A MADRINHA DA DVM

           Hoje, dia seis de outubro, ninguém no meu local de trabalho lembrou que era a data de aniversário de fundação da DVM, data em que a Divisão de Manutenção completa 43 anos de existência. Até mesmo a Eng.ª Catarina, única remanescente dos fundadores, que sempre promove algum tipo de celebração para esta data, esqueceu desta vez e, quando lembrada por mim, acrescentou:
-Não temos nada o que comemorar, estão destruindo com a Divisão!
          A data era conhecida de todos, até poucos anos atrás, por que a senha de acesso ao antigo sistema de manutenção MAN era 061067 (do tempo que era uma senha única para todos os usuários!), senha alusiva à data de inauguração da Divisão de Manutenção.
         Portanto, neste mês de outubro estou comemorando o meu último aniversário da DVM na ativa.
Em termos organizacionais, avalio que há três momentos distintos marcantes a serem destacados nesta longa história desde a EME, antiga sigla da Manutenção (Engenharia-Manut.), até a atual DVM. O primeiro grande momento foi já na fundação estrutural e operacional, com a visão progressista de gestor público do mentor da Divisão, o Engº Lourenço Melchiona. O “Cacique”, como era conhecido, contratou um serviço de consultoria para desenvolver os Planos de Manutenções Preventivas dos equipamentos eletromecânicos das estações de tratamento e bombeamento do DMAE, bem como o organograma funcional dividido entre equipes de Manutenção Corretivas e Preventivas.
Já neste período de implantação e consolidação do serviço de manutenção de equipamentos operacionais do Dmae, na década de 60, se destacou  o trabalho de uma jovem engenheira elétrica. Pioneira, enquanto mulher numa área até então exclusivamente masculina, a Engª Catarina se destacou por ser literalmente muito elétrica em suas atividades (como é até hoje), e também por sua simpatia e empatia com o pessoal das turmas das oficinas e das equipes de rua, tanto que passou a ser tratada carinhosamente por todos como “A Madrinha”.

          Na sequência de sua carreira profssional, naturalmente ela se tornou a primeira e única mulher até hoje a ser diretora da Divsão de Manutenção do DMAE, conquistando assim com seus méritos o direito de posar na foto dos ex-diretores por ocasião da festa dos 30 anos da DVM em 1997.
O segundo grande momento foi na década de 80, com o boom da informatização, quando todos os procedimentos que já se praticavam manualmente, como emissão de Ordens de Serviços e Relatórios Gerenciais, foram transpostos para o sistema MAN, desenvolvido e aprimorado continuamente pela PROCEMPA na plataforma “DOS”. A  Madrinha foi a grande condutora do enorme “trabalho formiguinha” que se fez necessário para digitar todas as características técnicas de todos os equipamentos na nova ferramenta que passou a ser o tal de computador, através do uso do programa MAN. 
           O terceiro grande momento da DVM foi na década de 90, quando se visou modernizar o programa que estava operando numa plataforma tornada obsoleta, sendo feitas diversas buscas no mercado de softwares especializados em manutenção de equipamentos, mas que nenhum se igualava ao velho MAN. Acabou que o colega técnico industrial (e micreiro nas horas vagas), Eduardo Mattos, foi desenvolvendo o sistema SIGES, como uma réplica das funções do antigo MAN, mas em linguagens atualizadas para a moderna plataforma operacional do Windows.
           Também nesta transição a atuação da Madrinha da DVM foi fundamental, tanto na concepção funcional quanto na nova migração dos dados, agora do sistema MAN para o SIGES. Ela é quem gerenciava a confiabilidade dos dados e concebia os relatórios que o novo sistema devia emitir.

Com o passar do tempo o SIGES foi ampliando suas fronteiras em interfaces com as outras Divisões e se consagrou como um sistema institucional do DMAE, em que pese a dolorosa perda do poder pátrio do seu autor sobre a sua criação (que se deu no seco, por desapropriação unilateral  do  direito de autoria, sem vaselina).
Assim, a partir do final de década de 90, o MAN passou a “sobreviver” somente no computador da Engª Catarina, mantido em cativeiro como um dinossauro sobrevivente da avalanche provocada pela entrada no mercado do novo sistema operacional Windows. O MAN vive, mas em estado de coma, sendo alimentado seletivamente em conta-gotas unicamente pela mãos de sua tutora, com uma dieta de dados mínima para manter os seus sinais vitais de fóssil pré-histórico vivo, por manter informações que não migraram para o SIGES.
            A Catarina nos faz lembrar que nos tempos antigos a DVM já tinha som ambiental nas salas, bem como serviço de auto-falantes para aviso nos pavilhões e no pátio; e foi também a primeira divisão do DMAE a adotar, por iniciativa própria, o uso de uniformes e EPIs, inclusive capacetes.

Mesmos antes da Era da Informática, a DVM já mantinha um cadastro dos equipamentos de cada estação do DMAE, com anotações de seus respectivos históricos de manutenções corretivas e preventivas realizadas, através de anotações feitas nas fichas dos respectivos equipamentos instalados, fichas estas que ficavam arquivadas em pastas individualizadas de cada estação do DMAE. Estas pastas constituíam, portanto, o grande banco de dados dos equipamentos operacionais da era pré-informatização, as quais sempre foram fruto da dedicação pertinaz da Eng.ª Catarina. Até hoje “as pastinhas da Catarina”, como são conhecidas, continuam sendo atualizadas por ela como uma espécie de backup, para o caso da necessidade de acessar informações mediante falta de energia elétrica para acionar os computadores, pastas  que também funcionam como uma espécie de laptop para serem levadas inloco nos trabalhos de campo.
Para que pudesse haver todo este controle gerencial, desde sempre ficou a cargo da própria DVM fazer a colagem das placas de numeração patrimonial dos equipamentos operacionais, conforme vão sendo adquiridos pelo DMAE. Cadastro este que serve de base inclusive  para fins  contábeis de incorporação ao patrimônio do Departamento, fornecendo dados cadastrais para o Serviço Patrimonial (SVP), uma vez que há mais de cinco mil equipamentos operacionais entre motores, bombas, transformadores, etc. Também este monitoramento para patrimonização e cadastro no SIGES dos novos equipamentos desde sempre tem contado  com a dedicação concentrada da Madrinha da DVM, e com sua capacidade de mobilização do pessoal e, não raras vezes,   através de suas ásperas cobranças sem perder a ternura.

            Na última década a Madrinha da DVM assumiu  o gerenciamento de todas as contas de energia elétrica do DMAE, que totalizam cerca de R$ 24 milhões/ano e se  constitui num dos maiores gastos financeiros do Departamento. Este monitoramento visando a minimização de custos com energia elétrica em cada unidade operacional ou administrativa do DMAE, resultou num trabalho reconhecido e que  tem servido de modelo para os outros  órgãos da Prefeitura.
              Eu trabalho com a Madrinha desde 1978, praticamente por cerca de trinta anos, descontado um breve período que me afastei da DVM. Quando eu ainda era estudante de engenharia, era ela quem fazia as traduções, do inglês para o português, dos meus polígrafos técnicos sobre mineralogia. Nos últimos doze anos temos trabalhado direto na mesma sala, chegamos a dividir por alguns anos o mesmo computador. 
            Sua hiperatividade  é tamanha que parece que tomou ritalina na mamadeira a infância toda, tal a capacidade que tem de se concentrar e, ao mesmo tempo, se envolver em todos os assuntos captados  por seu raio auditivo, o qual é de abrangência parabólica. Talvez a nossa melhor obra conjunta, tocada a quatro mãos, tenha sido a elaboração de vários volumes de Instruções de Manutenções Preventivas para os novos tipos de equipamentos adquiridos pelo DMAE.
                               
           Brigávamos muito, a Catarina e eu, por sermos os dois de temperamentos fortes e de pavio curto; mas sempre prevaleceu a minha graditão, admiração e carinho por tudo o que ela representa na vida de todos nós, membros das várias gerações da grande família que compõem a história da DVM.
           Contudo, talvez o que mais me faça falta quando eu estiver aposentado, vão ser as frutinhas (maçãs e peras) que a Madrinha traz de casa e reparte igualmente entre os seu afilhados mais próximos todas as manhãs pontualmente às 9h30min...
- Valeu Catarina Reina Cánovas, com sua bença Madrinha!

Um comentário:

  1. O buja fala! e difícil achar palavras p/ definir Catarina Reinas Cánovas eu que o diga (Madrinha um beijo no teu coração) Paulo bugio.

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