OUVINDO AS JOVENS VOZES DAS RUAS

O nosso mundo está grávido de outro, disse o Eduardo Galeano, autor do lendário livro As Veias Abertas da América Latina; e eu complemento: Vamos ser vovôs!  Nós, os pais dos até então maiores movimentos de massa,  Diretas Já! & Fora Collor!, assistimos boquiabertos os nossos filhos, que até ontem eram tidos como uma geração de alienados do vídeo game e da Internet,  agitarem as ruas como nunca ocorreu antes na história deste país.
O gigante acordou espontaneamente, sem a intervenção dos partidos e sindicatos, órgãos que a nossa geração branqueou os cabelos construindo para serem ferramentas de lutas, e que se revelaram agora como instituições obsoletas, por se amalgamarem no jogo dos interesses políticos e econômicos. A moçada tecnológica, se articula com multilideranças horizontalizadas e, numa nova linguagem de comunicação entre eles pelas redes sociais, estão reinventando a política, sem entrar no jogo de cartas marcadas dos marqueteiros políticos tradicionais.
Ninguém estava entendendo nada, nada do que os jovens queriam e diziam... Quando eles furaram o boneco inflável (mascote da copa do mundo) alguns meses atrás, ou quando algumas semanas atrás eles acamparam na praça pública para impedir a derrubada de dezenas de árvores para as obras da Copa. Mas a repressão militar (que agora é a nossa geração que está comandando) simplesmente repetiu contra os manifestantes a mesma violência que havia aprendido a executar com maestria durante o regime da ditadura militar: baixou o pau até sangrar!
O mesmo aconteceu quando os  jovens portoalegrenses se mobilizaram contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, ocasião em que a repressão “naturalmente” exerceu a sua especialidade tática de dispersar a multidão através da violência indiscriminada, exatamente como nos velhos tempos ditatoriais. Foi assim até que, com a conquista da suspensão do aumento das passagens dos ônibus na Justiça, a bandeira de luta dos gaúchos ganhou âmbito nacional e começou a pipocar nas redes sociais no centro do país.
 Passeata não é uma procissão nem um desfile de escola de samba num “protestódromo”; implica necessariamente numa rebelde sublevação explícita. A primeira grande vitória do movimento nacional contra o aumento das passagens dos ônibus foi fazer com que as polícias militares começarem a se reciclar para lidar com manifestações democráticas: não darem tiros com balas de borracha covardemente contra quem está pacificamente fazendo a história do despertar da cidadania dos brasileiros! As tropas precisam respeitar a autonomia do movimento e se resignar a intervir pontualmente em casos de “vandalizações” graves, mas com habilidade para não tornar pior a emenda que o soneto.
No terceiro dia de âmbito nacional, o movimento já havia conquistado o apoio da população em geral, apesar dos transtornos causados pelas passeatas gigantescas, algumas com mais de trezentas mil pessoas, e se espalhou como um estopim revolucionário por todas as capitais e por centenas de outras cidades, não só das regiões metropolitanas, se interiorizando de norte a sul do país.  Foi então que os prefeitos começaram a declarar a vitória da bandeira inicial da mobilização que gerou este fenômeno de cidadania que assombrou o mundo, colocando nas ruas mais de um milhão de brasileiros. Gradativamente todos foram cancelando os aumentos de vinte centavos que tinham decretado em suas respectivas cidades...
Mas as vozes das ruas diziam em seus cartazes que a luta não era apenas pelos vinte centavos: queriam mudanças democráticas, respostas aos serviços públicos precários (educação e saúde), aos gastos com estádios para a Copa do mundo da Fifa, atitudes contra a corrupção e a impunidade (contra  a PEC 33 & 37). Os jovens continuaram na rua gritando suas outras palavras de ordem, tendo como alvo a crise de representatividade do sistema político, econômico e midiático; e  criticando a atuação repressiva das forças policiais durante as manifestações, continuaram fazendo resistência...




Como eu dizia, o nosso mundo está grávido de outro: Vamos ser avós!  A nós, os pais dos gestantes, nos cumpre agora ficar ouvindo as vozes das ruas, colocar vinagre na mochila deles contra o efeito das bombas de gás, e sair na calada da noite para resgatar de carro os nossos filhos quando eles ficavam cercados pela cavalaria que fazia cargas com sabres em punho contra eles!...Nas manifestações, a nós pais dos gestantes coube ficar acompanhando pela televisão as movimentações das tropas de repressão, e funcionar como informantes pelo celular, orientando os filhos de onde vem o inimigo e pra onde correr dos vândalos fardados como servidores públicos e pagos com o nosso dinheiro. Ou, quando o celular não responde, ficar se angustiando diante da TV ao ver que as tropas arrebanham feito gado os manifestantes para o centro da cidade, que é uma ratoeira sem saída, e fecham  o cerco com as tropas de choque, cavalaria e infantaria com cães e, acreditem, apagam as luzes  públicas  e tocam o horror para torturarem, antes de dispersarem definitivamente o movimento...
Enfrentar o militarismo repressivo das forças de segurança ainda é o maior desafio de qualquer movimento popular. Esta agressividade que a classe média percebe nestes episódios das manifestações públicas, é a mesma que o povo da periferia pobre sofre diariamente, como uma discriminação social e racial. Cabe a nós, avós de pijama, que já corremos muito da polícia pela democratização do país, e sabemos a adrenalina e catarse que provoca este enfrentamento desigual, ficarmos torcendo para que os nossos filhos voltem para casa sãos e salvos de ocorrências de incriminação, feitas aos moldes do famigerado DOPS, por terem se indignado contra as atrocidades cometidas por armas não letais nas mãos de homens treinados para serem letais.
 Nosso mundo está grávido de outro, tomara que não seja grávido por estupro, mas se for, que pelo menos nos reste o direito de fazer o aborto, sem sermos condenados ao fogo do inferno pela jesuscracia política, ou seja, pelo movimento fundamentalista dos infelicianos crentes religiosos que estão se  tornando politicamente majoritários no Brasil, através de seus vários partidos e pastores no Congresso Nacional.
Estou ouvindo as vozes das ruas, como de uma nova geração de lideranças surgindo na luta. Uma gurizada que está mostrando que os tempos mudaram, que nossos ídolos morreram de overdose do poder que corrompe, e que as intervenções de massa por mudanças sociais podem ser auto-convocadas e a pressão política pode se dar por ações diretas pautadas na vontade coletiva. Daqui pra frente, os políticos saberão que o gigante poderá acordar novamente a qualquer momento, por algum motivo inesperado, podendo ser por razões bem maiores do que os vinte centavos do aumento das passagens.
As vozes das ruas precisam ser ouvidas...E a hora é agora, aproveitando a atual quadratura astrológica de Urano com Plutão, em que os astros predizem radicais mudanças sociais, como de fato está ocorrendo em todo o planeta.  O mundo grávido de outro precisa dar a luz enquanto nós, os avós, estamos aqui vivos para assistir e curtir online as fotos dos nossos filhos (que não fogem à luta!) no Facebook:


- Curti meninada medonha!



ASTEC & OS CAPACETES BRANCOS

Estamos em junho e continua pendente o reajuste salarial devido a partir de maio, pendenga entre a administração que fica enrolando, repetindo que vai pagar integralmente a inflação mas omitindo que quer pagar parcelado, e o sindicato dos municipários que também não centra no pagamento único a sua reivindicação e sim num reajuste acima da inflação para recuperar as perdas passadas...Aproveito para comentar que esta prática política é uma escrita do Velho Testamento da administração municipal, a qual já foi objeto de combate do movimento dos municipário nos seus primórdios na AMPA, quando ainda se buscava a unidade sindical respeitando a pluralidade partidária dos seus militantes.
Lembro que eu entendia que, após a conquista parcial da GIT (Gratificação de Incentivo Técnico), o surgimento da ASTEC foi a chancela de que “o sonho de unidade no SIMPA tinha acabado”.  Relembro isso com todo o respeito aos mentores da ASTEC, na época liderados pelo cara que eu considero que foi a mais importante liderança sindical da nossa geração de barnabés municipais, o Luis Fernando Rigotti: bom orador, articulador carismático, e construtor da AMPA, do SIMPA, da ASTEC e do PREVIMPA. É, é este mesmo cara que agora, como presidente do PREVIMPA, é hostilizado pelo sindicato e pela ASTEC por ter rasgado algumas bandeiras do movimento. Já vimos este filme acontecer em todos os níveis e instâncias políticas deste país!... 
Eu não aderi à ASTEC na época, e nem havia me associado até às vésperas de me aposentar, mais  em razão de  que começou a prevalecer a minha índole anarquista, pois passei a desacreditar em absolutamente todas as instituições humanas, após o desencanto com todas as organizações sociais que eu havia ajudado a construir: Simpa e PT...O Simpa chegou a cair nas mãos de uma direita mafiosa e o PT...é melhor nem comentar, deixar pra lá!
Mas, como técnico científico, ainda que tardiamente, precisei reconhecer que as leis de Newton continuavam vigorando, e que toda reação ainda é causada por uma ação. A orientação partidarizada que o nosso sindicalismo assumiu, após a transição do movimento plural da AMPA para o do sectarismo ideológico petista semeado no SIMPA, fez com que o surgimento da ASTEC (e o re-fortalecimento político das várias associações coorporativas dos servidores) fosse uma reação divisionista natural da física dos movimentos.
 Depois veio o Sarney, o Collor,...e na dialética histórica a democracia perdeu o seu poder mágico de mobilizar as pessoas em causas institucionais do bem coletivo baseado na consciência de classe. Com o Muro de Berlim caiu por terra a esperança de uma sociedade mais justa e igualitária. Como dizia a canção do Gilberto Gil: O sonho acabou, e foi pesado o sono pra quem não sonhou...
Assimilando os novos tempos, por sugestão da Margareta Baumgarten, então brilhante primeira presidenta da ASTEC, no meu final de carreira tive que dar o braço a torcer e me associar, pois  reconheci que a entidade qualificou  politicamente a classe dos técnicos científicos, e que se consolidou como um fórum importante para aprofundar o debate das questões de interesse geral dos servidores municipais portoalegrenses. Nas lutas  junto com a categoria dos muncipários, a ASTEC completou sua maioridade mostrando ao que veio: 18 anos de intensas atividades e mais de mil sócios!
        De lá pra cá, temos visto movimentos sociais fantásticos pelo mundo afora, especialmente os possibilitados graças à globalização do mundo em redes de relacionamentos pela internet. Temos visto revoluções e guerras civis repentinas em pleno mundo árabe muçulmano, onde nada mudava a milênios; temos visto até levantes de protestos espontâneos  dos  jovens “Indignados” no coração da União Européia, lutando por democracia real no Velho Mundo. No Novo Mundo temos visto enfretamentos da população contra o capitalismo no Movimento Ocupe Wall Street  nas praças e ruas dos EUA; temos visto os jovens brasileiros marcharem contra os aumentos abusivos nos transportes públicos e sofrerem violências pelas tropas de repressão, igualzinho aos tempos de ditadura...        
           Inclusive vimos aqui o Movimento dos Capacetes Brancos, em que os Engenheiros, Agrônomos e Arquitetos da Prefeitura de Porto Alegre levantam a cabeça e fizeram  “capacetaços” em atos públicos para protestarem pela implantação da Verba de Responsabilidade Técnica (VRT), que visava a equiparação salarial da classe com os Procuradores do Município. 
A exemplo dos demais movimentos citados, que estão se proliferando ao redor do planeta, os Capacetes Brancos da Prefeitura também se articulavam pela internet e atingiram um grau de mobilização inédito na categoria, conseguindo implantar objetivamente novas ações de lutas, tais como: Operação Liberação Zero (não liberar: trâmites administrativos, processos, aprovações, licenciamentos, vistorias, fiscalizações, contratos, medições, habite-se, etc.); Operação Não Comparecer (não comparecerem em Reuniões, Conselhos, Grupos de trabalho, etc.); Não Atendimento de Telefone Funcional (fora do horário de expediente e, em algumas datas pré-estabelecidas pelo movimento, não atender telefones também dentro do horário de expediente); Atos públicos de Capacetaços (preferencialmente em eventos públicos de comparecimento do Prefeito).
          Combativos, os Capacetes Brancos conseguiram arrancar do governo uma proposta de melhoria na remuneração, através de uma gratificação (GAM) composta de uma parte fixa mais uma parte variável a título de produtividade, abrangendo também os aposentados. Este é mais um sinal cultural afirmativo dos novos tempos, pois  mesmo não atingindo plenamente a isonomia salarial almejada,  a conquista consagrou como vitoriosa a bandeira de luta de redução das distorções salariais entre os técnicos científicos de nível superior. A partir desta luta, os Capacetes Brancos reconquistaram a capacidade de serem novamente agentes interlocutores de suas próprias carreiras, e passam a ter poder de pautar discussões com a Administração municipal daqui pra frente, seja quem for que estiver no poder.

FAROESTE MATUNGO

        Tem bagulho bom aí! Saiu dois filmes simultâneos sobre o Renato Russo, um sobre a vida dele (Éramos tão jovens) e o outro com o roteiro baseado na letra da música Faroeste Caboclo, canção consagrada pelo lendário grupo roqueiro Legião Urbana.  Assisti apenas ao segundo, e achei que o roteiro acertou a mão nas adaptações para a linguagem cinematográfica, mas foi sacanagem deixarem a música tema para rodar só depois do fim, “fazendo todo mundo dançar” lendo os nomes dos créditos até a última letrinha!...
A propósito de faroestes, tem vivente que é contador de história nato, que sabe levar o suspense e manter o ouvinte atento na oralidade. Mas geralmente estes proseadores têm o defeito de alongarem e enfeitarem com detalhes demais o causo. E, pior do que isto, costumam emendar uma aventura na outra, num prosear sem fim. Este é o caso do Gervásio, mais conhecido como o Matungo, colega eletro-mecânico da DVM e morador do topo da Vila São José, criado no alto do Morro da Cruz, que é um conhecido ponto de tráfico em que nem a polícia pacificadora entra, onde o faroeste corre solto, e que se tornou célebre por ser o tradicional local da crucificação do Cristo na encenação da via-sacra da procissão da Semana Santa.
            Quando o Gervásio puxa conversa e engrena, eu costumava delimitar de antemão: um causo por dia! Outro dia ele me contou rapidinho um dos seus infindáveis causos inéditos. Relatou o causo do Fala-fanha, sujeito que morava na vizinhança e que teve a sua mãe agredida durante um assalto por um vagabundo do morro cheirador de crack.  Conta o Matungo que, conforme o próprio Fala-fanha teria lhe contado (técnica de proseador para poder relatar na primeira pessoa com maior emoção), uma vez localizado o malandro num boteco das redondezas, o Fala-fanha enfiou o cano do seu revólver calibre 38 na boca  do ladrãozinho agressor de sua mãe e detonou, sem dó nem piedade.
Depois, quando o pistoleiro já tinha virado as costa para ir embora, ele foi questionado pelo seu irmão, que ajudava na vingança: E se o danado não morrer do tiro? - O Fala-fanha não teve dúvida, voltou e degolou a agonizante vítima, depois virou-se respondendo ao seu mano: esse vai morrer com certeza! Depois saíram a passo... – E o corpo, eu perguntei? - O defunto foi dado como queima de arquivo pela polícia, pois o cara tinha longa ficha corrida, complementou o Matungo narrador. Como disse, tem vivente que é nato trovador repentista de ficções em prosa, aventuras como esta ele contava uma atrás da outra...
            O Gervásio Matungo também é um aposentando, mas com “n” minúsculo, fechou as condições para se aposentar em 2010, mas não consegue se decidir, por não saber o que vai fazer depois. Concluiu que os seus antigos biscates, de consertar refrigeradores e televisores, estão em baixa no mercado. O cara era do tempo dos aparelhos de rádios e TVs valvulados e, como eu também fui “fuçador” em eletrônica, denominei de “vulcão” o monte de peças e sucatas de chassis que ele tinha no pátio da casa dele, o qual funcionava como um depósito a céu aberto, para serem aproveitadas em seus consertos. 
        O Matungo contabiliza que tinha prejuízos atendendo à frequesia do Morro da Cruz, pois ficou “engatado” com tantos  refrigeradores e televisões, de clientes que mandaram consertar e que não foram buscar, que chegou a pensar em abrir um brique de aparelhos usados em casa. Mas, pondera o ex-biscateiro, que nem pra isso dá mais, pois os eletrodomésticos se tornaram descartáveis, com o incentivo do governo para que as pessoas troquem os aparelhos velhos por modernos, que têm menor consumo de energia elétrica.
           A exemplo dos “coiotes” que servem de guia aos “cucarachos” que tentam imigrar clandestinamente nas fronteiras dos EUA, o Matungo também nos serviu de “coiote” quando recorremos, em desespero de causa pela enxaqueca crônica da minha mulher, a um tratamento espírita com o Dr. Queirós, médium incorporado que atende justamente no “olho do furacão” do Morro da Cruz. Somente acompanhado de um nativo da vila para nos arriscarmos a subir à noite até o centro espírita do renomado médium, no topo da morro, onde sempre tinha fila de pessoas para serem atendidas, feito o SUS. As enxaquecas da minha mulher continuam até hoje, mas nos valeu muito a experiência vivida no território do Faroeste  Matungo.

Conforme conta o folclore interno da DVM, após a ocorrência do caso do acidente de trabalho fatal do jovem eletricista Ubirajara Teixeira, quando entregaram para a viúva os objetos pessoais que o falecido tinha no armário do vestiário da Manutenção, deu problemas de infidelidades póstumas, pois lá havia cartas de casos extra-conjugais...talvez até com a vizinha. Conforme conta o Matungo, algum tempo antes do acidente fatal, ele foi fazer uma visita na casa do Bira e, por engano, entrou na casa do lado, de estranhos, como se fosse pessoa íntima. Mas, por extremo azar, o tal vizinho do Bira estava desconfiado que a sua mulher estava lhe traindo e, ao ver aquele negão entrar bem faceiro em sua casa, caiu de pau em cima do Matungo. O Gervásio não teve nem tempo de entender o que é que estava acontecendo, o duelo foi desigual, foi pego pelas costas. O fato é verídico, pois acompanhamos o drama do colega nos dias seguintes, já que o estrago foi tanto que ele passou uma semana no hospital: todo quebrado e deformado por inchaços e hematomas. Quase cegaram de vez o Matungo!
          Mas o causo mais pitoresco, que ele não se cansava de contar, é o susto que ele deu num guri no banheiro de um camping da Barra do Ribeiro, onde costumava passar as férias pescando. Percebendo que o garoto ficou assustado com o lance dele retirar a chapa dentária da boca para escovar os dentes na pia, só de sacanagem, ele retirou também o seu olho de vidro (prótese que usa no seu imperceptível olho cego), e pediu para que o guri o ajudasse segurando o seu olho um pouquinho; o menino saiu correndo apavorado!...Valeu Matungo, exímio narrador da “realidade fora da lei” que viu de perto, enriquecida pela sua oralidade dramática, sem nunca se deixar amedrontar ou envolver pela bandidagem:

LUPICÍNIO: A COLOQUIALIDADE DO SAMBISTA DE BOMBACHAS

(Resumo para aqueles leitores que acharam muito longa a postagem anterior: Lupi Foi Assim)
Eu gostei tanto, tanto, quando me contaram, que tive mesmo que fazer um esforço pra ninguém notar...
         A década de 1930 foi o auge de Noel Rosa e da implantação do rádio como veículo de divulgação musical. Noel, que morreu aos 26 anos, foi o primeiro a reconhecer o talento do jovem sambista gaúcho: Esse garoto é bom, esse garoto vai longe! Lupicínio Rodrigues se destacou na década de 1940 como compositor em âmbito nacional, tendo suas canções gravadas por todos os grandes cantores da época, tais como Orlando Silva e Francisco Alves. Lupi emplacava vários sucessos anuais, com destaque para Vingança e Nervos de Aço.
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor? Ter loucura por uma mulher?...
A consagração de Lupicínio como compositor de samba-canção consiste um fenômeno em vários aspectos. Primeiro que Lupi é um sambista de bombachas, ou seja, um gaúcho fazendo samba que era coisa de carioca e, no máximo, também de baiano.  E Lupi foi um fenômeno único ao conseguir conquistar com o seu talento o centro cultural do país sem se mudar para o Rio de Janeiro, capital federal na época. O sambista continuou tomando suas biritas com os colegas de boemia e se inspirando em suas cornitudes no extremo sul do Brasil.
Esse moços, saibam que deixam o céu por ser escuro, e vão ao inferno à procura de luz.
Lupicínio viveu numa época em que os cantores eram valorizados por terem vozeirões e por interpretações empoladas, com demonstrações de seus recursos vocais. Paradoxalmente o cantor Lupicínio sempre cantou suas próprias canções num tom de voz intimista, fraca e macia. Entretanto, as suas músicas de “dor de cotovelo” ficaram conhecidas nacionalmente através dos intérpretes consagrados naquela forma de cantar tradicional.
Volta, vem viver outra vez ao meu lado, não consigo dormir sem teu braço, pois o meu corpo está acostumado.
Com o advento do movimento musical modernizante da Bossa Nova, que buscava empregar temas e interpretações coloquiais para as canções, o pessoal da geração do Lupicínio ficou datada como antiquada e foi banida do mercado musical de discos e das rádios.
Felicidade, foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora...
Entretanto, o próprio João Gilberto, pai da Bossa Nova, foi o primeiro a perceber que as músicas do Lupi, quando interpretadas sem as grandioloquências da moda antiga, eram  canções de coloquialidades surpreendentes e radicais. Em seguida o Caetano Veloso gravou  a música Felicidade e seguiu-se uma série de gravações dos novos medalhões da MPB (Gil, Gal, Bethânia, Elis Regina, Paulinho da Viola) das canções do Lupicínio com arranjos e interpretações ao gosto do público moderno.
Nunca, nem que o mundo caia sobre mim, nem se Deus mandar, nem mesmo assim...
Assim, o sambista de bombachas viveu os últimos anos de sua vida com a sua obra sendo prestigiada, e sendo especialmente ressaltado o seu talento de expressar a coloquialidade popular nas letras de suas canções.
Eu agradeço pelas homenagens que vocês me fazem, pelas besteiras e coisas bonitas que dizem que eu fiz.
- Valeu Lupi!

LUPICÍNIO RODRIGUES FOI ASSIM

            O que um aposentado faz com o seu tempo? A bem da verdade, não posso dizer que estou fazendo o Curso de Letras na UFRGS, na realidade estou fazendo vários cursinhos semestrais, só o filé, o que se pode clicar em “curtir” no currículo e postar no meu perfil como conhecimento genérico, sem fins lucrativos. Agora, por exemplo, estou fazendo o curso de Canção Popular Brasileira, ministrado pelo professor Luiz Augusto Fischer. É uma curtição, oportunidade ímpar de se dar mergulhos dirigidos como este que vou praticar aqui.

Então, a tese central do mestre é que a canção popular é a responsável pela formação lírica do povo brasileiro (assim como a telenovela é a nossa formação épica). Todos nós sabemos as letras de várias canções que nos reportam a momentos diferentes de nossas vidas, canções de nossos amores ou de nossas tristezas no mundo. Diz que a canção brasileira é formativa, isto é, forma o país, simboliza e comenta as questões da vida  brasileira. A canção é um gênero estético com características próprias, pertence ao domínio da literatura (além do da música, assim como o teatro), e que pelo menos há 40 anos dá iniciação estética ao brasileiro em geral.
Concordo de cabo a rabo,  pois eu sou o um exemplo vivo de um fissurado curtidor das letras poéticas das canções populares desde sempre, e que teve a sua formação estética mais ouvindo canções do que lendo poemas. Eu e mais quase todos os brasileiros! Mas agora, valendo nota para a disciplina, tenho que fazer um ensaio sobre um dos cancionistas da velha guarda, comentados e ouvidos em aula como fundadores da atual canção popular (Sinhô, Pixinguinha, Noel Rosa, Ary Barroso, Cartola, Lupicínio Rodrigues, Caymmi, Luiz Gonzaga, Antônio Maria, Dolores Duran entre outros), figurões das gerações de ouro da canção, todos anteriores aos movimentos de Bossa Nova,  Jovem Guarda, Tropicalismo, MPB Politizada e Rock Nacional. Então vamos lá:
           Era uma vez, há muito tempo atrás, um menino nascido na Ilhota, bairro habitado basicamente por negros e mulatos descendentes de escravos, região que vivia sendo inundada pelo arroio Dilúvio em Porto Alegre. O nome Ilhota é porque naquela época o arroio fazia muitos meandros (antes de formatarem um traçado reto ao arroio pela Av. Ipiranga), e a localidade era quase uma ilha dentro da cidade. Hoje, o local remanescente da ilhota foi transformado num condomínio de casas populares chamado Lupicínio Rodrigues em homenagem a este menino.
O professor Fischer salienta que os grandes saltos qualitativos que a canção teve no Brasil se deveu às duas gerações de ouro, esta da velha guarda citada e a dos  atuais setentões que continuam mandando no pedaço; e que ambas gerações foram compostas principalmente por cancionistas de nível universitário. Não é o caso do Lupi, mas ninguém imaginaria que esse menino pobre e negro seria apontado como um dos nomes mais significativos da história da música brasileira. 
Então, como toda história encantada que começa com “Era uma vez...”, a vida deste menino também teve a magia de uma previsão de futuro brilhante feita por um  mago consagrado: Em 1932, Lupi está num boteco, fazendo música com os amigos e entram os Azes do Samba que estavam em excursão no sul. Acabam todos confraternizando, e Lupicínio canta algumas de suas canções. É quando um deles, Noel Rosa, decreta: Esse garoto é bom, esse garoto vai longe! E concordaram com ele, imediatamente, as outras duas figuras que seriam importantíssimas para o mulatinho: Mário Reis, sua maior referência vocal (Lupi: eu imitava muito o Mário Reis); e Francisco Alves – que, décadas mais tarde, seria o responsável pelos seus primeiros grandes sucessos.
Lupi compõe  Nervos de Aços e mergulha na boemia. E o pai entra em surto e arruma um emprego mais do que moleza pro rapaz: bedel – algo entre inspetor de alunos e porteiro – da Faculdade de Direito da UFRGS.
Estou contando esta história fabulosa de um negrinho do pastoreio dos amores perdidos, muito de ler no que o site Sul21 publicou em capítulos, como A fenomenologia da Cornitude: Lupicínio Rodrigues, do livro Uma História da Música de Porto Alegre, do compositor e jornalista Arthur de Faria. Mas alguma coisa também de ver e ouvir falar na cultura oral da minha localidade, pois eu vi o Lupi ao vivo e vivo na travessa Pesqueiro, junto ao Quilombo Areal da Baronesa, há poucas quadras da Vila Lupícinio Rodrigues, que é o resíduo da antiga Ilhota, do lado da praça Garibaldi (Rua Venâncio Aires com Getúlio Vargas).
 Esta região de Porto Alegre, a Cidade Baixa e a Ilhota eram conhecidas no início do século XX como O Reduto dos Seresteiros – e é curioso constatar que, 100 anos depois, a mesma zona retomaria a predileção da juventude boêmia da cidade. Eu próprio lembro de ter assistido nos antigamente, desfiles de carnaval na Rua João Alfredo, com as pessoas colocando as cadeiras nas calçadas em frente das casas, e o cordão de isolamento feito literalmente de uma corda estendidas entre os postes.
Animado com o incipiente sucesso da música Se Acaso Você Chegasse, e ainda amargando  descornos, Lupi resolve ir tentar a vida na Capital Federal e pastorear novos amores por lá. No ano de 1939, aos 24 anos de idade, o rapaz se manda num navio. Numa pensão da Lapa fez amizade com a ala mais malandra e receptiva do primeiro time do samba da época. Entre outros, negros como ele, Wilson Baptista e Ataulfo Alves. Mas ainda faltava um empurrão de alguém com mais prestígio. Afinal, a turma tinha talento de sobra, mas não era poderosa como a elite branca do showbizz carioca. Essa sim é que lhe poderia abrir caminhos. Mas um belo dia um amigo turfista o leva para introduzi-lo direto na mesa dos banbans! (Vale lembrar que Noel Rosa já havia falecido em 1937, aos 26 anos, em conseqüência da incompatibilidade entre duas doenças crônicas: tuberculose e boemia). Lupi sentiu o peso da máfia que estava sentada no Café Nice: Ary Barroso, Haroldo Lobo, Nássara e Francisco Alves, todos cantando uns pros outros suas novidades para o próximo carnaval. Conforme Lupi  conta na sua célebre entrevista  pro Pasquim (edição de 23 de outubro de 1973) um deles falou: “Ô gaúcho, canta um negócio teu aí”. O Lupi cantou algumas e o Francisco Alves retrucou: “Isso é teu, moleque? Isso é teu!? Não dá isso pra ninguém. Vou gravar tudo”.
Era a promessa de realização do sonho encantado do menino da Ilhota, bem conforme o bruxo Noel Rosa havia previsto, anos atrás, na sua bola de cristal de gênio da canção. Mas, sem grana, o mulato que estava virando príncipe no reino das fantasias da cidade carioca, percebeu que tinha que voltar a ser sapo no seu brejo onde coaxa como um rei. E  lá se veio Lupicínio de volta a Porto Alegre, pra nunca mais sair do seu reino encantado... …tão feito de conto de fadas que o emprego de bedel seguia lá, esperando por ele!
É com Orlando Silva, “O Cantor das Multidões”, que Lupicínio surge efetivamente como um compositor nacional. O ano é 1945, e a música é o samba Brasa. Nervos de Aço aparece  como prova inequívoca de que havia um novo, diferente e talentoso compositor na praça. Nem tão novo: já tinha 33 anos. Com o sucesso de Nervos de Aço, Francisco Alves finalmente se dá conta que tinha uma mina de ouro abandonada. Passa a gravar Lupi após Lupi. Entre os maiores sucessos nacionais de 1948 estão suas arrepiantes versões para Quem Há de Dizer e Esses Moços.
Então todas as previsões se confirmavam e o compositor de samba-canção (o sambista de bombachas) começava a espalhar o seu feitiço amoroso por reinos distantes, até em outros países. Vingança, gravada em 1951 por Linda Baptista, é sucesso também em sua versão em espanhol, perfeitamente adaptada ao ritmo do tango A desgraceira narrada ali era tanta que não teriam sido poucos os amantes infelizes a cortarem os pulsos ao som da canção.
Nesse momento, a lógica seria Lupi tentar novamente o Rio de Janeiro, seria uma conquista fácil, o rádio estava bombando. Era o que haviam feito absolutamente todos os compositores de renome nacional naquele momento, mineiros ou baianos, como Ataulfo Alves e Ary Barroso e como Caymmi e Assis Valente. Mas, sem morar no Rio e sem sair do seu brejo, pelos 10 anos seguintes, Lupicínio foi um dos compositores de maior sucesso e prestígio em todo o Brasil. Seguiu emplacando o desfile de hits, com Volta  e a pérola da coloquialidade de  Nunca: ...Saudade, diga a essa moça, por favor, como foi sincero o meu amor, quanto eu a adorei tempos atrás. Saudade, não se esqueça também de dizer que é você quem me faz adormecer… pra que eu viva em paz.
Para a maior parte de seus colegas de boemia, era simplesmente ridículo ele levar sua própria voz ao disco. Logo agora, que vinha sendo gravado por cantores espetaculares – e impecavelmente técnicos – como Francisco Alves ou Orlando Silva. Pra quê?! Mas o cantor Lupi se consagra em  apresentações na cidade paulista, na prestigiada boate Oásis: dois meses em cartaz – há quem fale em cinco –, sempre com casa cheia. E isso, num palco acostumado a receber Sílvio Caldas, Francisco Alves, Dorival Caymmi… A partir de então, ficaria finalmente claro que o compositor era, também, cantor.
 É quando Lupicínio compõe uma das músicas pela qual seria para sempre lembrado por muita gente: o Hino do Cinquentenário de seu time – Grêmio Football Porto-Alegrense. Cuja letra começa glosando o mote de uma greve dos transportes ocorrida naquele momento: até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver. O que era pra ser um tema da hora, só pra comemorar aqueles primeiros 50 anos, acabou desbancando o hino oficial do clube, do qual ninguém mais lembra. Afinal, hino escrito por Lupicínio, naquele momento, era um luxo que uma torcida jamais dispensaria.
Até os anos 50 tudo muito bem, tava tudo muito bom, mas tudo muda quando  entram os Anos 60. As sucessivas modernidades provocadas pela Bossa Nova, Jovem Guarda, MPB politizada e Tropicália,  enterram viva quase toda a geração de Lupi.
 Mas tudo, mais uma vez, recomeça com João Gilberto. Em 1971, depois de longos anos morando no exterior, João vem ao Brasil gravar um programa de TV na Tupi. Aí, entre Jobins e Caymmis, para surpresa geral, ele manda Quem Há de Dizer, do Lupi. Em 1972, Caetano Veloso, fiel apóstolo joãogilbertiano, volta do exílio londrino tocando em seus shows justamente Volta, do Lupi. Pronto: com duas gerações de ícones culturais apontando pra ele, estava armada a cena pro retorno de Lupicínio.
Depois de uma fase de esquecimento na década de 60, sua obra voltou a aparecer no início dos anos 70, quando, descoberta, passou a ser cantada por alguns então novos – e grandes – nomes da MPB, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina e Paulinho da Viola que registra uma magistral versão de Nervos de Aço.
 Neste ponto eu volto a me intrometer na história do meu personagem para contar o dia em que eu vi o Lupicínio cantar ao vivo. Eu também, como Lupi, não toco instrumento nenhum, mas sempre fiz as minhas canções (marchinhas) batucando em caixinhas de fósforos, desde guri (comecei a fumar cedo!). Era 1971 ou 72, eu com 18 anos, e houve um festival de música promovido pela prefeitura e que oferecia conjuntos musicais para quem não tivesse grupo para apresentar suas músicas, inscrevi a canção Tributos aos Campos (de temática hippie no clima contra a guerra no Vietnã) que se classificou para a final. Então, o empresário que realizava o festival levou os classificados para confraternizarem num bar de boêmios na rua Cel Genuíno, ao lado de onde era o Cinema Marabá. Lá pela tantas, fez-se silêncio no ambiente e levantou de uma mesa no canto da sala um mulatinho franzino e cantou macio uma única música e sentou de novo, sob aplausos delirantes de todos, inclusive meus. Eu vi o Lupicínio cantar!
Em 1974 Caetano grava Felicidade, e nesse mesmo ano Elis Regina vê que era a hora de tomar o gaúcho para si e finalmente ganha coragem pra gravar não uma, mas duas canções de seu conterrâneo. Estraçalha em ambas: Cadeira Vazia e a música Maria Rosa que entra no seu LP daquele ano. Pra fechar, o cineasta Bruno Barreto usa a canção Esses Moços como música-tema da sua adaptação cinematográfica do livro A Estrela Sobe.
Mas durou pouco. Dia 21 de agosto de 1974 é internado na Unidade de Tratamento Coronário do Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre. Já estava mal quando, dois dias depois, o filho lhe traz a notícia:
– Pai, “Felicidade” tá estourando na parada de sucessos!
Ainda tem forças pra retrucar, irônico:
– Finalmente estão reconhecendo de novo o velhinho…E Lupi morreu poucos dias depois.
Em 1995, o filho de Lupi, Lupicínio Rodrigues Filho, organizou o livro "Foi Assim" (Editora L&PM)  que é o título de uma música, com uma seleção das crônicas publicadas por seu pai no jornal "Última Hora", de Porto Alegre, entre 1962 e 1963. Citado e recitado por Cazuzas e Lobões, o finado boêmio foi também lembrado pela geração 80 do rock nacional. Arnaldo Antunes fez uma versão de rock pra rancheira Judiaria;  o Thedy Corrêa, líder da banda gaúcha Nenhum de Nós, lançou um CD de revisão eletrônica do boêmio com o título Loopcínio; e o vanguardista Arrigo Barnabé apresentou de 2009 até 2012 o show “Caixa de Ódio” (com CD e DVD) cantando e interpretando músicas do Lupicínio, que inclusive vai virar filme.
O pressuposto básico do professor Fischer na disciplina de Canção Popular é de que a canção faz parte do patrimônio da literatura brasileira. Luiz Tatit, músico-compositor e teórico das estruturas musicais, no livro O Cancionista que faz parte da bibliografia do curso, comenta: Em alguns minutos, um samba-canção pode despertar no ouvinte um grau de emoção comparável à narrativa de um filme de duas horas ou mesmo de um romance que exija meses de leitura. (…) Esta é a questão para um cancionista: fazer com que a experiência relatada pareça ter sido realmente vivida. (…) Lupicínio foi dos mais hábeis e audaciosos compositores engajados à mensagem passional. Hábil pela rapidez em construir uma situação locutiva convincente e audacioso por operar na tangente do falso sentimento, aprumando com as melodias os excessos do texto.
Hoje vemos essa geração de cancionistas setentões que estão por aí  cheios de gás como Caetano Veloso, Gilberto Gil,  Chico Buarque, Roberto Carlos, Paulinho da Viola…Morreu também com Lupicíno Rodrigues uma geração que ainda acreditava que, aos 60 anos incompletos  o sujeito era um velhinho... que é o meu caso etário inclusive, apenas que sigo nas pegadas dos nossos ídolos que ainda são os mesmos, mas que depois deles reconheço que já veio (Cazuza, Renato Russo, Nei Lisboa, Zeca Baleiro, Arnaldo Antunes...) muita gente boa e mais bons cancionistas virão...Dizendo isso, concluo este ensaio questionando a tese do Fischer de que a canção popular brasileira, nos tempos pós-modernos em que vivemos, não tem mais a mesma força de formação estética popular de antigamente (tudo bem, dou o braço a torcer que ainda não surgiu nenhum Noel Rosa ou Chico Buarque!); e concordando sempre com o velho Lupi: O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar...