Tropa de Elite 2: O Inimigo agora É Outro

O filme Tropa de Elite 2 inicia com o seguinte aviso na tela:  "Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção". Penso que com esta introdução, na verdade o filme pretende nos alertar que é o contrário, ou seja, que a nossa realidade é  que é uma obra de ficção cinematográfica.
No filme Tropa de Elite 2, o ator  Wagner Moura faz retornar às telas o Capitão Nascimento já com alguns cabelos grisalhos. Houve uma ascensão na sua carreira policial depois do filme anterior, ele agora é o  Coronel Comandante do BOPE. Nascimento começa o filme entrando em rota de colisão com as ligações perigosas que existem entre a segurança pública e a política. Por representar  um desgaste político para o governo na opinião pública devido a sua atuação num motim de presidiários o Comandante Nascimento cai do cargo do BOPE. Mas, devido ao seu prestígio junto às elites da sociedade, o Comandante “caiu pra cima”, para o cargo de Subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Estado  do Rio de Janeiro.
Em suas novas funções como Subsecretário, Nascimento faz o BOPE crescer e intensifica o combate ao tráfico de drogas, dando drásticas baixas ao crime organizado de forma a libertar algumas favelas do domínio do tráfico. Ao mesmo tempo, milícias formadas por policiais aproveitam o vácuo de poder deixado pelos traficantes e assumem a exploração econômica e política das favelas.
           Nascimento custa a entender que agora os seus inimigos são outros, bem mais perigosos: policiais e políticos corruptos, com interesses eleitoreiros. Só então descobre que o buraco é mais em cima.
          A partir deste ponto é que a ficção do cinema nos faz ver a relação que existe entre segurança pública e financiamento de campanha, nos faz ver o que os políticos já perceberam. É o óbvio: quem manipular estas novas “lideranças” das comunidades de favelas dominadas por milícias ganhará verdadeiros currais eleitorais.

É FACA NA CAVEIRA!
           Talvez sejam apenas meras coincidências com a ficção do filme, mas a realidade é que o Governador Sérgio Cabral Filho (PDMB) foi reeleito pelo Estado do Rio de Janeiro em 2010; também é fato que existem influentes apresentadores de programas tragicômicos de crônicas policiais, ao estilo do famoso Datena da TV Bandeirantes. Bem como os novos “chefões de milícias”, este tipo paramilitar que vende segurança por intimidação, é o que mais prolifera na realidade brasileira (inclusive em Porto Alegre). É fato da nossa realidade brasileira também a prática mostrada no filme de queima de corpos como arquivos vivos (feito o caso real do repórter Tim Lopes em 2002 no RJ).
          Qualquer semelhança com a ficção é mera coincidência, nossa realidade é bem pior que uma tropa de elite: pega geral!

          Como diz o próprio Nascimento, “o sistema é foda, vai sempre se adaptando e produzindo novos personagens para ganhar a CPMF (Comissão pra Policial Militar Filhodaputa)”. O sistema não teme nem respeita ninguém, só vacila diante da imprensa midiática, mas esta acaba sendo amordaçada economicamente pela força e violência do esquema da corrupção institucionalizada.

Tropa de Elite 2 termina sem aspirantes para serem os substitutos da ética anti-corrupção (ainda que meio fascista) do Coronel Nascimento no BOPE, já que os seus escolhidos (Neto e Matias) morreram e o herói do filme acaba expulso da corporação e declarando com pesar na tribuna: O BOPE tem que acabar!


O alento ficcional que o Tropa de Elite 2 nos deixa é que o protagonista do filme, por força das circunstâncias da trama, acaba  se aliando a um professor de história que foi eleito deputado justamente pela fama adquirida pelo seu combate ao BOPE. Juntos, um ex-policial e um homem dos direitos humanos, através de uma CPI na Câmara dos Deputados, conseguem colocar na prisão vários corruptos...Isto na ficção, pois a nossa realidade é cinematograficamente anti-hollywoodiana, não costuma apresentar um final feliz para o politicamente correto.

Em tempo:
            Fico imaginando que no roteiro do Tropa de Elite 3 só restará ao velho Nascimento voltar como um senador da república, talvez na vaga deixada pelo falecido Romeu Tuma (ex-diretor do DOPS e da Polícia Federal), para nos revelar quem está por trás do sistema. Quem sabe o ex-policial venha por cima e botando a boca no trombone, denunciando quem são e como operam os poderosos que bancam os bilionários tráficos internacionais de drogas e armas no Brasil? Quem sabe o diretor José Padilha consiga bater o seu terceiro “recorde nacional de público ” com a série Tropa de Elite, nos revelando quem são os magnatas capitalistas que fazem parecer ficção cinematográfica a nossa realidade e tornam meros atores coadjuvantes os políticos e os policiais, e reduzem à figurantes as milícias e os traficantes com seus exércitos de favelados? Que sabe o ex-Coronel Nascimento retorne no planalto para nos mostrar que lá descobriu que o buraco é mais em cima ainda?...

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