O SENHOR DAS MOSCAS VOLANTES

          Faz três anos e meio, foi pouco tempo depois de ter cruzado a tal linha para o lado  da “melhoridade”, recém estava tentando assimilar o golpe de ter extirpado um câncer de próstata   nesse rito de passagem, que fui brindado com a minha “mosca interna”. Desde então estava esperando uma inspiração para escrever sobre ela, até que o meu colunista favorito (meu ex-professor de jornalismo na PUC, por apenas duas aulas em substituição) publicou duas crônicas consecutivas sobre a chocante descoberta da sua “mosca volante”. Feito, pensei, eis o gancho: estou finalmente abrindo a pálpebra para tirar do armário do olho este cisco, assumindo de público que eu também tenho uma mosca que é invisível para o resto do mundo e que só se mostra para mim. Uma inimiga invisível.
        Juremir Machado relata que: O fenômeno chama-se mosca volante ou descolamento vítreo posterior. Algo assim como um pedaço do olho soltando-se e indo boiar na gelatina ocular. Uma beleza! Aí perguntei: o que se faz? A resposta caiu na minha cabeça como um gol de bicicleta do Grêmio contra o Inter numa final de Libertadores da América: nada. Só acompanhar e se acostumar. Aí é que digo mesmo: uau! Quem sabe uma operação? Não. Laser? Não.
        Apesar de ser muito comum nos míopes a partir de certa idade, nem todos tem ou terão a companhia íntima desta mosca metafísica, que só existe ao nosso olhar, mas a cada agraciado toca um tipo peculiar de mosca. A mosca do Juremir, segundo seu oftalmo, é uma moscona, bem no meio do olho direito. A minha também é no olho direito, mas não dá pra chamar de moscona, está mais para um fiapo de linha dobrado que tem uma ponta bem mais grossa que a outra, com trechos bem esfiapados. Eu também, seguidamente, me tapeava, limpava as lentes, esfregava as pálpebras e os cílios para espantar o bichano invisível.

       O Juremir, novato no clube dos portadores de moscas, está ainda esbravejando: Como o ateu que, apavorado com a morte, entrega-se a Deus, espero que nos Estados Unidos exista solução para o meu caso. Aprendi com Sartre, lendo "As Moscas", que o destino de um homem está nas suas mãos. Eu não me conformo com a ideia de passar o resto da vida contemplando uma mosca. Exijo que os cientistas tomem uma providência. Ou trocarei Sartre por Camus: serei para sempre um homem revoltado, um existencialista moscão.
      No início também fiquei revoltado com a resignação que o meu oftalmo receitava, mas fiquei completamente sem argumentos quando ele revelou que também tem a sua mosquinha de estimação, que convive muito bem com ela e que eu também seria bem feliz com a minha...

         O olho culto do Juremir resgatou um famoso para o nosso clube, daqueles de figurar nas galerias de troféus (feito Falcão e Figueroa no Inter): o Munch, pintor norueguês cujo quadro mais conhecido é "O Grito", pois diz que o cara tinha moscas volantes no olho direito, o seu olho melhor. Elas surgiram quando ele estava com 67 anos de idade. Isso só aprofundou a sua tendência depressiva.
        O curioso desta citação do colunista é que a mosca do Munch também é no olho direito, como as nossas, porém nele são “as moscas”, serão várias? Pobre Munch, ter um mosqueiro dentro do olho é de deprimir qualquer um.

Um outro aspecto mencionado na crônica do Juremir, que me chamou a atenção, é que as moscas se instalaram no “olho melhor” do Munch. Quis saber qual seria o meu olho melhor, fui pesquisar no histórico de um dos  meus indicadores gerenciais de saúde-corpórea (vide gráfico: caquete residual do meu ofício de engenheiro). Verifiquei que o meu olho direito até que vinha sendo um pouquinho melhor nos meus quase trinta anos de dependência de lentes, mas após ultrapassar a linha que divide a vida em duas metades desiguais, os dois olhos estão igualmente ruins, estou usando lentes iguais em ambos os olhos, sendo que para perto é o dobro do que para longe.

       O Juremir conclama a humanidade, em especial os cientistas, para uma cruzada contra esses "corpos flutuantes" que ficam boiando no olho da gente como um cabelo enrolado numa porção de gelatina de groselha. Pretende, cedo ou tarde, poder esmagá-la!
       Estou mais conformado, talvez pela vantagem de eu não possuir um moscão e apenas um fiapo, com o qual finalmente aprendi a conviver. Aprendi até a brincar, contra a luz e de olhos fechados, movimentando a minha mosquinha para onde eu bem entender, através do controle remoto do globo ocular que ela não tem, só eu. É o game do volante da mosca volante, tente você também contra o sol deitado na praia!
      O meu oftalmo me deu uma notícia boa: com a velhice a tendência é estabilizar e até a regredir o grau das lentes. Obá! Mas há um porém...Chi! A opacidade do cristalino, ou seja, a pré-catarata já detectada nos meus olhos tende a disparar. Bosta de mosca! Em compensação...Oba! A catarata é facilmente(?) resolvida com uma cirurgia para trocar o cristalino do olho por uma lente artificial...Inheca! E tem mais, com a cirurgia o grau das lentes diminui bastante, até pode dispensar os óculos...Oba! Eu não nasci de óculos, eu não era assim...

Como de praxe, o cronista do Jornal Correio do Povo faz seu gancho literário se referindo  à leitura sobre o tema em um dos seus idolatrados filósofos franceses, no caso, As Moscas do Sartre. Como eu ainda não li nada do estrábico Sartre (até por que ele não constava no currículo  do meu incompleto curso de filosofia na UFRGS)  e, como o meu ídolo no gênero de crônicas é o próprio jornalista, faço o meu gancho literário na sua ironia reclamatória: Não conheço um só grande livro nacional sobre as moscas. Temos, contudo, razões de sobra para falar delas. Talvez, graças à minha mosca, eu possa ser o primeiro brasileiro a ganhar o Nobel da Literatura.
Faço, pois, uso do título do livro O Senhor das Moscas, escrito por William Golding, inglês que já ganhou  o Prêmio Nobel em 1983, para proclamar a nomeação do grande líder do nosso Movimento dos Portadores de Moscas Volantes (MPMV): Juremir, o Senhor das Moscas! Aquele que vai fazer um gol de lambreta a favor do Inter ao propagar “o grito” de cada um de nós do MPMV na mídia, aquele que mobilizará o mundo científico afim  de que possamos esmagar as moscas volantes.  O Senhor das Moscas vai tirá-las de nossas vistas!
Comentário do Senhor das Moscas:
Date: Sun, 29 May 2011 16:55:46 -0300
            From: juremir@correiodopovo.com.br
           To: cel-sol@hotmail.com
           Subject: Re: O Senhor das Moscas Volantes

                               Que beleza, Celso. Abraços, Juremir

CURTA: OS SOBREVIVENTES DA GARGANTA DO DIABO

Ontem foi meu dia de celebridade, tive os meus “cinco minutos de fama”, que é o tempo de duração do filme curta metragem que produzi para ser apresentado na programação do Curtas ao meio dia no DMAE. Trata-se de uma iniciativa que convida os funcionários a participarem das comemorações dos 50 anos do DMAE, através da produção de um curta. Aconteceu do nosso curta ter sido o primeiro a se apresentar nesta modalidade para se exibido antes do filme oficial da programação. Foi neste clima de tapete vermelho que, tri-sorridente bati a foto abaixo de “nós, os cineastas”: Pedro Zimmermann, Goida e eu!

         Pedro Zimmermann, premiado roteirista e diretor cinematográfico de longas e curtas metragens gaúchos, prestigiou o evento e propiciou um debate sobre o seu emocionante curta Mapa Mundi, que tem como protagonista nada menos que Walmor Chagas, que é feito vinho, quanto mais velho melhor.
         Também prestigiou o evento o Goida, que é uma figura de contagiante cinefilia, sujeito que fez crítica cinematográfica para várias gerações através das colunas dos jornais portoalegrenses. Durante 36 anos foi o titular de cinema de Zero Hora, no qual ingressou quando era Última Hora. Além de ter atuado no Jornal do Comércio, foi redator na MPM Propaganda, acumulou prêmios regionais e nacionais. Esteve à frente da Comissão Organizadora do Festival de Cinema de Gramado ao longo de 29 anos, entre 1976 e 2005. A marca característica da cinefilia de seus textos está na coletânea Nas primeiras fileiras (UE, 1998), da série Escritos de Cinema da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

Os Sobreviventes da Garganta do Diabo, é um curta documentário que narra um acontecimento verídico, contado e interpretado pelos próprios sobreviventes, que produzimos amadoramente filmando numa máquina de fotografia Sony de 7.2 megapixels e editado no programa Movie Maker da Microsoft.  Contudo, o filme agradou ao público pela surpreendente naturalidade e realismo quase fantástico com que o ator-narrador (o Walmor Chagas da DVM!) conta  um acidente de trabalho, dos tantos a que estão sujeitos os funcionários da manutenção de equipamentos pelos porões das hidráulicas e pelas subestações do DMAE.
Depois do sucesso desta estréia de sala lotada, com direito a saborearmos mini-baurus à vontade com refrigerantes, você também poderá assistir ao nosso curta  (apenas sem as mesmas mordomias e glamour), clicando no link para o YouTube abaixo:

Curta: Os Sobreviventes da Garganta do Diabo, clic aqui!


Making off do curta Os Sobreviventes da Garganta do Diabo
         Tempos atrás aconteceu mais um acidente de trabalho com o nosso pessoal, dos tantos que já tomei conhecimento durante a minha longa vivência na manutenção de equipamentos do Dmae, alguns até fatais. Mas a forma detalhadamente emocionante como um dos sobreviventes contava o episódio dramático me chamou a atenção e me levou a tomar a iniciativa de gravar em áudio o seu relato. Posteriormente, percebendo o potencial literário do material que tinha nas mãos, pensei em editar esta matéria prima de alguma maneira para aproveitá-la futuramente.
Pois bem, com o advento do blog Diário de Um AposentaNdo,  a idéia que me veio foi de disponibilizar o áudio do sobrevivente Marco Cadela (nome e apelido do protagonista da história) através de um link no blog, a exemplo do que já havia feito com coleções de fotografias e até com os clipes que produzi do show que assisti do Paul McCartney. Todavia, depois de muito pesquisar, não encontrei o procedimento para se postar apenas o áudio, uma coisa simples que, no entanto, não é possível nem no Youtube nem no Picasa.
Diante do impasse, decidi produzir um filmezinho no programa Movie Maker, fazendo rodar as coleções de fotos do DMAE e da DVM enquanto o narrador contava suas peripécias de como sobreviveu na Garganta do Diabo ao acidente de trabalho que quase o matou afogado. Beleza, mas deu um trabalhão imenso, pois a narrativa tinha cerca de meia hora de duração. Depois de semanas trabalhando no projeto durante as noites de folga dos compromissos familiares, finalmente a coisa se aprontou e fiz o upload  para o Youtube, função na qual o computador ficou a noite toda rodando. Na manhã seguinte, ansioso para dispor do link de acesso ao clipe, o Youtube informava na tela que o arquivo tinha sido excluído por ser muito longo, estava com 1GB!
Tudo bem, não desisti. Resolvi editar o arquivo dividido em duas partes, mais um trabalhão medonho, e tentei novamente colocar no Youtube. Mesmo assim o arquivo foi rejeitado por ser muito longo. Então desisti, pois não daria para ir esquartejando infinitamente a gravação do áudio. Já havia me conformado em não disponibilizar na internet o material e apenas fazer uma cópia num DVD do clipe de meia hora com as fotos para o narrador e eu guardarmos de lembrança.

          Mas eis que, inesperadamente, surgiu a convocatória para que os servidores produzissem filmes de curta metragem para serem passados na programação oficial dos “Curtas no Dmae ao 1/2 dia”, como uma atividade especial em comemoração aos 50 anos do Departamento. Não tive dúvidas, era a chance de eu desengavetar aquele projeto dos Sobreviventes da Manutenção.

A solução era gravar novamente, agora com áudio e vídeo, uma versão mais compacta da narrativa, para obedecer o regulamento de que os “curtas” podem ter no máximo  cinco minutos de duração. Pensei em fazer a filmagem seguindo um roteiro mínimo: Somos uns sobreviventes, vem comigo que te mostro o porquê – Deslocamento até o local do acidente (de lambuja o diretor faz uma aparição relâmpago à la Hitchcock) – Ambientação das condições de risco no trabalho de manutenção nos porões do DMAE e o relato do acidente.
        Ocorreu que, sem estar previsto, o roteiro foi muito enriquecido pela coincidência de encontrarmos no local o “anjo da guarda” que salvou os sobreviventes e que completou o relato confirmando a dramaticidade da situação em que se viu envolvido e que,  por instinto  de humanidade, teve os ímpetos adequados para agir como salva-vidas.
O título  inicial do curta no roteiro era Os Sobreviventes da Manutenção, fazendo uma referência a que provavelmente a maioria do pessoal da DVM tenha vivenciado algum episódio grave de  risco de acidente de trabalho, como eu próprio que já relatei aqui meus cagaços mais sérios. No fundo, somos todos veteranos sobreviventes da guerra diária do ofício de manutenção dos equipamentos operacionais do DMAE: o show da água nas torneiras da população não pode parar!
         No final, até o nome do filme foi alterado quando, na edição das cenas gravadas, percebi que o próprio Marco já tinha proposto um título muito mais impactante em seu relato, ao dizer que pretendia escrever com tinta amarela naquele local: Garganta do Diabo!

Valeu Marco Bicca, ator revelação, cada diretor tem o Walmor Chagas que merece!

MONTEPIO: UMA POLÊMICA INFINDÁVEL

Sede do Montepio:
       Sobre a postagem anterior, A Hora de Pendurar as Chuteiras, recebi um comentário de um colega (pelo qual tenho alta estima e admiração por sempre ter estado envolvido, mesmo após aposentado, com a sua militância qualificada, nas mais variadas entidades de classe dos municipários), em que ele destaca o seguinte trecho do meu texto do blog para fazer as suas críticas que reproduzo a seguir:
        Considero que também fiz alguns poucos golaços nos meus 36 anos de carreira de servidor público, tais como a fundação da entidade pré-sindical dos servidores municipais denominada Associação dos Municipários de Porto Alegre (AMPA), a Intervenção no Montepio para desmantelar a quadrilha que atuava por lá, ?????.....


Em 8 de maio de 2011 21:39, Ari Krasner escreveu:
Assunto: A Hora de Pendurar as Chuteiras e o Montepio
       Celso, esse teu comentário não condiz com a verdade, pois no momento da desastrada intervenção feita pelo então pref. Tarso Genro o Montepio era presidido pelo Eng. Joel Almada Emmer, eleito democraticamente, que é uma pessoa honesta e idônea. Essa intervenção foi truculenta e ilegal, tanto que considerada ilegal pela Justiça. Como consequência dessa intervenção, após a devolução conforme determinação judicial, é que ali se instalou um grupo que pode ser nominado como dizes uma quadrilha, tendo em vista que o presidente desgostoso pelos acontecimentos não mais quis assumir. De repente face ao passar dos anos meus neurônios podem já estar falhando, mas ao que me consta a verdade sobre a intervenção é essa. O motivo foi político e ilegal, a quadrilha veio depois como consequência.

Em 9 de maio de 2011 10:59, Celso Lima escreveu:
        Ari, o conceito de verdade é relativo ao entendimento de quem conta ou participou da história com suas crenças e valores. Por exemplo, os islâmicos tem outra versão para a morte do (mártir) Bin Laden, diferente da ocidental. Respeito a tua visão, pois sei que, como o Joel e o Barradas e tantos outros colegas de boa fé, participavas do Conselho do Montepio. Gostaria que desse uma lida em outra postagem deste blog, de maio/2010, em que conto este episódio da intervenção e o meu encontro posterior com o meu mestre que foi o Joel Emer:
Valeu a crítica, mas podemos seguir debatendo sem paixões os fatos daquela época.
Abraço, Celso.

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Ari Krasner
Data: 9 de maio de 2011 12:06
Assunto: Re: : montepio
Para: Celso Lima celsol1954@gmail.com
          Celso, continuo entendendo que o teu atual comentário é tendencioso, pois afirmas que uma das boas coisas que fizeste foi participar da intervenção no Montepio para tirar de lá a quadrilha que tinha lá se instalado, quando a verdade (que quando se trata de fatos não é relativa) e o fato é que não tinha nenhuma quadrilha no Montepio, tanto é que os interventores nada encontraram que justificasse a intervenção; o fato é que a intervenção foi ilegal é que a Justiça determinou a devolução do comando.
        Não pretendo continuar a discutir o assunto, mas acho que, como muita gente lê o teu blog, deverias também, já que escrevestes sobre o assunto, esclarecer que os interventores nada encontraram e que a Justiça determinou a devolução por ser a intervenção ilegal. O que aconteceu depois foi depois. Um abraço. Ari.

Hotel Praia Torres:
       Esta polêmica levantada pelo Ari é pertinente para que se possa dar a devida dimensão a este episódio que se constituiu num divisor da comunidade municipária feito o Muro de Berlim, entre os prós e os contras a intervenção no Montepio. Reafirmo aqui a importância pessoal que dou ao tema, e pela oportunidade de reabrir e esmiuçar um pouco mais o relato de alguns aspectos deste episódio ocorrido a partir de maio de 1994, que talvez tenha sido o mais controverso em que me envolvi em toda a minha vida. Por reconhecer que se trata de um assunto polêmico, acato como legítima e pertinente o questionamento do colega.
        Se o colega  pretendesse continuar discutindo o assunto, eu poderia rebater os argumentos dele de que “nada foi encontrado de irregular” e de que “a  Justiça decretou  a intervenção ilegal”, repetindo o que alardeamos na época, mas que muita gente não quis ouvir ou acreditar: houve ações irregulares na compra de 48 apartamentos de um hotel de Torres pelo Montepio, estava havendo repasses ilegais para o Projeto SISA de milhões de reais dos cofres do Montepio para o delírio suicida de construírem um hospital, e uma auditoria na obra do Centro Comercial Olaria, que o Montepio estava  realizando na época, avaliou que havia um superfaturamento da ordem de 30% do valor de todo o patrimônio acumulado ao longo dos 30 anos de existência da entidade (dava para fazer mais de dois Olarias!). A obra foi embargada, e estas e outras irregularidades foram ajuizadas no Ministério Público.

         O comentário de que a “quadrilha” se formou depois da retomada da entidade na justiça não condiz com a verdade, pois me lembro muito bem que na época publiquei no Boletim Informativo do Montepio uma matéria intitulada “Quem é Quem?”, onde mostrava o histórico dos principais componentes da diretoria que, apesar de mudarem de cargos a cada novo mandato, o núcleo mafioso permanecia sempre o mesmo desde sempre, há décadas. Depois que caiu a máscara, eles só tiveram que mostrar as caras e as garras!
         A Justiça determinou a devolução por ser a Intervenção ilegal? Sim, mas paradoxalmente por considerar que o Montepio seria estatutariamente uma “associação de natureza privada”, apesar de ter sido criado por lei municipal e da metade da contribuição advir do erário público. Essa vitória na justiça acabou por configurar a ruína do Montepio, pois o caracterizou como de propriedade particular deste grupo que o dominava e acabou com a esperança dos municipários de transformarem esta entidade no seu Instituto de Previdência (e não apenas de pensionistas, como sempre foi!). Abriu-se assim o espaço para a criação de um novo órgão para a previdência, o PREVIMPA.
        Total, a fila andou...e o patrimônio do MFMPA se tornou de "direito privado"!
Comissão Eleitoral eComissão de Intervenção

       Todavia, não é mais o caso de se fazer réplicas e tréplicas argumentativas, são águas passadas que não movem mais moinhos!
       Mesmo assim, repito que esta polêmica levantada pelo colega Ari é pertinente, pois este muro divisor da compreensão dos fatos, dependendo do lado que se esteja participando deles, é o mesmo que produzem as diferentes percepções que levamos por toda a vida, tais como as que levam algumas pessoas de boa fé a acreditarem que o “escândalo do Mensalão no governo Lula” foi realmente pura invenção da imprensa oposicionista; e outros a não acreditarem que o homem esteve na lua.
A farra do SISAcontinou depois...

Não se provou nada até hoje de maneira condenatória dos antigos dirigentes do Montepio? Não, e pelas mesmas razões que a justiça brasileira garante impunidade ao  Maluf e que permite que o Collor também diga que o motivo do impecheament foi meramente político, e que nada foi provado contra ele que hoje é Senador da República.
Balcão de emprésimos do MFMPA: 

        É a vida como ela é, caro Ari Krasner e demais colegas que partilham essa mesma leitura desta página da nossa história de servidores públicos municipais: mesmo os fatos são sociologicamente relativos às crenças, ideais e dogmas de cada um. Tudo depende de que lado da trincheira se está! Por isso, creio que a Intervenção no Montepio é uma polêmica infindável, mas eu não podia deixar de responder ao questionamento e pedido explícito para que me manifestasse novamente sobre o tema no blog, em respeito aos meus leitores e, especialmente, aos que nos prestigiam com seus comentários pessoais. Reitero, mesmo envolto em tanta controvérsia se foi um gol contra ou a favor, que participar da Comissão de Intervenção no MFMPA consta para mim como sendo um dos meus raros golaços como barnabé municipal!

Valeu Ari, nada como uma boa polêmica para nos aguçar os neurônios!

RONALDO E EU: A HORA DE PENDURAR AS CHUTEIRAS

Como eu dizia em minhas Reflexões sobre Estratégia de Pré-Aposentadoria, postada aqui em janeiro/2011, cada um sabe onde o sapato lhe aperta, não há uma estratégia melhor do que a outra, você é quem decide qual será a sua estratégia pré-aposentadoria e o momento certo de saltar fora. No meu caso, daqui pra frente, após ter pago a última parcela do financiamento do carro no contracheque de fevereiro, nada mais estava previamente definido. Voltei das férias em fevereiro para trabalhar o mês de março inteiro e, pra diante ir avaliando mês a mês: com cuidado para não sair correndo e cambaleando por falta de dinheiro, mas não tão cuidadoso para não cair na cilada de ficar trabalhando 8 horas por dia de graça por medo da vida no além-Dmae! Meu “Sonho de Liberdade” é outro...
O certo é que na “Hora H” do “Dia D” de pendurar as chuteiras todo mundo fica sujeito a  “amarelar”.  Por falar em amarelar, o exemplo mais emblemático do  momento, de quem pendurou as chuteiras literalmente, sem amarelar desta vez, é o Ronaldo Fenômeno. Ele se declarou faceiro por finalmente ter conquistado os finais de semana livres, mas reconheceu que vai sentir falta até das concentrações que ele odiava tanto e, é  claro, vai sentir falta nas tardes de domingo da adrenalina dos estádios lotados vibrando com seus gols fantásticos.
Assim, é possível que eu também venha a sentir falta até das manhãs de sábados e domingos em que acordava cedo e ficava engaiolado no meu local de trabalho para fazer os plantões de engenheiros, em troca de alguns trocados a mais no salário. A propósito, faz mais de um ano que deixei de fazer esses plantões, seguindo a lógica do Jalba que se aposentou antes de mim, que era preciso ir se desprendendo destes penduricalhos salariais que a gente não vai levar na aposentadoria, visando evitar o a sensação de um rombo financeiro na hora H de pendurar as chuteiras. Registro, para que seja de domínio público, que esta estratégia tem uma vantagem que eu nem havia computado, qual seja, de que se recebe a média das horas extras nos períodos de férias e de licença-prêmio. Portanto, no mole, faturei uma graninha extra sem precisar fazer horas-extras em pelo menos duas férias e duas LPs neste período!
Ronaldo Fenômeno de repente declarou, com lágrimas no rosto: Eu refleti muito em casa e decidi que era o momento de pendurar as chuteiras. Perguntado pela Patrícia Poeta em qual posição, entre os dez maiores jogadores brasileiros de todos os tempos ele se colocaria, Ronaldo Fenômeno respondeu:
- Falando de atacantes, o Pelé foi muito superior. Acho que eu estaria entre o segundo e o terceiro, modéstia à parte...

        Eu também, depois de ter adquirido direito à alforria em julho de 2010 e de  ter planejado sair somente depois de fevereiro de 2011, para não sentir a sensação de rombo financeiro com o corte imediato da grana do Abono Permanência, refleti muito e decidi que era chegado o momento de eu pendurar as  chuteiras. Francamente, sem falsa modéstia, sei que nunca incorporei completamente o capacete branco de engenheiro, não estive entre os melhores (até porque nunca tive este EPI de fato), em toda a minha passagem profissional. As minhas melhores lembranças são do período que eu era técnico de nível méddio, tempo em que botava as mãos nas ferramentas!  Mesmo consciente de que como engenheiro não precisei explorar todo o meu potencial, deu pro gasto, joguei a minha bolinha de meio de campo,  sempre pra equipe e, quando surgia oportunidade, fazia algumas jogadas espetaculosas de efeito na área gerencial de planilhas, gráficos e relatórios!
Concordo plenamente com o agora ex-craque Ronaldo Gordo, que ele está  entre os três melhores do Brasil, mas julgo que talvez o Zico pudesse concorrer na segunda posição, com suas penetrações na área adversária, mas  nada que se compare às emocionantes arrancadas do Ronaldo, entortando os zagueiros. Ele era, como o Romário, um exímio matador de goleiros, porém com mais estética atlética que o baixinho (força, agilidade e beleza nos movimentos, como teoriza a professora de filosofia da arte, Kathrin Rosenfield, sobre a inteligência corporal momentânea que se revela como inspirações artísticas nas jogadas dos craques de futebol, tais como Pelé, Maradona e Garrincha). Ronaldo fez 352 gols em 18 anos de carreira, entre eles muitos golaços de placa: verdadeiras obras de arte!

Considero que também fiz alguns poucos golaços nos meus 36 anos de carreira de servidor público, tais como a fundação da entidade pré-sindical dos servidores municipais denominada  Associação dos Municipários de Porto Alegre (AMPA), a Intervenção no Montepio para desmantelar a quadrilha que atuava por lá, a implantação dos sistemas de poços artesianos na Pitinga e nas Quirinas, a  informatização dos controles dos serviços de repavimentação do DMAE na década de 90 e a gestão por indicadores de eficiência na DVM....
        A minha hora de pendurar  as chuteiras também chegou, em verdade eu já  estava jogando no tempo complementar da prorrogação do prazo. Sei, é claro, que eu também vou sentir falta até do relógio-ponto que eu tanto odeio e, nas tardes de domingo, vou sentir falta da indesejada proximidade da manhã de segunda-feira que retoma a eterna rotina semanal do mundo do trabalho... Mas, chegou a Hora H do Dia D  e eu  também estou declarando, sem ter sido nenhum fenômeno (mas dando pro gasto da sobrevivência): Eu Fui, Dmae!...
          Fui ao Previmpa protocolar o meu pedido de aposentadoria e não volto mais, pois estarei gozando os meus últimos 30 dias de licença prêmio!...

-VALLLLLEEEEUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!

Nota de Rodapé
Como este blog é um pequeno retrospecto da minha carreira profissional, apresento a seguir,  no link de Comentários, um  Pequeno Retrospecto da Carreira do Ronaldo Fenômeno, como uma homenagem a este ídolo que foi realmente o maior fenômeno  futebolístico brasileiro dos últimos tempos: 

O ÚLTIMO DIA E AS CARAS DO DMAE

29/04/2011
          Esta semana eu literalmente queimei arquivos ateando fogo em uma sacola imensa de papéis recolhidos das minhas prateleiras e gavetas do meu local de trabalho no DMAE. É impressionante como se junta papeladas inúteis que se vai carregando na espera de surgir uma boa oportunidade de descarte que não chega nunca. Agora é a hora, às vésperas da aposentadoria, do feng-shui final, de limpar e desovar tantos os arquivos físicos quanto os virtuais contidos no disco rígido do computador.
Queimei na churrasqueira do meu apartamento docs e carnês  de pagamentos de contas, extratos bancários e canhotos de talões cheques, em suma, papeis que contém dados pessoais que ninguém mais se anima a jogar simplesmente no lixo, com medo que possam cair em mãos de marginais golpistas.
        Vinha me dedicando também a rastrear pasta por pasta dos meus arquivos digitais no computador do DMAE, selecionando o que deve ser repassado para os colegas que vão dar continuidade nos serviços que me competia fazer e, cautelosamente, deletei mais de 1.000 arquivos caducos como lixo eletrônico. Nesse processo dos últimos dias, é claro, vinha preparando o kit de viagem para a aposentadoria, empacotando os arquivos que me interessam levar como “recuerdos”, especialmente o dossiê de fotos das caras dos colegas e de locais do DMAE. 
       Para a bagagem da viagem adquiri uma mala grande, ou seja, comprei um HD-Externo de 120GB para acomodar meu breve histórico de registros digitais. Breve sim, pois, por incrível que pareça, faz pouco mais do que uma década apenas que dispomos de computadores individualizados, embora pareça que já faz muito mais tempo, ou até que sempre tivemos este recurso, desde criancinhas. Faz menos tempo ainda que dispomos de máquinas digitais de fotografias: bem diz o ditado que o tempo da era da informática parece que voa aceleradamente!

       Paradoxalmente, porém, para a minha casa eu levo todas mas para fins de doação como acervo da DVM este breve histórico se constitui numa verdadeira imensidão de arquivos que armazeno na memória do meu computador, são milhares de fotos dmaeanas batidas por mim! Motivo pelo qual tive que fazer uma seleção drástica, deletando grande parte, para poder disponibilizá-las como um produto minimamente interessante a um herdeiro deste legado, no caso, escolhi o colega Carlos Maiocchi Casagrande para quem repassei a herança.


         Sobre hoje, o meu último dia de trabalho, evitando ao máximo me tornar emotivo, apenas registro que o dia transcorreu normal, sendo que ontem houve uma confraternização dos aniversariantes da DVM do mês de abril, onde brindamos com champanhe a minha alforria!


Está ainda na programação do meu “bota-fora” fazermos um tradicional churrasco no campo de futebol sete da Catumbi, com uma pelada de futebol do pessoal do pátio, o que possivelmente seja objeto de uma postagem posteriormente aqui no blog. Nunca se sabe...

 Neste último dia ainda tive a oportunidade de participar do ato público do Movimento pela VRT (Valorização da Responsabilidade Técnica) dos Engenheiros, realizado na esquina do meu local de trabalho, onde pude despedir-me de vários colegas e exibir com sucesso a camiseta que havia ganho de presente na festinha do dia anterior do amigo Konrad, com os dizeres: Eu fui, DMAE!
A última hora do último dia dediquei a percorrer os diversos recantos da Divisão de Manutenção (que está toda em obras e revirada como um campo de batalha), despedindo-me individualmente de cada colega, deixando claro que não vou desaparecer, pelo contrário, vou ficar revoando feito fantasma o local onde viveu, pelo fato da minha mulher continuar trabalhando no DMAE por mais alguns anos e eu ser o seu motorista e, também, pelo meu vínculo de ser membro da diretoria da associação AEAPOPPA.

No final do expediente, tratei com especial solenidade o último movimento desta formidável ópera de cumprimento da sentença trabalhista do tempo de serviço para se ganhar direito a uma aposentadoria integral, qual seja, o ato solene da última batida de cartão ponto!

Fiz questão de registrar fotograficamente, com as testemunhas oculares, este momento culminante em que se abre definitivamente a algema eletrônica do cartão ponto e se rompem as grades das janelas pelas quais assistia passar os dias, as semanas, os meses e os anos...a vida.
   Carreguei comigo todas as tralhas que acumulei durante todo esse tempo no meu reduto inicial e final, que foi a manutenção de equipamentos do DMAE (com um breve hiato devido a minha passagem pelas Divisões de Água e de Planejamento como engenheiro recém formado);
          bem como  carrego as fortes influências de formação humanísticas das várias gerações de colegas com quem convivi no Departamento.
Estou partindo do convívio diário com os colegas, mas não vamos perder o contato, pois certamente há vida depois da aposentadoria, e eu serei uma voz no além a relatar como se dá esta transição do mundo dos ativos para o mundo dos inativos. O Blog Diário de Um AposentaNdo continuará vivo, fique ligado!

Assim, cumprido o ritual do derradeiro  dia útil deste mês de abril de 2011, rumando para a liberdade incondicional da disponibilidade do tempo do resto da minha vida, em comemoração ao meu último dia  de servidor público municipal em atividade, vou disponibilizar exclusivamente para os leitores do blog, como uma homenagem póstuma, a minha coleção favorita de fotos, acervo que cobre  mais de dez anos de convívio com os colegas dmaeanos,  que chamo de “As Caras do DMAE”:


AS CARAS DO DMAE - Coleção de fotos - Clic aqui!

         Não deixe de dar uma espiadinha nas fotos “As Caras do Dmae”, vale a pena ver as caras da nossa gente dmaeana. Procure bem, pois provavelmente a sua cara também deve estar lá, fazendo parte deste meu Baú de Recordações do Dmae que é este blog.

VALEU MUUUUIIIIITTTOOOOO DMAE!!!!!!!!