TRABALHADORES AMPARADOS NA AMPA


No Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, em décadas passadas era dia de muitas manifestações e agitados protestos dos trabalhadores por todo o Brasil. Mas as lutas por direitos trabalhistas continuam,  haja visto que a categoria profissional das empregadas doméstica só agora em 2013, conquistou o direito de regulamentação da sua jornada de trabalho em 44 horas semanais, sendo o restante considerado legalmente como horas extras, e não mais como trabalho escravo.
A propósito, registramos aqui no blog que as manchetes dos jornais no final de 2009 anunciavam “sensacionalmente” que uma Comissão Especial na Câmara dos Deputados havia aprovado a PEC da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem diminuição dos salários. Porém, constato hoje que a tal emenda constitucional (PEC 231/95), continua há 18 anos tramitando, sendo que ainda tem de ser aprovada em dois turnos na Câmara e depois apreciada pelo Senado. Mas até hoje a redução da jornada de trabalho sequer entrou na pauta de votação em nenhuma das duas casas legislativas. Pelo jeito vai demorar muito ainda até  se tornar uma realidade, coisa que a AMPA já conquistou na Prefeitura de Porto Alegre faz muito tempo...
Explico, especialmente aos jovens municipários que sequer ouviram falar da AMPA, o porquê desta minha reminiscência  dos feitos dos meus tempos de “militante agitador de massas” na Associação dos Municipários de Porto Alegre (AMPA).  Relembro que por dois anos a entidade teve existência de fato antes de obter o seu registro legal. Se consolidou na luta, promovendo combativas e inovadoras formas de mobilização dos servidores municipais portoalegrenses, isso sob uma ditadura em que o servidor público não podia nem chiar! Promoveu um impactante “movimento tartaruga” histórico, seguido de grandiosas assembléias no auditório do Colégio Rosário e estridentes atos públicos aos gritos de “Dib: sacana, devolve a nossa grana!” no Paço Municipal. Era o governo do prefeito João Dib (o último dos moicanos nomeados pelo regime do golpe militar), quando em outubro de 1985 foi legalmente fundada a nossa entidade pré-sindical AMPA, no auditório da Câmara de Vereadores que ficava ainda no Edifício José Montauri (na Prefeitura Velha).
Na diretoria provisória da AMPA, eleita nesta ocasião para organizar o quadro social e realizar eleições diretas, eu era o segundo vice-presidente. Acontece que dois meses depois da fundação, o Rigoti, que era militante do PMDB, se demitiu do cargo de presidente da AMPA, ao ser nomeado para um cargo em comissão com a vitória do Pedro Simon para o Governo do Estado. Três meses depois, era a vez do segundo vice-presidente, José Cláudio Penteado, que recém havia assumido a presidência, apresentar a sua demissão por ter sido nomeado para uma diretoria da Fazenda Municipal do Governo do Alceu Collares, o primeiro Prefeito eleito diretamente que estava assumindo.
Foi assim que, voltando das férias alegre e faceiro com as águas de março de 1986, tive que segurar aquele rabo de foguete: assumir a presidência da AMPA, para não deixar a peteca cair. Neste mesmo mês a categoria entrou numa  campanha salarial histórica para a unidade sindical dos municipários. Em abril foi editada a “Carta de Abril” onde, pela primeira vez, todas as entidades reconheceram a AMPA como a legítima representante da classe municipária. Até então cada associação puxava para o seu lado e as administrações fomentavam a divisão para governar. Depois de dois dias de paralisação massiva diante do Paço Municipal e de realizar um Ato-Show “Vamos Botar a Boca no Mundo” na Esquina Democrática, com a pressão dos servidores foi constituída uma “Comissão Paritária”, entre a AMPA  (com o Tibério Bagnati, Avelino Rodrigues, Edson Zomar e eu) e a Administração com a participação da Dilma Linhares (que na época não era ainda Dilma Rousseff e era do PDT) e todo o primeiro escalão do governo, para discutir uma pauta de reivindicação de 11 itens, os quais foram total ou parcialmente atendidos.
 É lógico que, como sempre, o reajuste salarial foi insatisfatório!  Mas cabe destacar, e aqui entra o porque as manchetes dos jornais sobre a jornada de trabalho das empregadas domésticas me evocaram, o que eu sempre computei como a maior conquista do nosso movimento sindical até hoje, que  foi  a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas dos operários e celetistas da Prefeitura! (Além de conquistarmos o início do fornecimento do Vale Transporte para os funcionários de todas as secretarias e departamentos).
          Em setembro/1986, com a AMPA politicamente reconhecida e sua representatividade consolidada junto à categoria, estruturalmente organizada com sede alugada e com desconto em folha dos seus associados, foi promovida a eleição direta da nova diretoria que foi empossada com a missão de transformar a AMPA no Sindicato dos Municipários – SIMPA, assim que a legislação da ditadura em processo de abertura  permitisse. Costa que fomos a primeira categoria de funcionários públicos a constituir legalmente sindicato no país, graças às atividades da AMPA que tinha nos deixado preparados, inclusive para a seqüência de duas greves, já como SIMPA, que casualmente tiveram a duração de 21 dias nos anos seguintes.
          Ninguém se lembra mais, mas antigamente trabalhávamos todos  44 horas semanais na PMPA, fazíamos 45 minutos a mais por dia, até as 18:15 horas, para não trabalharmos nas manhãs dos sábados. Esta realidade mudou para os servidores estáveis do quadro por volta de 1982, mas permaneceu para os servidores  celetistas, que naquela época eram em grande quantidade.  O que ainda hoje nos dá a dimensão da grandeza daquela conquista dos municipários lá em 1986,  é que  27 anos depois, mesmo com a democratização e após a Era FHC e, em plena Era Lula/Dilma, os trabalhadores regidos pela CLT no Brasil ainda continuam hasteando a bandeira de luta de redução da carga horária de 44 para 40 horas semanais.
           Fica aqui a minha homenagem aos bravos companheiros daqueles duros e saudosos tempos de lutas, especialmente aos colegas que compunham a Diretoria Provisória da AMPA: Ana Lúcia D´Angelo da SMED (que posteriormente realizou a transformação da AMPA em sindicato, sendo a última presidente da associação e a primeira presidente do SIMPA em 1989), a Etel Gutterres da “SMEC” (cuja casa  funcionou por muitos anos como a sede da entidade e que, posteriormente, veio a ser a mãe das minhas filhas), a Carmem Dreyer do DEMHAB, o Padilha da SMOV, o Grego Vassili da SMF, o Beltrão do DEMHAB e o Avelino Rodrigues da SMSSS, entre outros menos alinhados mas igualmente importantes construtores do movimento com autonomia política, por reunir simpatizantes de todos os partidos.

-Valeu Velha Guarda da AMPA!








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