A Volta do Fórum Social Mundial

terça-feira – 26 janeiro/2010
      Ontem, após o expediente de trabalho, armado da minha máquina fotográfica, participei da Marcha de Abertura do “10º Fórum Social Mundial 2010 – Grande Porto Alegre”. Foi uma passeata melancólica e sem as mesmas imagens de impacto das delegações estrangeiras nas edições anteriores, ficou praticamente reduzida aos militantes da CUT, da Força Sindical e dos partidos de esquerda. A novidade, em relação ao último fórum realizado na capital gaúcha em 2005, é que as bandeiras do PT voltaram a aparecer, ao contrário daquele ano em que os desencantos com o governo petista, decorrentes do escândalo do “mensalão”, fizeram destas bandeiras uma notória ausência.
      Aliás, hoje à noite o Lula participará do fórum fazendo um pronunciamento no Gigantinho, mesmo local onde foi vaiado no evento passado; desta vez vem trazendo sua caríssima bolsa a tiracolo da marca Dilma. Agora, como sendo “o cara” dos dois mundos, pois vai ganhar amanhã, no Fórum Econômico Mundial em Davos, o prêmio do “Estadista Global” e é a estrela isolada neste edição do FSM2010. Desta vez o Lula não terá a concorrência do “general” Hugo Chaves da Venezuela e nem a sombra política do Evo Morales (atualmente o meu líder latino favorito, mas que também já foi mordido pela “mosca azul” e alterou a constituição para se manter no poder), o índio boliviano cocalero que não se dignou a prestigiar este esgotado fórum. Mas nada será como antes da mordida no veneno da maçã, nunca mais será como em 2003, quando recém eleito e empossado presidente do Brasil, pudemos ouvir o Lula e ainda nos emocionarmos com suas metáforas feitas ao ar livre no Auditório do Pôr do Sol, mantendo o clima de comício de campanha eleitoral de que “um outro mundo estava nascendo ali, já era uma realidade”...
      Todavia, o Lula deu a volta por cima, tanto que não só o Fórum Econômico Mundial tenta pegar carona na boa imagem e prestígio do chefe do executivo brasileiro no cenário internacional, também o próprio FSM. O prestígio do “Cara” fica mais valorizado ainda na medida que não consta na programação do FSM2010 nenhuma outra atração no nível das que já estiveram em Porto Alegre em vezes anteriores, tais como o Prêmio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Perez Esquivel, o físico austríaco Fritjof Capra, autor do livro “O Tao da Física”, o escritor uruguaio Eduardo Galeano e o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago.
      Para muitos, como para mim, o FSM que comemora os 10 anos de sua existência se resumiu à Marcha de Abertura, pois não restou mais aos portoalegrenses a opção de vivenciarem o fórum, após o expediente de trabalho, visitando a cidade de lonas do Acampamento da Juventude, verdadeira babel de línguas que sempre fora instalado no Central Parque da Harmonia. Com a descentralização do evento, que passou a acontecer em várias cidades da Grande Porto Alegre, o pitoresco acampamento foi parar lá nos cafundó do interior rural de Novo Hamburgo. Recomendei para a minha filha, que é vestibulanda de ciências sociais e que está fazendo sua primeira imersão consciente na política em tempo real (e que me ligou alguns minutos atrás dizendo que estava numa fila imensa para entrar no Gigantinho onde haverá a palestra do Lula), para que ela faça uma expedição até o tal acampamento a fim de verificar se há algum sotaque estrangeiro por lá ou se só restou brasileirinhos acreditando que um outro mundo é possível.
      O certo é que a partir do próximo ano, se o FSM sobreviver o suficiente para retornar a Porto Alegre, poderei eu mesmo fazer não só esta expedição de exploração, mas também ouvir pacienciosamente os novos discursos sobre as velhas utopias, pois estarei usufruindo da minha liberdade de dispor como quiser das manhãs e tardes dos dias úteis da semana, e não mais apenas das noites depois do expediente.

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