No mês de agosto passado, recebi um email institucional da UFRGS comunicando sobre o “Concurso de Contos Caio Fernando Abreu”, promovido pelos Institutos de Letras e de Artes em conjunto com a Associação Gaúcha de Escritores (AGES). Logo contos, pensei. Faz muito tempo que eu não me aventuro mais a escrever ficção. Era uma chance de jogar a isca, pra ver se beliscava alguma coisa! Mas como o prazo de inscrição era curto, lembrei de imediato da crônica “Grenal Sem Fim”, que havia publicado aqui no blog e que, mal ou bem, tem um pseudo personagem que transpassa toda a narrativa e que, portanto, poderia ser considerada como um conto. Tratei logo de providenciar as sete cópias que eram exigidas para serem apreciadas pela Comissão Julgadora quando, desatento, só então percebi que era necessário inscrever no mínimo dois contos cada autor.
Tive que vasculhar no meu baú de escritos, dispersos em arquivos, digitais ou em papéis datilografados, atrás de algum conto antigo para preencher a cota. Encontrei dois textos da década de noventa, o “Conquista Urbana” e o “Por um fio de Cabelo”. A julgar pelo meu gosto, para cumprir a cota de dois contos no Concurso Caio Fernando de Abreu, inscreveria os textos “Grenal Sem Fim” e “Conquista Urbana”. Mas quem inscreve dois, inscreve três; era permitido inscrever até quatro contos por autor. Foi o que fiz, convencido desde o início que os dois últimos textos foram garimpados apenas para atenderem ao regulamento. Joguei as três iscas achando que deste mar não saía peixe. Imaginem, o concurso era aberto a todos os alunos de graduação e pós-graduação, docentes e servidores da UFRGS; em suma, se destinava ao universo que reúne a maior densidade de praticantes da seita satânica de ler e escrever, os chamados ratos de bibliotecas e livrarias.
Não acredito em bruxas, mas milagres acontecem. Em meados de novembro, logo após o encerramento da Feira do Livro, recebi um telefonema do Instituto de Letras me comunicando que eu havia sido premiado com “Menção Honrosa” no concurso e que estava sendo convidado para uma solenidade de premiação no Palácio Piratini do Governo do Estado...Eu?...Não é trote?... Palácio Piratini? Que chique!...
Passado o eufórico estado de surpresa, veio a pergunta: qual texto foi o premiado? Não fiquei sabendo naquele momento. Minha mulher apostava que o prêmio tinha sido dado ao conto “Por um fio de Cabelo” e eu continuava convencido que o “Grenal Sem Fim” era o único que tinha potencial para que a Comissão Julgadora mordesse a minha isca. Com esta notícia pude abordar a minha atual professora de Leituras Orientadas II, Cinara Pavani, que era membro da Comissão Julgadora, para revelar-lhe as minhas atividades literárias e pedir-lhe o seu endereço eletrônico para inseri-la no rol de “possíveis leitores especiais” na divulgação das crônicas do meu blog.
Assim foi que, feito num baile de conto de fadas, penetrei fundo pelos imponderáveis ambientes de castelos medievais do Palácio Piratini, pelos pátios com vistas para a Catedral e para o Guaíba, até acessar ao mitológico Galpão Crioulo do Palácio, local tradicional dos festejos dos detentores do poder de cada momento histórico. Então, feito a Gata Borralheira, de repente eu estava inserido de igual para igual com os grandes escritores gaúchos que são ou foram membros da diretoria da AGES. Na mesa principal, como cicerones, o Governador e escritor Tarso Genro e o Secretário de Cultura e escritor Luiz de Assis Brasil e, entre os atuais diretores da entidade, a professora Jane Tutikian, patrona da Feira do Livro 2011, que fizeram seus discursos enquanto jantávamos peixe assado no espeto com espumantes e vinhos da safra gaúcha. O microfone ficou liberado ao público e nomes dos fundadores e destacados escritores e poetas sócios da AGES foram lembrados e homenageados, tais como Celso Pedro Luft, Ivette Brandalise, Ivo Bender, Kenny Braga, Laci Osório, Luiz Antônio de Assis Brasil, Luiz Coronel, Luiz de Miranda (primeiro presidente da Associação), Luiz Pilla Vares, Lya Luft, Mário Quintana, Moacyr Scliar e outros tantos, alguns presentes e outros já falecidos.
A bem da verdade, esta pompa cerimonial toda não se destinava exclusivamente ao concurso de contos da UFRGS/AGES, mas principalmente à premiação, com uma escultura de Lília Manfrói, dos Vencedores do tradicional “Prêmio AGES Livro do Ano”, em que é feita a eleição em várias modalidades pelos sócios da entidade. Por sorte nossa, os novatos que entramos de gaiato no navio, calhou de participarmos deste encontro especial, justamente quando a AGES estava comemorando seus 30 anos de existência, e todos os escritores e poetas presentes estavam animados com o fortalecimento e o prestígio denotados pelo atual Secretário Estadual da Cultura, que é do meio.
Recebi o meu diploma de Menção Honrosa das mãos da presidenta da AGES, Maria Eunice, e os cumprimentos do Luiz de Assis Brasil e do governador Tarso Genro na mesa do cerimonial. Saí deste ambiente encantado com a promessa de que as obras vencedoras vão ser publicadas em livro. Mais uma vez a intuição de leitora e revisora da minha mulher funcionou mais do que a minha, o conto premiado foi mesmo o “Por um fio de cabelo”. Mas antes que a minha carruagem voltasse a se transformar na abóbora real da minha rotina de poeta e cronista blogueiro e de mero aspirante ao status de escritor com livro publicado, saí pelas escadarias do palácio sonhando com a habilitação de poder vir a ser um membro da intelectualidade gaúcha, de vir a ser um sócio da AGES.
Espero que esta premiação sirva de respaldo qualitativo para que consigamos que o DMAE seja o patrocinador para a publicação do almejado livro de crônicas deste blog “Diário de Obras de um AposentaNdo”, assim como certamente vai servir de estímulo para que eu volte a escrever contos para um próximo blog... me aguardem!
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