DECLARAÇÃO DE VOTO VERDE

      A notícia no DOPA é de que a Coca-Cola, depois de dominar a China, agora está se apropriando do Centro Histórico de Porto Alegre. A empresa Vompar vai ficar responsável pela instalação de equipamentos, benfeitorias, manutenção e conservação da Praça XV e do Largo Glênio Peres.
     Glênio Peres, conforme consta na enciclopédia Wikipédia, foi um advogado, jornalista, ator e político brasileiro. Colaborou com O Pasquim e a revista Cadernos do Terceiro Mundo. Eleito vereador em Porto Alegre em três legislaturas (MDB), foi cassado com base no Ato Institucional Número 5 em 1977. Após a anistia em 1979 foi um dos fundadores do PDT, pelo qual conquistou seu quarto mandato de vereador e foi eleito vice-prefeito de Porto Alegre em 1985 na chapa de Alceu Collares. Faleceu vítima de câncer na capital gaúcha em 1988. Em sua homenagem foi erigido o Largo Glênio Peres.
Eu em 1982!
      Pois este mesmo Glênio Peres, que já é nome de rua, costumava frequentar o Bar Anistia na rua Barão do Amazonas, para tomar as suas cervejinhas, local que eu e os meus companheiros do Núcleo Jardim Botâncio do PT também frequentávamos; até porque o bar era de propriedade do companheiro Marco Arildo, que hoje é o presidente da Empresa Trensurb desde o início do Governo Lula, mas que na época era apenas um motorneiro de trem petista. No Anistia varávamos as madrugadas discutindo política e bebendo, época dos grandes debates de botequim sobre a democratização do país.
     O Núcleo-JB, como era conhecido o nosso núcleo de trabalho de base petista no bairro Jardim Botânico, fez história na construção partidária no início da década de 1980 como uma instância não aparelhada por nenhuma corrente política, um fórum independente de discussão e aprendizagem sociológica. Foi a partir dessa base de atuação comunitária que iniciei a minha militância sindical, inicialmente no âmbito do DMAE, onde fui o pioneiro a levantar a bandeira petista de transformar as entidades classistas, que eram meramente assistenciais, em combativas. Depois da nossa inserção na ASDMAE, inclusive elegendo uma nova diretoria em oposição ao histórico continuísmo do Seu Pinheiro (esse saudoso municipário totalmente entregue à causa do associativismo: Valeu Seu Pinheiro!), acabei dedicando vários anos da minha vida para a construção, no corpo-a-corpo e de sala-em-sala, de uma consciência de classe e de um instrumento de luta sindical da categoria que era o sindicato AMPA-SIMPA.

(ùltimo re-encontro em 2002: Montserrat, Celso, Marco Arildo e Gildo Lima)

     Mas fiz toda esta associação de idéias, da Coca-cola ao Glênio Peres, dele ao Bar Anistia e ao Núcleo-JB, porque depois de ler a Zero-Hora deste domingo, dia 4 de abril, descobri que o Núcleo-JB constinua dando surpreendentes frutos políticos. Eu que já havia comentado a importância que a candidatura Marina Silva poderia exercer no cenário político, e que já havia lamentado a impotência do Partido Verde para aproveitar a bola da vez que é totalmente sua, qual seja, a bandeira da salvação do planeta pela uso sustentável do meio ambiente, agora posso afimar que já tenho um candidato em quem votar para governador. Trata-se de Montsserat Martins, psiquiatra e advogado, que é um antigo companheiro do Núcleo-JB, e hoje é o candidato a governador pelo PV. Ao menos no primeiro turno não vou precisar fazer a anarquista campanha do voto nulo, nem lá - nem aqui! Vou de psiquiatra pra combater esta loucura toda da política: para tapar o insano buraco de ozônio e para jogar água fria e baixar a febre da piração do efeito estufa.

A TRISTE COMÉDIA DA POLÍTICA GAÚCHA

1º de abril!

      Novamente houve a troca de comandante em pleno vôo. Novamente ascendeu à condição de patrão dos municipários o vice-prefeito. Novamente um prefeito re-eleito para um segundo mandato consecutivo renuncia ao mandato, utilizando o cargo meramente como trampolim eleitoral para concorrer ao Governo do Estado.
      Fortunati, o meu novo patrão, foi fundador do Partido dos Trabalhadores. Fomos companheiros nos idos da primeira eleição do PT em 1982 no chamado “Grupão”, que reunia os militantes “independentes”, as lideranças que não eram integrantes das já tradicionais “correntes políticas” oriundas das práticas clandestinas disciplinadas na luta contra a ditadura militar. Naturalmente que a articulação das lideranças independentes acabou por se constituir também em uma corrente política denominada justamente Articulação, que englobava na época desde o Olívio ao Lula, e que acabou sendo a corrente majoritária do partido nacionalmente. Naquela época o Fortunati era conhecido como o “Miudinho”, por causa da sua elevada estatura, e era uma liderança ascendente do Banco do Brasil no Sindicato dos Bancários, como eu era liderança do Dmae nos municipários. Éramos, ainda, um partido sem caciques e ingenuamente pensávamos que seria sempre assim...
      Está nos jornais que na posse como novo prefeito Fortunati afirmou: sinto que meu sonho se realizou! - Com o desafio de tocar uma série de obras para a Copa de 2014, o hoje pedetista assumiu o Paço anunciando mudanças na equipe. A ascensão de Fortunati à mais importante prefeitura do Estado insufla o renascimento do PDT, um partido de tradição mas que vem definhando no Estado, carente de novas lideranças desde a morte de Leonel Brizola, conforme analisa Benedito Tadeu César, professor de Ciências Políticas da UFRGS. Resta saber se Fortunati conseguirá se cacifar para, eventualmente, disputar a eleição de 2012 e realizar o sonho completo de ganhar a prefeitura no voto (se o mundo não acabar em 2012, é claro!).

      Além de vice do Fogaça, Fortunati foi também vice na gestão de Raul Pont (1997-2000), quando ainda integrava o PT. Esperava concorrer a prefeito em seguida como candidato natural, mas Tarso Genro tomou sua frente para se eleger mais uma vez, quebrando a tradição de que o vice de um mandato era da eleição seguinte, o que o levou a se desgostar com o PT e migrar para o PDT. Sobre este episódio está na Enciclopédia Wikipédia no artigo “Tarso Genro”: Em 1988, compôs como vice de Olívio Dutra a chapa que levou o PT a ocupar pela primeira vez a Prefeitura de Porto Alegre, dando início a uma série de quatro mandatos do partido na cidade. Em 1992, candidatou-se para suceder Olívio Dutra. Foi eleito no segundo turno, derrotando César Schirmer do PMDB, tendo Raul Pont como vice.

      Assim, em 2000, após o terceiro mandato petista conquistado por Raul Pont (em que Fortunati era o vice), Tarso voltou a se eleger prefeito de Porto Alegre (tomando a vez de Fortunati), novamente no segundo turno, quando derrotou Alceu Collares, conquistando o quarto mandato da Era Petista. A vitória cacifou Tarso para disputar com Olívio Dutra as prévias para a candidatura petista para o governo do Rio Grande do Sul. Tarso venceu as prévias e tirou de Dutra o direito de disputar a reeleição (e de defender o seu governo como a Yeda pretende fazer agora), mas acabou disputando o segundo turno com Germano Rigotto, do PMDB, e perdendo a eleição.
      Entre os motivos para a derrota, apontados por cientistas políticos, estava a renúncia do cargo de prefeito de Porto Alegre, em favor do vice-prefeito João Verle, contrariando a promessa da campanha de 2000 que cumpriria o mandato até o fim.
      Desde então criou-se o mito da Maldição da Renúncia, que agora se vira contra o candidato a governador Fogaça (que migrou com o Vento Negro do PPS para o PMDB para ampliar suas bases de apoio e quebrar essa maldição). O mito é mais uma praga jogada pelo “oponente”, dizendo que a Maldição da Renúncia vai puxar os pés deste ex-prefeito, atual renunciante do paraíso da Prefeitura de Porto Alegre, feito um fantasma da alma penada do inferno da eleição perdida pelo próprio Tarso (o renunciante anterior), que após passar pelo purgatório como Ministro da Justiça, volta agora ressuscitado como seu concorrente direto neste pleito eleitoral para também tentar governar a ingovernável e triste “Comédia Política” que tem sido o Estado gaúcho; o pior é que tem sido assim desde que eu me tenho por gente-cidadão e não faz menção nehuma de que vá mudar...

A CIDADE, O DMAE E NÓS


      Nesta semana em que se comemora os 238 anos da cidade de Porto Alegre, chove informações do seu histórico em todas as mídias. Mas um detalhe que me chamou atenção é de que a Usina do Gasômetro, símbolo postal que remete aos “velhos tempos das carruagens”, foi desativada apenas agora em 1974. Desta informação sobre o “gasômetro” me veio uma dúvida: será que nós, os cinquentões, vivemos inconscientemente o funcionamento dos “lampiões de gás” inspiradores das marchinhas cantadas antigamente em nossa infância e juventude?...
      Percebi, pesquisando como um desvairado na internet, que reina uma confusão histórica entre o A Usina de Gás e a Usina de Eletricidade do Gasômetro, uma vez que ambas ficavam nessa região denominada de Gasômetro, que é o meu local favorito da cidade, por sua proximidade com o pôr-do-sol. Para agravar a confusão, nas minhas pesquisas descobri que em 1908, a Prefeitura inaugurou a Usina Municipal de Energia Elétrica e, como no DMAE todo o pessoal da área operacional se refere às estações de captação de água bruta tanto da hidráulica Moinhos de Vento quanto da São João, localizadas na Voluntários da Pátria, como o local denominado Usina, pensei que essa tal Usina Municipal pudesse ter sido ali.
      Qual nada, mas algumas questões consegui esclarecer. Primeiro que a Usina de Gás de Hidrogênio Carbonado, sito à Rua Washington Luiz (frente à Câmara de Vereadores, hoje utilizada pelo DEP no fabrico de tubos de cimento), foi inaugurada exatamente um século antes da data de desativação anunciada da Usina, em 1874, e destinava-se à produção de gás para a iluminação pública do centro da cidade. A partir de então os lampiões das ruas centrais deixaram de queimar óleo de baleia e passaram a usar o gás de hidrogênio produzido nas caldeiras aquecidas por combustão de carvão na Usina. Nesta época a iluminação residencial passou a ser feita com lampiões de querosene.
     A partir de 1887 a Companhia Fiat Lux iniciou timidamente o fornecimento de energia elétrica para uso residencial e, em 1908, a Prefeitura inaugurou a tal Usina Municipal de Energia Elétrica. Mas a iluminação do centro histórico continuava sendo pelo sistema do gasômetro.
     Em 1928 a Cia Energia Elétrica Riograndense (CEERG) - subsidiária da multinacional americana Eletric Bond and Share que geriu a eletricidade e o transporte elétrico de Porto Alegre até 1954 - assume o monopólio do setor de produção e distribuição de energia elétrica e a gás na capital, substituindo as usinas Cia Fiat Lux, Cia Força e Luz Porto-Alegrense e a Usina Municipal. Segundo o contrato, a nova Companhia deveria manter em funcionamento aquelas três usinas e construir uma nova termoelétrica.

     A Usina Termelétrica do Gasômetro foi, então, inaugurada no dia 11 de novembro de 1928, na então chamada Praia do Arsenal, produzindo energia com geradores movidos pela queima de carvão vegetal. Somente em 1937 é que foi instalada a famosa chaminé (atual outdoor dos protestos mais significativos da cidadania portoalegrense), devido às reclamações da população de antigamente contra a fuligem e cinzas lançadas pela Usina. O complexo arquitetônico recebeu esta denominação de Usina do Gasômetro devido à proximidade com a antiga Usina de Gás de Hidrogênio Carbonado (O Gasômetro) que fornecia gás destinado à iluminação pública e abastecimento de fogões.
     A nova Usina do Gasômetro forneceu energia elétrica à base de carvão mineral para Porto Alegre de 1928 a 1974, quando foi desativada. Esta usina é que foi desativada em 1974, e não a de gás! Sua importância histórica é inegável, sendo palco da industrialização ainda incipiente no Brasil. Após algumas tentativas de demolição, que foram evitadas graças à reação da sociedade civil, em 1982 a Eletrobrás transfere para o município o uso do terreno da Ponta do Gasômetro. Neste mesmo ano, o governo estadual tomba a chaminé e, em 1983, o governo municipal tomba o prédio.
     Assim, uma coisa é certa, eu usufrui da energia elétrica gerada pelo Usina Termoelétrica do Gasômetro até a minha adolescência.


     Outra questão que consegui esclarecer foi sobre a denominação de Usina das EBABs do DMAE na Voluntários da Pátria, e não foi através da internet , foi com uma testemunha ocular e colega de sala, a Engª Catarina, que chegou a trabalhar com os grupos motor-bombas movidos a vapor instalados naquele local. O vapor era gerado por caldeiras aquecidas através da queima de lenha, denominada Usina de Vapor. Ainda hoje consta na fachada do prédio original (atual Gráfica e Conservação) os dizeres em concreto: USINA DE RECALQUE (prédio que também deveria ser tombado e restaurado pela sua importância histórica para o DMAE).
     As questões para as quais não localizei nenhuma resposta simples e objetiva ficam colocadas para que os blogueiros respondam como comentários: -Em que ano a Usina de Gás cessou suas atividades e os lampiões de gás da iluminação pública do centro histórico portoalegrense foram desativados? – Onde ficava localizada a Usina Municipal de Energia Elétrica?...


     Esta intersecção temporal entre o meio comunitário e o ser humano remete para uma indagação numérica da cronologia histórica que envolve as nossas vidas, a do nosso município e a da empresa onde trabalhamos: Nós (incluídos nossos pais) estamos muito velhos ou Porto Alegre é bastante jovem? Calculando por baixo, cerca de 25% da existência da capital conta com a minha presença no seu senso demográfico, ainda que eu não seja filho natural e sim adotado pela cidade, como tantos outros que vieram nas levas de migrantes oriundos do êxodo rural dos “gaúchos a pé” nas décadas de 50 e 60.
    Em 1928 foi criada a Diretoria Geral de Saneamento (DGS) e a água passou a ser tratada. Em 1956, a DGS transforma-se em Secretaria Municipal de Água e Saneamento. No início da década de 60, o município faz empréstimo em dólares com BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para investimento em saneamento básico e, por exigência daquela instituição, a Secretaria Municipal de Água e Saneamento é transformada em Autarquia. Assim, o DMAE é fundado em dezembro de 1961.
     Moral da história, eu sou mais antigo do que o DMAE, pois eu fui fundado em 1954. Calculando por regra de três, como o DMAE fará 49 anos agora em 2010, eu que estou completando 34 anos de trabalho dmaeano, constato que cerca de 70% da existência da empresa contou com a minha modesta presença e contribuição.
     A propósito de antiguidades, em 2008 completou 100 anos da inauguração dos bondes elétricos em Porto Alegre. Até então, desde 1873, os bondes puxados a mula dominavam o transporte coletivo na cidade. Em 1906, as duas empresas de transporte de bonde (Carris de Ferro e Carris Urbanos) se unem e fundam a Companhia Força e Luz Porto-Alegrense (denominação que conservou por vinte anos antes de retornar a Cia Carris), responsável pelo transporte elétrico e o fornecimento de energia para a Capital. Em face de uma greve de empregados de bondes, que paralisou a empresa em 1952, o poder executivo foi autorizado a intervir. A partir daí, torna-se uma Empresa de economia mista, com 99% do município. Desde 1970, com a desativação dos bondes, a Cia Carris passou a atuar como concessionária de linhas de ônibus.
     Resumindo, na moral da história, somente agora percebo que até quatro antes de eu começar a trabalhar na Prefeitura (em 1974 na SMF) os bondes ainda circulavam pelas ruas portoalegrenses e eu dentro ou denpendurado neles. Lembro que na minha velha infância, com menos de dez anos de idade, foi com os bondes que ganhei autonomia de circular sozinho pela cidade...



     A grande conclusão inevitável a se chegar é que tudo é muito recente, a cidade é uma jovem e o DMAE é um garotão, mas vamos combinar que nós, os pós-cinquentões, com toda a tecnologia incorporada neste meio século vivido, estamos com o couro curtido da história da cidade e da empresa. Estamos feito espécies empalhadas vivas num museu interativo de reality-show vivido no “diário de obra” de cada um, mas ainda não postado por todos para ser espiado pelo “Big Blog” global da internet, como eu o estou fazendo agora, como um testamento de final de carreira.

REVISANDO O PLANO DE FUGA


sexta-feira - 26/março

Eu perguntei, via e-mail:
     Mestre Jalba, me mantenha informado sobre as etapas aposentatórias: primeiro quero saber se recebestes normalmente o “abono permanência” no final de fevereiro (que ainda estavas de Licença Prêmio) e se vai cessar já agora em março. Vê se consegue um tempinho na tua agenda de aposentado coçador de saco para me responder, que o meu plano de fuga é cópia xerox do teu: saio de férias em janeiro/2011, volto um dia para garantir mais um mês de vale refeição e transporte, peço aposentadoria no PREVIMPA e, no mesmo, dia saio de Licença Prêmio por 30 dias em fevereiro. Se tiver algum furo na tática de batida em retirada, quero saber! Abraço véio, Celso.

E a Voz do Mestre respondeu:
      Olá, caro colega Aposentando!
      Você perde o abono permanência a partir do dia do protocolo do processo de pedido de aposentadoria, independentemente se está ou não de LP. No final de fevereiro recebi apenas uma mixaria da diferença de dias e, de março em diante, "TRANQUILAMENTE", passarei a receber R$0,00 (nada).
Abraço, Jalba.

Daí em pensei cá com os meus botões que é este blog:
     Para compensar a redução salarial que ocorreria em fevereiro/2011, que é o mês do pagamento da última parcela do financiamento do meu carro, bastaria corrigir o plano de batida em retirada simplesmente invertendo a ordem dos fatores, ou seja, gozando Licença Prêmio em janeiro e férias em fevereiro. Com esta manobra tática, iria ainda entrar em fevereiro a grana do Abono Permanência para quitar o carro (entendendo que por estar de férias não seria retirado o Abono Permanência, pois férias é férias!); e poderia iniciar em março a minha jornada de “esperando o Godot”, gozando da Licença de Esperando o Ato da Aposentadoria no zero-a-zero: sem o abono permanência e sem o financiamento, conforme o planejado.

      Mas, com a assessoria da secretária Lili, consultamos a Equipe Técnica de Tempo de Serviços e ba-baus!...A regra é a seguinte: protocolou o pedido de demissão, perdeu instantaneamente o bendito do Abono Permanência. É tipo tiro dado e bugio deitado, sem choro, pois subentende-se que o aposentando manifestou a sua opção por não mais permanecer ganhando o abono. Simples assim.
     Só me resta revisar o meu plano de fuga: o mês de protocolo do pedido de aposentadoria , ao invés de ser no início de fevereiro, deverá ser em março, deslocando as férias de janeiro para fevereiro, e a derradeira licença prêmio para o mês de março de 2010.

O PGQP NO BOLSO DOS FUNCIONÁRIOS


      A gestão anterior, denominada Administração da Frente Popular, matou a bimestralidade dos municipários, benefício que consistia em um reajuste da inflação a cada dois meses (que maravilha!), benefício este que não resistiu ao congelamento siberiano a que foi submetida no governo Tarso-Verne, período de vacas magras em que ficamos silenciosamente sem reajuste nenhum. De maneira que a administração do PPS, que pregava nas promessas de campanha “preservar o que é bom”, achou ótimo encontrar a bimestralidade já defunta, pois só teve o trabalho de ouvir a choradeira do velório e providenciar o enterro, antes que fedesse demais.
     A choradeira até que fedeu bastante, pois rendeu uma greve capitaneada pelos mesmos que tornaram a bimestralidade uma múmia e que provocaram as perdas salariais, cuja recuperação dos atrasados passou a ser reivindicado por eles com unhas e dentes; servindo de bandeira de luta para que pudessem, recém saídos dos gabinetes do poder, reaprender a antiga militância oposicionista que fora uma especialidade daquela tribo e, com isso, ocupar novamente este espaço sindical da arena política.
     Mas, para um anarquista convertido pelo método da cabeçada contra o muro como eu, nada como um dia após o outro...nada como a alternância no poder para se revelar a mesmice inerente da política partidária em todo o seu espectro de partidos políticos...
     Depois do caso já comentado aqui da Venda da Folha de Pagamento para a Caixa Econômica Federal, em que a “gestão de qualidade” gerou lucros para os cofres públicos a partir de 2008, em troca de prejuízos incessantes impostos ao quadro funcional, em especial aos correntistas de outros bancos, seguiu-se novas iniciativas gerenciais da administração Fogaça com igual sucesso, pois com o mesmo teor de empobrecimento dos servidores municipais.
      Indicadores financeiros do DMAE de hoje indicam que houve ganhos em 2009 com a redução de custo na folha de pagamento de pessoal, devido ao fato que o reajuste salarial de maio/2009 foi parcelado em três vezes. Com esta política salarial os cofres públicos se fortaleceram diminuindo o fluxo de caixa que migraria, por direito, para os salários dos seus servidores. A grana relativa aos 5,53% de reajuste que os funcionários deveriam ter recebido em maio/09, a prefeitura pagou 1% em maio, 2% em setembro e o saldo (2,53%) a partir de janeiro de 2010. Conforme exposição do economista Paulo Muzell, a Administração fez uma “economia do arrocho”: de maio a agosto, quatro meses pagando 4,53% a menos na folha, representam 17,2 milhões de reais de “poupança”. De setembro a dezembro são cinco folhas (quatro meses mais o 13º salário), 2,53% pagos a menos cada mês numa folha de 95 milhões, some-se mais 12 milhões ao “caixa”. Resultado do arrocho: 29,2 milhões de reais apropriado como redução de custos e, ainda por cima, parte foi jogado para o orçamento de 2010, pago em fevereiro, melhorando ainda mais os seus indicadores gerenciais financeiro em busca do troféu de Ouro do PGQP (Pessoal sem Grana é Qualidade Patronal).
     A mesma política de valorização de pessoal foi aplicada para a Progressão Funcional: biênio 2002~2004. Somente em meados de 2009 começaram pagar e só a partir de então, sendo que os atrasados de 2005 até 2008, ao invés de vir numa bolada como seria de direito, para compensar o atraso e assim possibilitar que o barnabé adquira alguma coisa de valor, tendo um capital mínimo de investimento, que nada...Os atrasados ficaram nos cofres da fazenda qualificando seus indicadores e passaram a ser pagos em trinta e seis longuíssimas parcelas irrisórias, que ficarão diluídas em três anos a contar de 2010. Ou seja, os débitos salariais de 2005-2008 serão pagos até o final de 2012; isto se as previsões do povo Maia não se realizarem e o mundo não terminar antes!



O Dia Mundial da Água


Segunda-feira – 22 de março

       Está na pauta de todos os jornais: O Dia Mundial da Água foi criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 22 de março de 1992, quando também divulgou um importante documento, a “Declaração Universal dos Direitos da Água”: Art. 1º - A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. Art. 2º - O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano, é o direito à vida.
      O Brasil concentra as maiores reservas naturais de água, detendo 13% da água do planeta. Apresenta também os mais altos índices de desperdício, cuja estimativa é que 70% da água potável seja desperdiçada (na irrigação, indústria e consumo). A meta ideal da ONU é de 20% de perdas. A projeção é de que até 2030 a falta de água deverá atingir a metade da população mundial.


      Nós, trabalhadores da indústria da água potável, conscientes de que a água é um bem tão essencial à vida como o ar que respiramos, nos sentimos responsáveis pelo caráter público e social da distribuição sem fins lucrativos deste patrimônio, bem como pelo combate ao seu desperdício. Poder olhar pra trás e verificar que durante 35 anos se dedicou diuturnamente a vida a uma causa tão nobre como a produção de água potável, coleta e tratamento dos esgotos da nossa comunidade, é um diferencial que conforta e compensa as fases de baixa remuneração financeira na carreira (a capital cresceu no ranking do saneamento, de 2003 para 2008, avançou da 55ª para a 27ª posição entre as 81 cidades mais populosas do Brasil). É claro que não resolve todas as lacunas do rol de “realizações pessoais” que idealizamos em nossa juventude quando adentramos, por sucessivos concursos públicos, nas chicanas desta fábrica de água entregue à domicílio. Mas o fato do DMAE cada vez mais perseguir a meta de tratar todo o esgoto antes de devolvê-lo à natureza, para não causarmos mais poluição à jusante na nossa grande fonte de captação de água que é o manancial do Guaíba, já tão mal tratado pelas cidades à montante, também agrega um sentido social e ecológico ao nosso trabalho de servidor público.


      Recuperar a balneabilidade das praias de Pedra Redonda, Ipanema e Guarujá, já pensou? Poder voltar, como nos nossos tempos de guri, a nadar novamente nestas praias, seria como podermos entregar aos nossos netos a cidade com a mesma qualidade de vida que a recebemos dos nossos pais, apesar do imenso aumento populacional! Eu não alcançarei a realização desta meta na ativa, mas aposentado espero estar vivo ainda para poder comemorar este verdadeiro “Dia D Glória da Água” portoalegrense.

O URSO HIBERNADO

      A Margareta, colega do DMAE que atualmente preside a ASTEC e que fez um poético comentário neste blog, enviou-me um e-mail com os seguintes termos:
     Oi Celso, espero contar contigo na Astec. Concordo com a maioria das questões consideradas por ti (na postagem Luta de Classe: ASTEC X SIMPA), mas temos que fazer acontecer, com organização e sem ideologia partidária, que é a forma de trabalho das diretorias até o momento na Astec. É isso que nos diferencia dos sindicatos. Assim, espero contar contigo porque precisamos de pessoas com a tua experiência e conhecimento!!!! Ainda mais aposentado, com tempo para colaborar!!!
Estou esperando a tua ficha preenchida!!!!!

     Antes mesmo de toda esta rasgação de seda pro meu lado cheia de exclamações, eu já tinha dado o braço a torcer, mas não tinha me entregado, pois ainda prevalecia a minha índole anarquista. Todavia, balancei e o meu ímpeto de luta pela sobrevivência foi aguçado ao ler a revista Saneamento Ambiental nesta semana, onde foram eleitas as empresas do ano em saneamento de 2009 em três modalidades: Empresa Estadual de Abastecimento de Água, Empresa Municipal e, com destaque, para Empresa de Controle Privado.
     Fiquei sabendo que nada menos do que a mega empresa Odebrecht, com a denominação de Grupo Foz do Brasil, que recebeu a primeira concessão privada do setor de saneamento no Brasil em 1995 na cidade de Limeira (SP), se apresenta com 100% de cobertura de água e de coleta de esgotos, e de 76% de esgoto tratado e ainda, acredite quem quiser, com um índice de apenas 16% de perdas (cuja média nacional é de 45%). Em resumo, a Odebrecht passou a ser referência nacional na área de saneamento, e já atua em Rio Claro e Mauá (SP), em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Com a inovação de contratos fidelizados com as indústrias, em que quanto mais o “cliente” consumir menos ele pagará; a idéia é expandir este modelo bem sucedido de gestão eficiente para novos municípios com concessão...Aí meu Deus, vão engolir o Dmae também e junto vai a minha custosa paridade e integralidade conquistada na aposentadoria!...Preciso ressuscitar o urso que está adormecido em mim e que hoje só quer fazer poemas:

CAPACHO VELHO

Como um peludo tapete branco
De pele de urso com cabeça
Estendido sob os pés do poder perverso
Do capitalismo politicamente incorreto
Que faz riquezas cavando buracos
Na camada de ozônio do planeta
Fico escutando as conversações e acordos
Das cúpulas das poderosas nações desunidas
A propósito da proteção da natureza
Do meio ambiente e da pobreza.

Sob a névoa da fumaça dos charutos transgênicos
Expelidas das chaminés poluentes de suas narinas
Imobilizado, não consigo puxar-lhes o tapete
Nem um abraço de urso, nem um urro forte
Nada mais tenho para os ameaçar
Sou mais um velho capacho, sem esperança
De fazer ou ver o mundo melhorar.

POEMA À ALTA HOSPITALAR DO MATTOS

      Hoje um colega que trabalha na Ferramentaria da Manutenção me surpreendeu ao me enviar um poema de sua autoria para que eu “arredondasse” os versos. Acontece que lá por meados de novembro do ano passado, quando a primavera já prenunciava o inferno de quente que seria o verão que se avizinhava, como uma rajada de vento forte chegou a notícia de que um outro colega, o Eduardo Mattos, tinha sofrido baixa hospitalar com dores agudas diagnosticadas como pancreatite. Desde então vinha sendo uma apreensão coletiva no pessoal da manutenção os ciclos de altos e baixos de seu estado de saúde, com a romaria de visitas e telefonemas para o hospital. O quadro clínico dele exigia que ficasse permanentemente sem alimentação sólida, vivendo somente de soro, acompanhado de longe por nós sempre na expectativa de que a cada nova semana ele voltasse a se alimentar, como um sintoma indicativo de que logo voltaria para casa e para o convívio do ambiente de trabalho. Assim foi se tornando angustiante e apreensivo para todos nós esta espera, quanto mais o tempo passava. Enquanto uns saiam de férias e voltavam, e os outros saiam de férias neste verão e voltavam, a notícia era sempre a mesma: o Mattos continua hospitalizado!...
     Neste período de quatro longos meses valeu de tudo, rezas e mantras (inclusive eu e a minha mulher inscrevemos o nome dele pedindo aos budas força para a sua cura, num ritual no templo budista de Viamão) na torcida pela melhora do Mattos e, agora, vale muito a poesia do colega Ciro, quando o quadro clínico dele finalmente melhorou possibilitando o seu retorno para casa e o re-estabelecimento gradativo da alimentação sólida:

Levantando Acampamento

Sou de outras plagas, de outro galpão
Não nasci para repousar nestes lençóis frios
Possuo habilidades para trabalhar na manutenção
A informática e as planilhas de números são os meus brios
Corre em mim sangue com glóbulos vermelhos e brancos
Que não se acha vertendo em qualquer barranco.

Briguei com temperatura alta deste verão
Suei e sofri, mas não me abateu o cansaço
Sou bom de laço, não me entrego para qualquer inchaço
Permiti a fincada das agulhas
Muitas vezes deixando fagulhas
Sentia um aperto no coração, mas sabia de ante mão
Que precisaria provar mais esta façanha na hospitalização
Sentia sede de água, fazia-me lembrar da água do Dmae
E o peito sentia saudades do pessoal da Manutenção
Será que eles imaginavam o que se passava com este guapo vivente
Deitado no leito e imaginando um retorno brevemente?

Passaram-se cento e vinte dias de gotejamentos sofridos
Até lágrimas às vezes este gaudério na solidão
Fabricou e despejou no leito do Mãe de Deus,
Sob os olhares de São Jorge, num desafio para este incrédulo cristão.
Agarrei-me no cavalo deste Santo, galopei por vários estábulos
Ultrapassei vários trajetos com solos dos mais diferentes obstáculos
Porém em momento algum esmoreci mesmo na noite densa
Pensando sempre que logo ali estaria a minha recompensa.

Fui bravo, fui guerreiro, fui humilde e fui triunfante.
Hoje saio com esta lição de vida de ser tolerante
Uma recompensa que muitos não conseguem alcançar
Agora darei novamente meus primeiros passos
Sabendo que ainda sou Eduardo Câmara de Mattos.

Autor: Ciro Renato Matter da Silva

      De minha parte, definitivamente eu odeio visitas hospitalares, velórios e enterros. Tanto que, quando estive hospitalizado há cerca de dois anos atrás, deixei determinado que não queria visitas dos colegas. Assim, como não fui visitá-lo no hospital, perdi a chance de ver o Mattos esbelto devido à enorme perda de peso resultante do longo jejum alimentar. Mas continuo usando como um talismã energético o chaveirinho que ele me trouxe de Fortaleza no verão de 2009, e tenho um chaveiro semelhante de cabeça de cangaceiro, apenas que de Alagoas, que eu trouxe das férias para presenteá-lo, com a mensagem subentendida de que realize o seu manifestado desejo de fazer a sua próxima viagem de férias a Maceió.

OS GUIAS DA PENÚLTIMA SAÍDA DE FÉRIAS

                             
      O guia turístico do receptivo no aeroporto de Maceió pela CVC, empresa que praticamente monopoliza o turismo brasileiro, fazia um tipo “sério & competente”, era o Allan, que nos arrebanhou com outros turistas que vínhamos por pacote, mas não em vôo fretado. O cara nos informou dos procedimentos, enquanto nos conduzia aos respectivos hotéis, para o citytur pela cidade seguido de um passeio à Praia do Francês, onde passaríamos a tarde e onde poderíamos contratar os demais passeios oferecidos pela empresa e que não estavam incluídos no pacote. Acabamos contratando todos os passeios, para aproveitar ao máximo a nossa estadia por lá.
     O segundo guia turístico a nos acompanhar foi o Jânio... Sem Quadros (como ele próprio se apresentava, decerto de tanto ouvir o trocadilho infame que eu mesmo já estava pronto para complementar nas reticências), que nos conduziu à Praia de Paripueira. O cara fazia o típico nordestino “he-he-he eu vivo rindo à toa”, e fazia comédia disso com talento dramático. Foi ele quem nos anunciou que durante a noite os guias encenavam uma peça teatral (como um biscate para ganharem uns trocados além do explorado salário que recebem da CVC) ambientada nos últimos dias de Lampião e Maria Bonita, que já está em cartaz há seis anos e conta com a participação do personagem “Nega Maluca”, que já atuou no programa de humor A praça é Nossa, do SBT. Assistimos a tal peça, mas numa sessão extra aberta naquela noite, pois os ingressos já estavam esgotados desde a véspera. Podemos, então, ver a força de propaganda que estes guias possuem com os seus microfones nas mãos sobre os sonolentos passageiros confinados em seus ônibus, todos sedentos de diversão.


              
      O terceiro guia a nos orientar ao nosso passeio à paradisíaca Praia do Gunga, onde como bons turistas comemos uma lagosta e passeamos de “bugre” até as Falésias, foi o Antônio – O lindo (como ele mesmo repetidamente se referia a si próprio). Ao contrário dos outros que tinham a maior cara e cabeção de nordestino, este era um negrinho de cabeça fininha e cheio de frases de bordões que, de início, doíam no ouvido de todos, mas depois fomos nos acostumando até sermos cativados pelo tipo. Os bordões mais característicos eram: Jóia? - Bacano? (isso mesmo, o cara dizia bacano e não bacana!). Foi ele quem nos informou que a Praia do Gunga era uma área particular, cujo dono mantinha na região a maior plantação de coco do Estado de Alagoas. O tal dono do mundo, é um usineiro e ex-prefeito da cidade na qual a atual prefeita é a sua esposa, e que nas cidades vizinhas da região da Barra de São Miguel, suas filhas são prefeitas. A família mantém um curral eleitoral em toda a região sul do Estado, sendo um dos homens mais poderosos e também um dos mais temidos pelos alagoanos. Os guias turísticos fazem a descrição sociológica da região, mas se omitem deliberadamente de emitir o nome do cabra da peste. Ironizam que a extensão de propriedade do Cabra Safado, um tal de Sr. Jatobá, nome este que descobri numa faixa de agradecimento dos comerciantes da Praia do Ginga (vide foto), faz parte de heranças das Capitanias Hereditárias que se mantiveram na família...Mas pela internet descobri que o coronel usineiro, de nome Nivaldo Jatobá, é processado por crimes, ameaças de morte e por posses ilegais das terras da Praia do Gunga por usucapião fraudulento, que após décadas de trâmites na justiça, foi recentemente condenado a indenizar a família que é a verdadeira proprietária que, por ameaças dos capangas do Jatobá, teve que abandonar Alagoas.


                                
      O quarto guia turístico foi o João Alberto, que nos levou para conhecer a Praia de Marogogi, que fica no extremo-norte do Estado, a cerca de 140km de Maceió. Aguardada como o “top-do-veraneio” e se confirmou, algo como a Fernando de Noronha de Alagoas, com direito a passeio de barco, a ver com snorkel peixinhos coloridos e a banho na piscina natural da Praia da Bruna Lombardi. Em Marogogi encontramos um casal de colegas, Aloma e Darci, como nós e tantos-e-tantos outros formados no casamenteiro DMAE.
                                 

     Na viajem, saímos da BR101 do litoral, e adentramos no sertão alagoano, viajando o tempo todo entre os canaviais, na monotonia da monocultura de cana-de-açucar sobre qualquer relevo: morro acima, nas planícies e nos vales. - Quando recomeçar a aparecer coqueiros, é porque estamos retornando ao litoral, anunciava o guia. Neste caminho do norte do Estado encontramos um acampamento de Sem-Terras que havia recentemente sido incendiado por jagunços de latifundiários da região. O atear fogo clandestinamente na calada da noite em acampamentos de Sem-Terra é uma política usual pela região, mas ainda assim considerada como pouco eficaz pelos usineiros do sul do Estado, como o Sr. Jatobá.

                          
 
      O guia que nos levou até a praia de Dunas da Marapé foi o mesmo João Alberto. No caminho ele comentou que as terras que veríamos a partir da cidade de Marechal Teodoro eram todas de um único dono, que viajaríamos dezenas de kilômetros apreciando as propriedades do homem. Indaguei o nome do cabra, ironicamente o guia dissimulou dizendo que não lembrava...Pois como eu já sabia, conforme constatei na internet perguntando ao Tio Google, o dono da metade sul de Alagoas é o mesmo cabra safado Nivaldo Jatobá. O que mais me impressionou é que nas terras do danado não tem nenhuma cerca nem casas, só cana-de-açúcar. Também pudera, pois comentam os guias de que nesta região não tem Sem-Terras; todos os sem-terras que por aqui se aventuram logo ganham o seu pedacinho de terra por cima, são plantados à sete palmos da “terra que queriam ver dividida’.
     Em Dunas de Marapé não tem duna nenhuma, mas em compensação tem mangue. Este é outro passeio que não é divulgado nos microfones dos ônibus da CVC, mas foi uma experiência marcante pegar um barco e ir pelo rio Jequiá adentro até os manguezais. Penetrar no mangue, atolando até o joelho, infiltrar-se entre as tramas de galhos e raízes das plantas aquáticas e, desafiados pelo barqueiro nativo da região, ver colegas turistas enfiar o braço até o ombro na toca dos caranguejos e trazer o “Toni-Ramos” (caranguejo peludo) a unha como um troféu, foi como uma expedição para conhecer um pouco da vida dos brasileiros, valeu.

      O quinto guia, do qual nem lembramos o nome, foi o único que cometeu uma falha técnica na execução do seu trabalho de nos conduzir à Foz do Rio São Francisco. Como de costume, madrugamos para viajarmos até o extremo-sul alagoano, localizado a cerca de 140km da capital, e o guia aceitou colocar a rodar um filme no DVD nos telões de plasma do ônibus, a pedido de um dos turistas, sem consultar se a maioria estava disposta a assistir o Lobisomem não sei das quantas...A custo de muita meditação budista consegui não assistir a nenhuma cena do chatíssimo filme, mantendo o olhar firme pela janela, mas não pude escapar da torturante trilha sonora e dos diálogos por cerca de duas horas me tentando pelos ouvidos. Foi uma provação: bem diz o Dalai Lama que as situações adversas (e os inimigos) são nossos grandes mestres!


      A grande emoção foi mesmo o banho no Velho Chico. Viajamos numa escuna por 13 km naquele lendário rio, desde a cidadezinha de Piaçabuçu até o seu encontro silencioso com o mar, chamado pelos nativos de “perereca”, por não ser ruidoso como o de uma “pororoca”. Através das únicas dunas móveis remanescentes do litoral alagoano chegamos ao banho de batismo nas águas do grande rio, com 2.800km de extensão, que nasce nas altitudes de Minas Gerais, atravessa a Bahia e passa por Pernambuco e Sergipe até se espraiar ali na foz, onde como canta Luiz Gonzaga: “O rio São Francisco vai dar no fundo do mar”.
      No retorno, aperreada por mim, uma jovem nativa de Piaçabuçu, a Moniqueli, que faz orientação histórico-turística como “voluntária” (mão de obra explorada pela CVC que ao final do seu excelente trabalho passa um chapéu aceitando doações), abordou a problemática do mega projeto de “Transposição do Rio São Francisco”, que consiste em desviar parte de seu fluxo para levar água, em tese, para as regiões de seca do nordeste brasileiro. A polêmica se deve ao fato de ser uma obra cara e que abrange somente 5% do território e 0,3% da população do semi-árido brasileiro, e também que se a transposição for concretizada afetará intensamente o ecossistema ao redor de todo o rio São Francisco. A menina informou que antigamente o Velho Chico tinha força para invadir 6 km mar a dentro, hoje já é o mar que invade 11 km rio a dentro, tornando sua água saloba e causando mudanças drásticas na fauna e flora da região. Com a redução do fluxo de água provocada pela transposição, que na verdade vai beneficiar mesmo são os latifundiários nordestinos, já que grande parte do projeto passa por terras dos grandes fazendeiros do Ceará, RGNorte e Paraíba (70% para irrigação, 26% para uso industrial e 4% para população), as populações ribeirinhas como a de Piaçubuçu vão sofrer um impacto que só vai poder ser realmente dimensionado depois que a merda toda do “Lula-Ciro Gomes & CIA” já estiver feita e faturada!
A emoção foi tanta que  até compus poema alusivo ao passeio:

O VELHO CHICO
O rio São Francisco visto da beira
Das dunas de areia do deserto de sua foz
Parece ser um rio comum na cheia
Pois nem se ouve na pororoca a sua voz

O Velho Chico, visto de dentro de suas águas
Impõe respeito por se revelar profundo
E por separar Estados como mundos
Em suas margens de nordestinas praias

Mas o Grande São Francisco visto do alto
Sob nuvens pela pequena escotilha do avião
É que se expõe em sua imensa real dimensão
E nos emociona por nos surpreender de assalto
Serpenteando em meandros desde o limite do olhar
Por toda terra até a outra linha do horizonte no mar
Como um espelho d’água atravessando o planeta
Feito uma vertente que escoa como um rastro de cometa
E que tem por nascente pontual o céu de cima, no oeste
Até ser represado no Atlântico mar de baixo, ao leste.


     Mas na manhã do último dia, no qual retornaríamos pra casa, ainda contatamos um guia avulso, o jangadeiro Roberto, para nos levar até as piscinas naturais da Praia de Pajuçara, que fica em frente ao hotel Sete Coqueiros, onde estávamos hospedados, mas que não está contemplado nos pacotes de passeios opcionais da CVC. Aliás, nenhuma praia propriamente de Maceió é promovida pela empresa operadora do turismo, pois sem haver o deslocamento não há como se obter o lucro pela infra-estrutura oferecida. A bem da verdade, é preciso que se diga, que há muita ocorrência de algas nestas praias, de sargaços nojentos que putrefatos ao sol fedem, os quais ocorrem em função da grande explosão demográfica do turismo e crescimento desenfreado de edifícios nas praias de Maceió, cujos esgotos acabam incrementando a proliferação de algas .
     No passeio de jangada da Pajuçara, que é o mais tradicional de Maceió, levamos junto um casal de turistas santistas (de nascimento, mas corintianos de coração), César e Edna, que conhecemos nos passeios. Como estávamos numa semana de maré alta, madrugamos para pegar a maré baixa às 7h da manhã e, surpreendidos com a quantidade de peixinhos que vinham comer ração em nossas mãos, todos saímos convencidos de que este foi o melhor entre todos os passeios que realizamos. Pra ver como são as coisas...mas como é grande e bonito este nosso Brasil pra quem vive de férias! Especialmente quando se refere ao último gozo de férias com este gosto de ser um breve período de folga entre dois longos períodos de trabalho; pois as próximas férias terão um gosto de gozo de aposentadoria com um mês de antecedência.