HOMENAGEM PÓSTUMA À FÁTIMA SILVELLO

Hoje eu fui ao cinema assistir ao “Filme dos Espíritos”, onde pude chorar bastante em luto da Fátima Silvello, que desencarnou e estava sendo velada e sepultada naquele mesmo horário. Agora, sob o efeito da mensagem do espiritismo contida no filme, de que há vida após a morte, fico refletindo sobre o ensinamento budista de que temos muitas vidas e mortes numa mesma existência. A Fátima foi protagonista numa das minhas vidas passadas, numa época em que eu saía chamuscado e arisco do meu primeiro casamento, quando mergulhamos juntos na militância sindical. Belos tempos de sonhos utópicos aqueles!
Os dois jovens estudantes, de sociologia e de engenharia, convertidos para as lutas sociais de redemocratização no Brasil no início da década de 1980, constituíram os pilares de aglutinamento de toda uma geração de servidores do DMAE que passavam a se empenhar na organização da  categoria dos municipários. Fizeram de instrumento de luta e conscientização setorial a Associação dos Servidores do DMAE  (ASDMAE), mas tendo sempre como perspectiva maior a construção da Associação dos Municipários (AMPA) como uma entidade pré-sindical, até que a legislação federal permitisse a sindicalização dos funcionários públicos. Belos tempos utopicamente revolucionários aqueles!...
Muito trabalhávamos juntos na elaboração dos boletins, jornais e cartazes do movimento, eu entrava com o texto e ela com a arte e diagramação, desenhista profissional e criativa que era. De tanto nos identificarmos e nos misturarmos um com o outro, nos envolvemos afetivamente, mas tímidos e ariscos, ninguém tomava iniciativa, até vivenciarmos uma temporada mágica no Rio de Janeiro, num apartamento em Jacarepaguá, cedido pelo amigo Marco Arildo do Trensurb (Valeu Marco!). Foram momentos que me fizeram voltar a acreditar que a felicidade existe! Belos tempos utopicamente românticos aqueles!...
Depois, pelos desígnios insondáveis do existir, morremos naquela vida pra renascermos em outras; mas nunca mais voltei ao Rio que continua lindo em minhas memórias... Por peripécia do destino, para possibilitar que não deixássemos  nada mal resolvido nesta existência, posteriormente trabalhamos  juntos na mesma sala da Assessoria do Diretor Geral, no início da era petista na Prefeitura, e voltamos a trabalhar juntos na Assessoria Comunitária do Dmae (ASSEC) mais adiante. Participamos juntos, a socióloga e o engenheiro, de trabalhos comunitários de saneamento nas vilas e das históricas reuniões noturnas do Orçamento Participativo (OP do meu irmão Gildo Lima, também já falecido!) junto com a população. Belos tempos utopicamente construtivistas eram aqueles!...
Os últimos contatos que tivemos foi há poucos anos atrás, antes dela se aposentar definitivamente do Dmae, por ocasião da obra de drenagem que ela fiscalizava no pátio da minha Divisão de Manutenção. Depois soube que estava doente e passei a lhe enviar emails com links de acesso para o blog e hoje, 23/outubro/2011, soube que a “companheira Fátima Silvello” não está  mais entre nós...Que coisa, hein?!...
Espero que os espíritas e os budistas tenham razão e que existam realmente reencarnações e renascimentos cármicos, para que possamos aproveitar evolutivamente as convivências que tivemos com pessoas especiais (como a Fátima foi para mim) em nossa vida atual.

- Belos tempos, valeu companheira Fátima Silvello!

AGORA EU SOU UM APOSENTADO!

           Agora não tem mais jeito, vou ter que ir lá mudar a mensagem que deixei como resposta automática no meu correio eletrônico coorporativo do DMAE, com a mensagem de “ausência temporária por LAA" (Licença de Aguardando Aposentadoria). Com a “novidade” publicada no DOPA do dia 18/10/2011, vou precisar atualizar a mensagem nos seguintes termos:

CAROS COLEGAS,
         A partir de 03/outubro/2011 estarei em AUSÊNCIA DEFINITIVA, posto que foi publicado o meu ATO DE APOSENTADORIA INTEGRAL E COM PARIDADE!!!!!!!
         Para quem quiser me enviar e-mails pessoais, podem enviar para:                                                celsol1954@gmail.com
        Quem quiser saber notícias minhas basta acessar o meu blog, onde continuarei atualizando e relatando (até quando vocês me aguentarem!) esta nova fase da vida, a boa vida de recém aposentado:
                                         http://celsol-diariodeumaposentando.blogspot.com/

Foram 35 anos de convívios no DMAE, VALEU PESSOAL!!!!!...

             Mas cá entre nós, falando sério, ganhar o Ato de Aposentadoria, com todos os “penduricalhos salariais” que eram passíveis de incorporação por direito (Nível Superior, progressão letra D, 14 avanços, 25% de adicional, Função Gratificada de Diretor, dedicação exclusiva, insalubridade máxima e gratificações de produtividade e incentivo técnico), é algo como obter um bilhete sorteado com o grande prêmio sendo pago em parcelas reajustáveis garantidas pelo resto da tua vida. É uma comemoração que merece um charuto cubano Cohiba legítimo...

-Uau, consegui: agora eu sou um felizardo aposentado!
          O rito de passagem é sumário, a pessoa é comunicada por correspondência para pegar no guichê o seu “kit-aposentado”, o qual consiste no original do “Ato de Aposentadoria”, juntamente com a edição do Diário Oficial de Porto Alegre (DOPA) em que ele foi publicado, e também vem junto o “Cartão de Aposentado do Previmpa” do novo inativo.
          As instruções sobre a nova forma de recebimento do salário também são sucintas: no primeiro mês haverá dois contra-cheques, um do órgão de origem do aposentado até a data da aposentadoria e o outro do Previmpa, complementando o mês. Neste último contra-cheque do órgão de origem é pago também a parte proporcional ao 13º salário que lhe compete, sendo que o restante vai ser pago pelo Previmpa no final do ano. Para fins de declaração de imposto de renda, portanto, os aposentados novatos deverão buscar os extratos das duas fontes de rendas: órgão de origem e Previmpa.
+1 inativo encostado!
A partir de então, a rotina do estreante beneficiário do sistema de previdência consistirá em esperar o contracheque chegar em casa pelo correio, e receber o salário sempre no último dia útil do mês.  Com sombra e água fresca, a nova realidade será ficar encostado no Previmpa pelo resto da vida, torcendo para que ele siga forte e saudável, para sempre nos sustentar sem perdas no nosso poder aquisitivo em relação ao pessoal da ativa, e com longevidade bem maior do que a nossa, no mínimo maior do que as dos nossos descendentes e futuros pensionistas....amém!

- Valeu, a vida  continua! (E o blog também!)

DO DISCAR AO TECLAR E AO TOQUE

Morreu Steve Jobs, o pai do  Ipod (música), Ipad (tablets - ebooks), Iphone (celular) e dos renomados computadores Macintosh. Mesmo sendo o criador de produtos elitizados de consumo, dos quais eu nunca tive acesso a nenhum, o cara  era tão criativo que acabou determinando as tendências mundiais  da interação dos humanos com as maquininhas interligadas em redes sem fio.

        Pessoalmente me identifico muito com este segmento yuppie  da minha geração, nascida na década de 1950, pessoal emergente do movimento hippie que descobriu o poder criativo contido nos circuitos eletrônicos, capaz de democratizar a informação. Na década de 70 eu também surfei nesta onda.

           Fiz o curso técnico de eletrônica da Escola Parobé e frenquentei muito as lojas de vendas de componentes eletrônicos que proliferavam na Av. Alberto Bins, onde circulavam todos os “nerds” daquela época e trocavam ideias das revistas “faça você mesmo” sobre circuitos e amplificadores. Foi uma imersão na juventude que me setenciou a trabalhar a vida toda com manutenção de equipamentos, ser médico de máquinas!

         A propósito, tem um filme intitulado “Piratas do Vale do Silício” (disponível no Youtube) que oferece uma versão dramatizada do nascimento da era da informática doméstica, desde o primeiro PC, através da histórica rivalidade entre a Apple (depois Macintosh) e a Microsoft, esclarecendo quem pirateou o quê de quem.

         No filme Steve Jobs é um garoto hippie e contestador, que vai a passeatas na universidade, toma LSD e tem inspirações messiânicas. Toda essa fúria vem do sofrimento: Jobs chora, faz terapia e não se conforma com o sumiço da mãe biológica e de ter sido dado para adoção. Bill Gates é o completo oposto. Faz coleção de revistas Playboy e gosta de beber cerveja jogando pôquer com seus amigos.


Alguns apaixonados pela eletrônica começaram a desenvolver protótipos de circuitos que viriam a ser microcomputadores. Entre eles, Steve Jobs e Steve Wozniak, que juntos desenvolveram num fundo de garagem uma espécie de primeiro computador pessoal. Eles deram o nome a esse protótipo de Apple.

Até aí tudo era paz e amor! Mas, enquanto isso, o jovem pirata Bill Gates prometeu vender para a IBM um Sistema Operacional que ele não tinha. Gates foi a uma pequena empresa que havia desenvolvido um sistema operacional e decidiu comprá-lo; pagou uma ninharia, personalizou o programa e vendeu-o como o MS-DOS por uma fortuna, mantendo a licença do produto que dominou o mundo.

Por sua vez, o Steve Jobs também resolveu praticar a pirataria, se apropriando da idéia que a Xerox estava desenvolvendo e havia ingenuamente apresentado numa feira de informática. Naqueles nossos tempos os computadores só usavam o teclado e o sistema operacional exigia que o usuário dominasse comandos de linguagens de computador. O projeto pirateado por Jobs previa o desenvolvimento de uma interface gráfica baseada por navegação de ícones, pastas e janelas, tudo isso acionado por um novo dispositivo chamado mouse, que dispensaria o usuário de entender qualquer coisa de informática.
Nos tribunais ficou entendido que o modelo do sistema da Xerox foi apenas uma “inspiração” para Jobs, semelhante ao que ocorreu com o novo pirata Mark na criação recente do Facebook, conforme é mostrado no filme A Rede Social...
Mas o golpe de mestre foi dado pelo pirata  Bill Gates, se fazendo passar por  aliado e se infiltrando no bando da Apple como prestador de serviço. Quando Steve Jobs abriu o olho e percebeu, Bill já tinha pirateado a tecnologia que Jobs, por sua vez, tinha pirateado da Xerox. A Microfsot rapidinho criou o Windows (uma cópia deslavada do Macintosh) e passou a dominar o mercado mundial, como até hoje, transformando Bill Gates de pirata ao magnata mais rico do mundo.
Como eu dizia no início desta crônica, as últimas invencionices tecnológicas do maluco beleza da tecnologia, feito um fantasma do falecido Steve Jobs, vão assombrar ainda mudanças comportamentais irreversíveis na vida da gente: novamente!

           Em julho/2011 eu postei aqui uma matéria sobre os “Aposentados pré-digitais”, falando sobre o pessoal que se aposentou sem dominar as novas tecnologias de emails e redes sociais, etc. Agora, aproveitando o gancho da morte do Steve Jobs, reconheço que em novas tecnologias vou pegando meio no tranco. Lembro que eu fazia discursos contra a onda do uso de telefones celulares quando ela se espalhou como um tsunami, e resisti o quanto pude em ter minha vida monitorada o tempo todo por este aparelho...até ser fisgado por esta nova necessidade de consumo tornada indispensável.
Então migramos todos do nostálgico “discar para alguém” para o moderno “teclar”, tanto para enviar mensagens como para fazer ligações telefônicas.
Entretanto, como demonstram todas as maquininhas deixadas pelo mago Steve Jobs, nas tecnologias pós-modernas as teclas foram abolidas. Não vamos mais “teclar para alguém”, já é tudo com telas sensíveis ao toque (touch screen). Vamos agora enviar toques!

        Confesso que novamente estou resistindo, vou resistir o quanto puder comprando computadores e telefones com teclados, e vou continuar lendo jornais e livros de papel e não em e-books, e muito menos em tablets sem teclas.
- Conservador, eu? Não, apenas um velho pirata lerdo.

Se aposentar ou não? – Você decide!

           Por estas coincidências da vida, numa mesma manhã recebi dois telefonemas sobre o ato de aposentadoria, com os quais intuí de cara que este episódio iria render uma crônica como tema deste blog. Primeiro veio a notícia que uma colega de serviço, que havia requerido a aposentadoria junto comigo, em maio de 2011, e que também estava em licença de Aguardando o Ato desde então, tinha desistido de se aposentar e estava retornando ao trabalho. Tratei logo de fazer uma entrevista por telefone com ela para saber os motivos da sua mudança de planos, depois dela ter tido a experiência de cerca de cinco meses como “aprendiz de inativa”:

- Achei que estava, mas não estava preparada para me aposentar. Levada pelas circunstâncias funcionais momentâneas, acabei me precipitando e pedindo a aposentadoria. Nos primeiros dois meses parecia que tudo corria bem, mas logo comecei a perceber que não estava me adaptando ao novo ritmo de vida. Também pudera, fui morar num lugarejo no interior do interior, só eu e o meu marido no meio do nada; a vizinhança mais próxima ficava a uma boa caminhada, assim como a padaria e o mercado. A única socialização que me restava era a visita eventual das minhas filhas; eu já andava falando até com os bichos da casa. Então comecei a ficar deprimida, triste, arrependida de ter abandonado a minha rotina de trabalho e de convívio com os colegas. Parece mentira, mas passei a sentir saudade até da rotina. Sentia falta da correria do vai-e-vem de todos os dias, de segunda à sexta, que tanto valorizam as folgas dos finais de semana. A verdade é que não planejei nada para fazer depois de aposentada e me dei mal. Por sorte, como ainda não havia sido publicado o Ato de Aposentadoria, ainda pude voltar atrás cancelando o meu pedido e retornei ao trabalho. Agora vou me preparar melhor, vou fazer um planejamento para exercer alguma atividade quando eu decidir novamente me aposentar...
           O outro telefonema que recebi naquela  manhã foi do Previmpa, comunicando que enviariam para a publicação o meu  Ato Aposentadoria; que não iriam adiar a publicação, conforme eu havia solicitado. Não se trata, como pode parecer no contexto deste texto, que eu também estivesse vacilando e querendo desistir do meu pedido de aposentadoria. O que aconteceu foi que, diante da proposta do prefeito ao Movimento dos Capacetes Brancos, de se comprometer a pagar um abono de R$ 500,00, retroativo à maio, somente aos servidores ativos de nível superior vinculados ao CREA, comecei a articular com os meus contatos para retardar burocraticamente o meu rito de passagem do quadro dos ativos para o dos inativos. Claro que eu estava torcendo para botar a mão nesta bolada, preciso urgentemente arrecadar recursos (ou economizar, que me é difícil!) para realizar  o meu sonho de aposentado: viajar para a Europa!
        Esta onda de indicadores de eficiência gerencial (de qualidade total na administração pública), está influenciando e modificando de fato a cultura do servidor público. Vejam vocês, a pouco tempo atrás, criticávamos o Previmpa por sua extrema morosidade que levava mais de um ano entre o pedido e o Ato de aposentadoria; hoje decorrido apenas cinco meses do meu pedido, eles me telefonam irredutíveis e me colocam contra a parede: “vamos enviar o teu processo para a publicação, a não ser que decidas desistir do pedido de aposentadoria e retornes ao trabalho”!


       A moral da história dos dois telefonemas é que há um momento crucial em que você pode repensar se vai continuar ou desistir do processo de aposentadoria: Você decide! Cada um sabe, ou aprende depressa durante a Licença Aguardando Aposentadoria, o que é melhor para si nesta fase da vida em que, geralmente, os filhos já bateram asas e deixaram o ninho dos pais vazio. Alguns optam, com plena convicção, só serem aposentados compulsoriamente; outros se arriscam com um salto no escuro, sendo que alguns desses se adaptam com facilidade e outros não, mas nem todos os que se arrependem conseguem perceber o seu erro em tempo hábil de cancelarem o pedido de aposentadoria. Depois do Ato publicado, não tem mais volta, tarde piastes!

PMPA na Bienal 2011:
         Mas há também os que não só planejaram como se prepararam para esta travessia, que esperaram ansiosamente por este novo ciclo de suas vidas e que passam a vivenciar intensamente cada momento com a alegria de quem obteve a libertação da sentença de apenas sobreviver e que passou a viver integralmente a sua existência. Como sinto que me enquadro neste último grupo, naturalmente que a possível bolada de grana prometida pelo prefeito para os ativos não é moeda de troca bastante atraente para me fazer desistir do “nirvana” que me é estar aposentado.

          A conclusão da moral da história dos dois telefonemas é que esta febre de eficiência do Previmpa, de minimizar o tempo de tramitação do processo de aposentadoria, deve ser contida de forma a se manter na faixa de seis meses de demora, de modo que a experiência do rito de passagem para a “inatividade” possa ser assimilado e, se for o caso, com tempo hábil para ser abortado.

ELIS VIVE EM MEUS DELÍRIOS

           Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me espantei, eu tenho mais de 20 anos... Carajos, eu tinha menos de 20 anos quando ouvia Elis cantando esta música em 1973, e no entanto parece que eu era o mesmo, mesminho de hoje. Tanto que ainda  tenho mais de 20 muros, eu tenho mais de mil perguntas sem respostas...
        Sinceridade? Ouvindo hoje a Elis, que ainda toca no rádio todo dia, sinto saudade da tristeza que sentia por já ter quase 20 anos naquela época, por estar prestes à maioridade e de me tornar adulto, ou seja, de ter que ser auto-suficiente para ganhar a vida. Mas agora a tristeza é outra, tenho quase 60 anos, com os meus pais nas minhas costas e às vésperas de me tornar velho, ou o politicamente correto, idoso, constato que eu ainda tenho mais de 20 mundos...

Não é mole ouvir esta música cantada por Elis, que não envelheceu e que ficou ligada num futuro blue pra sempre a partir de 1982. É de chorar, ouvindo a melhor cantora brasileira de todos os tempos, nesta calma que inventei e que custou as contas que contei. Elis vive, agora é uma estrela!
Total, a nossa vida de gente humilde segue implacável rumo à morte, passando pelo mundo da aposentadoria, enquanto o sangue jorra pelos furos pelas veias de um jornal. Morte: eu não te quero, eu te quero mal. Eu quero as cores e os colírios, meus delírios para envelhecer e terminar em paz, de morte morrida e indolor.

Elis canta "20 Anos Blue! em 1973. Clic aqui!