POEMA À ALTA HOSPITALAR DO MATTOS

      Hoje um colega que trabalha na Ferramentaria da Manutenção me surpreendeu ao me enviar um poema de sua autoria para que eu “arredondasse” os versos. Acontece que lá por meados de novembro do ano passado, quando a primavera já prenunciava o inferno de quente que seria o verão que se avizinhava, como uma rajada de vento forte chegou a notícia de que um outro colega, o Eduardo Mattos, tinha sofrido baixa hospitalar com dores agudas diagnosticadas como pancreatite. Desde então vinha sendo uma apreensão coletiva no pessoal da manutenção os ciclos de altos e baixos de seu estado de saúde, com a romaria de visitas e telefonemas para o hospital. O quadro clínico dele exigia que ficasse permanentemente sem alimentação sólida, vivendo somente de soro, acompanhado de longe por nós sempre na expectativa de que a cada nova semana ele voltasse a se alimentar, como um sintoma indicativo de que logo voltaria para casa e para o convívio do ambiente de trabalho. Assim foi se tornando angustiante e apreensivo para todos nós esta espera, quanto mais o tempo passava. Enquanto uns saiam de férias e voltavam, e os outros saiam de férias neste verão e voltavam, a notícia era sempre a mesma: o Mattos continua hospitalizado!...
     Neste período de quatro longos meses valeu de tudo, rezas e mantras (inclusive eu e a minha mulher inscrevemos o nome dele pedindo aos budas força para a sua cura, num ritual no templo budista de Viamão) na torcida pela melhora do Mattos e, agora, vale muito a poesia do colega Ciro, quando o quadro clínico dele finalmente melhorou possibilitando o seu retorno para casa e o re-estabelecimento gradativo da alimentação sólida:

Levantando Acampamento

Sou de outras plagas, de outro galpão
Não nasci para repousar nestes lençóis frios
Possuo habilidades para trabalhar na manutenção
A informática e as planilhas de números são os meus brios
Corre em mim sangue com glóbulos vermelhos e brancos
Que não se acha vertendo em qualquer barranco.

Briguei com temperatura alta deste verão
Suei e sofri, mas não me abateu o cansaço
Sou bom de laço, não me entrego para qualquer inchaço
Permiti a fincada das agulhas
Muitas vezes deixando fagulhas
Sentia um aperto no coração, mas sabia de ante mão
Que precisaria provar mais esta façanha na hospitalização
Sentia sede de água, fazia-me lembrar da água do Dmae
E o peito sentia saudades do pessoal da Manutenção
Será que eles imaginavam o que se passava com este guapo vivente
Deitado no leito e imaginando um retorno brevemente?

Passaram-se cento e vinte dias de gotejamentos sofridos
Até lágrimas às vezes este gaudério na solidão
Fabricou e despejou no leito do Mãe de Deus,
Sob os olhares de São Jorge, num desafio para este incrédulo cristão.
Agarrei-me no cavalo deste Santo, galopei por vários estábulos
Ultrapassei vários trajetos com solos dos mais diferentes obstáculos
Porém em momento algum esmoreci mesmo na noite densa
Pensando sempre que logo ali estaria a minha recompensa.

Fui bravo, fui guerreiro, fui humilde e fui triunfante.
Hoje saio com esta lição de vida de ser tolerante
Uma recompensa que muitos não conseguem alcançar
Agora darei novamente meus primeiros passos
Sabendo que ainda sou Eduardo Câmara de Mattos.

Autor: Ciro Renato Matter da Silva

      De minha parte, definitivamente eu odeio visitas hospitalares, velórios e enterros. Tanto que, quando estive hospitalizado há cerca de dois anos atrás, deixei determinado que não queria visitas dos colegas. Assim, como não fui visitá-lo no hospital, perdi a chance de ver o Mattos esbelto devido à enorme perda de peso resultante do longo jejum alimentar. Mas continuo usando como um talismã energético o chaveirinho que ele me trouxe de Fortaleza no verão de 2009, e tenho um chaveiro semelhante de cabeça de cangaceiro, apenas que de Alagoas, que eu trouxe das férias para presenteá-lo, com a mensagem subentendida de que realize o seu manifestado desejo de fazer a sua próxima viagem de férias a Maceió.

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