AEAPOPPA: RELATO DE UMA ELEIÇÃO

            No começo de outubro fomos convocados, em caráter emergencial,  para uma Assembléia Geral da AEAPOPPA (Assoc. dos Empregados Autárquicos e Pessoal de Obras da Prefeitura de Porto Alegre), onde se instalou o maior quebra-pau entre o tesoureiro da entidade, que tinha tomado a iniciativa de convocar a assembléia,  e o presidente da entidade, que compareceu acompanhado de uma advogada para melar o encontro. Depois de meia hora de muita gritaria, impropérios e empurra-empurra, após várias tentativas de reinício da reunião, finalmente chegou-se a um acordo: aquilo não seria mais uma assembléia e sim um “encontro de sócios da entidade que se reuniram, sem poder de deliberação, para se informarem do que estava acontecendo na associação”.

           Foi só então que recebemos no “Auditório Tatuzão”  três notícias: a notícia ruim, a boa e a péssima. A ruim é que o presidente havia feito um empréstimo pessoal, usando o nome da associação, e que por não pagamento foi protestado e levou ao congelamento das contas bancárias da entidade por determinação da justiça, impossibilitando até o repasse para a UNIMED! A boa é que o cara já tinha quitado o débito (que estaria em torno de R$ 80.000,00) e que já se havia normalizado  os repasses para o convênio com o plano de saúde. E a péssima, é que já estava extinto o mandato da atual diretoria da AEAPOPPA desde junho, portanto há mais de três meses, o que caracterizaria uma vacância e uma falta de legitimidade da atual diretoria,  de tal forma que o sistema bancário estava se negando a operar com os atuais detentores dos cargos diretivos. Assim, novamente os repasses das contribuições para a UNIMED estavam ameaçados, e continuariam na corda bamba até que se realizassem novas eleições para a diretoria da associação, e até que se tenha uma radiografia da real situação financeira da entidade (não se descartando a possibilidade de serem encontrados outros “rombos”).

          Sei que no final da tal assembléia que, aos gritos e empurrões, virou um encontro de colegas, eu estava novamente metido numa comissão de articulação de um processo eleitoral de uma associação, depois de conseguir ficar por muitos anos com abstinência desta cachaça política, eu que fui completamente viciado nisso!
          Mas esta minha dependência química era uma coisa de outra época, tempo em que havia um idealismo romântico na militância comunitária, sindical ou partidária, uma vaga ilusão de que a consciência de classe marxista faria a diferença no sentido de que um mundo melhor seria possível...
         Na década de 80, com a visão de unificação combativa da classe trabalhadora, fui um dos que orquestraram a fusão de duas associações que congregavam os servidores do DMAE: a ASDMAE (da qual eu participava do grupo diretivo) & AEAPOPPA. Todavia prevaleceram os interesses corporativos dos dirigentes da AEAPOPPA que se perpetuaram.
         No início da década de 2000, já como um mero associado, migrei do quadro social da ASDMAE para o da AEAPOPPA, juntamente com um grupo de colegas que tinham plano empresarial de saúde da UNIMED, os quais se mobilizaram para realizar esta migração, tendo em vista que o convênio ficara ameaçado pelos descontroles administrativos das novas diretorias daquela entidade.
Agora, no início da década 2010, os descalabros gerenciais atingiram também a diretoria da AEAPOPPA, e novamente o grupo de servidores que possui o plano de saúde da UNIMED teve que se mobilizar para garantir a continuidade do convênio empresarial com desconto em folha de pagamento para a associação que repassa a verba.
            Durante as semanas seguintes realizamos reuniões semanais da comissão, meio que andando em círculos, sem termos os meios legais estatutários para desencadearmos o processo eleitoral na AEAPOPPA, e com tendência de parte do grupo para acionar o Ministério Público visando uma intervenção na entidade. Em vista da urgência da situação que deixava a associação praticamente à deriva, avaliei que esta via poderia ser muito demorada e tomei a iniciativa de chamar o atual presidente para uma conversa reservada, com o intuito de que ele próprio estabelecesse o processo eleitoral de acordo com um calendário que a comissão decidisse... Em troca acenei com uma vaga possibilidade de saída honrosa para ele deste beco sem saída em que os corruptos mal sucedidos se metem...

Total, depois de estar dentro de um barco que está  afundando, só resta remar numa desesperada tentativa de alcançarmos terra firme antes do naufrágio se consumar. O pior é que, depois de tocado o alarme  de que está entrando  água nos porões do navio, muitos se agarram na primeira bóia que alcançam e correm pra salvar sua pele o quanto antes. É o que passou a acontecer, uma vez perdida a credibilidade na gestão da associação responsável pelo convênio, muitos associados imediatamente buscaram outra entidade com maior confiabilidade e iniciaram as tratativas burocráticas para promover a migração dos seus respectivos planos de saúde. Com isso, por medo de riscos futuros, estes colegas estavam jogando ao mar vantagens que este nosso plano tem, especialmente devido à sua antiguidade, vantagens pela quais avaliei que valia a pena remar contra o naufrágio antes de abandonar o navio. Ainda assim, mesmo que se consiga realizar a travessia desta tempestade e  estabilizar o rumo da AEAPOPPA, os danos morais de credibilidade na associação já estão feitos; só restava apostarmos num processo eleitoral que resultasse numa composição de chapa que resgate a confiabilidade perdida.
Fomos estão para uma segunda Assembléia Geral, convocada pelo presidente da AEAPOPPA, para nomeação da Comissão Eleitoral e aprovação do calendário do processo de eleição da nova diretoria da entidade; desta vez sem tumultos.
           A nossa capacidade de mobilização de pessoal, tanto para a assembléia quanto para compor os cargos da nominata de uma chapa para concorrer, continuava muito fraca. Nas reuniões seguintes da comissão, conforme íamos percebendo que não adiantava esperar que novos nomes caíssem milagrosamente de pára-quedas do céu para compor a chapa, muito a contra-gosto começamos a disponibilizar nossos nomes, mas inicialmente lá na retaguarda, na suplência do Conselho Fiscal...Depois, antes que me visse forçado a me comprometer mais ainda, avancei colocando o meu nome a disposição para o cargo de secretário. Assim, aos poucos, fomos saindo da retaguarda e assumindo posições na chapa, na medida que passamos a constituir um grupo interessante, potencialmente forte, posto que bastante plural em suas concepções e experiências de mundo, mas com uma unidade na luta: Salvar a AEAPOPPA!
Visto que  já havia se inscrito a Chapa 1, homologamos a nossa como Chapa 2 na disputa eleitoral, com cerca de duas semanas de campanha pela frente. Partimos de imediato para a elaboração de nossas estratégias logísticas, tais como elaboração de panfletos e de camisetas; bem como de mobilizarmos via  emails e telefonemas a nossa principal base de apoio que são os sócios que têm o convênio da UNIMED. Todavia, conscientes de que a associação é bem maior do que este universo restrito, que há vários outros convênios (com lojas, supermercados e farmácias) que  são utilizados por grande parte da base social da AEAPOPPA, base esta que a chapa oponente se reivindicava única representante, também partimos para uma campanha corpo-a-corpo em todas as Divisões do DMAE.
             Foi como reviver os velhos tempos, entrar em sala por sala, pátio por pátio, descobrindo novos recantos e relembrando tantos outros nunca mais visitados...Confesso que foi uma bela revelação  o candidato a presidente da minha chapa, que encontrou o espaço aberto para soltar o seu talento de conversar convincentemente com as pessoas, de forma a fazê-las acreditar que uma solução seria possível. Eu até comentei com o Antônio da Motta, que ele me fazia lembrar o tempo que eu andava assessorando o Olívio Dutra na campanha nos idos de 1982, em que eu tinha que puxar o candidato pelo braço para podermos cumprir a agenda que tínhamos  pela frente...

       No final, a nossa chapa denominada Chapa Renovação, paradoxalmente composta em sua maioria por homens de cabelos brancos e mulheres experientes, chegou fortalecida na eleição realizada no dia 26/Nov/2010 e acreditando na vitória. Claro que restou algum medinho de que começasse a chegar caminhões com levas de operários, com a cabeça feita para votarem em defesa dos convênios, já que a grande plataforma da Chapa 1 foi difundir o susto inverídico de que íamos acabar com os convênios.

             Transcorrido o dia da votação, num chove-não-molha que ia do nebuloso ao sol aberto, dia feito de contatos para fazermos com que os eleitores se deslocassem até a urna na sede da associação (onde pela primeira vez na sua história se fez fila de votantes), ao final da tarde chegou o grande momento da verdade, o da apuração dos votos.
               Com um público recorde que atingiu a participação de 35%! dos associados, o escrutínio dos 225 votos depositados na urna consagrou 46 votos para a Chapa 1 (20%) e...
 179 votos para a Chapa 2 - Renovação (80%), nos dando uma avassaladora VITÓRIA!!!!!!!!...

            Contudo, passadas as comemorações pela conquista desta vitória democrática, num processo que acabou por fortalecer a própria associação, pois conseguiu despertar seu corpo social do torpor alienante da inércia, principalmente por ter havido duas chapas e uma disputa construtiva entre elas (Com as nossas congratulações aos colegas da Chapa 1!), é hora do mais difícil: de arregaçarmos as mangas para mudarmos a realidade!

           Assim, cerca de  dois meses após aquele dia em que fui ingenuamente participar de uma Assembléia que virou reunião de colegas, estou comprometido com um mandato de quatro anos como secretário de uma diretoria de uma entidade de classe, isto às vésperas da minha aposentadoria...Eu que pensei que ia sair ileso, livre e solto...

Tropa de Elite 2: O Inimigo agora É Outro

O filme Tropa de Elite 2 inicia com o seguinte aviso na tela:  "Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção". Penso que com esta introdução, na verdade o filme pretende nos alertar que é o contrário, ou seja, que a nossa realidade é  que é uma obra de ficção cinematográfica.
No filme Tropa de Elite 2, o ator  Wagner Moura faz retornar às telas o Capitão Nascimento já com alguns cabelos grisalhos. Houve uma ascensão na sua carreira policial depois do filme anterior, ele agora é o  Coronel Comandante do BOPE. Nascimento começa o filme entrando em rota de colisão com as ligações perigosas que existem entre a segurança pública e a política. Por representar  um desgaste político para o governo na opinião pública devido a sua atuação num motim de presidiários o Comandante Nascimento cai do cargo do BOPE. Mas, devido ao seu prestígio junto às elites da sociedade, o Comandante “caiu pra cima”, para o cargo de Subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Estado  do Rio de Janeiro.
Em suas novas funções como Subsecretário, Nascimento faz o BOPE crescer e intensifica o combate ao tráfico de drogas, dando drásticas baixas ao crime organizado de forma a libertar algumas favelas do domínio do tráfico. Ao mesmo tempo, milícias formadas por policiais aproveitam o vácuo de poder deixado pelos traficantes e assumem a exploração econômica e política das favelas.
           Nascimento custa a entender que agora os seus inimigos são outros, bem mais perigosos: policiais e políticos corruptos, com interesses eleitoreiros. Só então descobre que o buraco é mais em cima.
          A partir deste ponto é que a ficção do cinema nos faz ver a relação que existe entre segurança pública e financiamento de campanha, nos faz ver o que os políticos já perceberam. É o óbvio: quem manipular estas novas “lideranças” das comunidades de favelas dominadas por milícias ganhará verdadeiros currais eleitorais.

É FACA NA CAVEIRA!
           Talvez sejam apenas meras coincidências com a ficção do filme, mas a realidade é que o Governador Sérgio Cabral Filho (PDMB) foi reeleito pelo Estado do Rio de Janeiro em 2010; também é fato que existem influentes apresentadores de programas tragicômicos de crônicas policiais, ao estilo do famoso Datena da TV Bandeirantes. Bem como os novos “chefões de milícias”, este tipo paramilitar que vende segurança por intimidação, é o que mais prolifera na realidade brasileira (inclusive em Porto Alegre). É fato da nossa realidade brasileira também a prática mostrada no filme de queima de corpos como arquivos vivos (feito o caso real do repórter Tim Lopes em 2002 no RJ).
          Qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência, nossa realidade é bem pior que uma tropa de elite: pega geral!

          Como diz o próprio Nascimento, “o sistema é foda, vai sempre se adaptando e produzindo novos personagens para ganhar a CPMF (Comissão pra Policial Militar Filhodaputa)”. O sistema não teme nem respeita ninguém, só vacila diante da imprensa midiática, mas esta acaba sendo amordaçada economicamente pela força e violência do esquema da corrupção institucionalizada.

Tropa de Elite 2 termina sem aspirantes para serem os substitutos da ética anti-corrupção (ainda que meio fascista) do Coronel Nascimento no BOPE, já que os seus escolhidos (Neto e Matias) morreram e o herói do filme acaba expulso da corporação e declarando com pesar na tribuna: O BOPE tem que acabar!


O alento ficcional que o Tropa de Elite 2 nos deixa é que o protagonista do filme, por força das circunstâncias da trama, acaba  se aliando a um professor de história que foi eleito deputado justamente pela fama adquirida pelo seu combate ao BOPE. Juntos, um ex-policial e um homem dos direitos humanos, através de uma CPI na Câmara dos Deputados, conseguem colocar na prisão vários corruptos...Isto na ficção, pois a nossa realidade é cinematograficamente anti-hollywoodiana, não costuma apresentar um final feliz para o politicamente correto.

Em tempo:
            Fico imaginando que no roteiro do Tropa de Elite 3 só restará ao velho Nascimento voltar como um senador da república, talvez na vaga deixada pelo falecido Romeu Tuma (ex-diretor do DOPS e da Polícia Federal), para nos revelar quem está por trás do sistema. Quem sabe o ex-policial venha por cima e botando a boca no trombone, denunciando quem são e como operam os poderosos que bancam os bilionários tráficos internacionais de drogas e armas no Brasil? Quem sabe o diretor José Padilha consiga bater o seu terceiro “recorde nacional de público ” com a série Tropa de Elite, nos revelando quem são os magnatas capitalistas que fazem parecer ficção cinematográfica a nossa realidade e tornam meros atores coadjuvantes os políticos e os policiais, e reduzem à figurantes as milícias e os traficantes com seus exércitos de favelados? Que sabe o ex-Coronel Nascimento retorne no planalto para nos mostrar que lá descobriu que o buraco é mais em cima ainda?...

COMENTÁRIOS SOBRE A MADRINHA DA DVM

-----Mensagem original-----
De: Ivanor De Quadros Rodrigues
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 11:43
Para: Milton Caselani; Catarina Maria Reina Cánovas; Celso Afonso Machado Lima
Assunto: RES: A MADRINHA DA DVM

AMIGA CATARINA:
Que boa lembrança, estou entre os antigos do DMAE e me sinto um privilegiado por haver conhecido e convivido com essa pessoa especial que chama-se CATARINA.
Agradeço ao amigo por haver lembrado da nossa amiga.
"A Medida da Vida não é sua duração, mas sua doação".
Com essa frase, vejo a Catarina, a qual se doou a DVM e ao DMAE por todo este tempo.

Abraço a todos.
Ivanor

-----Mensagem original-----
De: Marisa Senna Gomes
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 11:05
Para: Celso Afonso Machado Lima
Assunto: RES: A MADRINHA DA DVM

Celso!
Sou fã do teu Blog!
Uma bela e justa homenagem a Engª Catarina a qual todos nós gostamos e admiramos muito.
Tenho muitas saudades de todos vocês!

Um beijão a todos!

-----Mensagem original-----
De: Milton Caselani
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 10:39
Para: Celso Afonso Machado Lima;
Assunto: RES: A MADRINHA DA DVM

Parabéns aos 43 anos da DVM,
Parabéns a nossa eficiente, dedicada, querida e simpática Madrinha da DVM, sócio-fundadora de tão importante divisão do departamento.
Essa história deveria ser registrada em livro.
Atte,
Milton, DVL

-----Mensagem original-----
De: Flávio dos Santos Alcântara
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 10:31
Para: Celso Afonso Machado Lima
Cc: Catarina Maria Reina Cánovas; Denise Endres
Assunto: ENC: A MADRINHA DA DVM

Celso:
Que legal essa homenagem que fazes a “CATA”. Eu tenho uma admiração profunda e um respeito que vão muito além da profissional, mas também do ser humano incomparável que consegue juntar em uma só pessoa todas as boas qualidades de caráter que um ser humano pode ter. Parabéns pela tua iniciativa, essa é uma forma muito legal de ser feliz lembrando dos bons tempos do DMAE – muita saudade – e de saber que ainda vale muito a pena viver, porque existem seres humanos únicos.
Grande abraço,

E.T. Meu sonho seria um dia poder trabalhar ao lado da Catarina. Fizemos algumas poucas coisas juntos, mas que são lembranças que guardo com muito carinho. A “Cata” sabe da importância dela na minha vida, quando redigia comigo matérias para Jornal, com o aval do Dr. Lourenço, também sempre tão leal e amigo, lá no início da minha vida profissional.
Flávio.

De: Júlio Cesar Colnaghi Brum [mailto:jcbrum@hotmail.com]
Enviada em: sexta-feira, 19 de novembro de 2010 09:39
Para: celso lima;
Assunto: RE: A MADRINHA DA DVM

Parabéns aos da DVM, em especial para a Madrinha.
Gostei bastante dessa matéria/memória Celso.
1 abraço

Subject: RES: A MADRINHA DA DVM
Date: Fri, 19 Nov 2010 17:03:54 -0200
From: JLKonrad@dmae.prefpoa.com.br
To: cel-sol@hotmail.com

Celso
Essa mistura de depoimento histórico e enfoque intimista e humano é que da graça ao teu blog. Estou gostando muito do escreves.
A Catarina merece mesmo todas nossas homenagens.
Meus parabéns aos valorosos colegas da DVM

Jorge Konrad

-----Mensagem original-----

De: Luiz Fernando Alves da Silva
Enviada em: segunda-feira, 22 de novembro de 2010 09:08
Para: Catarina Maria Reina Cánovas
Cc: Celso Afonso Machado Lima
Assunto: A MADRINHA DA DVM

Querida Catarina,
Pessoas como você fazem a diferença nas empresas onde trabalham.
Parabéns e um milhão de beijos.

A MADRINHA DA DVM

           Hoje, dia seis de outubro, ninguém no meu local de trabalho lembrou que era a data de aniversário de fundação da DVM, data em que a Divisão de Manutenção completa 43 anos de existência. Até mesmo a Eng.ª Catarina, única remanescente dos fundadores, que sempre promove algum tipo de celebração para esta data, esqueceu desta vez e, quando lembrada por mim, acrescentou:
-Não temos nada o que comemorar, estão destruindo com a Divisão!
          A data era conhecida de todos, até poucos anos atrás, por que a senha de acesso ao antigo sistema de manutenção MAN era 061067 (do tempo que era uma senha única para todos os usuários!), senha alusiva à data de inauguração da Divisão de Manutenção.
         Portanto, neste mês de outubro estou comemorando o meu último aniversário da DVM na ativa.
Em termos organizacionais, avalio que há três momentos distintos marcantes a serem destacados nesta longa história desde a EME, antiga sigla da Manutenção (Engenharia-Manut.), até a atual DVM. O primeiro grande momento foi já na fundação estrutural e operacional, com a visão progressista de gestor público do mentor da Divisão, o Engº Lourenço Melchiona. O “Cacique”, como era conhecido, contratou um serviço de consultoria para desenvolver os Planos de Manutenções Preventivas dos equipamentos eletromecânicos das estações de tratamento e bombeamento do DMAE, bem como o organograma funcional dividido entre equipes de Manutenção Corretivas e Preventivas.
Já neste período de implantação e consolidação do serviço de manutenção de equipamentos operacionais do Dmae, na década de 60, se destacou  o trabalho de uma jovem engenheira elétrica. Pioneira, enquanto mulher numa área até então exclusivamente masculina, a Engª Catarina se destacou por ser literalmente muito elétrica em suas atividades (como é até hoje), e também por sua simpatia e empatia com o pessoal das turmas das oficinas e das equipes de rua, tanto que passou a ser tratada carinhosamente por todos como “A Madrinha”.

          Na sequência de sua carreira profssional, naturalmente ela se tornou a primeira e única mulher até hoje a ser diretora da Divsão de Manutenção do DMAE, conquistando assim com seus méritos o direito de posar na foto dos ex-diretores por ocasião da festa dos 30 anos da DVM em 1997.
O segundo grande momento foi na década de 80, com o boom da informatização, quando todos os procedimentos que já se praticavam manualmente, como emissão de Ordens de Serviços e Relatórios Gerenciais, foram transpostos para o sistema MAN, desenvolvido e aprimorado continuamente pela PROCEMPA na plataforma “DOS”. A  Madrinha foi a grande condutora do enorme “trabalho formiguinha” que se fez necessário para digitar todas as características técnicas de todos os equipamentos na nova ferramenta que passou a ser o tal de computador, através do uso do programa MAN. 
           O terceiro grande momento da DVM foi na década de 90, quando se visou modernizar o programa que estava operando numa plataforma tornada obsoleta, sendo feitas diversas buscas no mercado de softwares especializados em manutenção de equipamentos, mas que nenhum se igualava ao velho MAN. Acabou que o colega técnico industrial (e micreiro nas horas vagas), Eduardo Mattos, foi desenvolvendo o sistema SIGES, como uma réplica das funções do antigo MAN, mas em linguagens atualizadas para a moderna plataforma operacional do Windows.
           Também nesta transição a atuação da Madrinha da DVM foi fundamental, tanto na concepção funcional quanto na nova migração dos dados, agora do sistema MAN para o SIGES. Ela é quem gerenciava a confiabilidade dos dados e concebia os relatórios que o novo sistema devia emitir.

Com o passar do tempo o SIGES foi ampliando suas fronteiras em interfaces com as outras Divisões e se consagrou como um sistema institucional do DMAE, em que pese a dolorosa perda do poder pátrio do seu autor sobre a sua criação (que se deu no seco, por desapropriação unilateral  do  direito de autoria, sem vaselina).
Assim, a partir do final de década de 90, o MAN passou a “sobreviver” somente no computador da Engª Catarina, mantido em cativeiro como um dinossauro sobrevivente da avalanche provocada pela entrada no mercado do novo sistema operacional Windows. O MAN vive, mas em estado de coma, sendo alimentado seletivamente em conta-gotas unicamente pela mãos de sua tutora, com uma dieta de dados mínima para manter os seus sinais vitais de fóssil pré-histórico vivo, por manter informações que não migraram para o SIGES.
            A Catarina nos faz lembrar que nos tempos antigos a DVM já tinha som ambiental nas salas, bem como serviço de auto-falantes para aviso nos pavilhões e no pátio; e foi também a primeira divisão do DMAE a adotar, por iniciativa própria, o uso de uniformes e EPIs, inclusive capacetes.

Mesmos antes da Era da Informática, a DVM já mantinha um cadastro dos equipamentos de cada estação do DMAE, com anotações de seus respectivos históricos de manutenções corretivas e preventivas realizadas, através de anotações feitas nas fichas dos respectivos equipamentos instalados, fichas estas que ficavam arquivadas em pastas individualizadas de cada estação do DMAE. Estas pastas constituíam, portanto, o grande banco de dados dos equipamentos operacionais da era pré-informatização, as quais sempre foram fruto da dedicação pertinaz da Eng.ª Catarina. Até hoje “as pastinhas da Catarina”, como são conhecidas, continuam sendo atualizadas por ela como uma espécie de backup, para o caso da necessidade de acessar informações mediante falta de energia elétrica para acionar os computadores, pastas  que também funcionam como uma espécie de laptop para serem levadas inloco nos trabalhos de campo.
Para que pudesse haver todo este controle gerencial, desde sempre ficou a cargo da própria DVM fazer a colagem das placas de numeração patrimonial dos equipamentos operacionais, conforme vão sendo adquiridos pelo DMAE. Cadastro este que serve de base inclusive  para fins  contábeis de incorporação ao patrimônio do Departamento, fornecendo dados cadastrais para o Serviço Patrimonial (SVP), uma vez que há mais de cinco mil equipamentos operacionais entre motores, bombas, transformadores, etc. Também este monitoramento para patrimonização e cadastro no SIGES dos novos equipamentos desde sempre tem contado  com a dedicação concentrada da Madrinha da DVM, e com sua capacidade de mobilização do pessoal e, não raras vezes,   através de suas ásperas cobranças sem perder a ternura.

            Na última década a Madrinha da DVM assumiu  o gerenciamento de todas as contas de energia elétrica do DMAE, que totalizam cerca de R$ 24 milhões/ano e se  constitui num dos maiores gastos financeiros do Departamento. Este monitoramento visando a minimização de custos com energia elétrica em cada unidade operacional ou administrativa do DMAE, resultou num trabalho reconhecido e que  tem servido de modelo para os outros  órgãos da Prefeitura.
              Eu trabalho com a Madrinha desde 1978, praticamente por cerca de trinta anos, descontado um breve período que me afastei da DVM. Quando eu ainda era estudante de engenharia, era ela quem fazia as traduções, do inglês para o português, dos meus polígrafos técnicos sobre mineralogia. Nos últimos doze anos temos trabalhado direto na mesma sala, chegamos a dividir por alguns anos o mesmo computador. 
            Sua hiperatividade  é tamanha que parece que tomou ritalina na mamadeira a infância toda, tal a capacidade que tem de se concentrar e, ao mesmo tempo, se envolver em todos os assuntos captados  por seu raio auditivo, o qual é de abrangência parabólica. Talvez a nossa melhor obra conjunta, tocada a quatro mãos, tenha sido a elaboração de vários volumes de Instruções de Manutenções Preventivas para os novos tipos de equipamentos adquiridos pelo DMAE.
                               
           Brigávamos muito, a Catarina e eu, por sermos os dois de temperamentos fortes e de pavio curto; mas sempre prevaleceu a minha graditão, admiração e carinho por tudo o que ela representa na vida de todos nós, membros das várias gerações da grande família que compõem a história da DVM.
           Contudo, talvez o que mais me faça falta quando eu estiver aposentado, vão ser as frutinhas (maçãs e peras) que a Madrinha traz de casa e reparte igualmente entre os seu afilhados mais próximos todas as manhãs pontualmente às 9h30min...
- Valeu Catarina Reina Cánovas, com sua bença Madrinha!

O ESPIRITUALISMO MONÁRQUICO PARLAMENTARISTA


        Na partida final de Copa do Mundo 2010 na África do Sul, o que me chamou a atenção foi a peculiaridade  de resultar reunidas duas monarquias para disputarem o título de campeões do mundo (o que equivale ao título de “reis do futebol”), contando com a presença no estádio do príncipe herdeiro da Holanda (com a sua esposa argentina) e da rainha Sofia, esposa do rei Juan Carlos da Espanha; coincidência que deve indicar que as repúblicas democráticas ou ditatoriais estão em baixa, pelo menos futebolísticamente.
           As monarquias constitucionais modernas obedecem freqüentemente a um sistema de separação de poderes, e o monarca é o chefe (simbólico) do poder executivo. De origem grega, o termo sugere “o governo de um”, “um que governa”. No entanto, o que existe em países como Bélgica, Canadá, Espanha, Holanda, Reino Unido, Japão, Suécia, Dinamarca, Noruega, etc. (viva o Google!) não deixa de ser, em essência, uma república democrática com um rei como Chefe de Estado.
         O Sistema do PARLAMENTARISMO pode ser usado em monarquias ou repúblicas. O chefe de Estado (rei ou o presidente eleito diretamente pelo povo ou indiretamente pelo parlamento) não é o chefe de governo e, portanto, não tem responsabilidade política. Suas funções são restritas. O chefe de governo é o premier ou primeiro ministro, indicado pelo chefe de Estado (rei ou presidente), podendo ser aceito ou não pelos representantes do povo (deputados e senadores). O Primeiro Ministro fica no cargo enquanto tiver a confiança do Parlamento. A responsabilidade do Gabinete de Ministros e do Premier é solidária; se um cair todos caem. Para caírem todos, basta o parlamento decidir!
         O sistema parlamentarista só se aplica em regimes democráticos, sejam monarquias ou repúblicas. Exemplos de Parlamentarismo Republicano são a França e Alemanha; e como Monarquias Parlamentaristas são a Inglaterra, Espanha e a Holanda do time da “Laranja Mecânica”.
No Brasil tivemos o parlamentarismo na fase final do Império (1847-1889). Na República, vigorou o presidencialismo, com exceção de um curto período de tempo (setembro de 1961 a janeiro de 1963), em que o parlamentarismo foi adotado como solução para a crise política consecutiva à renúncia do presidente Jânio Quadros e à posse do vice Jango Goulart, frente ao Movimento da Legalidade liderado pelo então governador Brizola. Em 1993 tivemos um plebiscito nacional, como exigência da Constituição de 1988, e o povo votou pela manutenção do presidencialismo como sistema de governo  (perdemos a chance de voltarmos para a monarquia!) e contra o parlamentarismo (ainda bem, com os políticos brasileiros não ia prestar!).
Lembro que no romantismo ideológico da minha adolescência a minha primeira inclinação política foi o parlamentarismo, por influência da leitura dos textos empolgados do velhinho Raul Pilla. Para aqueles que nunca ouviram falar desta lendária figura gaúcha, está na Wikipédia: Raul Pilla (Porto Alegre, 20 de janeiro de 1892 – 7 de junho de 1973) foi um médico, jornalista, professor e político brasileiro, e um dos maiores defensores da adoção do regime parlamentarista. Pilla era chamado de O Papa do parlamentarismo no Brasil.
Depois da influência de Raul Pilla fui cada vez mais sendo levado pela rosa dos ventos para o oeste (esquerda) da bússola política: Paulo Brossard, Pedro Simon, Collares, Olívio, Lula, Voto Nulo, Marina Silva...
         Voltando à questão da monarquia, suscitada pela disputa de Espanha e Holanda na partida final da Copa do Mundo 2010, modernamente este sistema de governo não está mais vinculado ao conceito absolutista do Antigo Regime Medieval, apesar do título de monarca  ser hereditário.
         Pensando bem, politicamente a monarquia oferece uma grande chance de qualificação dos seus governantes, uma vez que os seus príncipes herdeiros são educados e treinados, desde criancinhas, em todas as matérias (filosofia, psicologia, cultura universal e ciências) e atribuições do futuro cargo de rei (estratégias, diplomacia, atividades militares das três forças e suas questões bélicas).
 Nunca tinha me ocorrido antes este enfoque de abordagem, de  preferir a monarquia ao invés da loteria temerária que é escolher de improviso, pelo sistema democrático, um indivíduo qualquer (que pode se apresentar como caçador de marajás ou bolivarista) e dar-lhe o comando geral das forças armadas da nação. Fácil, fácil pode surgir um Collor ou um Hugo Chaves da vida!
Visto por este lado oblíquo, a monarquia talvez seja o sistema político mais próximo dos ideais pensados por Platão no seu livro A República, no qual prescrevia que as nações deveriam ser governadas pelos mais sábios. Mas pretender reunir um conselho de sábios,  já é viajar na maionese e cair na ilusão platônica de um regime socialista utópico, onde os nossos filhos são filhos do Estado que é um excelente pai. O fracasso do comunismo russo provou que o papai estatal não funciona!
       Melhor ainda que o critério monárquico de hereditariedade sanguínea, é o critério dos líderes espirituais e políticos do Tibet. Nas diferentes  linhagens budistas dos monges tibetanos, os cargos dos grandes líderes de cada uma delas não é repassado pela simples hereditariedade e sim pela continuidade do próprio líder. Após a sua morte, o falecido é localizado e identificado numa criança, por outros grandes mestres,  como sendo o  líder renascido  e passa a ter tratamento vip. Nestas linhagens também os futuros líderes são educados, desde criancinha, em todas as áreas do conhecimento humano e  desenvolvidos espiritualmente para cumprirem com êxito o seu destino de serem o “sinuelo” do seu povo, com sapiência e PAZciência para tanto.

        Quem sabe se com a evolução científica e espiritual, futuramente os homens desvendarão os mistérios do pós-morte e solucionarão as misérias humanas com um sistema político de governo baseado na fusão destes sistemas, uma espécie de Espiritualismo Monárquico Parlamentarista? Quem sabe  surja um sistema com um Rei Leão para ocupar a pedra do poder e com eleições democráticas para o parlamento e, ainda, com o comunismo dos meios de produção?...Quem sabe da caverna de Platão, em que ainda vivemos, saia uma mistura de Dalai Lama, Lula e Marx, um DALULARX?...

            Antes disso, como "tá confirmado" a continuidade do reinado do Lula (através da sua fiel escudeira Dilma) até a realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil, vamos torcer para que consigamos derrubar a monarquia da Espanha, atual campeã mundial, e que possamos voltar a impor o respeito futebolístico que merece o nosso arcaico sistema republicano de eleição direta para a escolha democrática dos dirigentes de uma nação.

A CBF É UMA MONARQUIA!