Morreu o dramaturgo e diretor teatral gaúcho Ronald Radde. Esta notícia fez passar um filme de curta metragem na minha memória, curto mas muito simbólico para os meus vinte e poucos anos de idade na época. Em 1974, quando eu iniciava a minha carreira de funcionário público na prefeitura de Porto Alegre, conheci o Radde como colega de trabalho. Foi por pouquíssimo tempo, logo ele abandonou o emprego de barnabé municipário para se dedicar integralmente ao seu grupo Cia Teatro Novo. Mais de quarenta anos depois, podemos dizer que eis um cara que viveu fazendo o que amava fazer até morrer, pois é para poucos semideuses conseguir manter um grupo teatral em atividade por tanto tempo e, mais raro ainda, conquistar a sua própria sede de teatro, como Radde consolidou no Shopping DC Navegantes.
Naquela época o dramaturgo Ronald
Radde era uma espécie de Plinio Marcos (autor de Navalha na Carne e Dois
Perdidos Numa Noite Suja) para o teatro dos pampas, escreveu e dirigiu várias
peças contestatórias montadas em plena ditadura militar (Transe, João e Maria
Nas Trevas, A Fossa, B. em Cadeira de Rodas).
Na sua luta pela sobrevivência pessoal e pela profissionalização da
classe teatral, Radde desenvolveu projetos como “A Escola Vai ao Teatro”,
visando formar plateias para a cultura de teatro, inclusive o público infantil.
Neste período eu estudava o segundo grau numa escola pública noturna e,
articulando com um professor de literatura do colégio, agenciei com o Radde a
variante “O Teatro Vai à Escola”. O grupo Teatro Novo apresentou “Apaga a Luz e
Faz de Conta que Estamos Bêbados...” para uma gurizada adolescente que nunca
tinha assistido uma peça teatral, foi sensacional! Naquele dia aproveitei a
ocasião para fazer a minha primeira entrevista com alguém: entrevistei o
próprio dramaturgo enquanto o grupo ensaiava as marcações de palco no auditório
da Escola Estadual Presidente Roosevelt. Gravada em fita cassete, transcrevi a
entrevista e a guardo como relíquia no meu baú de escritos.
Agora, com a morte do Ronald Radde
aos 71 anos, para mim se fecha a cortina de dois personagens importantes de uma
saudosa fase de outros tempos culturais da minha vida.