Odisséia Cotidiana: A TARDE

Já que eu não estou fazendo nada (Já que estou aposentado, sou eu pra tudo, vivo “amando”: a mando de todos!): “Já que” eu sou o patrocinador  e provedor das atividades culturais da família, combinei de recolher de carro a minha filha no arquivo universitário em que é bolsista, para irmos de tarde comprar os ingressos dos espetáculos do Festival POA Em Cena, no posto de vendas instalado na Usina do Gasômetro. Por força de imprevistos, acabei recolhendo a minha filha de tarde na avenida Oswaldo Aranha, na esquina com a rua João teles, em frente ao bar Ocidente, de onde fiquei olhando o Auditório Araújo Viana que está estreiando nova reforma.
Dali fomos de carro em direção ao outro extremo do centro da cidade, por via do túnel da Conceição e pela avenida Mauá. Quem é de um lado da cidade praticamente não circula por outras partes: fiquei surpreso ao ver os novos grafites artísticos ao longo do muro da Mauá: prometi voltar lá, a pé e munido de máquina fotográfica, para captar  aqueles murais de  grafitismo para a minha coleção de fotos de  “street art”.
No Gasômetro nos deparamos com o problema da escolha frente à grande oferta de pecas teatrais no Festival. Abrimos a enorme grade de programação e dissecamos uma por uma, os prós e contras de cada peça entrar ou não no nosso pacote de compras de ingressos, considerando os gostos de cada um de nós e também os custos, que este ano estão mais salgados do que nas edições anteriores do POA EmCena.

         A grande atração deste ano é o célebre grupo alemão Berliner Ensemble com a obra “Mãe Coragem e seus filhos” de Bertold Brecht. Mas peça em alemão?... Minha filha acha que deve haver painel com legenda, será? De qualquer forma, verificamos que os ingressos estavam esgotados, só restavam alguns nos puleiros sem visibilidade do teatro São Pedro, e a preço de platéia e camarotes centrais, negativo.

Acabamos compondo uma cesta básica com alimento cultural bem diversificado: Uma peça do Woody Allen com um grupo argentino (Humores que matam),  uma peça sobre Anton Tcheckov com um grupo carioca (Tomo suas mãos nas minhas), uma peça com um grupo global que inclui Julia Lemmertz, Paulo Betti e Deborah Evelyn (Deus da Carnificina), uma  peça de um grupo uruguaio (Madres al límite) e uma peça de um grupo argentino (Molly Bloom – que é a mulher do Ulisses  do James Joyce: que coincidência!). Os preços de cada espetáculo são variados, coisa que não acontecia antigamente, e mais caros, mas resultou um custo médio de R$ 17,00 cada ingresso, claro que todos com descontos de 50% (cliente NET, CEF, ZAFFARI e funcionário da Prefeitura): barbada!
Na Ponta do Gasômetro, olhando para a direita vimos o sol se maquiando no espelho do Guaíba  o seu visual em tons de cores vermelhas, amarelas e alaranjadas, em preparativo para o seu triunfal mergulho no horizonte do admirável poente do sol portoalegrense, com os ingressos na mão de cinco peças do Festiva POA EmCena, seguimos de carro pela avenida Beira Rio. Consta que a prefeitura já contratou o renomado  arquiteto e político paranaense, Jaime Lerner (que já foi prefeito de Curitiba e governador do estado), para fazer o projeto e executar a obra de remodelar a orla do Guaíba, visando receber os turistas da Copa do Mundo de 2014. 
Segundo dizem os jornais, a revitalização da orla e da região portuária de Porto Alegre seguirão mais os moldes de Barcelona, que privilegia a participação popular, do que o modelo de Buenos Aires, que é  mais de estabelecimentos elitistas. Penso que o embelezamento deste perfil privilegiado da orla, desde o Gasômetro até o Barra Shopping no bairro Cristal, deve ser feito com um projeto utilitarista que obedeça aos padrões, valores culturais e costumes de lazer do gauchismo portoalegrense, com criatividade capaz de inserir a cidade definitivamente nos roteiros turísticos internacionais. Resta saber que invenções mirabolantes vão sair da cartola do arquiteto contratado com plenos poderes pela máxima urgência imposta pela proximidade da Copa do Mundo de Futebol...
           Saindo da Usina do Gasômetro pela Avenida Beira Rio, olhando para a esquerda, visualizamos desenhado contra o céu azul o perfil da parte alta do centro da cidade; no chão do Parque Harmonia homens pilchados de gaúcho construíam um vilarejo cenográfico, montavam galpões rústicos decorados com apetrechos nativistas, currais com cavalos encerrados, corredores onde pedestres e cavaleiros montados compartilhavam faceiros o espaço, e chaminés fumegavam cheiro de churrasco por todos os ranchos...
          Neste momento concordei plenamente com o comentário da minha filha: o mês de setembro é o melhor período para se receber turistas em Porto Alegre: temos os ipês floridos que embelezam a vista por onde quer que se ande, temos temperaturas amenas, temos opções de grandes espetáculos artísticos proporcionados pelo Festival POA EmCena, nos anos ímpares ainda temos as estéticas conceituais da Bienal do Mercosul e temos esta incrível oportunidade de possibilitar uma imersão do turista num parque temático do gauchismo raiz, com suas lendas, crenças e fanfarronices folclóricas: adultos brincando de casinha num simulacro de suas origens campeiras!
Seguimos costeando a margem do Guaíba, até passarmos pelo anfiteatro Pôr do Sol, construído nos moldes da Antiguidade, com um palco bem estruturado em frente a um terreno gramado  que vai se elevando circularmente à medida que se afasta, onde as pessoas se sentam no chão ou levam suas próprias cadeiras de  praia para assistirem a shows  gratuitos.  Logo adiante observamos a descarga de  grande parte das latrinas dos cidadãos da pólis, através do arroio Dilúvio, indo poluir in natura o manancial hídrico que abastece de água potável e mata a sede desta mesma população.
Aproveitei para incutir otimismo e esperança na minha filha, reproduzindo com mais detalhes técnicos a promessa pública do Dmae, órgão de saneamento ambiental, de que muito em breve,  o Guaíba estará despoluído e as praias da zona sul da cidade recuperarão a balneabilidade que tiveram na época  em que eu tinha a idade dela hoje...

Nesta região constatamos que estão ocorrendo as obras de duplicação da avenida Beira Rio, e começa a ser construída mais uma ponte de travessia na avenida Ipiranga, onde dobramos em direção ao Shopping Praia de Belas...

Tem Psicose no Brechó de Poemas, entre aqui sem medo!

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