A Luta de Classes: ASTEC X SIMPA

segunda-feira – 01/março
      Esta semana haverá uma solenidade promovida pelo Prefeito com a ASTEC (Assoc. dos Técnicos Científicos), para a assinatura de concessão da chamada “Integralidade da GIT” - Gratificação de Incentivo Técnico - que até agora atingia o valor de 90% do salário básico do cargo inicial de Nível Superior. A partir de fevereiro será dado a integralidade (mais 10% para integrar os 100%) como um “cala a boca” para não chiarmos contra os 2,5 salários básicos ganhos recentemente pela classe dos advogados da Prefeitura. É como diz o velho ditado: de penduricalho em penduricalho vamos engordando o nosso salário!
     Não vou poder acompanhar esse evento, pois estou saindo de quinze dias de férias rumo a Maceió. Mas não posso deixar de comentar que esta política de dividir a categoria dos municipários em classes, para poder manipular separadamente cada segmento com a concessão de “penduricalhos salariais”, é uma escrita do Velho Testamento da administração municipal, que já foi objeto de combate do movimento sindical nos seus primórdios, quando se buscava a unidade respeitando a pluralidade no sindicato.
      O surgimento da ASTEC (com todo o respeito aos seus mentores, na época liderados pelo cara que eu considero a mais importante liderança sindical da nossa geração de barnabés municipais, o Luis Fernando Rigotti, bom orador carismático e construtor da AMPA, do SIMPA, da ASTEC e do PREVIMPA – este mesmo que como presidente do PREVIMPA é hoje hostilizado pelo sindicato) foi a chancela de que “o sonho de unidade no SIMPA acabou”. Eu não aderi à ASTEC na época, e nunca me associei, mais por que a partir daí começou a prevalecer a minha índole anarquista, de desacreditar em absolutamente todas as instituições humanas, depois do desencanto com tantas que eu já havia ajudado a construir (isso que eu nem imaginava que os meus desencantos seriam ainda muito maiores!).
      Mas, como técnico científico, ainda que tardiamente preciso reconhecer que as leis de Newton continuam vigorando, e que toda reação ainda é causada por uma ação, ou seja, a orientação partidarizada que o nosso sindicalismo assumiu, após a transição do movimento plural da AMPA para o do sectarismo ideológico semeado no SIMPA, fez com que o surgimento da ASTEC (e o refortalecimento político das demais associações) fosse uma reação divisionista natural da física dos movimentos.
      Mas, a bem da verdade, também ainda que tardiamente, é preciso reconhecer que as jovens lideranças que surgiram no andar do movimento, oriundos em grande maioria do movimento estudantil, forjados numa época de abertura do regime da ditadura militar e redemocratização do pais, apesar de sectariamente partidarizadas, ajudaram a enraizar o movimento dos municipários no setor operário, dando-lhe uma consistência e uma dinâmica de verdadeiro movimento de massa.
      Depois veio o Collor, o Sarney...e na dialética histórica a democracia perdeu o seu poder mágico de mobilizar as pessoas em causas institucionais do bem coletivo baseado na consciência de classe. Como o Muro de Berlim, caiu por terra a esperança de uma sociedade mais justa e igualitária. Como dizia a canção do Gilberto Gil: O sonho acabou, e foi pesado o sono pra quem não sonhou.

Hoje dou o braço a torcer: Valeu ASTEC! (Valeu antiga gurizada da Convergência Socialista!)

Meditação & Café com Notícias e Pães Quentinhos

      Por não gostar de comer pão dormido, costumo tomar o meu café da manhã na loja de conveniência do posto de gasolina que tem em frente ao meu local de trabalho, onde há o belo aquário da foto com a mesa ao fundo onde eu costumo sentar (quando o colega Natal não ocupa antes). Metodicamente chego antes do horário de pegada do expediente, bato o meu ponto e faço o caminho mais longo em torno da quadra, aproveitando para dar uma caminhadinha matinal (seiscentos passos contadinhos de ida e volta), e tomo uma taça de café com pão prensado com margarina, fazendo uma leitura rápida do jornal Correio do Povo com sua notícias em pílulas e com a crônica do Juremir Machado.
      Uma das chamadas de capa do jornal de hoje era: Surpresa na Praça – Budistas meditam no meio da agitação. - A propósito, eu havia recebido ontem um convite por e-mail do Centro de Estudos Budistas (CEB), para participar deste evento de meditar sentado no calçadão da Rua da Praia em frente à Praça da Alfândega, mas minha fase de hippie já passou, foi há três décadas atrás. Sobre este tema, casualmente eu havia comprado ontem de noite no supermercado a revista Istoé, para ler a matéria da sua manchete da capa que era: A Medicina da Meditação – A ciência comprova que a técnica milenar é um poderoso remédio no tratamento de doenças cardíacas, depressão, artrite, câncer e até Aids; e os hospitais já usam a nova descoberta com bons resultados.
      Ao que tudo indica, a meditação e o próprio budismo estão em alta não só no Brasil, mas em toda civilização ocidental cristã que se sente ameaçada pelo islamismo radical. Particularmente eu tenho praticado meditação quase que regularmente em casa, antes de dormir, a cerca de dois anos. Tenho também procurado estudar o Darma Tibetano e assistido, sempre que possível, às palestras do Lama Padma Santem, seguidor do Dalai Lama. O Padma Santem é um lama gaúcho, ex-professor de física quântica da UFRGS, gremista (ninguém é perfeito) e que fala na linguagem e na perspectiva da nossa cultura portoalegrense.
      Como praticante do budismo no Dmae, por enquanto, além da minha mulher que também é dmaeana (e que, como eu, é ainda uma mera admiradora desta peculiar religião de ateus), conheço apenas o colega Júlio Brum, que é budista de outra linhagem tibetana, não é da linha do Dalai Lama (que é da Escola Gelug), pertence à linha dos Karmapas (que é da Escola Kagyü). Em Porto Alegre a orientação dele é dada pelo Lama Ole Nydahl, o qual foi um dos primeiros alunos ocidentais do 16° Karmapa. Sendo que ambos, o Dalai Lama e o 16º Karmapa, tiveram que abandonar o Tibete depois da invasão chinesa, e passaram a divulgar seus ensinamentos para os seus sedentos alunos ocidentais dos loucos anos 60 e 70 do século passado.
      É como antigamente, a história se repete, o Júlio e eu éramos de correntes políticas diferentes dentro do mesmo Partido dos Trabalhadores; agora somos de linhagens diferentes dentro do budismo. O importante é que mantemos os mesmos propósitos e as mesmas doutrinas, mas não necessariamente os mesmos métodos.
      Todavia, a questão que permanece pendente não é do âmbito político nem teológico, é o problema do “pão dormido” projetado para a minha rotina de aposentado em 2011, uma vez que não há uma padaria próxima ao meu edifício. Por mais que eu medite, não consigo encontrar uma solução para que os meus futuros cafés da manhã continuem sendo acompanhados de pães quentinhos e da leitura do jornal.

O ALVORECER DE UM LITERATO

      Agora é oficial: a minha filha é uma universitária e eu sou aluno do Curso de Letras Português-Espanhol. Hoje foi o dia de matrícula destes dois biXos, dia em que passei a ser colega de mais um dos meus filhos, pois o André já faz Informática na UFRGS.
     Eu havia me inscrito no vestibular na modalidade de concorrer não só às vagas pelo sistema Universal, mas também pela cotas de egressos de escola pública e, ainda por cima, optei por computar a nota da prova do ENEM. Ou seja, estava arrebanhando tudo o que pudesse ajudar, até rezas e velas; só não pude recorrer às cotas de negros e de índios por falta de genótipo convincente.
     Convenhamos, se existe uma área que o governo Lula realmente fez diferença, esta é a área dos meios de acesso às universidades. O interessante é que foi apenas às vésperas da minha inscrição no vestibular que me caiu a ficha de que eu poderia usufruir das mudanças nesta área, com as quais vinha simpatizando sem segundas intenções. De repente me dei conta de que eu próprio preenchia os requisitos, pois havia estudado a vida inteira em escola pública: feito o curso primário na FEBEM, a metade do ginásio no SENAI fazendo o curso de Tipógrafo (remunerado com meio salário mínimo e carteira assinada como menor), e a outra metade do ginásio aprendendo o ofício de eletricista que foi seguido do curso técnico de segundo grau em eletrônica, ambos na Escola Técnica Parobé.
     A grande novidade deste ano foi a ascensão da questionadíssima prova do ENEM, que, até então, vinha servindo apenas para avaliar a qualidade do ensino brasileiro. Em 2010 o ENEM passou a ser a porta de entrada direta para vagas de muitas universidades públicas de renome no país, e passou a ser utilizado, de alguma maneira, por praticamente todas as faculdades na avaliação de ingresso de seus vestibulandos. Confesso que dá gosto ver os jovens acessando o SISU (Sistema de Seleção Unificada) do Ministério da Educação e garimpando Universidades em que seus escores obtidos no ENEM possam lhes garantir vagas públicas ou bolsas de estudo integrais ou parciais em universidades particulares: coisa de primeiro mundo! Esta nova realidade está mexendo com a vida das pessoas, como é o caso do meu colega Erasmo, técnico industrial da manutenção, cujo filho vai migrar para Pelotas por ter conseguido classificação para uma vaga, através do ENEM no PROUNI, no curso de Letras de uma faculdade pública daquela cidade.
     Tive, portanto, a experiência de fazer os torturantes super-provões do ENEM, tipo responder 90 questões absurdamente extensas em cada uma das duas provas, elaboradas de tal maneira “fora da casinha” que simplesmente não tive tempo nem de começar a prova de redação. Isto tudo depois de ver a primeira data de realização dos exames ser cancelada por terem sido roubadas as provas da gráfica e estarem sendo vendidas às vésperas de sua realização. Com pouca prática, o Ministério da Educação tem que se aperfeiçoar muito ainda para melhorar a elaboração de seus exames até se nivelar aos do padrão da UFRGS. Ainda assim obtive um bom rendimento, fiz um escore de 789 pontos que acrescentou 10 pontos sobre a média das minhas notas das provas da UFRGS, onde me classifiquei com um escore de 576 pontos, como o 31º das 132 vagas no curso de Letras. Mas, no final, nada desse esforço extra se fez necessário, pois acabei surpreendendo e conquistei a minha vaga pelo chamado acesso universal e sem precisar do acréscimo proporcionado pelo ENEM.
      O fato festivo da matrícula tem o seu lado melancólico, é que encerra-se aqui o meu ciclo de estudos filosóficos, e o corte deste cordão umbilical acadêmico com a filosofia deixou uma espécie de sensação de vazio no meu peito, após a consolidação da matricula e o conseqüente rompimento irreversível com este curso que tanto contribuiu para fundamentar de modo consistente o aspecto filosófico da vida naa minha formação pessoal. Talvez o vazio se deva ao fato que agora não alimento as mesmas expectativas e carências vitais em relação ao curso de Letras do que quando iniciei na filosofia, mas tomara que eu seja surpreendido e que esta licenciatura se revele tão boa de ser cursada como se revelou o curso de Engenharia de Minas, em que eu não botava a mínima fé, mas que graças ao seu diploma ganhei o meu sustento e, quiçá, usufruirei um bom gozo como literato na minha aposentadoria.

AS FALTAS DA DONA MALVINA

sexta-feira – 19/fevereiro
     O processo de estrangulamento do serviço público se dá por realizações de carências operacionais por falta de pessoal, carências que constituem verdadeiros torniquetes que vão sendo apertados até que todos clamem por uma terceirização de cada segmento específico das atividades públicas. É o caso do pessoal da limpeza de escritórios/banheiros/etc. e dos contínuos das repartições; tanto que já estamos todos pedindo “por amor de Deus” que terceirizem estes serviços.
      Hoje a Dona Malvina, que é uma raridade, pois faz muito bem este serviço de limpeza na Divisão de Manutenção, nos mostrou indignada o processo em que requereu abono de três dias de faltas ao trabalho ocorridas por “razões de força maior” e que foi indeferido. Contagiado pela sua indignação com os novos procedimentos administrativos, em que predomina uma burocracia que possibilita que pessoas se omitam de tomar decisões, se escondendo atrás de regras generalizadoras padronizadas e nem sempre compatíveis com a vida real, me propus a ouvir detalhadamente os seus motivos e elaborei o seguinte texto em seu nome para que ela anexasse ao processo requerendo uma reconsideração daquele despacho:

À DVH
     Tomei conhecimento do parecer indeferindo o meu requerimento baseando-se em argumentos burocráticos sobre prazos e regras legislativas, sem entrar no mérito da questão, motivo pelo qual não concordo e apresento um RECURSO conforme segue:
     Os três dias de ausência ao serviço foram motivados pelo fato da minha filha ter baixado às pressas na maternidade por estar grávida de 8 meses e, por complicações clínicas, teve que ser submetida a uma cirurgia cesária, dando origem a um parto prematuro. A gravidade do quadro pode ser avaliada pelo fato do recém-nascido ter ficado na UTI por cerca de trinta dias, e a mãe do nenê, por já ter quarenta anos e constituir um grupo de risco, ter ficado hospitalizada por cinco dias.
     Foi no meio daqueles dias que foram de acompanhamento, expectativas e até rezas durante dias e noites, devido à grande aflição familiar, que após comunicar por telefone os motivos da minha ausência ao meu EQAD, fui orientada para regularizar a minha ausência ao trabalho junto ao Gabinete Médico. Na ocasião compareci e expliquei o meu caso ao próprio médico da Perícia Médica, o Dr. Renato Ferreira (que é um estranho novato que destoa da seleta equipe médica do GM), informando que a médica da minha filha forneceria um atestado, o qual falou que eu já havia perdido o prazo hábil e que deveria entrar com um processo quando tivesse o tal atestado.
     Como pode se constatar na minha ficha de Qualificação Básica em anexo ao presente processo, não consta em toda a minha vida funcional nenhuma falta ao serviço, e isto que eu já possuo todas as exigências para me aposentar no momento que quiser. Esperava que este meu histórico de dedicação profissional orientasse a burocracia do DMAE quando entrei com o presente requerimento, que pelo menos eu fosse ouvida antes de enviarem a sentença para ser publicada no DOPA, o que lamentavelmente não aconteceu com o parecer da Equipe de Apoio Técnico-profissional, o qual em considero injusto e peço reconsideração.
     Peço reconsideração por considerar falho o argumento do parecer que diz que “a servidora não se apresentou à Perícia e o que o médico informa que na situação médica apresentada o paciente pode ou não necessitar de acompanhamento familiar, impossibilitando a verificação da concessão ou não de Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família”.
     Sou classificada como operária, e em nenhum momento deste procedimento fui orientada, e deve haver um “Serviço Social” no DMAE para isso, no sentido de que deveria requerer Licença por Motivo de Doença em Pessoa da Família. A única orientação que recebi, como já relatei, é que deveria entrar com um processo anexando o atestado médico requerendo o abono das “ausências”. Além de ser inverídica a alegação que eu não compareci na Perícia, o parecer se baseia na resposta genérica e sem conhecimento de causa do médico da Perícia, simplesmente ignorando o atestado anexo da Drª Suzane C. Matte, que estava atendendo o caso no Hospital Divina Providência, e que afirma com conhecimento de causa que “a paciente necessita de cuidados e acompanhamentos nos dias 25, 26 e 27 de novembro/2009”.
     Como a própria existência deste processo se deve ao fato de não ter-se cumprido os prazos e regras burocráticas, o seu indeferimento argumentando estas mesmas causas, sem entrar no mérito do caso humano e de suas necessidades e urgências, bem como de suas decorrentes priorizações e atrapalhações, é o mesmo que tornar nula qualquer possibilidade de requerimento de “abono de faltas” por estes motivos.
     Portanto, solicito RECONSIDERAÇÃO DO PARECER Nº 412/2009 motivado, não pelos prejuízos financeiros decorrentes, mas por não achar justo que a minha ficha funcional fique “suja” com estas três faltas ao final da minha carreira profissional*.
...........................
* = Toda esta luta para uma servidora com trinta e tantos ano de serviços prestados à empresa obter três dias de abono no cartão ponto e notoriamente por razões nobres. Coisa que a chefia imediata fazia, antigamente, sem o kafkiano “processo” burocrático atual. E ainda tem muita gente querendo dourar a pílula do “mundo do trabalho” em serviço público como sendo um paraíso e não uma prisão...
**= Três meses depois de apresentado este recurso, ainda não houve uma decisão sobre o caso.

Síndrome da Caixa de Correio Vazia


     Os índices de incidência de depressão crescem no mundo todo. Conforme a Organização Mundial da Saúde, nos próximos anos ela deverá se tornar a doença mais comum do planeta, ultrapassando enfermidades como câncer e doenças cardíacas. O fenômeno pode ser explicado, segundo os especialistas, pelas características da sociedade urbana que cria um ambiente de instabilidade financeira, violência e carência de convívio social, características suscetíveis de problemas emocionais que constituem fatores de risco de manifestações depressivas.
     A propósito, recebi hoje um e-mail daquele meu amigo aposentado, citado no primeiro registro deste Diário de um Aposentado, que é um gaúcho que vive num casarão quitado na praia do Campeche na ilha de Florianópolis (que invejável tédio!) e que se diverte me assustando com a sua “experiência” no assunto tipo “Assim Falava Zaratustra”:
-Daí, meu amigo Xirú, quase aposentado, como está a espera do DJ (Día de la Jubilación)? Enquanto não chega este dia tão longínquo leia mais este e-mail, porque, certamente você não vai ter tantos na sua caixa de mensagens como tens agora que trabalha em uma companhia pública! É, sim, os aposentados são vítimas, às vezes ou quase sempre, de um esquecimento por parte das "pessoas ativas economicamente". Digo estas verdades para que você possa estar te preparando para tal fato, porque vais passar por isto certamente. E tem mais, vão te tirar o Vale Refeição, o Vale Transporte, o Auxílio Médico, o Abono Permanência e outras mumunhas, porém vais ter, em compensação, que pagar IR da mesma maneira, etc... Mas não é o fim... breve terás passe livre nos ônibus da cidade! Um abraço! Bem apertado, mas não muito!

     Por estas e por outras, para não entrar em pânico na “hora H”, é que tenho guardado algumas munições e armado algumas armadilhas para manter contatos ex-colegas@dmae.prefpoa.com e fisgar alguns novos na “www.web-mundo”.
     As munições que tenho guardado são aqueles arquivos de imagens que classifico como “muito bons”, que os colegas ainda me enviam de clipes e power-point, de maneira que já tenho vários gigabites de mensagens e filmezinhos interessantes em backups para rever no ostracismo... E as armadilhas que tenho armado são justamente os meus blogs pessoais, que partindo deste “Diário de Um Aposentando.blogspot.com”, que tem público alvo específico, remete também para outras temáticas tipo poesias, crônicas literárias e fotografias de minha autoria.
      Esta é a minha estratégia, e durante este último ano vou trabalhar intensamente neste projeto de estabelecer tentáculos na rede para manter contato com o mundo externo para quando eu me retirar para a minha caverna nas montanhas, feito o meu amigo Samurai do Campeche.

OCASO DO MONTEPIO

       Como já foi comentado anteriormente, é no Gabinete Médico que se reencontram as diferentes gerações de trabalhadores da empresa. Um dia desses aconteceu de eu estar no saguão de espera para consultar com a Drª Beatriz (a propósito do meu colesterol, triglicerídios, etc.), assistindo a um documentário que passava no aparelho de televisão instalado em suporte de parede (artifício eficiente para entreter o tempo de espera dos pacientes), quando sentou ao meu lado um aposentado, um ex-colega não só de trabalho, mas de militância política e de aprendizagem de vida.
       Aprendemos muito um com o outro, sem nunca termos conversado sobre estas coisas que aprendemos; nos referenciamos pela autenticidade nas posturas de vida e pela intensidade com que nos dedicávamos especialmente às lutas sociais. Apesar de sempre estarmos em ciclos diferentes da vida, em conseqüência da nossa diferença etária de uma década ou pouco mais, adquirimos um nível tal de confiança mútua que ele até serviu de meu fiador na locação de um apartamento, num momento crucial em que eu saia do meu primeiro casamento.
      Logicamente que nossas reminiscências comuns passaram por reconsiderações críticas de nossas antigas ideologias políticas: ele um brizolista ferrenho e eu, naquela época, um petista “lulista-olivista” quase fanático. Inclusive pudemos fazer uma releitura conjuntural do grave confronto que vivenciamos de lados opostos, após uma longa militância sindical em que atuamos conjuntamente. Refiro-me ao episódio em que fiz parte de uma comissão de intervenção, decretada pelo então prefeito Tarso Genro, que destituiu a diretoria do Montepio dos Funcionários Municipais de Porto Alegre, da qual este meu ex-colega exercia a presidência justamente naquele momento histórico (havia assumido o cargo apenas 17 dias antes – que azar!). Relembramos a dramaticidade da estratégia do ato de posse da Comissão de Intervenção, que se deu através de invasão de surpresa do prédio (acompanhados apenas de dois guardas municipais desarmados!) e pela ocupação da sala da diretoria da instituição. Recapitulamos a longa agonia da diretoria deposta que se viu forçada a buscar a reintegração de posse na justiça comum, o que só foi conseguir cerca de seis meses depois da intervenção.
      Aqui abro uma parênteses no relato deste encontro para dar asas ao livre relembrar de alguns aspectos deste episódio ocorrido a partir de maio de 1994, que talvez tenha sido o mais controverso em que me envolvi em toda a minha vida. Nesta ocasião, através do Decreto Nº 11.003/94, foi formada uma “tropa de elite petista” para constituir a tal Comissão Administrativa Provisória, com especialistas designados em cada área: um economista na presidência (Everton da Fonseca), um procurador na Diretoria Administrativa (Rogério Favreto, que depois seria o Procurador Geral da Prefeitura), um economista na Diretoria Financeira (Roger Keller), uma fiscal da Fazenda Municipal na Tesouraria (Marilene Iurkfitzg) e eu, na Secretaria Geral, como especialista na política sindical da categoria dos municipários:

(foto da Comissão Provisória e a Eleitoral sentados sobre as urnas já apuradas)

      A comissão foi investida com o objetivo de fazer valer a Lei Orgânica que determina a realização de eleições diretas para a Diretoria do Montepio, e cumprir a Lei 751/94, recém criada pela Câmara Municipal, que estabelece as eleições diretas para a Diretoria e também para uma Assembléia Constituinte a fim de elaborar um novo Estatuto para o Montepio. Foi um cerco total para acabar com o castelinho dos “donos do Montepio”, onde a Comissão de Intervenção era o Cavalo de Tróia que invadiu o território do inimigo.
       Até então a eleição da Diretoria sempre fora realizada indiretamente através do Conselho de Representantes. O fato é que o mesmo grupo se manteve sempre no poder usando a máquina da entidade para controlar a renovação dos membros do Conselho que se dava em conta-gotas: 1/3 em cada eleição de dois em dois anos. Convenhamos, num esquema desses quem tem um olho, se quiser, se torna rei fácil, fácil! Várias gerações de municipários ensaiaram chapas de oposição ao conselho, mas as compras de votos eram escancaradas...Eu atribuo o envolvimento deste meu bem intencionado e íntegro amigo, como de tanta gente boa, que buscava entrar para o Conselho de Representantes a fim de tentar mudar a coisa por dentro. Porém o grupo mafioso que operava na entidade manipulava estas pessoas e até os colocava como “testas de ferro” para ganhar com a credibilidade destas lideranças. Tanto que em seguida, decerto percebendo no ninho de cobras que tinha se metido, este meu amigo se demitiu da presidência e o verdadeiro mentor de todo o esquema teve que assumir e mostrar a cara: Mendelski.
       Com contribuições compulsórias de todos os servidores e outro tanto dos cofres públicos, arrecadando cerca de 810 mil dólares mensais, O MFP era nesta época uma poderosa instituição financeira. Era uma verdadeira mina de ouro, por mais besteiras e trampolinagens que os administradores fizessem, sempre entrava mais dinheiro para tapar os furos. Eram até folclóricas as filas que se formavam em torno da quadra da sede da entidade todos os inícios de meses, onde se realizavam cerca de 4 mil empréstimos mensais aos municipários. Portanto, eu entrei nessa briga consciente que para devolver o Montepio ao controle democrático dos barnabés e arigós, era necessário um plano radical como este de invadi-lo através do Cavalo de Tróia que foi a Comissão Administrativa Provisória (Éramos como o grupo do Fidel Castro tomando Sierra Maestra para libertar a Ilha e devolvê-la ao povo! – Doce ilusão).
       Justamente neste período da Intervenção o Montepio estava construindo o Shopping Olaria, o que foi um banquete para se pegar falcatruas de superfaturamentos a partir de auditorias que deram origem a várias ações ajuizadas e liminares, uma delas suspendendo o repasse de milhões para a maior de todas as loucuras que pretendiam cometer: o tal de Projeto SISA (Sistema Integrado de Saúde e Assistência) que envolvia a construção de um hospital, para entrar no ramo de assistência médica e quebrar com a AFM. Os caras, que não conseguiam administrar com competência nem os prédios próprios da entidade, já estavam megalomaníacos e se alçando para contratações de grande obras; se não fosse a intervenção eles teriam falido com o Montepio, pois quebrado e endividado já estava com as pensões que não pagava integralmente, e os cofres os caras já tinham deixado raspados.
      O fato é que realizamos a maior de todas as eleições já promovidas dentro da classe municipal, com mais de 10.000 votantes no primeiro turno e com seis chapas concorrentes. Daí em diante foi uma guerra de liminares na justiça, a primeira devolvendo a direção da entidade para antiga diretoria. Esse foi um período difícil que, sem a máquina do Montepio, tivemos que bancar o segundo turno da eleição na clandestinidade (apenas com um apoio encolhido e assustado do governo municipal) e ainda com a diretoria procurando minar e desacreditar o processo. Foi efetivamente uma epopéia de intensa entrega pessoal à militância para se conseguir garantir a lisura e a infra-estrutura de votação e do escrutínio do pleito. Aos trancos foi concluída a eleição em que disputaram duas chapas: a do Darvin Ribas (e João Paulo Machado do DMAE e outros) e a do Paulo Müzel (e Paulo Marcos do DMAE e outros), resultando vencedora a chapa alinhada com a Adminstração Popular Petista, que era a do Paulo Müzel. Então, outra briga de liminares judiciais foi travada para que esta diretoria democraticamente eleita, conforme estabelece a lei, pudesse tomar posse num montepio que já estava literalmente tomado de seguranças (capangas) agora realmente armados para não possibilitar a entrada de outro presente de grego em seus domínios.
       Durante este período de intervenção, que durou seis meses, em que não recebemos nenhum centavo dos cofres do Montepio (ao contrário do que faziam as Diretorias anteriores que se presenteavam com altos salários), além de assumir a função do “Tio Hugo” que fazia o chamado “beija mão” de conceder “favores populistas”, atendendo filas de servidores que precisavam de algum “jeitinho” para acessarem a “mais empréstimos”; eu fiquei também encarregado da “comunicação com a Categoria”. Fiquei encarregado de sozinho escrever, editar, publicar (contratar gráfica e mandar imprimir uma tiragem de 15.000 exemplares) e distribuir (nos gabinetes dos Secretários e Diretores de Departamentos) o Boletim Informativo do Montepio...Era uma maravilha ter quatro páginas (tamanho ofício A4) para escrever matérias pertinentes aos trabalhos da Comissão Administrativa Provisória e suas auditorias, os da Comissão Eleitoral e ainda os artigos de construção da consciência política da categoria. Durante esta batalha eu realizei completamente o meu lado de jornalista (mais do que nos tempos da AMPA, pois aqui sem concorrências nas elaborações dos textos), escrevendo pelas madrugas adentro para alimentar o periódico mensal e ainda tendo o meu nome na caixa de expediente como “Redator”!...
      Ao final de dezembro/94, com a missão completamente cumprida de promover as eleições diretas no Montepio, e considerando que os desdobramentos judiciais se desenvolveriam em outra esferas, demos por concluída a missão da Comissão neste episódio e viajei para umas merecidas férias no verão de 1995.
       Avalio que a intervenção valeu a pena, pois sem essa devassa na caixa preta do MFM não se criariam as condições objetivas para a concepção do PREVIMPA como independente desta estrutura totalmente corrompida e em ponto de implodir que era o Montepio, ao contrário do que até então a propaganda da entidade fazia a categoria acreditar. A decantada fortaleza do MFM era um castelo de areia, não restou nada aproveitável, nem mesmo o seu patrimônio em imóveis; a entidade resultou como um buraco negro que engoliu tudo o que arrecadou da família municipária, mas que finalmente acabou.
- Valeu Membros da Comissão Administrativa Provisória do Montepio!
       Quando voltei daquelas férias, fiquei sabendo que depois de muito puxa-e-empurra judicial, a nova diretoria e o novo Conselho Deliberativo, eleitos democraticamente no segundo turno do maior processo eleitoral já realizado no meio dos municipários, havia conseguido tomar posse no dia 10/janeiro/1995 através de liminar, mas que já tinham sido depostos por outra liminar menos de trinta dias depois. Foi um mandato relâmpago que consistiu o último sopro de vida do Montepio, antes do ocaso agonizante de morte por “insolvência judicial” dessa pseudo entidade de previdência (posto que pagava apenas as “pensões das viúvas” sem arcar com as aposentadorias dos municipários), até a gangue operadora se metamorfosear em “cooperativa financeira de crédito” (COOPERPOA) para continuar engambelando os incautos.
       Mas, voltando ao aqui e agora do meu encontro no Gabinete Médico com o ex-colega da ativa e futuro colega aposentado, Joel Almada Emer, o que concluímos nesta nossa breve conversa na sala de espera do Gabinete Médico é que o legado da nossa participação político partidária foi altamente frustrante (com o Brizola morto) e decepcionante (com o Lula presidente), em última análise, destruidor da esperança de que nossas gerações somadas pudessem construir um país melhor como legado aos nossos filhos. Deixaremos esta missão para os nossos filhos fazerem para os nossos netos...
- Valeu companheiros de lutas de antes da AMPA e da sindicalização da categoria municipária!


O Qui-qui-qui

      Hoje, aos passar por mim o Cachorro (apelido de um colega soldador) no pátio da DVM, ele mexeu comigo me chamando de Qui-qui-qui. Este é um antigo apelido meu, que ficou restrito ao pessoal do Setor de Solda, e que me foi dado pelo Boca de Cinzeiro (o cara da foto), outro soldador, durante a histórica assembléia geral da AMPA em que eu tenso gaguejava mais do que nunca: “que-que-que isto, que-que-que aquilo...” Estava no microfone tentando convencer a categoria a retornar ao trabalho depois de três dias de greve no Governo Collares, num recuo tático em 1988, quando ele bêbado gritou me apoiando lá do fundo das galerias: - É isso aí Qui-qui-qui, apoiado!
      A propósito, numa crônica minha de 1977, intitulada Consultório Sentimental, eu descrevia os meus atributos físicos nos seguintes termos: Menos velho do que se sente ser, tem 23 anos de idade, nascido nas grotas da fronteira, medindo o suficiente para não ser chamado de baixinho (mas que é chamado por este apelido devido a sua acentuada curvatura da espinha dorsal), tendo olhos castanhos escuros estrábicos que mesmo usando lentes fundo de garrafa continua enxergando pouco; e ouve pior ainda, devido à uma inflamação crônica nos ouvidos (que ora purga um, ora purga o outro). A fora isto, fala com dificuldade em virtude de uma gagueira (ora mais atenuada ora mais acentuada)... Com o pseudônimo de “Solitário na Multidão” deseja se corresponder com um moça linda e maravilhosa , inteligente, etc....
     Posteriormente assumi o seguinte resumo como sendo o descritivo do meu perfil: Vejo mal, ouço pouco e falo com dificuldades. Quando eu estava cursando jornalismo (fala sério, fica mal um repórter gago fazendo entrevistas, né?) cheguei a frequentar o consultório de uma fonoaudióloga por uns três meses. Consegui parar de dizer “tlês” (feito o Cebolinha), pois aprendi a soletrar o “três”. Mas não tive persistência para desenvolver técnicas de domínio da gagueira, até porque tive que abandonar o jornalismo.
     O Boca de Cinzeiro já se aposentou, o Cachorro há uns dois anos atrás foi assaltado e levou uns tiros, esteve com o pé-na-cova, mas voltou a trabalhar e é o último remanescente dos antigos da solda que ainda lembra deste apelido com o qual eu simpatizo muito, mas que também está em extinção.
       Hoje eu diria que vejo mal, ouço pouco e falo com dificuldades; mas em compensação escrevo tudo!

O Caminho dos Aposentados

quinta-feira – 18/fevereiro
      Com a predominância da lógica capitalista neoliberal da globalização, seguindo a orientação das instituições financeiras internacionais, como o FMI e o BID, de privatização dos serviços públicos e minimização dos custos, é cada vez menor o número de empresas públicas que ainda mantém uma estrutura própria de atendimento médico aos seus funcionários. Vivemos hoje um período de transição em que os órgãos de saneamento do país estão sendo gradativamente preparados para a privatização que se processa em etapas de reestruturações, todas orquestradas por exigências contratuais em cláusulas de empréstimos e investimentos estrangeiros. A empresa pública onde eu trabalho, ainda mantém um Gabinete Médico próprio que oferece médicos e dentistas para os funcionários, além de fornecer remédios com descontos. No início estes remédios eram gratuitos, mas com as “reformas”, primeiro os dependentes foram excluídos do benefício (consta que havia tráfico de remédios para vizinhos que se metamorfoseavam em parentes) e, gradativamente, passaram a ter custos crescentes para os servidores com alguns significativos descontos em relação ao preço de mercado, conforme a faixa salarial.
      Mas, de qualquer forma, é de relevante importância dispormos de uma assistência que possibilite, ao levantarmos pela manhã de uma noite mal dormida, com tosse, gripe ou torção muscular (etc.), podermos telefonar para o Gabinete e marcar horário com os nossos colegas médicos que nos acompanham e monitoram ao longo desta longa jornada de servidores públicos, dando manutenção em nossos equipamentos biológicos. Não dispormos mais desta agilidade de assistência médica, qual seja, a de consultarmos, recebermos a receita e retirarmos a medicação em poucos minutos, tem que ser computado no rol das perdas de quem se aposenta* (* = errata).
- Valeu doutores Emílio, Lélia, Nilton e Beatriz! Especialmente a Drª Beatriz que acompanhou a minha Saga Prostática, quando eu desci ao Inferno dos portadores da doença de câncer, a qual feito a musa inspiradora do poeta Dante (que também se chamava Beatriz) diagnosticou que tudo não passava de uma Divina Comédia: Valeu!
      Pois é justamente no Gabinete Médico que se encontram diferentes gerações de trabalhadores da empresa, especialmente os que conseguiram se aposentar pelas leis antigas e que, pelo avançado da idade, mais necessitam de remédios. Da janela da sala onde trabalho posso observar diariamente o que denominamos “o caminho dos aposentados” na rua Gastão Rhodes, que é o caminho que leva do Gabinete médico onde são autorizadas as receitas até a farmácia Panvel, conveniada para o fornecimento dos remédios, na mesma rua, no posto de gasolina na esquina com a Av. Ipiranga. Caminho este que passarei a trilhar a partir de 2011.
      Há pouco tempo vimos pela janela passar o “Seu Alonso” pela última vez, pois pouco tempo depois veio a notícia de que ele já estava morto e enterrado. Alguns deles, quando fazem este caminho dos aposentados, aproveitam para visitar os antigos colegas remanescentes que ainda continuam cumprindo pena ou estão na ativa por opção. Muitos deles, porém, passam direto e fazem questão de não retornarem neste território interno da EME (antiga sigla da Manutenção), talvez por questões emocionais ou por considerarem que praticamente já não tem mais ninguém do tempo deles. Será que eu farei visitas ou tomarei um sumiço?...
      A propósito, no mês passado esteve nos visitando o Hélio Vieira de Aguiar, vulgo Azeitona, do qual eu (vulgo Grazziotin) sei o nome completo por termos trabalhados juntos na mesma sala, como técnicos industriais, por muitos anos, junto com o Ranir (vulgo Grilo) e o Romeu (vulgo Coringa), este um gênio em mecânica que lamentavelmente o mal de Parkinson aposentou precocemente: Belos anos, valeu velharia medonha!
      Faz quinze dias veio tomar “muitos cafezinhos” conosco o Engº Valmor, vindo de uma consulta com o seu psiquiatra (o homem parou de fumar, mas continua tomando café pra caramba!), ao qual a colega Catarina elogiou de viva voz como sendo o melhor engenheiro mecânico que ela conheceu no DMAE, ao que ele próprio remendou dizendo “mas depois eu enlouqueci”; e eu complementei: o louco quando sabe que é louco é por que já está curado! (O problema se refere, os antigos sabem, a um caso de amor entre o diretor e a secretária que, tornado escândalo público, foi interrompido bruscamente e deixou seqüelas psíquicas).
      A semana passada abordei o aposentado Olírio no meio do caminho, vulgo Liquinho, o melhor centro-avante que o nosso time já teve (estilo Romário - que é um daqueles que nunca mais entrou na Divisão), que era radio-amador e com sua máquina de filmagem fez a cobertura do aniversário de um ano da minha filha agora vestibulanda.
      Mas toda esta reminiscência me veio por que hoje recebemos a visita do “Seu Breno das hidráulicas”, que nos contou que ele entrou no Serviço de Água em 1949, quando ele estava terminando de servir ao exército, no tempo que os capatazes tinham autoridade pra contratar e dispensar operários. Em 1954, ano em que eu nasci, ele foi promovido como o “capataz mais jovem” até então. Funcionário que sempre foi respeitado tecnicamente por toda área operacional, se aposentou com tempo integral pelo DMAE e trabalhou além, como “contratado”, por mais 20 anos até 2001. O maior orgulho do Seu Breno, conforme ele nos revelou hoje, é ser “o homem que mais colocou a funcionar hidráulicas”, pois todas as hidráulicas existentes ainda hoje foi ele quem preparou e deu o “start”. Este é realmente um feito imbatível.
- Valeu aposentados da EME, da DVM e do DMAE em geral!

* - Errata: Após postado este texto recebi um e-mail com uma boa notícia:
Caro Celso:
Grata pelos elogios ao GM do Dmae e a mim. Não é fácil “ver” elogios públicos ao GM. Mais fácil é ouvir as queixas. Quanto ao benefício do uso do GM para os aposentados, podes ficar tranqüilo que os aposentados podem continuar usando. Tenho vários pacientes aposentados que continuam meus pacientes, consultando e fazendo seus controles, consultas e avaliações.
Estaremos às ordens depois da aposentadoria também!
Abraço
Beatriz


Quarta-feira de Cinzas


17/fevereiro
      Passado o feriadão de carnaval, chegamos à última quarta-feira de cinzas que tenho que retornar ao serviço, com horário diferenciado, com pegada ao meio-dia. A bem da verdade, eu sempre fui rebelado contra este horário da quarta-feira de cinzas que nos obriga a almoçar às 11 horas da manhã ou antes. Sistematicamente, como muita gente boa, eu costumava bater o ponto uns quinze minutos antes do meio-dia e saia para almoçar num restaurante próximo, para somente depois retornar ao expediente normal.
      Neste ano em que a minha mãe faz 86 anos no dia de hoje, porém, como estou “zen” nesta onda de curtir cada dia como o derradeiro de sua espécie, resolvi cumprir à risca as determinações e almocei, como de costume, no restaurante denominado Onze & meia na Rua Demétrio Ribeiro, mas antes desta hora nominal.
      Os relatórios sobre as ocorrências de serviços do plantonista da manutenção dão conta que a coisa foi tumultuada, tanto que por falta d’água a prefeitura foi obrigada a fechar os banheiros públicos do sambódromo em plena noite de desfiles de carnaval. Isso envolve o plantonista dar explicações para a imprensa, que é como dar nó em pingo d’água pois é quase uma calamidade pública aquela multidão tomando tantas cervejas...Ainda bem que saltei fora da escala de plantão dos engenheiros da manutenção!
      Sem ressaca, neste verão atípico em que eu não vi o mar ainda este ano, vamos para uma semana curta até o enterro dos ossos carnavalesco no próximo final de semana com as escolas de samba campeãs no Rio e aqui.

SIGA AS SIGLAS DOS SISTEMAS INFORMATIZADOS

      sexta-feira – 12/fevereiro
     A minha geração é do tempo da pedra lascada no serviço público, somos da Era da Revolução Mecânica, das geniais máquinas de datilografia e até das calculadoras das quatro operações totalmente mecanizadas, antes da incorporação da eletricidade na genética das máquinas.
     A transição para os primeiros computadores, através do editor de texto “Carta Certa”, do programa de banco de dados “Dbase” e o gerador de planilhas “Lótus” e ainda o gerador de interfaces gráficas “Dialog”, foi um processo traumático. Os computadores, por incrível que possa parecer aos jovens, ainda não possuíam grandes memórias próprias, não tinham ainda inventado os poderosos discos rígidos (HDs); tinha-se que introduzir os disquetes bolachão (os de 5.1/4” flexíveis, antes da última versão de 3.1/2” também já extintos) para carregar primeiramente o próprio sistema operacional (DOS), depois colocar o disquete com o programa que se queria utilizar e, finalmente, introduzir outro disquete para arquivar o trabalho gerado pelo usuário. É, essa gurizada não tem noção do que passamos para chegar até aqui: a Era dos Lap-Tops & Celulares IPhone.
     Naturalmente que alguns de nós tiveram mais dificuldade do que outros para esta adaptação às novas ferramentas de trabalho, com a agravante que elas evoluíam alucinadamente rápido, tanto em termos de hardware como de software, até o mercado mundial ser monopolizado pelos produtos da Microsoft com o Word, o Excel, o Access e, mais recentemente, com o PowerPoint.
      Em paralelo aos chamados computadores pessoais (PCs), desenvolveu-se também os sistemas interligados coorporativos para conectar em rede os microcomputadores, como se chamava na época. A partir daí foram se instalando programas específicos para os usuários de cada área de trabalho (Terminal Procempa –AMT - GPA - MAN), os quais se tornaram fonte de um novo tipo de problema crônico da informática, que é o fato dos programas não se comunicarem entre si, constituem ilhas de informações rodeadas de perguntas sem conexão às respostas por todos os lados. E quanto mais o tempo passava, mais proliferavam estas soluções segmentadas de manipulação das informações.
      Mesmo com o advento mágico da internet, esta tendência se manteve crescente, tal como podemos visualizar ostensivamente na página da Intranet do DMAE a lista de Sistemas Informatizados necessários para realizarmos rotineiramente nossas tarefas gerenciais: PSI (REM – SDO – GOR - SER), SCA, SIGA, SIGES.
     Diante das novas e desafiadoras realidades virtuais que se descortinavam, desenvolveu-se uma cultura de cooperação mútua entre os funcionários da área operacional, setor mais “chão-de-fábrica” industrial do Departamento, de modo que aqueles que tinham maior facilidade de adaptação servissem de “suporte de informática” aos demais, como um reforço aos cursos básicos que o Departamento promovia. A propósito, uma das minhas atividades funcionais atualmente tem sido de “Supervisionar a Gestão dos Contratos de Terceiros da Manutenção”, ou seja, supervisionar significa desenvolver e manter controles junto com os gestores, paralelos aos dos grandes sistemas, dos valores empenhados e faturados dos contratos da DVM. Em suma, supervisionar quer dizer “dar suporte técnico informatizado no âmbito interno” para se lidar com a parafernália de Sistemas e modos operantes peculiar de cada um deles.
      Nos últimos anos, por exemplo, entre outros tantos sistemas que inventaram, tem um doméstico da Superintendência de Desenvolvimento denominado SIGA (Sistema de Gerenciamento Administrativo) que foi determinado que teríamos que utilizá-lo, ou seja, entrar com os nossos dados de contratos e faturas nele. Resistimos bravamente por dois ou três anos, por percebê-lo como sendo um re-serviço totalmente inútil, que não agrega nenhuma informação consistente da nossa área de trabalho. Mas, como “ordens são ordens” e “manda quem pode e obedece quem precisa”, passamos a “jogar” os dados pedidos para dentro do tal programa, ressentidos como quem carrega água em peneiras morro acima e não tem pra quem argumentar contra esta determinação e, ainda, tendo que silenciar sobre esta distorção imposta de contrabando da área do planejamento e obras para a área operacional do DMAE.
      Este é apenas um exemplo, pois há vários SIGAS que funcionam como verdadeiros Sistemas Ininteligíveis de Gestação de Atrofias Sistêmicas, não só pela PMPA afora, mas também, como pude constatar na Caixa Econômica Federal, por toda a gestão pública nacional. PERSIGA os Sistemas: SIGA em frente que atrás vem gente, é a máxima coorporativista reinante. SIGA apertando parafusos que é esta a tua função. SIGA cumprindo ordens, que elas vêm de cima e lá, como no céu, se imagina que deve haver seres com capacidades superiores pensando o que realmente é o melhor para todos.
      O problema é que somos de uma geração em que as decisões estavam no seu âmbito e que fazia com as próprias mãos os desenvolvimentos das soluções; nós éramos os sistemas e as engrenagens. Imersos neste nível de envolvimento e conscientes de que prestávamos um serviço público à comunidade portoalegrense, suávamos a camiseta do DMAE pelo sucesso da nossa equipe de trabalho. Hoje em dia os Sistemas da concepção de mundo do estilo BigBrother tornam todos meros espectadores das decisões, e fazem nos sentir pequenos e impotentes diante do Grande Cabeção do Sistema Central Informatizado.
      Como somos de um outro tempo, só nos resta continuar dando suporte aos colegas enquanto aguardamos o apito final da nossa participação nesta partida, que já dura 36 longos anos, em que demos o melhor de nós com dedicação ao clube que servimos. Iremos, então, para a torcida da galera dos cidadãos de Porto Alegre e ficaremos torcendo para que a equipe de colegas que segue na ativa fabricando água potável e manejando o esgoto (neste serviço essencial para a cidade e para o planeta) SIGA em paz!