DOIS ANOS SEM CARTÃO PONTO


            Em maio/2013 completei dois anos de alforria do tirânico relógio-ponto, quando adquiri de fato o direito à liberdade plena ao entrar em Licença Aguardando Aposentadoria (LAA),  embora somente em outubro/2011 tenha sido publicado legalmente o meu ato de aposentadoria integral e com paridade.
De lá pra cá tenho feito muitas reminiscências de episódios e personagens pitorescos, bem como de temas e aflições da categoria municipária que tenho compartilhado com os leitores deste “Diário de Um AposentaNdo”. É muito difícil que exista outro aposentado que frequente tanto o seu ex-local de trabalho quanto eu. Mas não vou lá só para torturar os cativos do cartão-ponto com a minha exuberante liberdade. A minha presença é tão assídua na frente do DMAE, que acontece pelo menos duas vezes por dia, que só falta eu bater ponto no quarteirão entre a Divisão de Água (DVA) e a Divisão de Manutenção (DVM). Rotina esta que terá continuidade por mais um ano, até que a minha mulher também se aposente. Até lá, quando então perderei o contato cotidiano com o mundo dmaeano, vocês terão que me engolir desenvolvendo o tema dos “aposentaNdos” do DMAE aqui no blog.
Mas o mundo global gira muito rápido, e a gente que está dentro dele nem percebe. As coisas vão mudando tanto, que aos poucos vamos perdendo a identidade vital que tínhamos com elas: já nem se bate mais o relógio-ponto que é agora é com impressão digital, e já nem existe mais a DVA nem a DVM (Divisão de Manutenção) que agora é GMAN. Quando me aposentei, há apenas dois anos atrás, ter a progressão letra D (de Dinossauro) era o topo da carreira; hoje já tem as letras E & F (sabe-se lá de que bicho). Por isso, seguidamente anoto algum tema que está rolando entre os servidores municipais atualmente, como suas lutas e movimentos, pensando em desenvolver o assunto aqui no blog, mas acabo sempre fazendo reminiscências de eventos correlatos ocorridos no passado, quando os vivi no ardor da batalha ou no tédio da rotina.
 A questão da Reestruturação do DMAE, por exemplo, que eu postei aqui em meados de 2010 como sendo um “Frankenstein Espetacular”, quando era ainda apenas um projeto visto com antipatia pelos servidores. A então audaciosa Reestruturação do DMAE pretendia a redução dos 9 níveis existentes de hierarquia de chefias para apenas 5, isto através da extinção de cerca de 40% das funções gratificadas (FG´s), bem como dos EQADs (Equipes Administrativas), entre outras coisas, como desmembrar  todos os processos funcionais numa reengenharia para remontar um novo organograma operacional vinculante do gerenciamento conjunto de água e esgoto no Departamento.
Chamei de “Frankenstein Espetacular” por que vivemos na sociedade do espetáculo, onde só interessa o que vira show. A política é um espetáculo tanto quanto o futebol, sendo que em ambos é criada uma partidarização simulada para atrair o público como sendo desse ou daquele time ou partido. Mas os profissionais dos referidos espetáculos (jogadores e políticos) não são permanentemente de nenhum time ou partido.
Como mágicos, tirando coelhos da cartola, no meio do show ilusionista  pegaram a reivindicação dos servidores de “Essencialidade 110% Já!” e misturaram com uma Gratificação por Desempenho de Atividades Essenciais – GDAE –  passando de contrabando a aprovação da desengonçada reestruturação, como uma criatura inventada para fazer o DMAE andar melhor do que a velha e arcaica estrutura que vinha funcionando há décadas.
Hoje, assisto do privilegiado camarote dos aposentados, esta nova estrutura que recebeu o sopro de vida e começou a botar os pés pelas mãos, ao sair do papel e dos gabinetes para cair nas valetas do dia-a-dia de quem realmente faz a água potável rolar nos canos e lida com o fétido esgoto cloacal da cidade. Ouço vozes ao longe de resistência, ouço  murmúrios, queixas e até elogios pelo fato da nova estrutura ter ressuscitado a figura da Unidades Distritais (UOD).
Mas os que eram Superintendentes viraram Diretores, os que eram Diretores viraram Gerentes, os que eram chefes de seções (gerentes?) viraram Coordenadores, os que eram chefes de setores (coordenadores?) viraram Equipes, e os que eram efetivamente chefes de equipes...viraram abóbora?...
Tomara que o Frankenstein funcione, espero que a Reestruturação faça um belo espetáculo por uma longa temporada, posto que pelo meu direito de “aposentadoria com paridade” também dependerei das conquistas do pessoal da ativa e sofrerei suas perdas.
Outro exemplo é a própria GDAE (Gratificação por Desempenho de Atividades Essenciais), comemorada como uma conquista importante na brecha aberta pela GAM (Gratificação de Alcance de Metas) concedida  aos Capacetes Brancos (engenheiros e arquitetos) meses antes. No final, ambas gratificações serviram de moeda de troca, não houve nem o reconhecimento da “essencialidade” nem o reconhecimento da responsabilidade técnica (VRT) reivindicados pelos respectivos segmentos dos servidores dmaeanos.
O valor da GDAE de 32% do vencimento básico inicial do cargo como parte fixa +   68% como parte variável a título de desempenho e produtividade, que em 2012 atingiu apenas 9,8% da meta e correspondeu ao incremento salarial de 6,67% no salário básico do cargo, é uma questão controversa: não correspondeu às expectativas dos funcionários que lutaram por esta conquista? No exílio do inativo, de quem não está mais confinado no burburinho do horário de expediente, ficam cada vez mais distantes tais problemáticas funcionais, e vai se tornando complicado emitir opinião e avaliar.  O fato é que se não rendeu os 110% reivindicado como essencialidade, pelo menos já deu um lucro no bolso de 38% sobre o básico. Por outro lado, este lucro está represando a aposentadoria de muita gente, pois para incorporar a GDAE na aposentadoria ela tem que ser recebida por dois anos consecutivos no exercício do cargo. Em 2014 deverá haver uma debandada de novos aposentados com a GDAE incorporada, e no meio do bando levantando voo rumo ao Previmpa estará inclusive a minha mulher, finalmente!
          Assim, tenho recebido emails e visto faixas com reivindicações específicas de classes de servidores, as quais já não compreendo o contexto em que se manifestam e se articulam enquanto movimentos sindicais:
- Operários: Padrão 4 JÁ!
- Operador de Subestação: Padrão 6 JÁ!
-Assistentes Administrativos: Padrão 8 JÁ!
        Penso que está se criando uma bandeira de luta pela elaboração de um novo Plano de Carreira, perfeito. Lembro que em 2010 já existia nos bastidores do Departamento também o script de um Projeto de Reforma do Plano de Carreira, o qual iria se encaixar como clímax do show, feito o parafuso na cabeça do Frankenstein da Reestruturação do DMAE.  Este Plano de Carreira tinha a concepção de implantar novos conceitos de carreiras para os servidores, criava distintos campos de carreiras: a gerencial e tecno-operacional, se bem me lembro.. 
        Com o Novo Plano de Carreira, afinado para fazer com que todos dancem conforme a música, haveria o ajuste fino no aperto do parafuso que libera mais ou menos grana conforme o desempenho de cada servidor dentro da nova estrutura. Seria um instrumento gerencial econômico visando promover maior eficiência do serviço público, do qual as gratificações GAM & GDAE são meros embriões de proveta.
        O tal plano de carreira que ficou engavetado na Administração, esperando a hora de entrar em cena,  parece estar ouvindo o clamor das massas para emergir na pauta de negociações de uma campanha salarial...e também ser aprovado de contrabando como uma moeda de troca.
No fundo, como a gente vai s tornando um estranho no ninho, o que interessa mesmo para um aposentado é o índice de reajuste e que seja pago sem parcelamentos:
- À Luta Companheiros!




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