O principal fato político desta
eleição foi o episódio surreal das cenas
de violência despropositada das forças de repressão contra os jovens que
protestavam mobilizados pelo movimento “Defesa Pública da Alegria” no entorno
do boneco inflável “Tatu Bola da Copa-Cola”.
O protesto diante do mascote da discórdia reunia músicos, artistas
plásticos e de teatro, e ativistas políticos de coletivos, como o Levante da
Juventude, Bloco de Laje, Cidade Baixa Livre, Catarse, Comitê Latino Americano
e Punks do Coletivo Galera do Bosque, os quais não admitem a partidarização dos
movimentos.
Por que a fúria contra o tatu?
Perguntava a manchete do jornal ZH no dia seguinte e a própria reportagem
respondia: O movimento se mobilizou contra a lei que proibiu atividades
culturais, artísticas e feiras populares no Largo do Mercado Público, contra as
ações de fechamento dos bares da Cidade Baixa ( contra o “sinal de recolher”),
contra a privatização de espaços públicos como o do Auditório Araújo Viana
(além do Largo Glênio Peres) e as remoções de famílias que moram em locais de
obras da copa.
Os movimentos
sociais, de tanto serem atropelados, como os ciclistas da Massa Crítica, estão
passando à frente dos partidos políticos e partindo pra fazer a democracia com
as próprias mãos. Os ventos pós-modernos das mobilizações europeias por
Democracia Real e da Primavera Árabe,
estão semeando novamente a ideia de que
“Um outro mundo é possível” nesta sociedade midiática que chama de "vandalismo
explícito” o enfrentamento que ocorre no seu quintal e reconhece como legítima a luta por maior liberdade de expressão dos outros povos distantes.
Viva eu, viva
tu, viva a queda do tatu! Se o tatu da Coca-Cola não tivesse sido derrubado
(com jovens tendo que derramar seu sangue no chão lavado pelos inexplicáveis e
anacrônicos chafarizes do Largo Glênio Peres)
o ato Defesa Pública da Alegria teria passado despercebido pela mídia,
pelos partidos e pela população. Da mesma forma se não tivesse havido o
atropelamento múltiplo e deliberado dos ciclistas da Massa Crítica, o movimento
não teria conseguido ganhar a visibilidade política que adquiriu.
Eu estava
presente no show do Tom Zé no Araújo Viana da Coca-Cola quando os jovens
abriram passagem em frente ao palco erguendo os cartazes com suas bandeiras de
lutas, bem como acompanhei a reivindicação dos grupos teatrais locais por
igualdade de condições com os grupos de fora e maior participação na feitura do
Festival POA Em Cena. Não teve nenhuma repercussão o ataque simbólico que os
jovens fizeram, na ocasião do show do Tom Zé, no símbolo da Coca-Cola em frente
ao auditório, como não teria repercutido na opinião pública o ato de protesto
no paço municipal não tivesse havido os excessos de violência dos brigadianos,
os quais se mostraram estar despreparados para lidarem com manifestações de
massa com ânimos democraticamente
acirrados.
Esses ideais
que motivaram os coletivos a organizar o ato denominado Defesa Pública da
Alegria,com várias centenas de jovens conclamados pelas redes sociais da
internet, não encontraram eco em nenhuma das candidaturas de oposição da atual
administração, até porque “Fortunati & Manuela & Villa” são farinha do
mesmo saco da base de apoio do governo estadual e federal. A propósito compartilhei
no facebook o seguinte comentário às vésperas da eleição: "TATUdoERRADO! Diante
da fragilidade política dos partidos, as ruas começam a canalizar a
insatisfação que vem se acumulando. Aí está o paradoxo. Fortunati deverá ser
eleito neste domingo com uma fraca oposição partidária, mas já com uma forte
oposição social nas ruas."
Com a
incapacidade cada vez maior dos partidos políticos e dos poderes executivos de
dialogarem com os movimentos, os jovens estão percebendo com muita clareza que
as eleições não são para escolher seus representantes parlamentares. Servem
para os políticos abocanharem fatias cada vez
maiores de poder e cargos para as respectivas coligações partidárias,
sem comprometimento com os eleitores. Indignados com a hipocrisia eleitoral, os
jovens apontam, não para um anarquismo, mas para construírem uma representação
direta dos movimentos em fóruns de participação com a administração pública
municipal. Querem uma democracia participativa onde possam decidir os rumos da cidade onde vivem, discutir como
usuários, sem a intermediação corruptível dos políticos, o destino da orla do Guaíba,
as construções de ciclovias e ciclofaixas, a formatação da vida artística e
noturna nos bares e a privatização da cultura popular das praças e casas de
espetáculos...etc....etc...
Espero, com
todo o meu pessimismo, que a queda do tatu seja entendida como o grito de uma
geração que não quer se submeter ao modo tradicional de se fazer política. Até
a copa em 2014 muitos protestos vão rolar como o berro de uma moçada que
acredita que um outro mundo melhor é possível aqui e agora, e que para isso
está disposta a dar o seu sangue, não pela mera depredação do tatu da
Copa-Coca-Cola, mas por uma efetiva democracia participativa e permanente!...
No Brechó de Poemas tem Cães que Ladram, acesse aqui!
No Brechó de Poemas tem Cães que Ladram, acesse aqui!
Parece que tua análise é acertada, Celso. Os jovens de hoje estão repetindo, de certa forma, a revolta dos jovens contra a Ditadura Militar.
ResponderExcluirNão existe, teoricamente, uma Ditadura opressiva, beligerante.
No entanto, existe um conluio entre os meios de comunicação de massas, como a RBS que tem interesses vários, inclusive imobiliários, políticos tradicionais e os donos do Capital.
Certa parcela da juventude tem uma vasta gama de informações, ainda mais neste mundo de Internet, e notam que a única maneira de serem vistos é se aglutinando em movimentos diversos, como este da sagração da alegria, dos ciclistas, dos músicos defenestrados da Cidade Baixa e afins.
Quando eles conquistarem a consciência dos que vivem iludidos pelo "maya" da mídia, em torno da cultura de medíocre qualidade e que, ainda, trocam seu voto por pão com salsichão, eles terão muita força.
Quem sabe, ainda, consigam mudar o mundo ou, pelo menos, a cidade onde vivem.
Ricardo Mainieri