntural, conforme pude perceber  nos três casamentos que já tive até o momento. Se ontem fomos almas gêmeas,  hoje  podemos ser dois estranhos, quiçá, inimigos...
Ao entrar na segunda metade da minha existência, num tempo em que a humanidade toda estava se interligando pela rede de internet através da informática e a automação estava substituindo a mão de obra humana nas fábricas e escritórios, o meu espírito assustado quis compreender melhor o pensamento humano e, para tanto, conduziu a minha existência seguinte à de engenheiro para o outro extremo,  me levou a estudar filosofia por dez anos. Queria saber o porque pensamos o que pensamos sobre as coisas; saber o que é o pensamento, o que é o eu que pensa e o que é o corpo que contém o eu que pensa.... Haja Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Kant, Hegel, Nietzsche, Wittgenstein, Sartre e tantos outros para me fazerem compreender com serenidade as perspectivas possíveis de compreensão do sentido da vida e do desespero humano diante da morte.
Quem sou eu hoje? Sou este ser composto pela experiência acumulada de todas estas existências anteriores, que já foi tantos outros “eus”, mas que mantém o fascínio  e a persistência de continuar construindo a sua identidade e cada vez mais revelando as habilidades e as preferências naturais do seu verdadeiro eu (se é que haja algum eu definitivo e permanente). Hoje como aluno do Curso de Letras, trago a expectativa de que a Literatura possa vir a ser a minha última existência, a que me possibilitará  um estágio prático no Paraíso Ficcional das Idéias, de simuladas de inspirações divinas vivenciadas aqui mesmo na Terra. Caso contrário, se não for na literatura o último estágio de evolução do meu eu, por quantas vidas mais terei que perambular para assumir outras existências? Quantos outros “eus” terei ainda que ser?...
           Quem sou eu? – Um aposentaNdo que vive a expectativa de a partir de meados de 2011 ter tempo disponível para finalmente se dedicar ao que, mal ou bem, sempre fez ao longo de todas as suas existências: ler e escrever!
         Quem serei eu nos próximos anos? Serei um aposentado (ex-engenheiro) estudante de letras.

MINHAS TANTAS VIDAS NESTA EXISTÊNCIA - I

A PRIMEIRA E MAIOR METADE DA VIDA
       Quem é você? - É o primeiro questionamento didático formulado no curso para “aposentandos” (PPA) que a Prefeitura está ministrando para preparar o pessoal que está em vias de se aposentar, visando preparar-nos para a nossa “nova vida”. E as respostas de auto-definição dos “idosos alunos” sempre começam pela profissão ou cargo de cada um: eu sou engenheiro, arquiteto, professor...e trabalho em determinado lugar.
       As profissões e ofícios constituem universos específicos, com seus ambientes, linguagens, rotinas e personagens contextualizados no tempo e no espaço. No transcorrer das etapas da vida, é comum irmos mudando de profissão na busca de melhores salários e realização pessoal. Agora, com os meus cabelos brancos, quando estes períodos em que exercemos distintas profissões são relembrados à distância no tempo, parecem episódios de outras vidas que vivenciamos ao longo desta existência.
           Quem sou eu? – Já fui muitos e diferentes eus.
           No meu caso, o meu primeiro ofício foi o de gráfico, que durou dos meus treze aos dezoito anos, se bem me lembro. Comecei como ajudante geral da tipografia, uma espécie de Office-boy; depois passei a ser “impressor auxiliar”. O impressor de máquinas elétricas de operação manual era o cara que colocava com a mão direita e simultaneamente retirava com a mão esquerda folha por folha (de tamanho até duplo-ofício) de uma espécie de mandíbula de ferro que se abria e se fechava ininterruptamente, onde se imprimia como se fosse um gigantesco carimbo mecânico. Bastaria um vacilo do impressor, com relação ao tempo do ciclo de abre e fecha da mandíbula, para os dedos de suas mãos serem esmigalhados até a espessura de uma folha de papel.
         Só sei que passei por esta etapa e mantive todos os dedos intactos, inclusive do perigo maior que era a guilhotina elétrica, onde o impressor cortava as folhas de papel nos tamanhos desejados. Da minha experiência de auxiliar de impressor, evolui para impressor oficial de máquinas planas horizontais rotativas, que possibilitavam a impressão de folhas grandes tipo jornal, sem mais a ameaça das mandíbulas de ferro aos dedos do impressor.
            Mas nesta minha existência como gráfico não exerci apenas o ofício de impressor, aos poucos fui migrando para a profissão de tipógrafo. Tipógrafo era o cara que juntava, letra por letra, os tipos móveis feitos de metal (os mesmos de Gutenberg -1390/1468 - o inventor da impressa) e montava manualmente os textos das páginas para serem impressas, tais como cartões de visita, notas fiscais, folhetos de propaganda e pequenas revistas e jornais de entidades profissionais. Como tipógrafo não fiquei apenas como um amador, fui buscar especialização no curso profissionalizante do SENAI (onde o estudante ganhava metade de um salário mínimo ao longo de todo o ano, de uma empresa que o contratava e onde o estudante estagiava nas férias escolares: tenho carteira de trabalho de menor assinada por dois anos pela Livraria do Globo!), pois pretendia seguir carreira no parque gráfico e ascender ao mais bem pago ofício do ramo que era o de “linotipista”. Linotipista era o cara que fazia numa máquina sofisticada com teclado e caldeira, uma espécie extinta pré-histórica de computador da era do chumbo, o mesmo trabalho que o tipógrafo fazia manualmente, apenas que expelia frase por frase em linguetas de chumbo. Era uma máquina fantástica!
           Mas, antes de eu poder realizar o meu sonho profissional, veio o cataclisma evolutivo da impressão off-set que, praticamente, extinguiu com todos os ofícios dinossáuricos das gráficas; restando-me apenas a vaidade de ter sido em uma vida passada como o Machado de Assis: um tipógrafo.
         Na era seguinte, da eletro-eletrônica, naturalmente que reencarnei na minha adolescência direto no oficio de eletricista, buscando de imediato uma profissionalização na Escola Técnica Parobé. Esta foi uma vida de buscar entender como as coisas do mundo moderno funcionavam: do rádio à televisão, do telefone à geladeira e do automóvel ao avião.
          Andei perseguindo os elétrons pelas bobinas de fios dos transformadores e motores que movem a civilização para um progresso tecnológico que, na época, migrava do suporte eletro-mecânico para o eletrônico. De eletricista progredi para técnico em eletrônica, e continuei a perseguir, na era do silício, os elétrons que migravam dos circuitos valvulados para os transistorizados e, rapidamente, destes para os circuitos integrados e para o mundo pós-moderno dos chips.
          Ao mesmo tempo que compreendi os mecanismos digitais da modernidade, também compreendi que a aceleração avassaladora com que este universo se movia e se renovava era absolutamente incompatível com a essência contemplativa de minha alma. Não cometi nenhum suicídio, mas tratei de me transportar para uma outra vida em que eu me integrasse com mais harmonia.

        A minha vida seguinte como um jovem adulto, já num mundo de acelerados progressos tecnológicos e de grandes ameaças destrutivas do planeta, foi dedicada ao estudo e compreensão das entranhas da Terra. Busquei compreender geologicamente os seus sedimentos fósseis, sua ígnea formação magmática e suas metamorfoses através do estudo da exploração de suas jazidas minerais, ou seja, reencarnei como um aprendiz de mineiro, materializado como um aluno de Engenharia de Minas da UFRGS (assunto desenvolvido sob o título “EU & OS MINEIROS SOTERRADOS NO CHILE”, postado em outubro/2010 neste blog) .
        Após formado, já como adulto, aproveitei ao máximo o título de engenheiro para ganhar o sustento da vida trabalhando no DMAE por 35 anos com exploração de água, o que não deixa de ser um minério líquido aflorante a céu aberto na capital gaúcha.

O ARMANDINHO DENTISTA

           Hoje, parece que abriram os portões de todos os asilos de velhinhos, pois não parou de aparecer ex-colegas no Caminho dos Aposentados. Primeiro visualizamos o Olírio Liquinho passando pela calçada, abrimos a janela e gritamos para ele entrar, ao que respondeu lacônico:
- Não, se não vamos começar a relembrar e a ficar tristes! – E seguiu rumo ao Gabinete Médico.
          Depois usamos o mesmo expediente para o Nelson Schunck (pai do colega César Amarelinho) que entrou voluntarioso e nos contou detalhes da sua rotina de cuidar da esposa doente. Diz que começa suas atividades cedinho da manhã e fica envolvido com todas as lidas da casa, inclusive a feitura da comida, o dia todo. Não tem tempo pra nada!
         Em seguida apareceu o Gazo, um boa vida super bem conservado e humorado. Como eu, ele também é um homem casado que vive em casa separada da mulher (cinquentona como a minha); mas estranhamente para mim, porém, diz ele que nem viajam juntos!...
        Ao mesmo tempo apareceu o aposentado Mezari, pedindo para fazermos uma cópia da sua receita médica na nossa impressora multifuncional. Na verdade ele nunca foi dos quadros da manutenção, mas sempre jogou no time da EME (antigo nome da DVM), onde formou uma linha de zaga histórica com o Paulo Chatinho e o Juarez Lagartixa. Provocado, o Mezari lembrou a escalação completa do time, desde o goleiro Haroldo (o pai da miss Deise) até o centroavante Olírio.
          Por último, apareceu o Armando Severo, vulgo Armandinho Dentista, que estava desaparecido há mais de quinze anos. Ele era um cara popular no meio operário, especialmente pela camaradagem com que desenvolvia o seu trabalho; até que começamos a puxá-lo para participar da militância sindical, que na época estava em plena ascensão e efervescência.
         Nesta época, nos anos 80, ainda prevalecia a unidade sindical, independente das ideologias partidárias. O Armandinho era uma figura vinculada com o então prefeito João Dib do PDS, nomeado pela ditadura, mas que naquele período de transição da abertura democrática no país acabou se envolvendo em várias epopéias sindicais junto conosco, as emergentes forças da esquerda pmdebistas, pedetistas e petistas.
Juntamente com o Joel Emer, o Ivo Deboita, a Fátima Silvello e eu, o Armandinho participou da composição de uma chapa para ASDMAE, tendo ele como candidato a presidente. O nosso propósito na época era romper com o assistencialismo da entidade, que era presidida há décadas pelo hoje saudoso Seu Pinheiro, e transformar a associação numa organização combativa e engajada no movimento de sindicalização dos servidores públicos, que até então era proibido pelo regime autoritário.
        Ganhamos a eleição e, com uma administração austera do Joel como tesoureiro, passamos a desenvolver uma nova dinâmica de mobilização dos servidores do Dmae em prol do movimento pré-sindical de constituição da AMPA (Associação dos Municipários de Porto Alegre) que mais tarde, fortalecida, se auto-converteria no SIMPA.
        Todavia, conforme a democratização avançava, a conjutura ia modificando a correlação de forças no movimento dos servidores. Com a eleição do Prefeito Collares e a ascensão do PDT ao governo, os quadros militantes do partido naturalmente foram guindados para cargos da administração do DMAE, e o Armandinho foi ficando meio sozinho na ASDMAE, uma vez que eu estava assumindo como presidente da AMPA (antes dela se transformar no SIMPA), devido ter havido vacância do cargo (O presidente Rigotti foi ocupar um cargo no governo do Estado com o Pedro Simon).

        Só hoje pude reconstituir esta passagem do final do mandato do Armandinho na ASDMAE, tamanha era a loucura da minha entrega pessoal ao movimento naquela época. Pois agora ele nos contou que havia sido convencido a se filiar no PDT e posteriormente a se candidatar a vereador pelo partido. Porém, como mais adiante o ex-Diretor Geral Petersen resolveu também se candidatar ao cargo de vereador, aos poucos o Armandinho foi sendo coagido a recuar da sua candidatura, de tal forma que foi convidado a sair do DMAE para deixar o campo livre. Foi quando, repentinamente, ficamos sabendo que o Armandinho tinha sido transferido para o DMLU.

       Com o final do mandato do Armandinho, começou a desgraça da ASDMAE a partir da ascensão democrática de um operário corrupto ao poder, um tal de Arildo. O cara roubou o que deu tão escancaradamente que teve que pedir demissão e sair fugido do DMAE. Diz o Armandinho que o Arildo foi visto como carroceiro posteriormente. Depois disso, a associação dos servidores do Dmae vem minguando de mão e mão, cada vez mais depauperada...

        Tem males que vêm pra bem, diz o dentista, posto que no DMLU passou a trabalhar meio turno apenas e, assim, pode desenvolver o seu consultório particular que, após a sua aposentadoria, tem sido a sua ocupação principal com grande clientela. Como empreendedor nato, também desenvolveu duas casas de geriatria na Cidade Baixa e, aos 68 anos de idade, o baixinho está muito bem de vida, graças à Deus!
        Curioso, citei o caso da mulher do vice-presidente da Dilma, o Temer que acabou de assumir o cargo aos 70 anos de idade exibindo sua jovem mulher ex-miss de 28 anos (a Carla Bruni tupiniquim!), e perguntei brincando se ele estava na mesma onda:
- Quase, a minha mulher tem 33 anos.
- Valeu Armandinho!

AO DIA DA MULHER

AQUELE  ABRAÇO PARA TODAS AS MULHERES  LEITORAS DO BLOG DO CELSOL!

O “CASE DVM” & O DIA QUE ANDEI DE BALÃO

           No processo de reestruturação do DMAE a administração formou grupos de trabalho por Divisão: G1 para o grupo formado pelo Diretor Geral e Superintendentes, e assim por diante, sendo que o grupo da DVM foi batizado de G5. Nesta semana o G5 retornou de mais uma dessas infinitas reuniões para as quais os gestores de cada divisão são convocados, com a determinação de que a Equipe de Apoio Administrativo (EQAD) deve ser pulverizada, cujas funções serão extintas na nova estrutura.
          Desde o início do mês de setembro foi instituída a nova estrutura operacional da DVM, ou seja, que passou a ser composta de três coordenações (Programação dos Serviços Preventivos, Manutenção e Equipamentos Móveis), deixando de existir separadamente as tradicionais seções de serviços elétricos e de serviços mecânicos.

Antes

Depois
           Desde meados de setembro iniciaram também as reformas dos prédios da DVM, obras que visam adequar a estrutura física da Divisão à nova estrutura funcional, pensada a partir de seus processos operacionais. Agora a sala de jogos é separada do refeitorio por paredes divisórias!
           A proposição da administração é que a reestruturação da DVM se torne um “CASE”, linguagem utilizada nos meios de “gestão de qualidade” para significar um “exemplo de sucesso” a ser divulgado como estímulo mobilizador junto às outras divisões que, por acaso ou outros motivos, ainda se encontrem resistentes às reformas em andamento pela atual gestão do DMAE.
         Esta questão de extinção dos EQADs (Equipes Administrativas), que por muitos é entendida como de extermínio da função dos assistentes administrativos, é uma bandeira emblemática da reforma proposta, idéia que a administração defende com unhas e dentes, exigindo que a pulverização dos detentores deste cargo seja executada imediatamente.
        Esta “quebra de paradigma”, como costumam dizer os próprios autores do projeto de reestruturação, ainda é de difícil assimilação para todo o corpo funcional do DMAE: como vai operar cada Divisão do Departamento sem um núcleo administrativo que cuide da burocracia funcional, tais como folha ponto, horas extras, licenças médicas ou de gozos, etc.?...A resposta que a Administração tem na ponta da língua de seus representantes é que os assistentes administrativos não vão ser extintos e sim pulverizados, quer dizer, suas atividades vão ser descentralizadas e serão exercidas diretamente junto aos coordenadores de cada área. Entenderam?...Nem eu!

Pois é, esta reestruturação é um típico caso de quebra de paradigma que só vendo acontecer pra ver no que vai dar. Como já comentei numa postagem anterior no mês de julho/2010 (Reestruturação: o Frankenstein Espetacular), é um Frankenstein ao qual eu pretendo assistir de camarote como aposentado. Resta saber se vai ser um filme trágico, cômico ou de final feliz. Cabe lembrar, porém, que a criatura literária original do Frankenstein se voltou contra o seu criador...
          A propósito destas novas ferramentas gerenciais utilizadas pela atual Administração do DMAE, em março/2010 postei aqui no blog uma matéria intitulada “A Última Nova Missão de Melhorias”. Referia-se ao lançamento do Circuito de Melhoria Contínua (CMC), num prestigiado evento no auditório do Instituto Goethe, com intervenção criativa de um grupo teatral e direito a um qualificado cofee-break aos participantes das 39 equipes, que envolviam mais de 150 funcionários, cerca de 10% do corpo funcional da empresa. Pois bem, em novembro passado foram promovidos eventos de encerramento do CMC, com a realização de duas Feiras de Resultados, uma para o público interno sob o nome de “Dia da Excelência”, e uma feira na Redenção para o público externo, para a população portoalegrense.

       Há que se respeitar a iniciativa devido ao brilhantismo da idéia da melhoria contínua, que é simples e muito interessante, é a idéia de criar a seguinte cultura: a equipe identifica um problema em sua área de atuação, elabora em conjunto um projeto para solucionar este problema e implanta esta solução, com o apoio logístico da empresa. Fácil?...Poderia ter sido, se o foco fosse resolver o problema, mas o foco principal do CMC era a utilização da metodologia (de identificação, quantificação e desenvolvimento de um plano de ação para solucionar o problema), conforme os instrumentos gerenciais que somente a consultoria contratada dominava e  deles fez um bicho de sete cabeças.
        Para resumir, no final do trabalho do CMC resultou, a muito custo, apenas uma dúzia das 39 equipes iniciais, a maioria debandou. A debandada só não foi geral porque alguns grupos de trabalho persistiram visando realmente solucionar o problema que eles tinham identificado, apesar das metodologias desnecessariamente complicadas que obrigatoriamente tinham que aplicar para poderem seguir adiante.

             Concretamente, o problema que a equipe da Manutenção se propôs a resolver foi sistematizar o armazenamento e o manuseio do estoque de pneus reservas da frota de veículos do  DMAE. A solução era simplesmente se adquirir prateleiras apropriadas para o armazenamento ordenado, visando a redução de riscos de acidentes de trabalho no manuseio e a melhoria das condições higiênicas do ambiente de trabalho, que ficava sujeito a infestações no meio dos pneus caoticamente amontoados.  
Equipe da Comercial
        Todavia, quase que chegamos à conclusão, pelas metodologias e ferramentas gerenciais, que o melhor era deixarmos como estava, pois a relação custo/benefício não identificava o nosso problema como significativo... Era  como ter que escrever uma tese de mestrado para mostrar a importância do pingo no i!
Contudo persistimos, e como desde o início já encaminhamos o pedido de compra  das referidas prateleiras, no final do Circuito de Melhoria Contínua, nas Feiras de Resultados, acabamos fazendo sucesso com a exposição de nossos pneus gigantescos e as intermináveis explicações técnicas  do Jorge Luiz  Cafuringa aos visitantes da nossa estande.

            Mas o que resultou deste episódio do CMC como definitivamente marcante na minha vida,  foi que durante a Feira de Resultados para a Sociedade, em pleno domingo no Bric da Redenção, havia um balão fazendo publicidade da Unisinos ao lado da nossa  exposição,  oferecendo um passeio grátis, uau!: foi o dia em que andei de balão!...

Voando no balão, sem soltar as amarras...
Pude ver a coisa toda de cima:
- Valeu CMC!

AS FÉRIAS DE FINAL DE CARREIRA

Mas é grande este Brasil, tão grande que comporta  a existência de fusos horários: o fuso me deixou confuso. Ao chegar em Recife, na viagem comemorativa às últimas férias da minha vida de trabalhador antes da aposentadoria,  tive que atrasar o relógio em uma hora. Não por causa do fuso horário, mas devido ao horário de verão que não existe em Pernambuco. Dias depois, após avançarmos 500 km  adentro no Oceano Atlântico, ao pousar no paraíso natural de Fernando de Noronha, tive que adiantar uma hora no relógio, por conta do tal fuso horário. Na volta, numa viagem de uma hora de duração até Recife, foi que finalmente entendi na prática a  Teoria da Relatividade de  Einstein, pois saí do arquipélago e cheguei no continente igualmente às 15 horas local!?!...Louco, né? É a relatividade do tempo.  E não é só isso, ao voltar  para Porto Alegre tive que novamente adiantar uma hora os ponteiros do relógio, por conta do horário de verão, e tive que voltar a atrasar uma hora, no dia seguinte, devido ao término do  período do horário de verão (que por lei se inicia no terceiro domingo de outubro e se encerra no terceiro domingo do mês de fevereiro). Afinal, que horas são?...
Depois  de completar meio século de vida, de ter sido andarilho hippie na juventude, passei a fazer minhas viagens com o padrão CVC de qualidade.  Viajo apenas uma semana de férias por ano, mas faço com tudo de bom que tenho direito!  Há controvérsias sobre as vantagens e desvantagens de viajar por pacotes turísticos: alguns alegam a questão da falta de liberdade para fazer o que bem entender quando quiser; outros alegam que conseguem fazer a mesma viagem pela metade do preço. Costumo argumentar que, por ocasião das férias, não estou interessado em reduzir custos, pelo contrário, gostaria de fazer a mesma viagem pelo dobro do preço, pois significaria que estou agregando maior qualidade na hospedagem  e ampliando a abrangência dos passeios. É pena que o meu salário não permita. Por via das dúvidas, sendo  ainda um engenheiro acostumado a lidar com indicadores de eficiência, resolvi avaliar quantitativamente as vantagens econômicas da contratação de pacotes turísticos para melhor embasar a minha opção:
Somando apenas os valores das diárias do hotel de frente pro mar que nos hospedamos na praia Boa Viagem em Recife e da pousada especial em Fernando de Noronha, por baixo totaliza cerca de 60% do valor do pacote de 8 dias da CVC. Ao acrescentarmos o valor de quatro  passagens de avião POA-Recife (ida e volta), Recife-F.Noronha (ida e volta), certamente fecha os 100%.

Logo, já  tenho de lucro no mínimo os translados (com a visita à Olinda incluído no pacote e a oportunidade de realizar o passeio noturno “Luzes da Cidade” de barco catamarã pelos rios e pontes da Veneza brasileira) e as mordomias dos guias  turísticos com suas dicas quentes e informações interessantes sobre o lugar! 
Com a programação de passar dois dias livres em Recife, pude fazer o meu batismo no mergulho com cilindros a seis metros de profundidade, para ver os peixinhos e os corais no fundo do mar de Porto de Galinhas. Tudo foi uma maravilha, mas do meio pro final da meia hora de mergulho, já era crescente a ansiedade de voltar à superfície e retomar a minha natureza aeróbica, o que nos fez abortar o mergulho mais profundo e muitíssimo mais caro que projetávamos fazer na ilha. Quanto ao argumento da liberdade, avalio que é graças aos horários estabelecidos pela longa experiência das operadoras de turismo em cada local que se consegue aproveitar mais e melhor a viagem, não se perde o melhor da festa por dormir demais. Turista sofre, quem quiser descansar que fique em casa ou faça veraneio em praias monotonamente conhecidas! But, cada um sabe o que melhor lhe convém...
Na encantadora Fernando de Noronha há dois passeios fundamentais, um por terra e o outro pelo mar: o IlhaTour e o Barco Tradicional, que percorrem as principais praias e recantos da ilha, e possibilitam  banhos incríveis durante o percurso e a visão inesquecível dos golfinhos rotadores correndo em alta velocidade na frente do barco e saltando na água azul-marinho do mar de fora.
          Durante os passeios, através dos guias turísticos, a gente fica  sabendo que após ser  invadida e ocupada pelos ingleses, pelos franceses e pelos holandeses nos séculos XVI e XVII, o Arquipélago Fernando de Noronha só foi definitivamente retomado pelos portugueses a  partir de 1737, com a  construção do Forte e da Igreja Nossa Senhora dos Remédios. A ocupação da ilha foi realizada com o envio de presos, a qual passou a se constituir num grande presídio imperial.
No final do século XIX é que Pernambuco tomou posse definitiva e tornou a ilha um presídio estadual. Mas em meados do século XX, o governo de Getúlio Vargas comprou a ilha e a transformou num presídio político e, posteriormente, a promoveu ao status de Território Federal de Fernando de Noronha com um governo militar. Inclusive  na Segunda Guerra Mundial foi instalada na ilha uma base americana de rastreamento de satélites operada pela NASA.
       Um aspecto histórico interessante, contado pelos guias turísticos, é que o lendário Miguel Arraes do PSB (partido de esquerda que aceitava algumas teses marxistas, defendendo a socialização dos meios de produção, mas crítico ao stanilismo; e que abrigou as lideranças comunistas durante a cassação getulista do PCB) foi cassado pela ditadura militar na década de 60 do cargo de Governador de Pernambuco e feito preso político na ilha. Com a redemocratização do Brasil, Arraes foi re-eleito Governador de Pernambuco em 1986 e promoveu a reanexação do arquipélago como Distrito Estadual de Pernambuco. O velho Arraes (O Brizola de Pernambuco!) foi re-eleito governador de Pernambuco pela terceira vez em 1994 com 78 anos de idade, e aos 86 anos ainda se elegeu Deputado Federal em 2002, vindo a falecer em 2005: Êta cabra da peste!
- Valeu Arraes!
       Antropologicamente, portanto, o povo nativo noronhense é descendente de presidiários por parte de pai e mãe, pois com o passar do tempo a ilha se tornou uma colônia contendo também presídios de mulheres, e os presos bem comportados podiam casar e constituir um lar na vila enquanto trabalhavam para os militares.
       A propósito desta questão, eu indaguei uma nativa guia turística noronhense sobre as opções disponíveis para que o povo pudesse sair da ilha e ir passear em Recife, por exemplo. Ela me confirmou que o único meio de transporte coletivo para o continente é o avião, pois não é permitido o transporte de passageiros por barcos (para poderem controlar quem entra e sai da ilha). Todavia, para desfazer a minha hipótese de que eles continuam presidiários na ilha, como seus antepassados, devido ao alto custo das passagens áreas, ela me revelou que eles possuem um “green-card” que lhes possibilita preços mais acessíveis em um percentual “mínimo” dos lugares de cada voo, havendo maior possibilidade de conseguirem vaga pela lista de espera nos períodos de baixa temporada turística. Os nativos reclamam que não sabem onde vai a dinheirama da taxa que os turistas pagam por cada dia de permanência, pois na ilha não tem uma escola nem um hospital que preste, apesar que 60% da água potável é produzida com a dessanilização da água do mar, que é um processo caríssimo; o restante é coletado da chuva.
           Geralmente só conseguimos realizar o sonho de conhecer Fernando de Noronha quando já não temos mais idade para usufruir inteiramente de seus desafios de natureza agreste, íngreme e de mar com ondas imponentes e agressivas. Como quase tudo na vida: quando temos juventude, não temos grana; quando temos grana, falta juventude! Assisti a vários grupos de idosos, ou empacando em determinados trechos dos passeios, ou se arriscando além do que é racionalmente recomendado, para que o corpo possa sustentar com segurança o desafio.
          Eu mesmo passei por momentos dramáticos, por conta de um erro de auto-avaliação da minha condição física de sedentário quase sexagenário, ao aderir ao passeio de ir ver as tartarugas marinhas com snorkel, pé-de-pato e colete salva-vida. O detalhe subestimado neste chamado “mergulho de superfície” é que era necessário nadar 400 metros para chegar até aonde as tartarugas habitam.  Caí na lábia dos guias turísticos vendedores de passeios, os quais são completamente inconsequentes: vendem qualquer produto de alto risco sem considerarem as condições físicas do freguês.
        No meio do longo caminho até o nicho das tartarugas eu já percebi que nadar 400 metros, mesmo de colete, é muito mais do que eu poderia suportar como lazer. Fui, vi as tartarugas marinhas gigantes e alguns peixes (possíveis filhotes de tubarões) na água turva devido à chuva do dia anterior.
        Mas, na volta, que sufoco, achei que não ia conseguir chegar! Com o esforço extra exigido pelos pés-de-pato, começou a me dar sinais de câimbras nas pernas...na água é cada um por si, não tem guia nenhum pra te ajudar: é tudo contigo mesmo!
        Exausto, braceando contra a correnteza, com pânico que as câimbras começassem e a situação se tornasse fora de controle, nadei até chegar numa bóia localizada a cerca de cem metros da praia e me agarrei nela para respirar um pouco sem a máscara do snorkel que veda o nariz e aumenta a ansiedade. Este último trecho foi o pior, pois avistando a praia e vendo as pessoas caminharem com segurança em terra firme, por mais que nadasse parecia que não avançava nada em função do repuxo que anulava o esforço. O último recurso seria gritar por socorro, mas isso significaria perder o controle da situação e se entregar ao pânico da impotência e ao acaso da sorte de receber uma ajuda alheia ou divina. Na pior das hipóteses, pensava comigo mesmo, estou de colete e não vou afundar, posso é ficar à deriva das ondas e do repuxo; isso enquanto não tenho câimbras. Mas e depois, com câimbras, como será?...
        Decidi que era preciso exigir todo o esforço dos braços, poupando ao máximo as pernas, e chegar na areia o quanto antes, enquanto havia o sprint final de fôlego para ser extraído do corpo a fim de salvá-lo do risco de afogamento. Sei que nos cinquenta metros finais, cada vez que eu afundava para testar se já dava pé, sentia que não teria mais forças para voltar à superfície e continuar nadando contra a correnteza. Tal era o desespero que parei de sondar a profundidade e fui nadando até bater com as mãos no fundo e, a partir dali, saí me arrastando até ficar fora do alcance da maré e, me sentindo como um verdadeiro náufrago, fiquei deitado na areia de barriga para cima com a respiração ofegante.
- O senhor está bem? – Perguntou um turista que ficou assustado com o meu estado.
- Agora tô, mas estive mal!...
        Uma outra coisa que chama muito a atenção, além das belezas naturais do local, é a grande consciência ecológica que já está incorporada como uma postura cultural no povo noronhense. O que pode e o que não deve ser feito para não agredir o habitat natural da flora e da fauna, tanto no ambiente terrestre como no marinho, é respeitado religiosamente, melhor dito, conscientemente, como uma questão vital para a sobrevivência de todos, inclusive a dos humanos.

        É um micro modelo piloto de consciência ambientalista nativa, literalmente ilhado, mas que serve como um exemplo para ser ampliado para toda a população do planeta Terra.

Ah!, Havia me esquecido, segue uma prova obtida por nossa expedição, filmada pelo meu filho André, de que os golfinhos rotadores de Fernando de Noronha realmente existem (Não é propaganda enganosa para chamar turistas!):

Valeu.