O Qui-qui-qui

      Hoje, aos passar por mim o Cachorro (apelido de um colega soldador) no pátio da DVM, ele mexeu comigo me chamando de Qui-qui-qui. Este é um antigo apelido meu, que ficou restrito ao pessoal do Setor de Solda, e que me foi dado pelo Boca de Cinzeiro (o cara da foto), outro soldador, durante a histórica assembléia geral da AMPA em que eu tenso gaguejava mais do que nunca: “que-que-que isto, que-que-que aquilo...” Estava no microfone tentando convencer a categoria a retornar ao trabalho depois de três dias de greve no Governo Collares, num recuo tático em 1988, quando ele bêbado gritou me apoiando lá do fundo das galerias: - É isso aí Qui-qui-qui, apoiado!
      A propósito, numa crônica minha de 1977, intitulada Consultório Sentimental, eu descrevia os meus atributos físicos nos seguintes termos: Menos velho do que se sente ser, tem 23 anos de idade, nascido nas grotas da fronteira, medindo o suficiente para não ser chamado de baixinho (mas que é chamado por este apelido devido a sua acentuada curvatura da espinha dorsal), tendo olhos castanhos escuros estrábicos que mesmo usando lentes fundo de garrafa continua enxergando pouco; e ouve pior ainda, devido à uma inflamação crônica nos ouvidos (que ora purga um, ora purga o outro). A fora isto, fala com dificuldade em virtude de uma gagueira (ora mais atenuada ora mais acentuada)... Com o pseudônimo de “Solitário na Multidão” deseja se corresponder com um moça linda e maravilhosa , inteligente, etc....
     Posteriormente assumi o seguinte resumo como sendo o descritivo do meu perfil: Vejo mal, ouço pouco e falo com dificuldades. Quando eu estava cursando jornalismo (fala sério, fica mal um repórter gago fazendo entrevistas, né?) cheguei a frequentar o consultório de uma fonoaudióloga por uns três meses. Consegui parar de dizer “tlês” (feito o Cebolinha), pois aprendi a soletrar o “três”. Mas não tive persistência para desenvolver técnicas de domínio da gagueira, até porque tive que abandonar o jornalismo.
     O Boca de Cinzeiro já se aposentou, o Cachorro há uns dois anos atrás foi assaltado e levou uns tiros, esteve com o pé-na-cova, mas voltou a trabalhar e é o último remanescente dos antigos da solda que ainda lembra deste apelido com o qual eu simpatizo muito, mas que também está em extinção.
       Hoje eu diria que vejo mal, ouço pouco e falo com dificuldades; mas em compensação escrevo tudo!

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