AEAPOPPA: RELATO DE UMA ELEIÇÃO

            No começo de outubro fomos convocados, em caráter emergencial,  para uma Assembléia Geral da AEAPOPPA (Assoc. dos Empregados Autárquicos e Pessoal de Obras da Prefeitura de Porto Alegre), onde se instalou o maior quebra-pau entre o tesoureiro da entidade, que tinha tomado a iniciativa de convocar a assembléia,  e o presidente da entidade, que compareceu acompanhado de uma advogada para melar o encontro. Depois de meia hora de muita gritaria, impropérios e empurra-empurra, após várias tentativas de reinício da reunião, finalmente chegou-se a um acordo: aquilo não seria mais uma assembléia e sim um “encontro de sócios da entidade que se reuniram, sem poder de deliberação, para se informarem do que estava acontecendo na associação”.

           Foi só então que recebemos no “Auditório Tatuzão”  três notícias: a notícia ruim, a boa e a péssima. A ruim é que o presidente havia feito um empréstimo pessoal, usando o nome da associação, e que por não pagamento foi protestado e levou ao congelamento das contas bancárias da entidade por determinação da justiça, impossibilitando até o repasse para a UNIMED! A boa é que o cara já tinha quitado o débito (que estaria em torno de R$ 80.000,00) e que já se havia normalizado  os repasses para o convênio com o plano de saúde. E a péssima, é que já estava extinto o mandato da atual diretoria da AEAPOPPA desde junho, portanto há mais de três meses, o que caracterizaria uma vacância e uma falta de legitimidade da atual diretoria,  de tal forma que o sistema bancário estava se negando a operar com os atuais detentores dos cargos diretivos. Assim, novamente os repasses das contribuições para a UNIMED estavam ameaçados, e continuariam na corda bamba até que se realizassem novas eleições para a diretoria da associação, e até que se tenha uma radiografia da real situação financeira da entidade (não se descartando a possibilidade de serem encontrados outros “rombos”).

          Sei que no final da tal assembléia que, aos gritos e empurrões, virou um encontro de colegas, eu estava novamente metido numa comissão de articulação de um processo eleitoral de uma associação, depois de conseguir ficar por muitos anos com abstinência desta cachaça política, eu que fui completamente viciado nisso!
          Mas esta minha dependência química era uma coisa de outra época, tempo em que havia um idealismo romântico na militância comunitária, sindical ou partidária, uma vaga ilusão de que a consciência de classe marxista faria a diferença no sentido de que um mundo melhor seria possível...
         Na década de 80, com a visão de unificação combativa da classe trabalhadora, fui um dos que orquestraram a fusão de duas associações que congregavam os servidores do DMAE: a ASDMAE (da qual eu participava do grupo diretivo) & AEAPOPPA. Todavia prevaleceram os interesses corporativos dos dirigentes da AEAPOPPA que se perpetuaram.
         No início da década de 2000, já como um mero associado, migrei do quadro social da ASDMAE para o da AEAPOPPA, juntamente com um grupo de colegas que tinham plano empresarial de saúde da UNIMED, os quais se mobilizaram para realizar esta migração, tendo em vista que o convênio ficara ameaçado pelos descontroles administrativos das novas diretorias daquela entidade.
Agora, no início da década 2010, os descalabros gerenciais atingiram também a diretoria da AEAPOPPA, e novamente o grupo de servidores que possui o plano de saúde da UNIMED teve que se mobilizar para garantir a continuidade do convênio empresarial com desconto em folha de pagamento para a associação que repassa a verba.
            Durante as semanas seguintes realizamos reuniões semanais da comissão, meio que andando em círculos, sem termos os meios legais estatutários para desencadearmos o processo eleitoral na AEAPOPPA, e com tendência de parte do grupo para acionar o Ministério Público visando uma intervenção na entidade. Em vista da urgência da situação que deixava a associação praticamente à deriva, avaliei que esta via poderia ser muito demorada e tomei a iniciativa de chamar o atual presidente para uma conversa reservada, com o intuito de que ele próprio estabelecesse o processo eleitoral de acordo com um calendário que a comissão decidisse... Em troca acenei com uma vaga possibilidade de saída honrosa para ele deste beco sem saída em que os corruptos mal sucedidos se metem...

Total, depois de estar dentro de um barco que está  afundando, só resta remar numa desesperada tentativa de alcançarmos terra firme antes do naufrágio se consumar. O pior é que, depois de tocado o alarme  de que está entrando  água nos porões do navio, muitos se agarram na primeira bóia que alcançam e correm pra salvar sua pele o quanto antes. É o que passou a acontecer, uma vez perdida a credibilidade na gestão da associação responsável pelo convênio, muitos associados imediatamente buscaram outra entidade com maior confiabilidade e iniciaram as tratativas burocráticas para promover a migração dos seus respectivos planos de saúde. Com isso, por medo de riscos futuros, estes colegas estavam jogando ao mar vantagens que este nosso plano tem, especialmente devido à sua antiguidade, vantagens pela quais avaliei que valia a pena remar contra o naufrágio antes de abandonar o navio. Ainda assim, mesmo que se consiga realizar a travessia desta tempestade e  estabilizar o rumo da AEAPOPPA, os danos morais de credibilidade na associação já estão feitos; só restava apostarmos num processo eleitoral que resultasse numa composição de chapa que resgate a confiabilidade perdida.
Fomos estão para uma segunda Assembléia Geral, convocada pelo presidente da AEAPOPPA, para nomeação da Comissão Eleitoral e aprovação do calendário do processo de eleição da nova diretoria da entidade; desta vez sem tumultos.
           A nossa capacidade de mobilização de pessoal, tanto para a assembléia quanto para compor os cargos da nominata de uma chapa para concorrer, continuava muito fraca. Nas reuniões seguintes da comissão, conforme íamos percebendo que não adiantava esperar que novos nomes caíssem milagrosamente de pára-quedas do céu para compor a chapa, muito a contra-gosto começamos a disponibilizar nossos nomes, mas inicialmente lá na retaguarda, na suplência do Conselho Fiscal...Depois, antes que me visse forçado a me comprometer mais ainda, avancei colocando o meu nome a disposição para o cargo de secretário. Assim, aos poucos, fomos saindo da retaguarda e assumindo posições na chapa, na medida que passamos a constituir um grupo interessante, potencialmente forte, posto que bastante plural em suas concepções e experiências de mundo, mas com uma unidade na luta: Salvar a AEAPOPPA!
Visto que  já havia se inscrito a Chapa 1, homologamos a nossa como Chapa 2 na disputa eleitoral, com cerca de duas semanas de campanha pela frente. Partimos de imediato para a elaboração de nossas estratégias logísticas, tais como elaboração de panfletos e de camisetas; bem como de mobilizarmos via  emails e telefonemas a nossa principal base de apoio que são os sócios que têm o convênio da UNIMED. Todavia, conscientes de que a associação é bem maior do que este universo restrito, que há vários outros convênios (com lojas, supermercados e farmácias) que  são utilizados por grande parte da base social da AEAPOPPA, base esta que a chapa oponente se reivindicava única representante, também partimos para uma campanha corpo-a-corpo em todas as Divisões do DMAE.
             Foi como reviver os velhos tempos, entrar em sala por sala, pátio por pátio, descobrindo novos recantos e relembrando tantos outros nunca mais visitados...Confesso que foi uma bela revelação  o candidato a presidente da minha chapa, que encontrou o espaço aberto para soltar o seu talento de conversar convincentemente com as pessoas, de forma a fazê-las acreditar que uma solução seria possível. Eu até comentei com o Antônio da Motta, que ele me fazia lembrar o tempo que eu andava assessorando o Olívio Dutra na campanha nos idos de 1982, em que eu tinha que puxar o candidato pelo braço para podermos cumprir a agenda que tínhamos  pela frente...

       No final, a nossa chapa denominada Chapa Renovação, paradoxalmente composta em sua maioria por homens de cabelos brancos e mulheres experientes, chegou fortalecida na eleição realizada no dia 26/Nov/2010 e acreditando na vitória. Claro que restou algum medinho de que começasse a chegar caminhões com levas de operários, com a cabeça feita para votarem em defesa dos convênios, já que a grande plataforma da Chapa 1 foi difundir o susto inverídico de que íamos acabar com os convênios.

             Transcorrido o dia da votação, num chove-não-molha que ia do nebuloso ao sol aberto, dia feito de contatos para fazermos com que os eleitores se deslocassem até a urna na sede da associação (onde pela primeira vez na sua história se fez fila de votantes), ao final da tarde chegou o grande momento da verdade, o da apuração dos votos.
               Com um público recorde que atingiu a participação de 35%! dos associados, o escrutínio dos 225 votos depositados na urna consagrou 46 votos para a Chapa 1 (20%) e...
 179 votos para a Chapa 2 - Renovação (80%), nos dando uma avassaladora VITÓRIA!!!!!!!!...

            Contudo, passadas as comemorações pela conquista desta vitória democrática, num processo que acabou por fortalecer a própria associação, pois conseguiu despertar seu corpo social do torpor alienante da inércia, principalmente por ter havido duas chapas e uma disputa construtiva entre elas (Com as nossas congratulações aos colegas da Chapa 1!), é hora do mais difícil: de arregaçarmos as mangas para mudarmos a realidade!

           Assim, cerca de  dois meses após aquele dia em que fui ingenuamente participar de uma Assembléia que virou reunião de colegas, estou comprometido com um mandato de quatro anos como secretário de uma diretoria de uma entidade de classe, isto às vésperas da minha aposentadoria...Eu que pensei que ia sair ileso, livre e solto...

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