REAJUSTES & PORTABILIDADES SALARIAIS

Agora com o monstro da inflação voltando a assustar nas prateleiras dos supermercados, convém lembrar que a gestão anterior, a Administração Petista, matou a bimestralidade dos municipários, benefício que consistia em um reajuste da inflação a cada dois meses (que maravilha!). Benefício este que não resistiu ao congelamento siberiano a que foi submetida no governo Tarso-Verne, período de vacas magras em que ficamos silenciosamente sem reajuste nenhum. De maneira que a administração do Fogaça-Fortunati, que pregava nas promessas de campanha “preservar o que é bom”, achou ótimo encontrar a bimestralidade já defunta, pois só teve o trabalho de ouvir a choradeira do velório e providenciar o enterro, antes que fedesse demais. A choradeira até que fedeu bastante, pois rendeu uma greve capitaneada pelos mesmos que tornaram a bimestralidade uma múmia, ao saírem dos gabinetes e ocuparem novamente o espaço sindical da arena política.
Mas, para um anarquista convertido pelo método da cabeçada contra o muro como eu, nada como um dia após o outro...nada como a alternância no poder para se revelar a mesmice inerente da política partidária em todo o seu espectro de partidos políticos...O prefeito Vilella, nomeado pela ditadura, era mestre em dar reajuste salarial parcelado ao servidores municipais, em plena época de inflação galopante. Esta prática de expropriação voltou a ser moda com a dupla nativista Fogaça&Fortunati no reajuste salarial de maio/2009, que foi parcelado em três vezes. Com esta política salarial os cofres públicos se fortaleceram diminuindo o fluxo de caixa que migraria, por direito, para os salários dos seus servidores. A grana relativa aos 5,53% de reajuste que os funcionários deveriam ter recebido em maio/09, a prefeitura pagou 1% em maio, 2% em setembro e o saldo (2,53%) a partir de janeiro de 2010. Conforme exposição do economista Paulo Muzell célebre na época, a Administração fez uma “economia do arrocho”: 29,2 milhões de reais apropriado como redução de custos  e, ainda por cima, parte foi jogado para o orçamento de 2010, pago em fevereiro, melhorando ainda mais os seus indicadores gerenciais financeiro em busca do troféu de Ouro do PGQP (Pessoal sem Grana é Qualidade Patronal).
 A mesma política de desvalorização de pessoal foi aplicada para a Progressão Funcional: biênio 2002~2004. Somente em meados de 2009 começaram pagar e só a partir de então, sendo que os atrasados de 2005 até 2008, ao invés de vir numa bolada como seria de direito, para compensar o atraso e assim possibilitar que o barnabé adquirisse alguma coisa de valor, tendo um capital mínimo de investimento, que nada...Os atrasados ficaram nos cofres da fazenda qualificando seus indicadores e passaram a ser pagos em trinta  e seis longuíssimas parcelas  irrisórias, que ficaram diluídas em três anos a contar de 2010. Ou seja, os débitos salariais de 2005-2008 foram pagos em conta-gotas até o final de 2012: ainda bem que as previsões do povo Maia não se realizarem e o mundo não terminou antes!
Depois veio o caso da “Venda da Folha de Pagamento” para a Caixa Econômica Federal (CEF), em  que a “gestão de qualidade” gerou lucros para os cofres públicos a partir de 2008, em troca de prejuízos incessantes impostos ao quadro funcional, em especial aos correntistas de outros bancos, como uma novas iniciativa gerencial da administração Fogaça&Fortunati com igual sucesso no PGQP, pois com o mesmo teor de empobrecimento dos servidores municipais.
Isto implicou compulsoriamente no desmonte de toda a organização familiar bancária da vida das pessoas (seus débitos em conta e financiamentos, o crédito pessoal de cada um devido ao seu tempo como correntista de um mesmo banco, etc.), e acabou com a liberdade de opção: a essência de uma democracia foi “amordaçada” pelo “Vento Negro” do então prefeito-poeta.
 A Prefeitura se vangloriava  de ter arrecadado R$ 80 milhões pela venda de seu lote de subjugados à Caixa Econômica Federal (CEF), recursos obtidos às duras custas dos servidores que, para manterem seus compromissos bancários em seus bancos de origem, tiveram que gastar valores exorbitantes com taxas bancárias (para manter as duas contas bancárias e arcar com seus custos, em função de compromissos financeiros de longo prazo assumidos anteriormente).  
Como um lote de escravos vendidos em praça pública, os servidores municipais tiveram que assinar contrato com o seu novo Senhor Banqueiro, imposto ditatorialmente, o qual chegou prometendo mundos e fundos de isenções, mas que já mostrou nos primeiros anos do seu reinado o uso do duro pelourinho de suas taxas a chicotear no lombo dos salários dos servidores municipais.
Esta postagem escrevi originalmente em março/2008, quando da imposição da CEF como monopolista da folha de pagamento da prefeitura. A matéria foi atualizada em 2010, por termos verificado no decorrer do tempo que os nossos prejuízos não foram só financeiros, mas também na perda da qualidade e da quantidade dos serviços prestados.
Além de praticamente não existir terminais de auto-atendimento para pagamentos de contas fora das agências bancárias pela cidade, os terminais instalados no entorno do DMAE estavam sempre com problemas. Quando não estavam com sistema congelado, estavam sem papel ou as máquinas estavam desligadas. O recurso especial que a CEF oferece, que é o uso das lotéricas, tem a grave restrição de funcionar dentro do limite de saques, o que não possibilita o pagamento de muitas contas e, às vezes, nem uma única conta alta, tipo a conta do cartão de crédito da própria CEF.
 Aproveito para fazer aqui uma denúncia de desperdício do dinheiro público: No supermercado Nacional da rua Múcio Teixeira (antigo Moby Center) foi colocado um terminal de auto-atendimento novinho da CEF, isso faz mais de três anos, só que nunca foi ligado, ficou esquecido lá até hoje como um insulto aos correntistas!...
Agora, com o advento da Portabilidade Bancária e da Conta Salário, a partir de 2012, já é possível obtermos a alforria desta imposição patronal e conquistarmos novamente a liberdade de opção democrática de escolha e buscarmos uma desoneração de taxas bancárias.
 A chamada "conta salário" começou a valer para os funcionários públicos em janeiro de 2012. A partir do ano passado, portanto, o servidor público passou a poder optar por transferir seus vencimentos para o banco de sua preferência. O que é preciso fazer? O servidor deve simplesmente protocolar o pedido de portabilidade junto à sua agência na CEF. A portabilidade (transferência do salário) tem caráter automático e permanente, ou seja, o pedido é feito numa única vez. Nos meses seguintes, a transferência ocorrerá automaticamente e os respectivos créditos salariais estarão disponíveis no banco e conta indicados no mesmo dia do pagamento. A conta corrente na CEF passa a ser uma “Conta Salário”, sem cobrança de qualquer tarifa  bancária.
Muitos trabalhadores endividados estão se utilizando deste instrumento para terem acesso novamente aos seus salários, pois muitos estão tão endividados que quando o seu salário é depositado o banco fica com todo o valor para o pagamento das dívidas. Não é o meu caso (ainda!), mas estou providenciando a minha portabilidade bancária, nem que seja só para ter o prazer de romper a corrente que me aprisionava ao lote de trabalhadores vendidos feito escravos,  através da folha de pagamento comprada pela CEF!

DOIS ANOS SEM CARTÃO PONTO


            Em maio/2013 completei dois anos de alforria do tirânico relógio-ponto, quando adquiri de fato o direito à liberdade plena ao entrar em Licença Aguardando Aposentadoria (LAA),  embora somente em outubro/2011 tenha sido publicado legalmente o meu ato de aposentadoria integral e com paridade.
De lá pra cá tenho feito muitas reminiscências de episódios e personagens pitorescos, bem como de temas e aflições da categoria municipária que tenho compartilhado com os leitores deste “Diário de Um AposentaNdo”. É muito difícil que exista outro aposentado que frequente tanto o seu ex-local de trabalho quanto eu. Mas não vou lá só para torturar os cativos do cartão-ponto com a minha exuberante liberdade. A minha presença é tão assídua na frente do DMAE, que acontece pelo menos duas vezes por dia, que só falta eu bater ponto no quarteirão entre a Divisão de Água (DVA) e a Divisão de Manutenção (DVM). Rotina esta que terá continuidade por mais um ano, até que a minha mulher também se aposente. Até lá, quando então perderei o contato cotidiano com o mundo dmaeano, vocês terão que me engolir desenvolvendo o tema dos “aposentaNdos” do DMAE aqui no blog.
Mas o mundo global gira muito rápido, e a gente que está dentro dele nem percebe. As coisas vão mudando tanto, que aos poucos vamos perdendo a identidade vital que tínhamos com elas: já nem se bate mais o relógio-ponto que é agora é com impressão digital, e já nem existe mais a DVA nem a DVM (Divisão de Manutenção) que agora é GMAN. Quando me aposentei, há apenas dois anos atrás, ter a progressão letra D (de Dinossauro) era o topo da carreira; hoje já tem as letras E & F (sabe-se lá de que bicho). Por isso, seguidamente anoto algum tema que está rolando entre os servidores municipais atualmente, como suas lutas e movimentos, pensando em desenvolver o assunto aqui no blog, mas acabo sempre fazendo reminiscências de eventos correlatos ocorridos no passado, quando os vivi no ardor da batalha ou no tédio da rotina.
 A questão da Reestruturação do DMAE, por exemplo, que eu postei aqui em meados de 2010 como sendo um “Frankenstein Espetacular”, quando era ainda apenas um projeto visto com antipatia pelos servidores. A então audaciosa Reestruturação do DMAE pretendia a redução dos 9 níveis existentes de hierarquia de chefias para apenas 5, isto através da extinção de cerca de 40% das funções gratificadas (FG´s), bem como dos EQADs (Equipes Administrativas), entre outras coisas, como desmembrar  todos os processos funcionais numa reengenharia para remontar um novo organograma operacional vinculante do gerenciamento conjunto de água e esgoto no Departamento.
Chamei de “Frankenstein Espetacular” por que vivemos na sociedade do espetáculo, onde só interessa o que vira show. A política é um espetáculo tanto quanto o futebol, sendo que em ambos é criada uma partidarização simulada para atrair o público como sendo desse ou daquele time ou partido. Mas os profissionais dos referidos espetáculos (jogadores e políticos) não são permanentemente de nenhum time ou partido.
Como mágicos, tirando coelhos da cartola, no meio do show ilusionista  pegaram a reivindicação dos servidores de “Essencialidade 110% Já!” e misturaram com uma Gratificação por Desempenho de Atividades Essenciais – GDAE –  passando de contrabando a aprovação da desengonçada reestruturação, como uma criatura inventada para fazer o DMAE andar melhor do que a velha e arcaica estrutura que vinha funcionando há décadas.
Hoje, assisto do privilegiado camarote dos aposentados, esta nova estrutura que recebeu o sopro de vida e começou a botar os pés pelas mãos, ao sair do papel e dos gabinetes para cair nas valetas do dia-a-dia de quem realmente faz a água potável rolar nos canos e lida com o fétido esgoto cloacal da cidade. Ouço vozes ao longe de resistência, ouço  murmúrios, queixas e até elogios pelo fato da nova estrutura ter ressuscitado a figura da Unidades Distritais (UOD).
Mas os que eram Superintendentes viraram Diretores, os que eram Diretores viraram Gerentes, os que eram chefes de seções (gerentes?) viraram Coordenadores, os que eram chefes de setores (coordenadores?) viraram Equipes, e os que eram efetivamente chefes de equipes...viraram abóbora?...
Tomara que o Frankenstein funcione, espero que a Reestruturação faça um belo espetáculo por uma longa temporada, posto que pelo meu direito de “aposentadoria com paridade” também dependerei das conquistas do pessoal da ativa e sofrerei suas perdas.
Outro exemplo é a própria GDAE (Gratificação por Desempenho de Atividades Essenciais), comemorada como uma conquista importante na brecha aberta pela GAM (Gratificação de Alcance de Metas) concedida  aos Capacetes Brancos (engenheiros e arquitetos) meses antes. No final, ambas gratificações serviram de moeda de troca, não houve nem o reconhecimento da “essencialidade” nem o reconhecimento da responsabilidade técnica (VRT) reivindicados pelos respectivos segmentos dos servidores dmaeanos.
O valor da GDAE de 32% do vencimento básico inicial do cargo como parte fixa +   68% como parte variável a título de desempenho e produtividade, que em 2012 atingiu apenas 9,8% da meta e correspondeu ao incremento salarial de 6,67% no salário básico do cargo, é uma questão controversa: não correspondeu às expectativas dos funcionários que lutaram por esta conquista? No exílio do inativo, de quem não está mais confinado no burburinho do horário de expediente, ficam cada vez mais distantes tais problemáticas funcionais, e vai se tornando complicado emitir opinião e avaliar.  O fato é que se não rendeu os 110% reivindicado como essencialidade, pelo menos já deu um lucro no bolso de 38% sobre o básico. Por outro lado, este lucro está represando a aposentadoria de muita gente, pois para incorporar a GDAE na aposentadoria ela tem que ser recebida por dois anos consecutivos no exercício do cargo. Em 2014 deverá haver uma debandada de novos aposentados com a GDAE incorporada, e no meio do bando levantando voo rumo ao Previmpa estará inclusive a minha mulher, finalmente!
          Assim, tenho recebido emails e visto faixas com reivindicações específicas de classes de servidores, as quais já não compreendo o contexto em que se manifestam e se articulam enquanto movimentos sindicais:
- Operários: Padrão 4 JÁ!
- Operador de Subestação: Padrão 6 JÁ!
-Assistentes Administrativos: Padrão 8 JÁ!
        Penso que está se criando uma bandeira de luta pela elaboração de um novo Plano de Carreira, perfeito. Lembro que em 2010 já existia nos bastidores do Departamento também o script de um Projeto de Reforma do Plano de Carreira, o qual iria se encaixar como clímax do show, feito o parafuso na cabeça do Frankenstein da Reestruturação do DMAE.  Este Plano de Carreira tinha a concepção de implantar novos conceitos de carreiras para os servidores, criava distintos campos de carreiras: a gerencial e tecno-operacional, se bem me lembro.. 
        Com o Novo Plano de Carreira, afinado para fazer com que todos dancem conforme a música, haveria o ajuste fino no aperto do parafuso que libera mais ou menos grana conforme o desempenho de cada servidor dentro da nova estrutura. Seria um instrumento gerencial econômico visando promover maior eficiência do serviço público, do qual as gratificações GAM & GDAE são meros embriões de proveta.
        O tal plano de carreira que ficou engavetado na Administração, esperando a hora de entrar em cena,  parece estar ouvindo o clamor das massas para emergir na pauta de negociações de uma campanha salarial...e também ser aprovado de contrabando como uma moeda de troca.
No fundo, como a gente vai s tornando um estranho no ninho, o que interessa mesmo para um aposentado é o índice de reajuste e que seja pago sem parcelamentos:
- À Luta Companheiros!




ENTREVISTANDO UM APOSENTADO


From:  Gabriela Werlang
Subject: PESQUISA ACADÊMICA

Boa tarde Celso,
Sou formanda do curso de Gestão de Recursos Humanos - Unisinos 2013/2. Meu trabalho de conclusão é sobre Programas de Preparação para a Aposentadoria, é muito importante para minha pesquisa fazer entrevistas com pessoas que estejam participando ou que já tenham participado de PPA. A Tanise, da prefeitura está me ajudando com os contatos, mas no seu caso foi o Jair Staruk que indicou seu nome.
 Como resido em Salvador do Sul, com os demais entrevistados combinei de mandar as perguntas por e-mail e quando respondidas, caso eu fique com alguma dúvida, entro em contato por telefone. Gostaria de saber se você aceita responder, é bem rápido! Estou enviando as perguntas, se quiser responder e me enviar...

De: celso lima
Para: Gabriela Werlang
Gabriela, estou enviando em anexo as respostas às perguntas formuladas em tua entrevista, juntamente com uma planilha das minhas "100 Coisas para Fazer na Aposentadoria". Como verás, todas estas questões  e muitas outras eu venho desenvolvendo no meu blog "Diário de Um AposentaNdo", portanto nas respostas procedi colagens de trechos das postagens do blog. Espero que as respostas ajudem no teu trabalho. Continuo à disposição no que puder ajudar. Valeu, e aproveito para postar um resumo das respostas sobre o tema do PPA como um remake no meu blog:
O que você entende por aposentadoria?

           Cada ex-colega que encontro na rua vem sempre com a mesma pergunta:  O que estás fazendo com o tempo?!? Falam exclamativamente como quem diz: Como estás conseguindo ser o tempo todo o senhor do teu tempo, sem ter um esconderijo onde bater o ponto e se esconder para deixar que o tempo da tua vida escoe por oito horas diárias, com um breve intervalo para o almoço, de segunda à sexta-feira?!?... Ui, que medo que se criou do tempo disponível na aposentadoria!
          Respondo pacientemente da mesma maneira a todos, que é uma deliciosa sensação de liberdade não precisar mais se adiar e agora ter que decidir a cada momento o que fazer com o seu tempo. Estar aposentado implica numa mudança de ritmo e de estilo de vida, em não ficar mais no superficial que a pressa exigia, sempre deixando para fazer e aprofundar as coisas depois, mais adiante, um dia, quem sabe quando...
         Contudo, sinto que há falta de concretude nesta minha descrição de como é a vida pós-aposentadoria. Agora é que o blog pode vir a ser realmente útil para os novos “aposentaNdos”, mostrando que há vida e como é ela além do horizonte do cartão ponto. No fundo, o que as pessoas realmente estão interessadas é saber como se faz para desmistificar este mito da “figura do aposentado de pijama sentado em frente à televisão e enchendo o saco da família com sua inutilidade”...Para responder o que entendo por aposentadoria, terei que mostrar mais do que simplesmente descrever com adjetivações a vida de um aposentaNdo, que seja com N maiúsculo!...
Conte um pouco sobre o momento em que percebeu que a aposentadoria estava próxima. Como se sentiu?
         Pela lei anterior às sucessivas reformas da previdência eu me aposentaria aos 52 anos de idade. Sou engenheiro, e quando resolvi voltar a conquistar uma vaga na UFRGS em 2003, o meu plano era de que estaria  cursando filosofia ao me aposentar e, portanto, estaria devidamente ocupado, espantando de antemão o fantasma da síndrome do tédio. Na época eu estava com 49 anos e pretendia me aposentar aos 53 anos, já pagando o pedágio de 1 ano e cumprindo a idade mínima de 53 anos exigida pelas reformas da previdência do presidente FHC.
        Por isso, em 2010, novamente às vésperas de me aposentar (se nenhuma outra Reforma da Previdência ocorresse depois da realizada pelo presidente Lula, que ampliou minha sentença de trabalhos forçados até aos 56 anos de idade!), e de também estar às vésperas de ser jubilado da UFRGS por decurso de prazo de validade do vestibular, vale dizer, ser excluído como aluno de filosofia sendo compulsoriamente defenestrado, resolvi aproveitar para tentar re-editar o plano de anti-tédio da aposentadoria, apenas que  buscando então uma nova vaga na UFRGS no curso de Letras-Espanhol.
         Talvez o pulo do gato da tranquilidade em que se processou a minha transição para a tribo dos chamados “inativos” tenha sido o fato de eu ter iniciado um ano antes, com este blog, o meu processo de luto e despedida prévia das rotinas e colegas servidores do Dmae e da PMPA. Quando chegou o momento eu já estava leve e solto das amarras para voar pela nova vida, livre da tortura do relógio ponto que eu batia sempre no limite da tolerância do vermelho no cartão...
        Com a aposentadoria próxima se é um aposentando. Ser um aposentando é viver cada dia como se fosse o último, e andar prestando atenção em cada detalhe da mesma trajetória tantas vezes repetida distraidamente. É bom prestar atenção pra não ser contagiado pelo saudosismo melancólico depois, quando já não estivermos mais revivendo esta rotina, ocasião em que ela poderá parecer fantasiosamente mais atraente por pura nostalgia.
O que você pensa sobre sua aposentadoria? Você possui planos para o futuro? Quais?
No transcorrer do ‘Programa de Preparação para Aposentadoria (PPA), durante a palestra de uma psicóloga sobre “Pós-Carreira”, o colega Jair Staruck do DMAE revelou para o grupo que pretendia se ocupar com trabalhos de marcenaria, que há tempos vem montando uma oficina bem equipada em casa. Nós, o Jair e eu, descobrimos que fomos hippies artesões pioneiros da Praça Dom Feliciano no mesmo período, no início dos anos 70, e íamos nos aposentar juntos como dois roliços barnabés, quem diria?
A propósito da pergunta, comento a última atividade letiva do curso PPA, que foi a entrevista de dois aposentados (coincidentemente ambos ex-funcionários do DMAE), muito bem conduzida pela Cida, colega jornalista que também é do DMAE. Na ocasião, antes mesmo de iniciar oficialmente a entrevista, estive conversando com os três e ironizei que eu queria que, tudo bem, um dos entrevistados fosse do tipo empreendedor que estava desenvolvendo outra atividade na pós-aposentadoria (ou seja, que continuou correndo atrás de dinheiro); mas que o outro entrevistado representasse ao tipo oposto, que correspondesse ao perfil do aposentado que usa o seu tempo livremente para atividades lúdicas, culturais e afetivas. Considero que ambos podem constituir modelos de aposentados felizes, ou será que não existe ninguém deste segundo modelo que seja feliz?...Meu plano para o futuro é fazer só o que eu gosto e ser feliz!
 Como você recebeu o convite para participar do Programa de Preparação para Aposentadoria da empresa onde trabalha/trabalhou?
         A Prefeitura Municipal de Porto Alegre, cujas estimativas é de que nos próximos anos se aposentem cerca de mil funcionários por ano, está promovendo uma espécie de curso preparatório para os seus aposentandos. É o denominado ‘Programa de Preparação para Aposentadoria (PPA), o qual eu  cursei em 2010. A divulgação é feita por emails corporativos enviados aos funcionários em geral.
       Como fechamento conclusivo de sua palestra no PPA, o psicólogo Regis Caputo Krug (que vai criar cavalos de raça quando se aposentar da PMPA) ressaltou que a tendência de um aposentado que não tem projetos de atividades criativas em coisas que gosta muito de fazer é de adquirir invisibilidade  no meio familiar e social. Invisibilidade é quando ninguém mais presta atenção e nem sequer respondem aos seus pedidos, quando vira um móvel da casa ou uma mala sem alça e sem rodinha.  A internet e a própria correria da vida moderna tem agravado  a invisibilidade entre pais e filhos e multiplicado a invisibilidade entre netos e avós vivendo dentro de uma mesma casa. Reafirmou o palestrante que a identidade de uma pessoa é “fazer” trabalhos, mas do aposentado é não mais fazer por obrigação e sim por prazer; caso contrário há desistência, irritabilidade e depressão. Estudos mostram que um homem aposentado que não se interessa por fazer nada com gosto e brilho nos olhos, fica invisível, cai no alcoolismo (ingerindo bebidas alcoólicas “socialmente” até sete dias por semana) e morre em quatro anos!... Como eu estava com brilho nos olhos para me aposentar, tratei logo de me inscrever no PPA para melhor me preparar antes de dar este importante passo para uma nova fase da vida.


O que significa qualidade de vida para você? Você julga ter qualidade de vida atualmente?
O cerne da questão para se viver bem como aposentado é responder a uma única questão que permeia esta pergunta: O que fazer com o tempo livre, para não cair no tédio e na depressão, para se ter qualidade de vida? Recém completei dois anos consecutivos de liberdade incondicional. É cedo ainda para se ter domínio de como vai funcionar a longo prazo, se em algum momento vai surgir o tal monstro do fundo do lago do tédio para me amedrontar, como quase todo mundo acredita que, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer!...Penso que o medo da vida a ser vivida só acontece com quem teve medo de viver a vida já vivida antes, que a viveu confinada nas rotinas coletivas sem garantir espaço para desenvolver sua individualidade e que perdeu de vista a criança que foi. Sou daqueles, como o Saramago, que diz: Quando me for deste mundo sairei de mão dada com a criança que fui.
Qualidade de vida é poder finalmente dormir as oito horas por noite ( recomendadas pela medicina para se ter boa saúde) e ainda curtir uma breve sesta após o almoço...e me dedicar de tempo integral à coisas e às pessoas que gosto. 


Conte um pouco sobre as atividades promovidas no PPA. Com qual você se identifica/identificou mais?
No Programa de Preparação da Aposentadoria (PPA), o qual freqüentei em 2010 antes de me aposentar e recomendo a todos, foram dadas muitas orientações, algumas óbvias para o pós-carreira, tais como: ler livros, viajar, ter uma religião, ter amigos de sua faixa etária, etc. Mas duas recomendações me chamaram a atenção: Escreva uma autobiografia e escreva uma lista de 100 coisas para fazer!
         A autobiografia eu já estava desenvolvendo através deste blog “Diário de Obra de Um Aposentando”; mas gostei muito da idéia da lista e passei a elaborar a minha própria “lista de 100 coisas para fazer quando estiver aposentado”. Apresentei a minha lista como um modelo prático para que os “aposentaNdos”, leitores do blog, se estimulem e desenvolvam as suas próprias listas.

A partir do seu ponto de vista, qual a importância para as pessoas em processo de aposentadoria participar de PPA?
Vale a pena? – À esta pergunta que outros colegas próximos da aposentadoria me fazem sobre o curso, respondo com os versos do poeta Fernando Pessoa: Tudo vale a pena quando a alma não é pequena!
Você percebeu reflexos em sua vida participando de PPA? O que mudou?
         Hoje, das 100 coisas da minha lista, 21% dos itens já estão realizados e 16% se encontram em andamento. Nada mal para o primeiro ano, sobretudo se considerarmos que a “Minha Viagem dos Sonhos para a Europa” foi realizada neste período, que era o projeto de maior custo financeiro da lista. E a melhor notícia é que, pelo andar da carruagem, esta minha lista vai levar mais alguns anos para ser inteiramente realizada e, melhor do que isso, é que a lista  tende a crescer com “Outras coisas para fazer na aposentadoria”... Este é um exercício interessante, pois diariamente surgem novos tópicos que se candidatam a entrar na lista  que estará sendo construída permanentemente, crescendo sempre para muito além das 100 coisas...

A partir de seu ponto de vista, como a promoção de PPA nas empresas, pode impactar na vida das pessoas?

O PPA pode impactar na vida das pessoas a partir de temas de “Aspectos Psicológicos da Aposentadoria”, como o de um psicólogo que iniciou a reunião promovendo a rodada de auto-apresentação, depois salientou as relações do trabalho com a identidade da cada um: eu sou engenheiro do DMAE, eu sou professora, eu sou arquiteto...Nós nos identificamos com aquilo que a gente faz. Se o “fazer” nos estrutura uma identidade, o ócio pode nos desconstituir. Ao nos aposentarmos, quem somos nós quando não somos mais o engenheiro do DMAE, a professora da SMED ou o arquiteto do Meio Ambiente?...Esta questão se coloca como um joelhaço, com um impacto psicanalítico do Analista de Bagé na cabeça de um aposentando despreparado. 


Você tem alguma consideração que julga relevante compartilhar sobre o seu processo de aposentadoria?

O projeto do livro “Diário de Um AposentaNdo do DMAE, contendo uma seleção de crônicas deste blog, é especialmente “relevante”  porque ele tem um público alvo certo e, conforme os milhares de acessos no blog, a abordagem e  as temáticas desenvolvidas estão agradando a este público. Talvez agrade por que estão sendo relembrados no blog muitos dos grandes momentos vividos por esta geração que está se aposentando agora, e a Prefeitura tem milhares de aposentaNdos.
Tenho convicção que o universo de assuntos que efetivamente envolvem este rito de passagem é muito mais amplo do que pode ser tratado no curso PPA e que, com o meu convívio com a problemática durante os últimos quatro anos, acabei conseguindo captar várias nuanças e questões de grande valia para os aposentaNdos com N maiúsculo, os conscientes do passo que estão daNdo. O fato é que temos um produto literário cultural de interesse dos municipários, temos a orientação técnica da SMC em publicação de livros e temos um ótimo esquema de distribuição no PPA e no Previmpa, mas nos falta os meios capitalistas de produção: Karl Marx tinha razão!
Assim, queimados todos os cartuchos e afundados todos os navios, só me restou seguir em frente fazendo arte alternativa e libertária aqui e agora, no espaço democrático e sem custo de produção do blog, veiculando o meu trabalho nesta ferramenta anarquista que é a internet..
  Para concluir esta entrevista com uma mensagem, acredito que tenho transcrito aqui neste blog uma boa nova aos aposentaNdos: Não há tempo ocioso na aposentadoria, pelo contrário, falta tempo. Tenho mostrado que os aposentados pós-modernos têm dois mundos para povoar: o cyberespaço da vida virtual da Internet no computador e o espaço mundano da vida real. Acreditem, falta tempo! 






TRABALHADORES AMPARADOS NA AMPA


No Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, em décadas passadas era dia de muitas manifestações e agitados protestos dos trabalhadores por todo o Brasil. Mas as lutas por direitos trabalhistas continuam,  haja visto que a categoria profissional das empregadas doméstica só agora em 2013, conquistou o direito de regulamentação da sua jornada de trabalho em 44 horas semanais, sendo o restante considerado legalmente como horas extras, e não mais como trabalho escravo.
A propósito, registramos aqui no blog que as manchetes dos jornais no final de 2009 anunciavam “sensacionalmente” que uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados havia aprovado a PEC da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem diminuição dos salários. Porém, constato hoje que a tal emenda constitucional (PEC 231/95), continua há 18 anos tramitando, sendo que ainda tem de ser aprovada em dois turnos na Câmara e depois apreciada pelo Senado. Mas até hoje a redução da jornada de trabalho sequer entrou na pauta de votação em nenhuma das duas casas legislativas. Pelo jeito vai demorar muito ainda até  se tornar uma realidade, coisa que a AMPA já conquistou na Prefeitura de Porto Alegre faz muito tempo...
Explico, especialmente aos jovens municipários que sequer ouviram falar da AMPA, o porquê desta minha reminiscência  dos feitos dos meus tempos de “militante agitador de massas” na Associação dos Municipários de Porto Alegre (AMPA).  Relembro que por dois anos a entidade teve existência de fato antes de obter o seu registro legal. Se consolidou na luta, promovendo combativas e inovadoras formas de mobilização dos servidores municipais portoalegrenses, isso sob uma ditadura em que o servidor público não podia nem chiar! Promoveu um impactante “movimento tartaruga” histórico, seguido de grandiosas assembléias no auditório do Colégio Rosário e estridentes atos públicos aos gritos de “Dib: sacana, devolve a nossa grana!” no Paço Municipal. Era o governo do prefeito João Dib (o último dos moicanos nomeados pelo regime do golpe militar), quando em outubro de 1985 foi legalmente fundada a nossa entidade pré-sindical AMPA, no auditório da Câmara de Vereadores que ficava ainda no Edifício José Montauri (na Prefeitura Velha).
Na diretoria provisória da AMPA, eleita nesta ocasião para organizar o quadro social e realizar eleições diretas, eu era o segundo vice-presidente. Acontece que dois meses depois da fundação, o Rigoti, que era militante do PMDB, se demitiu do cargo de presidente da AMPA, ao ser nomeado para um cargo em comissão com a vitória do Pedro Simon para o Governo do Estado. Três meses depois, era a vez do segundo vice-presidente, José Cláudio Penteado, que recém havia assumido a presidência, apresentar a sua demissão por ter sido nomeado para uma diretoria da Fazenda Municipal do Governo do Alceu Collares, o primeiro Prefeito eleito diretamente que estava assumindo.
Foi assim que, voltando das férias alegre e faceiro com as águas de março de 1986, tive que segurar aquele rabo de foguete: assumir a presidência da AMPA, para não deixar a peteca cair. Neste mesmo mês a categoria entrou numa  campanha salarial histórica para a unidade sindical dos municipários. Em abril foi editada a “Carta de Abril” onde, pela primeira vez, todas as entidades reconheceram a AMPA como a legítima representante da classe municipária. Até então cada associação puxava para o seu lado e as administrações fomentavam a divisão para governar. Depois de dois dias de paralisação massiva diante do Paço Municipal e de realizar um Ato-Show “Vamos Botar a Boca no Mundo” na Esquina Democrática, com a pressão dos servidores foi constituída uma “Comissão Paritária”, entre a AMPA  (com o Tibério Bagnati, Avelino Rodrigues, Edson Zomar e eu) e a Administração com a participação da Dilma Linhares (que na época não era ainda Dilma Rousseff e era do PDT) e todo o primeiro escalão do governo, para discutir uma pauta de reivindicação de 11 itens, os quais foram total ou parcialmente atendidos.
 É lógico que, como sempre, o reajuste salarial foi insatisfatório!  Mas cabe destacar, e aqui entra o porque as manchetes dos jornais sobre a jornada de trabalho das empregadas domésticas me evocaram, o que eu sempre computei como a maior conquista do nosso movimento sindical até hoje, que  foi  a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas dos operários e celetistas da Prefeitura! (Além de conquistarmos o início do fornecimento do Vale Transporte para os funcionários de todas as secretarias e departamentos).
          Em setembro/1986, com a AMPA politicamente reconhecida e sua representatividade consolidada junto à categoria, estruturalmente organizada com sede alugada e com desconto em folha dos seus associados, foi promovida a eleição direta da nova diretoria que foi empossada com a missão de transformar a AMPA no Sindicato dos Municipários – SIMPA, assim que a legislação da ditadura em processo de abertura  permitisse. Costa que fomos a primeira categoria de funcionários públicos a constituir legalmente sindicato no país, graças às atividades da AMPA que tinha nos deixado preparados, inclusive para a seqüência de duas greves, já como SIMPA, que casualmente tiveram a duração de 21 dias nos anos seguintes.
          Ninguém se lembra mais, mas antigamente trabalhávamos todos  44 horas semanais na PMPA, fazíamos 45 minutos a mais por dia, até as 18:15 horas, para não trabalharmos nas manhãs dos sábados. Esta realidade mudou para os servidores estáveis do quadro por volta de 1982, mas permaneceu para os servidores  celetistas, que naquela época eram em grande quantidade.  O que ainda hoje nos dá a dimensão da grandeza daquela conquista dos municipários lá em 1986,  é que  27 anos depois, mesmo com a democratização e após a Era FHC e, em plena Era Lula/Dilma, os trabalhadores regidos pela CLT no Brasil ainda continuam hasteando a bandeira de luta de redução da carga horária de 44 para 40 horas semanais.
           Fica aqui a minha homenagem aos bravos companheiros daqueles duros e saudosos tempos de lutas, especialmente aos colegas que compunham a Diretoria Provisória da AMPA: Ana Lúcia D´Angelo da SMED (que posteriormente realizou a transformação da AMPA em sindicato, sendo a última presidente da associação e a primeira presidente do SIMPA em 1989), a Etel Gutterres da “SMEC” (cuja casa  funcionou por muitos anos como a sede da entidade e que, posteriormente, veio a ser a mãe das minhas filhas), a Carmem Dreyer do DEMHAB, o Padilha da SMOV, o Grego Vassili da SMF, o Beltrão do DEMHAB e o Avelino Rodrigues da SMSSS, entre outros menos alinhados mas igualmente importantes construtores do movimento com autonomia política, por reunir simpatizantes de todos os partidos.

-Valeu Velha Guarda da AMPA!