COMENTÁRIOS DO SEGUNDO SEMESTRE DE 2013

Agradeço imensamente a excelente acolhida que o blog continua recebendo junto à categoria dos municipários, sobretudo no quadro funcional do DMAE. Caros leitores, sintam-se todos abraçados por ocasião do final deste quarto ano de existência do DIÁRIO DE UM APOSENTANDO DO DMAE, que já ultrapassou a incrível marca de 25.500 acessos. Em agradecimento especial aos “leitores-comentaristas” das crônicas do blog, os seus comentários enviados neste segundo semestre estão postados a seguir:








Dália –assunto: Meditação
Celso este teu blog é mesmo um delícia. Ele é como aquelas construções sólidas, madeira de lei, sombra gostosa no meio da floresta em dia de sol quente. Me entende? É coisa verdadeira e consistente! Segue em frente. Com um grande abraço. Dália.

Júlio Cesar C. Brum – assunto: Meditação
Bolos e pães e outras comidas fazíamos no subsolo da engenharia da UFRGS na criação da AMPA, onde meu primeiro contato foi com a turma da Convergência, onde quase fui barrado por não ser um trotskista , era mais um "Raulzista" mesmo. Aí, tempos depois, conheci um camarada, até hoje meu amigo, e grande orador, que colocava nossas idéias em ordem, apesar dos tropeços na fala. O novo budista aí comportado na foto. Nunca me dei bem com as tendências e tampouco fiz parte de alguma, apesar de achá-las fundamentais para as discussões de propostas divergentes para o crescimento de todo mundo. No budismo é a mesma coisa: o que muda são os métodos apenas. Eu e o Celso éramos de LINHAGENS distintas, mas budistas. No PT a mesma coisa. E tenho acompanhado sim o blog "Diário de um Aposentando" desde suas criação, pela importância da trajetória do colega e amigo Celso, que no seu caminhar não sugere que caminho devemos percorrer a não ser nosso próprio. Agora, tirar foto trajado de lenço e bombacha com boina de missioneiro usando sapatos de segurança do DMAE ???? Tenha dó do bagual aqui de pé no chão feito Charrua com tiara segurando os cabelos no corrugado da testa. E de brinco na orelha. Abraço meu velho. E pra Magda também.

Paulo Portalet  - assunto: Mandela
Caríssimo amigo Celso.  Li teu último texto. Bom do princípio ao fim. Mais uma vez tentei fazer  este comentário no devido lugar,  como não consigo, segue por esta via , meus cumprimentos e um forte abraço. Nato.

Dália –assunto: Mandela
Celso, o MANDELA é uma benção que recebemos. É um bálsamo para as nossas desesperanças. É ir muito além  e provar que é possível superar a nossa incompetência, pois tem uma pessoa que conseguiu não se enredar nas querelas cotidianas e pensar e agir grande e alto e, ao mesmo tempo, muito chão! Que alívio saber que esta pessoa existiu no nosso tempo e não podemos deixar cair no esquecimento. Grande abraço! Dália

Alvaro Neto – assunto: Fronteiras ao Pensamento
Para participar do fronteiras do pensamento tem que PENSAR uma forma de arrumar a grana e pagar para assistir. Faz uma rifa, por exemplo, para conseguir a grana. Sem PENSAR não se vai a lugar nenhum.

Gil de Oliveira Martins - assunto: OCASO DO MONTEPIO
Realmente Controversa. Alem de destruir uma grande válvula de escape que os servidores possuíam,  deixaram órfãs e desajustadas varias condições financeiras destes servidores. Desabou vários sonhos e esperanças.  Faz parte de qualquer autoritarismo.

Paulo Renato Wabner Portalet – Caminhando num Retropicalismo
Grande  Celso, amigo de vinho e charuto. Já te disse , não sei  colocar meus comentário no teu blog, até é bom, pois  assim sendo, ninguém os lê. Com referência a tua caminhada ao retropicalismo, achei que, exceto alguns excessos apolíneos e dionisíacos, até um pouco irritantes na sequência da leitura, mas quiçá necessários para o desenvolvimento da idéia, muito bom! Como sempre, muito bom. Abraço fraterno e saudoso, Nato.

Jorge Konrad – assunto: Reengenharia Sociológica
Bons tempos amigo Celso. A Fátima foi uma verdadeira lutadora social e a ASSEC uma escola para todos nós, no que me concerne agradeço as tuas palavras. Fiz no DMAE o que era minha obrigação como funcionário público fazer. Agora um vento novo sopra no meu rosto, vejamos o que novos tempos nos reservam. Grande abraço

Rogerio – assunto: Reengenharia Sociológica
Grande Abraço ao colega Celso e agradeço a grande lembrança de Fátima Silvello, minha cunhada. Show de Bola.

Thiago Santos – assunto: Rumo ao Milésimo Poema
Sob pena de passar uma má  imagem de servidor público, te envio um comentário em off, gostei muito da última atualização do blog...1000 poesias é um excelente objetivo para essa tua nova fase de aposentado. Agora estou pensando qual vai ser o meu...apesar de ainda ter mais uns 20 e tantos anos pela frente, quero me planejar cedo para não ser pego de surpresa, porque depois que completei meus 18 anos (e agora já com 35 completos) o tempo parece que acelerou, fazendo um MRUV com derivada positiva (dv/dt > 0).

Paulo Renato Wabner Portalet – Rumo ao Milésimo Poema
Querido amigo Celso, que a Força esteja contigo nesta empreitada poética. Vou me propor a ler pelo menos 10% (dos próximos) o que passou, passou! Beijo, Nato.

Carla Altério – assunto: Pais de nossos pais
Felicidades para o casal e seus "novos filhos". Também sou mãe de minha mãe. Um forte abraço.

Jorge Konrad – assunto: #vemprarua
É Celso, mas não te esqueça que o movimento das ruas abomina a política partidária e aí fica difícil aparecer alguém..  O sistema político partidário dificulta o surgimento de novas lideranças... Por isso estamos sempre engordando as velhas raposas...Tá parecido com o futebol, tudo nivelado por baixo...abraço.

Júlio César C. Brum – assunto: Madrinha da Manutenção
Assim como adotei como madrasta a minha querida Porto Alegre , adotei como madrinha a Engenheira Catarina, que também acho muito querida e generosa.

Margareta - assunto: Madrinha da Manutenção
Muito legal o teu blog Celso parabéns, especialmente, pelo registro dessa homenagem à competente Eng. Catarina, que dedicou quase meio século de labuta pelo DMAE, a nossa querida Colega que respeitamos pelo seu profissionalismo e dedicação! Eu espero em breve estar aposentada assim como tu. Eu já podia sair desde o ano passado, porém aguardo a GDAE mas conto os dias porque a vida continua e saber desfrutar esse momento é também de muita importância!!! Beijão.

Júlio César C. Brum – assunto: O Último Dinossauro
Percebo um certo retraimento nas iniciativas em cumprir com a listagem de mil coisas a realizar pós aposentadoria. E muito saudosismo. Contudo a homenagem a engenheira Catarina é justa e implacável, para essa pessoa querida de todos nós, que terá que partir pra outras andanças. Estou saudoso de tuas idas e vindas. Conte elas pra nós Celso, com a riqueza das palavras de nossa língua.

Paulo Renato Wabner Portalet – assunto: O Quebra-cabeça da vida
Amigo Celso, como sempre, li e gostei. Assustou-me, por já me achar no 3º estágio, a imagem do " Desmanche do quebra-cabeças de nossas vidas". E/T, se sobrar um tempinho, inclui Sidney Sheldon, Maurice Le Blanc e Edgar R. Burrougs (principalmente " Tarzan e os homens-formigas).Beijo fraterno, Nato.

Jorge Konrad - Assunto: Mais Médicos para Todos
Tenho total concordância sobre este artigo. Existe um ponto nesta discussão que não é tocado que tem a ver com o papel social naturalmente inserido na profissão de médico. É certo que os profissionais não podem arcar com o passivo que existe na infra-estrutura em saúde e que não podem ser compelidos a fazê-lo. Mas vamos lá, ninguém começa uma carreira com todas as condições de tempo e temperatura senão isto não seria Brasil, um país com muitas mazelas e tentando deixar de ser terceiro mundo.

Camila Fagundes - assunto: Fase pós FEBEM
Que texto bonito, cheio de história, fotografia, paisagem, memória que poderia muito bem ter sido ilustrado com desenhos em lápis grafite quase sem ponta, sem sombra, sem firmeza no traço; mas do contrário foi colorido com capricho, com lápis faber castel de 36 cores, composto de uma linguagem expressiva e uma estética requintada. Belas imagens! Iluminadas de gratidão.

Ruvana - assunto: Fase pós FEBEM
Celso, me emocionei muito ao ler tua postagem. Trabalho com jovens de baixa renda, bolsistas de uma escola particular incrustada em uma das áreas mais conflagradas da cidade. Ler-te me provoca o mesmo questionamento: quantos ainda não migraram da carência para a delinquência? Ou quantos podem desta última escapar, alcançando alguma dignidade na vida? Abraço :)

Camila Fagundes - assunto: O Urso Hibernado
Parabéns colega,
Curso em prosa, fluxo lírico, deságue poético...
Uma travessia lúcida, bonita, e esperançosa
Esse fingido urso hibernado
que não se entrega ao predador
Sabe, sábio, a hora de despertar.

Paulo Portalet - assunto: O Urso Hibernado

Grande amigo, grande Celso, parabéns pela  “Menção Honrosa”. Justa e oportuna e olha, tu nem foi nem és vereador ( Pois  prá ABL a exigência é presidente). Grande abraço.
 PS. Pronto, decidi,vou fumar o cubano “cohiba” em tua homenagem.  Outro grande abraço, Nato. 


Meditação & Pães Quentinhos

         Por não gostar de comer pão dormido, costumava tomar o meu café da manhã na loja de conveniência do posto de gasolina que tem em frente ao meu antigo local de trabalho. Metodicamente chegava antes do horário de pegada do expediente, batia o meu ponto e fazia o caminho mais longo em torno da quadra, aproveitando para dar uma caminhadinha matinal (seiscentos passos contadinhos de ida e volta somados), e tomava uma taça de café com pão prensado com margarina, lendo rapidamente o jornal  Correio do Povo, iniciando sempre pela coluna do Juremir Machado.
            Lembro, por que registrei aqui no blog,  que numa manhã do verão de 2010, uma das manchetes de capa do jornal era: Surpresa na Praça – Budistas meditam no meio da agitação. - A propósito, eu havia recebido no dia anterior um convite, por e-mail do Centro de Estudos Budistas Bodisativa, para participar deste evento de meditar sentado no calçadão da Rua da Praia em frente à Praça da Alfândega. Fiquei fora desta, pois já havia passado a minha fase de hippie, de sentar no chão da calçada, foi há três décadas atrás. Este tema da meditação, aliás, continua com frequência sendo matéria de revistas e documentários de televisão. Reconhecem que a ciência comprova que a técnica milenar de meditação é um poderoso remédio no tratamento de doenças cardíacas, depressão, artrite, câncer e até Aids; e os hospitais já estão usando a nova descoberta com bons resultados.
           Ao que tudo indica, a meditação e o próprio budismo estão em alta não só no Brasil, mas em toda civilização ocidental cristã, que se sente ameaçada pelo islamismo radical. Particularmente eu tenho praticado meditação quase que regularmente em casa, a cerca de cinco anos. Desde o início fiquei impressionado com a psicologia do budismo tibetano e tenho assistido, sempre que possível, às palestras do Lama Padma Santem, que é seguidor do Dalai Lama. O Padma Santem é um lama gaúcho, ex-professor de física quântica da UFRGS, gremista (ninguém é perfeito!) e que fala na linguagem “portoalegrês” e na perspectiva da nossa cultura bem humorada. Concluí aquele trabalho acadêmico, sobre os vínculos entre filosofia & psicologia, estabelecendo pelo viés da psicologia junguiana  o elo dos arquétipos da mente dos ocidentais com os conhecimentos milenares orientais da psicologia tibetana.
            Além da minha mulher e eu, que somos iniciantes fazendo o “caminhos dos ouvintes” desta peculiar religião de ateus, conhecíamos como budista no Dmae apenas o colega Júlio Brum (voraz leitor, comentarista e estimulador deste blog). O Júlio era budista de outra linhagem tibetana, não era da linha do Dalai Lama, pertencia à linha dos Karmapas. Sendo que ambos, o Dalai Lama e o Karmapa, tiveram que abandonar o Tibete, depois da invasão chinesa, e passaram a divulgar seus ensinamentos para os sedentos discípulos ocidentais dos loucos anos 60 e 70 do século passado. Novamente a história se repetia, o Júlio e eu éramos de facções políticas diferentes dentro do Partido dos Trabalhadores e na militância sindical; depois fomos de linhagens diferentes dentro do budismo. O importante é que percorremos os mesmos propósitos e as mesmas doutrinas. Júlio e eu, como pequenos aprendizes da existência humana, vamos surfando e divergindo fraternalmente nas mesmas ondas...
Todavia, a questão que permanece pendente não é do âmbito político nem teológico, é  o problema  do “pão dormido”, problema projetado desde 2011 para a minha rotina de aposentado, uma vez que não há uma padaria próxima ao edifício onde moro. Por mais que eu medite, não consigo encontrar uma solução para que os meus cafés da manhã continuassem sendo acompanhados de pães quentinhos na leitura matinal do jornal.
-Valeu Júlio Brum!

COPA DO MUNDO SEM MANDELA

Todos esperávamos ver na TV a figura lendária que era  Nelson Mandela, esperávamos vê-lo com radiante expressão de alegria na sua aparição pública prevista no ato de abertura da Copa do Mundo de 2010 em seu país. A Copa da África do Sul foi praticamente sem Mandela, pois somente no encerramento a lendária figura envelhecida pelo sofrimento pôde ser observada e devidamente ovacionada no estádio e nas telas das televisões pelo planeta inteiro em sua última aparição em público. Ocorreu que um dia antes da abertura do Mundial a sua bisneta de 13 anos, que saía do Show de Abertura da Copa, morreu num acidente de carro que capotou. Devido a este terrível acontecimento, Mandela não pode estar presente na abertura do Mundial de 2010 no seu país. Coube ao bispo Tutu da Igreja Anglicana da África da Sul, prêmio Nobel da paz em 1984 por sua luta contra o Apartheid enquanto Mandela estava na prisão,  fazer as honras da casa. Tutu  disse em sua manifestação emocionada no show de abertura da Copa do Mundo de Futebol 2010: A África é o berço da humanidade, somos todos africanos! 
 Em 2010 assisti ao filme Invictus - de Clint Eastwood , que traz o ator Morgan Freeman magistralmente como Mandela. O filme passa como sabido alguns flashes do fato de Mandela ter sido condenado à prisão perpétua (e escapado da pena de enforcamento), de ter ficado preso por 28 anos e de ter recebido o Prêmio Nobel da Paz em 1993 com o fim do Apartheid, e ter se tornado o primeiro presidente negro da África do Sul em 1994. O filme foca a parte da trajetória de Nelson Mandela que abrange parte do seu mandato como  presidente da África do Sul (1994-1999). A Copa do Mundo de Rúgbi, pela primeira vez realizada no país, fez com que o Presidente Mandela resolvesse usar o esporte de origem britânica e popular entre os brancos para unir a população do país.  Esse é o mote deste trabalho de Clint Eastwood: O estadista Mandela que conseguiu com o Rúgbi (que é uma espécie de futebol americano) promover a união  e o orgulho nacional de um povo, de maioria negra traumatizada pela crueldade da minoria branca do seu país, ao se consagrarem Campeões do Mundo naquela modalidade esportiva.

Mas afinal, o que foi esse tal de “apartheid”? - Dá para iniciar a história quando os ingleses ocuparam a Cidade do Cabo a partir de 1795, após a guerra  com a Holanda que colonizava a região. Com a descoberta de diamantes e ouro em 1886,  os ingleses fundaram a União da África do Sul como domínio colonial do Império Britânico e  tornaram a língua inglesa oficial na colônia; deixando os negros sem direitos políticos e sociais. A segregação racial na África do Sul teve início ainda neste período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial de governo após as eleições gerais de 1948 na África do Sul. Então os brancos sul-africanos implementaram uma política de segregação racial rigorosa, rotulando o novo sistema de governo como "apartheid" (separação de negros e brancos). Em 1961 a União da África do Sul conquistou a independência da Inglaterra, formando a República da África do Sul, mas o governo manteve o regime do apartheid,  e os negros continuaram privados de sua cidadania. Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a prisão de líderes antiapartheid, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul.  Em 1990 Mandela finalmente é solto e iniciam-se negociações para acabar com o apartheid, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.
O Madiba, já aposentado da política em 2010, certamente torceu muito pelos “Bafana Bafana”, pelos meninos da seleção de futebol amarela e verde da seu país; como nós torcemos pela nossa camiseta também amarela e verde. Acredito que todos os países ficariam contentes, devido ao espírito de compaixão que a África nos inspira, se o time da casa levantasse o caneco. Afinal, como disse o Bispo Tutu, somos todos oriundos da África. Conta a história contemporânea que a primeira civilização humana a se formar foi a hindu na Índia, formada por povos que emigraram da África do Sul e que, posteriormente, se espalharam por toda Europa e Ásia, dando origem a todos os diferentes povos e nações. Mas o milagre não aconteceu, nem os garotos da “Bafana Bafana” ganharam a copa, tampouco nós... La Fúria espanhola fez espetáculo com a bola, com a elegância de um toureiro, e levantou a taça de 2010!
 Para quem imaginava que na África sempre fazia o calor do deserto de Saara e das Selvas do Tarzan que vivia de tanga entre os leões nos filmes, foi uma surpresa vermos os repórteres tiritando de frio e nos anunciando que fazia temperaturas em torno de ZeroºC em Joanesburgo à noite. Quem não lembra dos zumbidos das “vuvuzelas” torcendo por todas as seis equipes de países da Mãe África (África do Sul, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Camarões e Argélia)? Aquelas cornetas africanas, de um metro de comprimento, que levaram as emissoras de televisão européias a se queixarem na FIFA do seu  barulho nas transmissões das partidas.

Aqui, silenciaram sumariamente as “caxirolas”, o chocalho de plástico clonado por Carlinhos Brown do Caxixi (instrumento nativo da capoeira), numa jogada milionária autoral do cantor que fracassou. Toda a publicidade e os símbolos da Copa no Brasil foram um fracasso: o tal tatu-bola  Fuleco foi alvo de protestos e teve que sumir  das ruas; a logomarca das mãos formando a taça não apareceu em lugar nenhum. Só as notícias sobre falcatruas de empreiteiros nas obras dos mega estádios “padrão-fifa” (em lugares onde não há público o ano inteiro) divulgaram a Copa para a nossa indignação. Já imaginaram que impacto as vuvuzelas causariam se fossem adotadas pelos movimentos de protestos brasileiros que estão se mobilizando para fazer muito barulho contra os gastos públicos “padrão Fifa” na Copa do Brasil em 2014?
 Agora, com a definição das chaves e grupos, começa a rolar o clima do Mundial do Brasil pra valer.  Assim como a seleção brasileira do Dunga & Kaká não empolgou, também a do Felipão & Neymar não está empolgando ninguém, pelo menos por enquanto. Mas, mesmo assim, seria altamente empolgante vermos jogar aqui no estádio Beira Rio a França, a Holanda e a  Argentina com o Messi. Quem não gostaria de assistir uma só delas que seja, uma única partida de Copa do Mundo? A hora é agora, pois nós (pós-cinquentões) não teremos outra chance igual a esta, o que só deverá se repetir no Brasil daqui há 60 anos... Dinheiro não é o problema, o problema é o acesso ao procedimento de compra de ingressos que é por sorteio. Pelo jeito eu vou ficar mesmo olhando os jogos pela TV, da mesma forma como se eles estivessem ocorrendo lá na África, apenas que ouvindo os sons das torcidas entrando pela minha janela que fica próxima do campo. Acho que vamos mesmo é  ficar vendo os turistas estrangeiros curtirem a copa feita para eles com o nosso dinheiro e, pelo jeito, ainda vão levar o caneco!!!...
Na realidade a Copa do Mundo no Brasil é um  barril de pólvora que o povo procurou mostrar nos #protestos de rua de junho, e que o governo ainda insiste em ignorar! Com ou sem Black-blocs, e com os nossos líderes da esquerda na prisão por justa causa, a Copa 2014 vai ser sem a presença da África do Sul e também sem o Mandela, pois dias atrás morreu aos 95 anos de idade o homem que, como Gandhi, fez história. Mas, dias atrás nasceu para a posteridade o mito Nélson Mandela que, como Gandhi, deixou um legado de luta pela liberdade e em benefício da cultura da não-violência e da paz com justiça social e sem ódios. Seja quem for que vença a Copa do Mundo 2014 no Brasil, Mandela é o campeão invictus forever!

FRONTEIRAS AO PENSAMENTO & ARTE

O filósofo e ex-ministro da Educação da França, Luc Ferry, andou palestrando em Porto Alegre em maio de 2010, apontando que o amor e a sustentabilidade mudarão a política e constituirão uma nova revolução mundial. Conforme Nietzsche percebeu, a problemática moral aparece quando um ser humano propõe valores que sejam superiores ao valor da vida, valores sacrificiais. Para Luc Ferry, a moral se estabelece quando princípios nos parecem (com ou sem razão) tão elevados  que valeria a pena arriscar ou mesmo sacrificar a vida para defendê-los. Alguns valores, como assistir a atos de injustiça e covardia contra crianças ou pessoas indefesas, ou contra alguém a quem amamos, poderiam nos levar a assumir um risco de morte. Isto implica que existem valores transcendentes, já que são superiores à vida.
O que acontece é que nos homens modernos os motivos tradicionais de sacrifícios falharam. Ninguém mais está disposto a sacrificar a vida pela glória de Deus, da pátria ou da revolução proletária, mas pela sua própria liberdade e pela vida dos que eles amam é possível que se aceitem desafios para combates com risco de morte. Em resumo, as transcendências de outrora não foram exterminadas pelo materialismo, e sim foram substituídas por formas horizontais de transcendências e não mais verticais, enraizadas agora em seres que estão no mesmo plano que nós: o amor  familiar!
Dos tantos grandes eventos “papo-cabeça” que se realizam em Porto Alegre, a exemplo do “Fronteiras do Pensamento” (que também acontece em várias capitais), pouco ficamos sabendo, só respinga pela imprensa algumas entrevistas e frases prontas para nós, os excluídos deste seleto mundo dos intelectuais abonados. Assim como há quem pague com gosto altos preços para assistir a shows de mega-estrelas do pop-rock, há também quem (como eu) gostaria de ouvir as palestras dos grandes pensadores vivos contemporâneos, se tivesse disponibilidades...
Mia Couto, escritor de Moçambique.
 Porém, como há vendas casadas (tem que se comprar um pacote de passaporte de ingressos para todas as palestras programadas para o ano inteiro, ou seja, tem que se desembolsar cerca de R$ 1,5 salário mínimo na bucha!), naturalmente que não pude captar ao vivo às energias de cabeções como Vargas Llosa, Michel Maffesoli, Mia Couto, nem Luc Ferry.

A vida cultural portoalegrense é altamente instigante e variada. Eu vivia olhando as programações e prometendo para mim mesmo que quando eu estivesse aposentado eu iria cumprir todas estas agendas do “segundo caderno Cult” dos jornais. Pensava  em assistir a estes fóruns internacionais de “alargamento do pensar como um ato político”, que são pagos e caros, mas especialmente assistir os eventos artísticos de baixo custo e gratuitos, que são muitos e também de alta qualidade. De tanto que eu ficava repetindo para diferentes coisas que surgiam que “isso eu vou fazer quando estiver aposentado”, que as pessoas da minha intimidade ironizavam que ia faltar tempo para eu realizar na minha aposentadoria tantos projetos de ler, assistir e escrever...
Acertaram, falta mesmo tempo (e grana)! Mas, conforme Luc Ferry, falta “Aprender a viver com uma filosofia para os novos tempos”, apontando que o amor e a consciência em prol da sustentabilidade do planeta mudarão a política e constituirão uma nova revolução mundial. Será?!...


OCASO DO MONTEPIO DOS MUNICIPÁRIOS

Como já foi comentado anteriormente, é no Gabinete Médico que se reencontram as diferentes gerações de trabalhadores do Dmae. Um belo dia de 2010 aconteceu de eu estar no saguão de espera para consultar com a Drª Beatriz, quando sentou ao meu lado um aposentado, um ex-colega não só de trabalho, mas também de militância político-sindical e de aprendizagem de vida.  Logicamente que nossas reminiscências comuns passaram por reconsiderações críticas de nossas antigas ideologias políticas: ele um brizolista ferrenho e eu, naqueles remotos tempos de 1994, ainda era um petista “lulista-olivista” quase fanático.
Fizemos, então, uma releitura conjuntural do grave confronto que vivenciamos de lados opostos, após uma longa militância sindical em que atuamos conjuntamente. Refiro-me ao episódio em que fiz parte de uma Comissão de Intervenção, decretada pelo então prefeito Tarso Genro, que destituiu a diretoria do Montepio dos Funcionários Municipais de Porto Alegre (MFMPA). Acontece que este meu ex-colega exercia a presidência do Montepio justamente naquele momento histórico, havia assumido o cargo apenas 17 dias antes (eu nem sabia!); era mais um que ingenuamente servia de “Testa de Ferro”  ao grupo mafioso. Que azar, fiquei muito surpreso ao saber em pleno front! Relembramos a dramaticidade da estratégia do ato de posse da Comissão de Intervenção, que se deu através de invasão de surpresa do prédio (acompanhados apenas de dois guardas municipais desarmados!) e pela ocupação da sala da diretoria da instituição com o Decreto do Prefeito em mãos. Recapitulamos juntos a longa agonia da diretoria deposta, que se viu forçada a buscar a reintegração de posse na justiça comum, o que só foi conseguir cerca de seis meses depois de iniciada  a intervenção.
Aqui faço um remake  dando asas ao livre relembrar de alguns aspectos deste  episódio ocorrido a partir de maio de 1994, que talvez tenha sido o mais controverso em que me envolvi em toda a minha vida. Nesta ocasião, através do Decreto Nº 11.003/94, foi formada uma “tropa de elite petista” para constituir a tal Comissão  Administrativa Provisória, com especialistas designados em cada área: um economista na presidência (Everton da Fonseca), um procurador na Diretoria Administrativa (Rogério Favreto, que depois seria o Procurador Geral da Prefeitura e hoje é desembargador!), um economista  na Diretoria Financeira (Roger Keller), na Tesouraria uma fiscal da Fazenda Municipal (Marilene Iurkfitzg), e eu do Dmae na Secretaria Geral, como especialista na política sindical da categoria dos municipários. Nos sentíamos como o grupo do Fidel Castro tomando Sierra Maestra para libertar a Ilha e devolvê-la ao povo. – Doce ilusão!...
A comissão foi investida com o objetivo de fazer valer a Lei Orgânica que determinava a realização de Eleições Diretas para a Diretoria do Montepio, e cumprir a Lei 751/94, recém criada pela Câmara Municipal, que estabelecia as Eleições Diretas para a Diretoria e também para uma Assembléia Constituinte a fim de elaborar um novo Estatuto para o Montepio. Até então a eleição da Diretoria sempre fora realizada indiretamente pelo Conselho cuja renovação era lenta e gradual,  1/3 a cada dois anos. O fato é que várias gerações de municipários ensaiaram chapas de oposição ao Conselho,  mas com o uso feudal do voto à cabresto, o mesmo grupo se manteve sempre no poder, por décadas desde a  fundação da entidade.
 Foi um cerco total para acabar com o castelinho dos “Donos do Montepio”, onde a Comissão de Intervenção foi o Cavalo de Tróia que invadiu o território dominado pelo inimigo. Com contribuições compulsórias de todos os servidores  e outro tanto dos cofres públicos, arrecadando cerca de 810 mil dólares mensais, O Montepio era nesta época uma poderosa instituição financeira. Era uma verdadeira mina de ouro, por mais besteiras e trampolinagens que os administradores fizessem, sempre entrava mais dinheiro para tapar os rombos. Eram folclóricas as filas que se formavam em torno da quadra da sede da entidade todos os inícios de meses, onde se realizavam cerca de 4 mil empréstimos mensais aos servidores municipais.  Portanto, eu entrei nessa briga consciente que para devolver o Montepio ao controle democrático dos barnabés e arigós, era necessário um plano radical de tomada do poder.
Justamente neste período da Intervenção a Diretoria do Montepio estava construindo o Shopping Olaria, o que foi um banquete para se pegar falcatruas de arrepiar  e de superfaturamentos, tudo a partir de auditorias que deram origem a várias ações ajuizadas e liminares. Uma dessas liminares foi suspendendo o repasse de milhões para a maior de todas as loucuras que pretendiam cometer: o tal de Projeto SISA (Sistema Integrado de Saúde e Assistência) que envolvia a construção de um hospital (megalomaníacos!), para entrarem no ramo de assistência médica e quebrar com a AFM e o Hospital POA, com vista de abocanharem a arrecadação compulsória destinada para a Previdência prevista pela nova Constituição, antes da criação do PREVIMPA.

O fato é que realizamos a maior de todas as eleições já promovidas dentro da classe municipária, com mais de 10.000 votantes no primeiro turno e com seis chapas concorrentes. Daí em diante foi uma guerra de liminares na justiça, a primeira devolvendo a direção da entidade para antiga diretoria. Esse foi um período difícil que, sem a máquina do Montepio, tivemos que bancar o segundo turno da eleição na clandestinidade (apenas com um apoio encolhido e assustado do governo municipal) e ainda com a diretoria irada procurando minar e desacreditar o processo. Aos trancos foi concluído o segundo turno da eleição em que disputaram as chapas do Darvin Ribas e a do Paulo Müzel, resultando vencedora a chapa alinhada com a Adminstração Petista. A partir de então ocorreram outras brigas de liminares judiciais, travadas para que a diretoria democraticamente eleita pudesse tomar posse num montepio que, a estas alturas, já estava literalmente tomado de seguranças (capangas realmente armados) para não possibilitar invasões no latifúndio que o grupo considerava de sua propriedade particular.
Durante este período de intervenção, que durou seis meses, não recebemos nenhum centavo dos cofres do Montepio (ao contrário do que faziam as Diretorias anteriores que se presenteavam com altos salários adicionais aos seus de servidores). Com o cargo de Secretário, além de assumir a função do “Tio Hugo” (onde havia filas no chamado “beija mão” para a concessão de empréstimos além das margens de disponibilidade dos servidores); eu fiquei também encarregado da “comunicação com a Categoria”. Sozinho escrevia, editava, publicava (tiragem de 15.000 exemplares) e distribuía (nos gabinetes dos Secretários e Diretores de Departamentos para re-distribuírem) o Boletim Informativo do Montepio em quatro páginas A4... Durante esta batalha do exército de um homem só eu realizei completamente o meu lado de jornalista (mais do que nos tempos da AMPA).

Ao final de dezembro/94, demos por concluída com êxito a Comissão de Intervenção, uma vez  cumprida a missão de promover as Eleições Diretas no Montepio. Porém, com muito puxa-e-empurra judicial, a nova diretoria e o novo Conselho Deliberativo Estatuinte, conseguiram tomar posse somente através de liminar em 10/janeiro/1995;  mas foram depostos por outra liminar menos de trinta dias depois. Foi um mandato relâmpago que consistiu no último sopro de vida antes do “Ocaso do Montepio” que resultou na sua agonizante morte por “insolvência judicial”. Foi o fim dessa pseudo entidade de previdência (posto que pagava apenas e precariamente as “pensões das viúvas” sem arcar com as aposentadorias dos municipários)!
 A decantada fortaleza do Montepio era, na verdade, um castelo de areia, não restou nada aproveitável, nem mesmo o seu patrimônio em imóveis. A entidade resultou como um buraco negro que engoliu tudo o que arrecadou da família municipária; com a gangue operadora do esquema se metamorfoseando em “cooperativa financeira de crédito” (COOPERPOA) para continuar engambelando os mais incautos e necessitados.  Avalio que a intervenção valeu a pena, pois sem essa devassa realizada na caixa preta que era o Montepio não se criariam as condições objetivas para a concepção do PREVIMPA, órgão criado como uma instituição independente daquela estrutura totalmente corrompida e falida a ponto de implodir; ao contrário do que até então a forte propaganda do Montepio fazia a categoria acreditar. Graças à desmistificação e ao “Ocaso do Montepio” é que as gerações atuais e futuras de municipários podem usufruir e planejar uma aposentadoria com maior confiabilidade na competência da gestão dos fundos de pensão e previdência  geridos pelo PREVIMPA.
-Valeu Membros da Comissão Administrativa Provisória do Montepio!


CAMINHANDO CONTRA O VENTO NUM RETROPICALISMO

Sempre quando ouço os lero-leros políticos-partidários, onde velhos e novos picaretas fazem apologias românticas e ilusionistas da democracia, me lembro dos meus estudos do filósofo Nietzsche, o destruidor de ídolos.
A elaborada teoria nietzschiana da genealogia da moral, resumindo, diz que a modernidade ocidental-cristã derrubou as virtudes pagãs da cultura grega e instituiu uma moral de escravos. É nesta perspectiva que os movimentos de jovens, tanto o estudantil quanto o hippie, se rebelaram contra a moral repressora na década de 60, e por isso são tidos como nietzschianos. O filósofo bigodudo gostava de associar ao deus Apolo ( deus da beleza, perfeição, harmonia, equilíbrio e razão) as pessoas que se têm por politicamente certinhas; e ao deus Dionísio (das festas, do vinho, da exacerbação dos sentidos e excessos) os malucos psicodélicos que se jogam na vida de ponta cabeça.
 Mas a história oficial, como sempre, é contada pelo apolíneos (os politizados), e todas as conquistas de transformações sociais, culturais e de costumes conquistadas naquele período são atribuídas, a meu ver equivocadamente, aos estudantes rebeldes de maio de 68. O saldo histórico que ficou não foi político, está aí o FHC, o Lula & Dilma (ícones da esquerda dos anos 70) e a Rebelião dos Vinte Centavos para comprovar que nada de essencial mudou na política; a grande mudança que houve foi cultural (artes e costumes), que é o campo em que os hippies tencionaram com uma vivência alternativa prática (dionisíaca) e não meramente teórica e discursiva, como o povo que #foiprarua em junho para manifestar indignação geral com a política que não representa mais ninguém, só seus patrocinadores.
Agora, com a avalanche de condenações de jovens que protestavam mascarados em várias capitais do país, enquadrados pela nova lei do Crime Organizado ou pela velha lei de Segurança Nacional;  e com a Ordem de Prisão dos condenados no Mensalão, que está colocando na cadeia nossos apolíneos figurões do panteão da esquerda revolucionária, parei para refletir para compreender melhor a minha própria trajetória de vida: Meus heróis morreram de overdose e os meus líderes estão no poder e na prisão!...
Na década de 60, eu estava no lado dionisíaco da história, com uma pequena mochila nas costas, pegava a estrada pedindo caronas e fazendo artesanatos para sobreviver. Vivenciei comunidades hippies e festivais de música, drogas e rock and roll até no Uruguai, paraíso das drogas livres na época; enquanto a juventude apolínea fazia as barricadas nas ruas de Paris.
 Na década de 70, alienadamente curtia o tropicalismo com “Alegria,Alegria”, dionisiacamente caminhando contra o vento sem lenço e sem documento; enquanto apolineamente a juventude engajada se lançava na luta armada da guerrilha urbana contra a ditadura militar.
 A partir dos anos 80 eu migrei para o lado apolíneo da história, me tornei um militante engajado na construção de um sindicalismo com consciência de classe e de um  partido de luta dos trabalhadores, enquanto o lado dionisíaco virava punk-anarquista...
Na virada de 2000, virada de século e de milênio, voltei a procurar a minha essência dionisíaca, mas o máximo que consegui foi tornar-me um rebelde sem causa: voto nulo! Recorri, então, ao estudo da apolínea filosofia clássica, tribo em que sempre me senti como um estranho no ninho do meio acadêmico apolíneo. Passei a correr, como Proust “Em busca do tempo perdido”, atrás das minhas vinculações dionisíacas com a arte, especialmente com a literatura e a poesia, que se mantiveram minhas fiéis escudeiras contra “a cultura de rebanho” de apenas sobreviver, que é feito um caracol que se enterra em seu próprio casco”, como esbravejava Nietzsche.
  A partir da década de 2010 voltei para o lado dionisíaco do mundo, caminhando contra o vento sem horário e sem cartão-ponto,  como um aposentado libertário em busca do tempo apolineamente perdido...num RE-TROPICALISMO:
 Quando eu soltar as amarras
     E sair singrando
       Pela vida
         Sem horários
           Sem destino
             No caminho imenso
               Do tempo
                 Que me restar...
                    Vou finalmente
                       Caminhar contra o vento
                         Com lenço
                            E com documento
                               Nos bolsos e nas mãos
                                 Pra mostrar
                                   Que ainda sou eu
                                      Que estou a caminhar
                                         Que eu ainda
                                             Estou caminhando
                                               Contra o vento
                                                 E com documento
                                                     Pra provar.

REENGENHARIA SOCIOLÓGICA NAS VILAS

Esta postagem vai em homenagem aos colegas da ASSEC (Assessoria Comunitária do Dmae) na década de 1990. Quando terminou a grande epopeia da Intervenção Municipal postada neste blog como Ocaso do Montepio, cumprida a missão voltei para trabalhar no Dmae, numa salinha apertadinha com mais três colegas na ASSEC. Este órgão era extra-oficial, pois nunca existiu no organograma oficial da empresa, mas foi um apêndice importante da estrutura operacional do DMAE na Era Petista. Foi quando a administração pública municipal percebeu a importância de se estabelecer um relacionamento mais sociologicamente profissionalizado com as comunidades carentes da nossa cidade.
           Com os novos colegas de sala, Marcos Scharnberg e o arquiteto JKonrad, fiquei trabalhando na ASSEC por alguns anos. Foi um período de intensos aprendizados mútuos através de trocas de experiências profissionais e culturais. Com os meus colegas da sala aprendi a dominar a elaboração de projetos de redes públicas de água e de esgoto cloacal, período em que inclusive cursei disciplinas de saneamento no curso de Engenharia Civil da PUC. Com os demais colegas da ASSEC trocamos muitos disquetes, fitas cassete e Cds  com músicas da preferência de cada um: eu com MPB, o Konrad com rock da antiga e o sociólogo Jorge Maciel Caputo com o repertório cubano, argentino e, sobretudo, o uruguaio. Nenhum dos três colegas citados (e sorridentes na foto) está mais trabalhando no Dmae, sendo que recentemente o JKonrad, que era cedido da SMOV, não teve sua cedência renovada possivelmente devido ao seu espírito crítico e de engajamento político. Foi descartado sem a mínima consideração ao seu histórico profissional e à contribuição qualificada que ele deu com o seu trabalho para o Departamento, com destaque para a elaboração do Plano Diretor de Esgoto do Dmae.
- Valeu amigo Jorge Konrad! 
Éramos um grupo técnico de engenharia cercado por sociólogos por todos os lados: além do Caputo tinha a Fátima Silvello, a Antônia, a Lea Maria, a Enid Backes e o figuraço do Roque, um ex-seminarista oriundo de movimentos igrejeiros junto aos colonos sem terras.   Vivíamos o período de ouro da Orçamento Participativo (OP), cuja implantação e coordenação geral no âmbito de toda a prefeitura foi feita, durante os dois primeiros mandatos petistas, pelo meu falecido irmão Gildo Lima. Nas noturnas reuniões temáticas do OP, nas mais humildes vilas e comunidades, era exigida a presença dos técnicos do Dmae, para não deixar que os sociólogos viajassem demais na maionese de seus devaneios teóricos de realização das demandas reprimidas dos mais pobres. Éramos os faróis do tecnicamente realizável.
Segundo depoimento do JKonrad, que ficou mais tempo por lá, juntamente com o Luis Fernando Albrecht, depois que eu saí em 1997 e fui ser Diretor da Manutenção, a ASSEC foi extinta no início do governo Fogaça, sob a alegação que o seu papel poderia ser desempenhado pelos setores oficiais da Estrutura do DMAE. Mais tarde se viu que isto não se realizou, pois a ASSEC não era simplesmente uma Assessoria Comunitária, ela agregava outros valores de atuação integrada com educação ambiental e participação comunitária no planejamento das ações do DMAE. Durante o meu trabalho na ASSEC, além de comer os suculentos e inesquecíveis churrascos de ripa de costela assados pelos colegas Coelho e Paulo Melo da topografia, tive a oportunidade de vistoriar e fazer levantamentos em becos, vielas e vilas que me marcaram muito, que me deram consciência das péssimas condições de vida em que vivem parcelas significativas da população portoalegrense. Em compensação pude projetar e  viabilizar a construção de muitas redes de água e de esgoto nestas comunidades da periferia carente de saneamento básico.
Antes, a Fátima Silvello e eu moramos no mesmo bairro quando éramos estudantes de sociologia e de engenharia, convertidos para as lutas sociais de redemocratização no Brasil no início da década de 1980. Nos mobilizamos no Núcleo Jardim Botânico para a construção de um  Partidos dos Trabalhadores, e para o fortalecimento da consciência de classe de toda uma geração de servidores do DMAE que passava a se organizar sindicalmente como a Categoria dos Municipários.  Belos tempos utopicamente revolucionários e amorosos aqueles!...Muito trabalhamos apaixonadamente na elaboração dos boletins, jornais e cartazes do movimento: eu entrava com o texto e ela com a arte e diagramação, desenhista criativa que era. Juntos fazíamos muito barulho!
Depois, pelos desígnios insondáveis do destino, trabalhamos  juntos na mesma sala da Assessoria do Diretor Geral Guilherme Barbosa, no início da era petista na Prefeitura, antes de voltarmos a trabalhar juntos na ASSEC, ainda como Cargos em Comissão. Os últimos contatos que tivemos, a Fátima e  eu, foi pouco tempo antes dela se aposentar do Dmae. Posteriormente soube que ela estava doente e passei a lhe enviar emails com links de acesso para este blog. Em 23/outubro/2011 soube que a “companheira Fátima Silvello” não estava  mais entre nós...Que coisa, hein?!...Espero francamente que os espíritas e os budistas tenham razão e que existam realmente reencarnações e renascimentos cármicos, para que possamos aproveitar evolutivamente as convivências que tivemos com pessoas especiais (como a Fátima) nesta nossa vida mundana.
- Belos tempos, valeu companheira Fátima Silvello!

A RODA DE CHIMARRÃO DA MANUTENÇÃO

A roda de chimarrão é uma das tradições nativistas que mais caracterizam o espírito de confraternização e proseador dos gaúchos. Desde o patrão à peonada de estância, desde os diretores aos operários do Dmae, todos se irmanam passando de mão em mão o mate amargo. A expressão “roda de chimarrão” vem da gauchada em torno do fogo de chão, mas prevaleceu no sentido figurado da cuia que roda de mão em mão respeitando sempre a mesma seqüência.
 Eu que já tomei chimarrão em antigas rodas formadas por gente que já se aposentou há muito tempo atrás, por último participava de rodas formadas pelos filhos desse pessoal, tais como o Marco Bica e o Lazzarin, filhos do Fernando Manjerona e do Sady Raposão. Naturalmente que a roda vai se renovando em novas gerações de funcionários da manutenção, e volta e meia retorno lá para matear com: Fernando, Oliveira, Erasmo, Ioni, Arraché, Ciro, Pedro,  e os novos servidores que vão se achegando na roda através de concursos públicos...
A rotina operacional das equipes de manutenção é a mesma desde sempre, ou seja, as turmas saem de manhã cedo para executarem serviços nas estações de bombeamento e tratamento do DMAE, e começam a retornar para a DVM depois das onze horas para o almoço e bicar um mate. Assemelha-se à rotina dos gaudérios que saiam a cavalo para as lidas do campo e voltavam para matear no galpão à espera da boia. Assim, tradicionalmente o pessoal que trabalha internamente, especialmente as chefias que distribuem os serviços para equipes de rua, preparam o chimarrão depois das onze horas e, na medida que as equipes vão retornando, novos mateadores vão se agregando à roda. Enquanto os capatazes fazem o relato dos serviços executados e das  eventuais pendências da manhã, o chimarrão vai lavando as tripas para esperar o rango da peonada.
 Como em toda a roda de chimarrão sempre são contados causos, segue alguns causos da Roda de Chimarrão da Manutenção que são contados mais ou menos assim:
INFIDELIDADE PÓSTUMA
Após a ocorrência do caso do acidente de trabalho fatal do jovem eletricista Ubirajara Teixeira, o Bira,  relatado aqui na postagem OS MORTOS DA DVM, conforme conta o folclore interno da rádio-peão,  quando entregaram para a viúva os objetos pessoais que o falecido tinha no armário do vestiário da Manutenção, deu problemas  póstumos de infidelidade, pois no armário havia cartas de casos extra-conjugais...
CACHORRO COM SETE VIDAS
O  Ori, vulgo “Cachorro”, foi assaltado há vários anos atrás e, ao reagir, levou um tiro no abdomem a queima-roupa. Esteve literalmente com o pé-na-cova, pois os ladrões que roubaram o fusquinha dele, na fuga  passaram com o carro por cima da sua perna. Mas, que nem gato, o Cachorro se reabilitou e voltou a trabalhar. Há poucos anos atrás gastou mais uma de suas muitas vidas, desta vez num acidente de trabalho. Ocorreu que uma marreta de ferro de 5kg  caiu de uns sete metros de altura sobre sua cabeça, numa estação de bombeamento de esgoto do DMAE.  Por sorte, pois ele conta que nem viu o perigo e estava sem capacete, a marreta pegou de  “raspão” no supercílio, provocando um corte superficial e meia dúzia de pontos no HPS. Se pega de cheio, estraçalhava a cabeça do Ori e acabava com todas as vidas que ele por ventura possa ainda dispor, era game-over! Porém, com mais sorte que juízo, segue o jogo das Sete Vidas do Cachorro que não que saber de se aposentar...

O FAZENDEIRO DO MEL
O Meleiro Hugo (o Pilha Fraca), estava  pensando em se aposentar junto comigo, e já tinha o seu projeto do que fazer após a aposentadoria: se dedicar ao apiário, atividade que normalmente já lhe proporcionava duas colheitas ao ano de 600 kg de mel, nas florações de outono e primavera. Às vezes, quando a floração é muito boa, “dá sobre-caixas” (que é uma terceira colheita no verão). Para acessar os sítios desabitados onde o Hugo tem suas caixas de abelha, ele costuma ir armado de espingarda 12, e conta que fica com a arma engatilhada enquanto a mulher abre os portões e portas das instalações prediais, tendo em vista que as casas seguidamente são invadidas por vadios da região. O Hugo dizia  que estando aposentado vai cuidar melhor e dar manutenção às estruturas das colmeias que ficam distribuídas num raio de 5 km. Na época ele já tinha encomendado 15 mil mudas de eucaliptos para plantar nos sítios dos seus abelheiros, para aumentar a produtividade. Já estava também estabelecendo entrepostos de distribuição da sua produção de mel nas diversas divisões do DMAE, treinando colegas para servirem de intermediários mediante recebimento de comissões nas vendas. E ainda assim, com toda esta programação de atividades dele para após aposentadoria, ele me revelou que estava sentindo um “medinho” por estar se aproximando a data da aposentadoria, ao mesmo tempo que me interrogava  se não ocorria o mesmo comigo...
-Normal, respondi, é um salto no escuro sem volta! Dá um frio na barriga, dá medo....Hoje, aposentado, o meleiro Hugo me conta que anda viajando tudo o  quanto pode por este Brasil imenso; o Pilha Fraca recarregou as pilhas e está voando mais que as suas abelhas!
O SORTEIO DA TELEVISÃO
            O Romeu (o Buldogue) compunha comigo (o Grazziotin) mais o Hélio (o Azeitona) e o Ranyr (o Grilo) os “Quatro Cavaleiros do Pátio”, técnicos industriais que chefiávamos as seções da manutenção na década de oitenta (Veículos, Preventiva, Mecânica e Elétrica, respectivamente). Trabalhamos na mesma sala por mais de uma década em perfeita harmonia, eles foram meus mestres e ajudaram a formatar o órfão de pai que eu era na pessoa humanizada que me tornei. O Romeu, com toda a sua aplicação e excelência profissional, apesar de ter cara de sisudo, era um baita gozador, adorava empulhar aos desavisados. Certa época tinha um estagiário de engenharia mecânica, um guri de origem italiana do tipo que busca levar vantagem em tudo, o Moretti, que no fundo era um baita de um ingênuo e filhinho de mamãe. Acontece que no refeitório da Manutenção havia uma televisão que já estava velha e dando defeitos. Como era da cultura da Divisão, foi feita uma “vaquinha” de contribuições entre os funcionários e foi adquirido um novo aparelho. Ao ver chegar a caixa com a nova televisão, em pleno mês de dezembro, o Moretti quis saber para quem era o receptor. Com a rapidez e perspicácia que era própria do Romeu, ele inventou que a TV era para ser sorteada na festa de natal da DVM. Logo entrou todo mundo na onda, alimentando a expectativa do estagiário “olho grande”. Não deu outra, no churrasco natalino em que tradicionalmente, como locutor ao estilo Sílvio Santos era eu que promovia os sorteios dos prêmios. Cabe registrar que os comes e bebes da festa e os prêmios eram adquiridos com o fundo recolhido durante o ano inteiro de cada participante, cobrado mensalmente pelo falecido Alonço, o Camundongo.
         A propósito de apelidos, tem os vulgos oficiais, que são ditos diretamente para o dito cujo; mas têm aqueles que são apenas sugeridos ou falados pelas costas.  O Camundongo era chamado diretamente de Miau (sugerindo o Camundongo), e o Buldogue  era referido sorrateiramente por medo que o Romeu, com suas bochechas de buldogue, ficasse brabo e mordesse. Mas era só cara de brabo, o Romeu Flávio Danilo Garcia (nome múltiplo como o próprio cara, mas não necessariamente nesta ordem) era um amigão e um gênio em mecânica, mente brilhante que tristemente a doença de Parkinson fez ele se aposentar muito, muito, muito precocemente!   Então, voltando ao sorteio natalino, o último e mais importante presente sorteado na noite foi a dita televisão e o felizardo ganhador, é claro, foi o estagiário Moretti. Que felicidade de criança dele ao receber o presente que tanto almejava!...Não lembro se deixamos ele levar para casa e descobrir sozinho que dentro da caixa estava a velha e sucateada TV valvulada, ou se o poupamos desse vexame familiar com a sua mamãe...
- Valeu Romeu, Hélio e Ranyr pelos muitos mates e causos exemplares!