LANÇAMENTO DO BRECHÓ DE POEMAS

Antologia de poemas antigos com pouco uso e seminovos)
                                                          Fazer maus poemas é muito mais satisfatório do que ler os poemas mais belos – Hermann Hesse 

     Neste novo blog vou publicar poemas selecionados de cada um dos meus 8 livros alternadamente, e mais os versos que forem brotando  a partir de 2012 para o 9º volume da minha bibliografia poética.
.

As ilustrações do blog serão compostas de fotos de grafitismos (arte de rua) que tenho tirado pelas ruas portoalegrenses, ao longo dos últimos cinco anos, e também pelos muros e painéis de várias cidades e de diferentes países, por onde quer  que eu ande no mundo, e que constituem uma “coleção de obras de street art”, muitas das quais só existem hoje nas minhas fotografias. Só pelas ilustrações já valerá a pena visitar o blog BRECHÓ DE POEMAS, caro leitor internauta.



No Brechó, cumprindo mais um item da minha “Lista de 100 coisas para fazer na aposentadoria”,  abrirei o baú  de antiguidades de Meus livros de poemas escritos desde os 14 até os atuais 58 anos de idade que são os seguintes:
Caro leitor do Diário, acompanhe também o blog BRECHÓ DE POEMAS, consuma em dose homeopática um poema semanal, faz bem para o espírito e não engorda o corpo, não dói nem custa nada e é rapidinho: Zapt-zupt! 
Não deixe de dar uma espiadinha.

CAFURINGA: O homem que fala sozinho

          Faz muito tempo que eu queria escrever uma matéria sobre o meu ex-colega de trabalho Jorge Cafuringa, pois este blog ficaria incompleto sem o registro desta figura emblemática do quadro dos servidores da manutenção de equipamentos do Dmae.  Desde o início eu estava esperando a inspiração de um gancho literário que me desse a abordagem adequada para enfocar bem o personagem, mas até ontem nada de muito interessante havia surgido.
          Eu havia pensado em começar contando de quando nós dois, jovens ainda, no final da década de 1970 frequentamos juntos o Cursinho Pré-Vestibular Mauá, no tempo dos professores Édison de Oliveira e Túlio,  de português e matemática respectivamente, ano em que nenhum de nós passou no vestibular da UFRGS, e que ele foi fazer o curso de engenharia mecânica na PUC, enquanto eu fiquei tentando mais algumas vezes até conseguir entrar na faculdade federal.

         Também cogitei de resgatar como introdução o trecho da matéria que publiquei aqui no blog (em dez/2010) sobre a grande incidência de ”pais e filhos” trabalharem como colegas no Dmae, em que eu citava o Cafuringa: “tem os casos de filhos de pais de outras divisões do Dmae, tais como os numerosos irmãos Jorge Cafu, Aurélio Charuto e Victor da DVM (irmãos da Isabel (Bela) da DVA) que são filhos do Getúlio (falecido boêmio e tocador de cavaquinho da DVA)”.
Outra abordagem que pensei em fazer foi a futebolística. Tinha tudo a ver fazer o texto com o enfoque de futebol, pois o Cafuringa ganhou este apelido (nome de um antigo jogador profissional famoso) por ser um ponteiro direito muito rápido e habilidoso, que marcou época na vasta galeria de conquistas de troféus dos sucessivos times de futebol de campo que se formaram na manutenção, os quais até hoje sempre têm tido pelo menos um dos seus irmão jogando e ele atuando como técnico e/ou cartola.
Outras vezes pensava que o central numa matéria sobre o Cafuringa deveria ser os entrelaçamentos que nossas vidas profissionais tiveram desde o início de nossas carreiras. Isso ocorreu especialmente porque a DVM se caracteriza por ser o único lugar do DMAE onde os funcionários praticamente não mudam de local de trabalho ao longo de toda a vida profissional. As mesmas pessoas acabam convivendo por décadas consecutivas, devido às especificidades técnicas dos ofícios e cargos que só existem na Manutenção.
Em verdade nossa história se entrelaça desde antes,  pois tivemos a mesma origem de formação técnica, que foi a Escola Parobé, e onde o Cafuringa posteriormente tornou-se professor e permanece lecionando.  Ainda assim, tanto ele como eu estivemos trabalhando em outras divisões por alguns anos, ele na Divisão de Esgotos e eu na Divisão de  Água, e ambos voltamos para o nosso lugar natural e de origem  no Dmae, que é a Manutenção.
Outra alternativa considerada foi abordar o seu gosto especial pelo leva-e-traz de coisas que alguém ouviu contar sobre o fulano ou/com a fulana em tais ou quais causos ou fofocas, que no fundo todo mundo gosta. Todavia, é sabido que para as histórias contadas pelo Cafú tem que se dar muito desconto, pois que ele não aumenta só um ponto, costuma incrementar temperos apimentados e hipóteses de duplo sentido para dar maior emoção e impacto ao causo. Esses disse-me-disse do Cafuringa podem ser verídicos ou podem ser de origem fictícia ou inventada por ele mesmo, nunca se sabe ao certo...Nisso consiste o seu sucesso como revelador de supostas intimidades alheias, posto que é feito sem maldade e com a sua autêntica ingenuidade.
Pensei ainda em relembrar algumas passagens nossas, quando já estávamos os dois formados em engenharia, e fizemos juntos estudos preparatórios para o concurso de engenheiro do DMLU. Estudávamos na minha casa e nos plantões de final de semana no DMAE, concurso que ele, por ser muito festeiro naquela época, infelizmente acabou não conseguindo aprovação. Queria relembrar de como, décadas depois, como Diretor da DVM, eu fui chefe do Cafuringa e tentei inutilmente conseguir um Cargo em Comissão pra ele, posto que na era petista eram tantos companheiros esperando a boquinha que sistematicamente uns tiravam férias pra outros de fora assumirem.
Certamente que teria que comentar que participei de sua festança de casamento, e falar de como acompanhamos à distância, por duas décadas, os nascimentos e crescimentos de nossos respectivos filhos, os meus divórcios e a fatalidade  do recente falecimento da esposa e grande coordenadora da vida familiar do meu amigo.  Que sacanagem do destino, deixou órfãos dois adolescentes e o próprio Cafú!...
Contudo, eu sempre ficava com a sensação de que nada disso captava o essencialmente  peculiar no Jorge Cafuringa, que ficava faltando alguma coisa, até que a crônica da Martha Medeiros publicada na ZH de ontem com o título “Falando Sozinho” me deu o gancho que faltava para a elaboração da minha postagem sobre o Cafú. 

A cronista conta que, alertada por suas filhas, teve que sucumbir às evidências e admitir que fala sozinha. Diz que, sem perceber, o pensamento sai pela boca e não raro gesticula, mas que não chega àquele nível de maluquice que acomete andarilhos que falam num volume tão audível que a gente chega a se perguntar se estariam mesmo sozinhos.
Agora, com o testemunho da Martha Medeiros, eu próprio já posso assumir que também falo sozinho em casa, e posso escrever sem melindres nesta crônica que o Cafuringa é desses que falam a altos prados e gesticulam com  empolgação pelas ruas. Quem o conhece sabe, é folclórico vê-lo discutindo consigo mesmo, isso é uma peculiaridade dele  e desde  sempre foi assim. Mas, como hoje em dia é até muito comum vermos pessoas falando sozinhas, às quais supomos que estão falando em celular com fones de ouvido camuflados, ninguém mais estranha o Cafuringa em seus monólogos andarilhos.
Finalmente posso escancarar, pois que agora tenho  referência de gente famosa para poder afirmar: Cafú, nós que falamos sozinhos somos normais! Segundo a Martha Medeiros falar sozinho é um ato de generosidade, pois vá saber o estrago que causaríamos se falássemos tudo, olho no olho. Melhor soltar as frases ao vento...
                          - Valeu meu irmão negão!

Veja o pré-lançamento do meu novo blog: BRECHÓ DE POEMAS, clic aqui!

Memórias da Viagem: PARIS

De Madri  voamos por sobre “os telhados de Paris”, rumo à última  e a mais complicada etapa da viagem: o francês, a barreira do idioma.
Paris tem uma dúzia de lugares obrigatórios para o turista se fotografar neles, coisa que se faz tranquilamente em três dias.

Depois, decerto, é preciso três anos pra um estrangeiro penetrar na vida cult parisiense, saber o que eles comem em casa e o que fazem nos finais de semana de inverno e de verão...
Tudo ao contrário da Espanha, onde tanto o idioma quanto o estilo de vida parecem mais acessíveis aos filhos culturais do Tratado de Tordesilhas, especialmente aos brasilenhos fronteiriços hablantes de portunhol.
Logo após nos hospedarmos em Paris, saímos para dar uma volta de reconhecimento no entorno e avistamos numa reta ao longe a majestosa Torre Eiffel, já saímos nos perdendo até chegar à pé aos seus pés...
A Torre Eiffel é como uma assombração para os turistas, por todo lugar por onde se anda em Paris, de repente ela surge sempre se oferecendo para ser fotografada em novos ângulos. Lá pelas tantas já estamos fartos de tanto tirar fotos dela, imagine isso no tempo das máquinas com filmes fotográficos, que prejuízo!

O curioso é que em Paris estivemos por tudo que é lugar, navegando pelo rio Sena, no Palácio de Versalhes, no Mercado de Pulgas e no Museu do Louvre...

e não encontramos sequer uma referência elogiosa à Revolução Francesa, pelo contrário, o grande herói nacional homenageado por lá é o Napoleão.
Compreensível, suprimiram a guilhotina revolucionária e rememoram o apogeu da França imperialista da era napoleônica.
Em compensação, além do quadro da Mona Lisa, A Gioconda que Leonardo da Vinci pintou em 1503, com o seu consagrado sorriso enigmático, que o imperador Napoleão Bonaparte mandou colocá-lo nos seus aposentos....
...e da Vênus de Milo, estátua grega, que é hoje uma das estátuas antigas mais conhecidas do mundo, cuja autoria e datação permanecem controversas, e que adquiriu o status de ícone popular, sendo reproduzida como estatueta, em estampas, filmes, literatura, souvenirs turísticos e outros itens para o consumo de massa....

Então, além da Mona Lisa e da Vênus de Milo, que funcionam como atrativos de turistas, o Museu do Louvre tem uma imensa coleção de peças de arte de antiguidades gregas, egípcias e africanas que contam a trajetória humana na face da terra desde cinco milênios antes de Cristo, é sinistro.
Não se pode passar por Paris sem se beber um champanhe francês, mas no restaurante tive que trocar a pedida por um vinho branco no almoço, por causa do alto preço, e comprar o champanhe no mercadinho para beber à noite no hotel com petiscos de queijos.
Por falar em queijos, na terra das especiarias deste  produto, estranhamos que nos buffets matinais dos bons hotéis em que paramos não havia presuntos, nem salames e nem mesmo queijo, era uma doceria só!
Depois descobrimos que é uma questão de costume cultural, francês não  come frios no café da manhã: pode?... É o mesmo povo sofisticado que come lesma, o famoso escargot que a minha filha comeu e eu provei: nheca!
Participarmos em Paris até de um ato público de manifesto, “Marcha dos Possíveis”, contra o alto custo de vida em euros, o que nós podemos dimensionar pela cotação da moeda, o que aqui se paga dez reais lá custa dez euros, direto e simples assim.
Então, atualmente tudo custa cerca de três vezes mais caro pra nós,  mas brasileiros é o que mais se encontra por toda a parte que andamos, dá mais que japonês, só não andam em bandos e até se evitam.
Os salões luxuosos do Palácio de Versalhes, que um dia a plebe rude invadiu revolucionariamente, hoje estão sempre repletos de burgueses de todos os cantos do mundo captando fotos do seu ideal de vida que seria no estilo da nobreza guilhotinada.
A classe média brasileira invadiu a Europa, especialmente Paris pelo seu nostálgico glamour chic.
Entre estes membros da classe média que estão indo atualmente à Europa, se metendo de pato à ganso, tem o grupo dos “folgados”, aqueles que juntam uma poupança todo mês e têm uma gordurinha pra queimar...e navegam tranqüilo pelo Rio Sena.

Tem outro grupo que, para manter a pose em cima dos saltos, como eu,  contam os trocados no final de cada mês para não entrarem no saldo negativo e não terem que pagar juros exorbitantes aos membros da  classe alta, aos banqueiros que são os agiotas donos do mundo pós-moderno sem ideologias. Estes visitam a Igreja de Notre  Dame mas não  dão esmolas para os corcundas pedintes do seu entorno.
O fato é que a gente fica amarrado em Paris, se prometendo um dia voltar com mais tempo, e dá vontade de chavear este compromisso acrescentando mais um cadeado aos milhares que existem na ponte François Mitterrand sobre o Rio Sena...
Agora, caindo na realidade da minha classe social, entendo perfeitamente por que se atribui o status de “realização de um sonho” ao ato de se realizar grandes viagens, faz todo o sentido quando ao voltar se totaliza os gastos e se percebe que pagamos, para duas pessoas, o valor de um carro mile zero-Km (um Clio da  Renault ou um Ka da Ford) pra nos metermos de pato à ganso por três semanas.

Reconheço que um roteiro semelhante num pacote turístico pronto poderia custar mais barato, mas não seria a”minha viagem dos sonhos”, em que fui exatamente nos lugares que pretendia e fiz as coisas que queria realizar, ou seja, vivenciar nossas origens luso-espanholas e africanas, andar de trem por aquelas terras européias e me situar no ambiente  das vanguardas artísticas e intelectuais em Paris.
De repente o fim da festa se anuncia, é hora da gente voltar antes de virarmos abóbora novamente. Já?...Nem compramos ainda as lembrancinhas para os parentes e amigos... Não há nem vestígios de guilhotinas, foram substituídas por obeliscos e torres nos souvenirs e nas praças.
No final da primeira semana de viagem, cansados pelo ritmo alucinado do galopar do primeiro trecho do roteiro, achávamos que dezoito dias seria tempo demais longe de casa.
Depois baixamos o galope para um trotear distraído, regado a vinhos, champanhes e muita cerveja espanhola (Olé!), e passamos a abstrair as dificuldades de adaptação com as comidas pelos dois continentes, quatro países e dez cidades que visitamos.
Mas, chegado o dia de voltarmos para o nosso saudoso feijão preto com arroz e carne, iniciamos a retirada em Paris às 5 horas da manhã, com duas conexões previstas (uma em Madri e outra em São Paulo), que pelo fuso horário no Brasil seria meia noite, e cheguamos em casa à meia noite, que na Europa seria 5 horas da manhã do dia seguinte, 24 horas depois, dá pra entender?...
Mas, retomando o que iniciei dizendo neste longo relato da minha viagem dos sonhos: Fui, vi e voltei inflado. Valeu muito a pena ter ficado endividado!