ATEUS, GRAÇAS A DEUS & ENXAQUECAS ESPIRITUAIS

O  MOVIMENTO DOS SEM FÉ (MSF) 

           A polêmica que colocou a ATEA (Associação dos Ateus e Agnósticos) em evidência nos jornais e na internet foi motivada pela controvérsia do veto ocorrido (em São Paulo, Salvador e Porto Alegre) de uma campanha concebida pela entidade para combater o preconceito contra os ateus.
          Quatro peças publicitárias em defesa do ateísmo, que seriam veiculadas nos ônibus de Porto Alegre, foram vetadas pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP). Todas elas expressam algum aspecto do pensamento ateu e exigem o fim do preconceito contra quem não é religioso. A ATP barrou as peças, justificando que a legislação municipal proíbe manifestações religiosas (na verdade, são vetadas peças que estimulem a discriminação religiosa).
           O caso Datena (jornalista da TV Band) foi exemplar. Ele apresentou um bandidaço que violentou e matou uma criança e disse: “Esse tipo é um ateu, um homem que não tem Deus no seu coração, porque quem não tem Deus é que faz uma coisa dessas”. Não havia nenhuma informação sobre se o criminoso era ateu ou não. O Datena estava atacando o ateísmo, o que está sendo objeto de um processo judicial movido pela ATEA.
          Segundo o IBGE, as pessoas que se declaram sem religião já chegam a quase 8% no Brasil, e constituem uma minoria cercada de preconceitos, pois o ateu é apenas alguém que não acredita em mitos. Neste sentido a ATEA preparou os anúncios, financiados pelas contribuições dos sócios, sob a inspiração de campanhas similares realizadas em diversas partes do mundo desde 2008, quando apareceram na Inglaterra ônibus com a lateral ornada pelo slogan “Deus provavelmente não existe. Agora pare de se preocupar e aproveite sua vida”.
                 Vamos, pois, conhecer os argumentos da ATEA: Não aceitamos mais que o ateu seja associado a algum mal moral. Nossa prioridade são especialmente campanhas públicas que permitam a percepção dessa condição, de que há uma vida ética, uma vida filosófica, uma validade cultural do ateu. No Brasil, debates sobre temas como aborto e pesquisas com células-tronco têm sido continuamente afetados por crenças religiosas (como as hipocrisias sobre o aborto que se viu na última campanha eleitoral para presidência, por parte dos dois candidatos concorrentes no segundo turno!). Neste caso, o ateísmo sai em defesa da democracia: manter a religião saudavelmente separada das questões do Estado e da Justiça.
             Nem ateus nem crentes podem reivindicar o monopólio do caráter, da vida interior, da tolerância e mesmo da inteligência.
                                                                          Nietzsche, Freud, MarxHitchens, Sam Harris, Dawkins
        Conforme vamos envelhecendo, na medida em que nos aproximamos do umbral que reúne os sexagenários, por mais que se evite, a questão da morte vai se infiltrando na pauta das nossas preocupações e pensamentos rotineiros.
        A questão central, desde que o homem é um animal racional, se resume na dúvida se a morte é ou não o fim de tudo. Se do pó viemos e ao pó voltaremos, ou há algo em nós que sobrevive em outra dimensão. Chega-se, pois, à questão crucial que se dá no âmbito da crença, já que a racionalidade científica ainda não conseguiu decifrar este mistério.
                 Saramago, era ateu juramentado.
           Enquanto um cinquentão agnóstico, que já transita na segunda metade do decanato, vou antecipando alguns estudos sobre as possíveis crenças que reúnem potencial para me conquistarem como mais um adepto. Para  um agnóstico, com fortes propensões materialistas, há uma imensa distância e enorme dificuldade para fazer a travessia do mundo concreto dos ateus para o universo abstrato dos crentes.

        Recentemente encontrei a primeira brecha entre estas duas concepções do sentido da existência humana, que é a peculiar percepção budista de que a mente é, ao mesmo tempo, o veículo e o próprio túnel que liga a materialidade corporal, captada pelos sentidos, com a existência além da morte física. A crença, neste caso, é de que haja renascimentos cármicos e evolucionistas. Por mais paradoxal que pareça, o budismo é uma doutrina de ateus, onde os crentes não acreditam na existência de um Deus criador e juiz supremo da vida.
           Mais recentemente ainda, como as enxaquecas crônicas da minha mulher não passam com nada (ela já está feito o Michael Jackson, viciada em analgésicos), passamos a freqüentar um centro espírita, em busca de alívio para as “nossas dores de cabeça” desta vida.
          Pois o espiritismo se revelou ser também uma brecha que faz a coligação entre os dois mundos, o dos encarnados e o dos desencarnados, dentro de uma perspectiva da crença cristã, mas com uma abordagem do Evangelho segundo o espiritismo do Allan Kardec. A crença neste caso também é que haja renascimentos cármicos e evolucionistas, mas aqui é o espírito que é imortal.

           Embora, enquanto cristãos, os crentes espíritas acreditem num Deus todo poderoso e maestro do universo, suas crenças se articulam mais com o filho deste Deus que se fez humano, decifrando suas parábolas com leituras mais contemporâneas e menos enigmáticas: “Dos pobres de espírito será o reino dos céus”, significa que será dos crentes e não dos intelectuais; “ofereça a outra face”, significa evitar o revide e oferecer a paz; etc.
          O grande trunfo dos espíritas, em relação a todas as outras doutrinas, é disporem de um contato imediato direto dos médiuns com os espíritos que se encontram no além da vida. Esta vantagem, em termos de consolação para a dor daqueles que perderam entes queridos, é insuperável e consiste no grande atrativo para captar novos crentes entre os lobos que chegam, feito eu, nas estepes sem horizontes da terceiridade...
     Ultimamente nós, os brasileiros, surfamos forte na grande onda cinematográfica sobre o tema do espiritismo no cinema nacional. Assistimos no final de 2008 ao filme “Bezerra de Menezes: O Diário de Um Espírito”, que acompanha a vida do médico Bezerra de Menezes (interpretado por Carlos Vereza), conhecido como o médico dos pobres. A narrativa tem início na infância do personagem, no sertão nordestino. No Rio de Janeiro estuda Medicina, elegeu-se vereador e deputado em várias legislaturas e defendeu as idéias abolicionistas. Mas o que lhe trouxe o maior reconhecimento foi o trabalho anônimo realizado em prol dos desfavorecidos.
      O filme acompanha a trajetória de Bezerra (29 de agosto de 1831 - 11 de abril de 1900) narrando o seu contato gradativo com a religião espírita. O roteiro busca focar como um documentário as dificuldades da época em relação a uma nova religião (espiritismo era tido como algo sobrenatural, ou até mesmo, demoníaco) com suas sessões mediúnicas, psicografias e a existência de seres que nos rodeiam com o intuito de auxiliar no caminho.
            No começo de 2010 assistimos ao filme “Chico Xavier”, uma adaptação para o cinema que foi dirigida por Daniel Filho, e que descreve a trajetória do médium (interpretado pelos atores Ângelo Antônio e Nelson Xavier), que viveu 92 anos (de 2 de abril de 1910 até 30 de junho de 2002) nesta vida terrena desenvolvendo importante atividade mediúnica e filantrópica. Fechava os olhos e colocava no papel poemas, crônicas e mensagens. Seus mais de 400 livros psicografados, consolaram e continuam consolando os vivos, pregam a paz e estimulam a caridade. Para os admiradores mais fervorosos, foi um santo. Para os descrentes, no mínimo, um personagem intrigante.
         A cena que abre o filme é a preparação de Chico Xavier para uma entrevista (que foi real e que ficou famosa) num programa de TV. A entrevista serve de base para o roteiro, servindo de gancho para os flashbacks, em ordem cronológica, que contam a vida do médium.
        Nelson Xavier, o Chico mais velho, é o ator perfeito para o papel. Parece que estamos vendo o próprio Chico Xavier na tela o tempo todo, até que ao final são repassadas as cenas reais da entrevista dele na TV, e podemos verificar a autenticidade das suas respostas, sempre bem humoradas, com as cenas que já haviam sido interpretadas no filme.
         No final de 2010 foi a vez do filme Nosso Lar, baseado no clássico da literatura espírita brasileira, que é o romance Nosso Lar, que versa sobre os primeiros anos do médico André Luiz após sua morte, numa "colônia espiritual", espécie de cidade onde se reúnem espíritos para aprender e trabalhar entre uma encarnação e outra. O filme, que já foi assistido por mais de 4 milhões de brasileiros, relata esta experiência pós-morte contada por intermédio de psicografia para o médium Chico Xavier, que a transformou em um best-seller de mais de dois milhões de livros vendidos.
       O romance levanta questões acerca da Lei de Causa e Efeito (cármicos) a que todos os espíritos, segundo o espiritismo, estariam submetidos.
        Confesso que me encontro muito impressionado com a surpreendente semelhança que há entre o budismo (doutrina que venho estudando nos últimos anos e praticando intensamente o seu fundamento básico, que é a meditação) e a doutrina espírita, a qual tenho vivenciado nos últimos meses na Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes. É formidável a capacidade organizacional dos trabalhadores voluntários desta casa espírita, os quais oferecerem diariamente consolo, conforto e orientação espiritual para centenas de pessoas. Tive a oportunidade de, com a desculpa de ser acompanhante, abrir a minha “mente conscienciológica” e me submeter interagindo em todo o ciclo de atividades prescritas pelo centro espírita: consultas, tratamentos, passes magnéticos (individuais e coletivos) e palestras doutrinárias e de valorização à vida; todas as atividades de altíssimo nível espiritual, intelectual e filosófico.

           Rumo aos sessenta anos de idade, a busca da “saída de emergência” continua!....(Até porque as enxaquecas físicas e espirituais também continuam).

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