“Me perguntaram se eu sou
gaúcho, está na cara repare o meu jeito...Me chamam de grosso, não tiro a
razão, eu reconheço a minha grossura”... Sou gaúcho a pé, filho do êxodo rural da segunda
metade do século passado, quando os interioranos pobres vinham encantados pelas
luzes da cidade. Hoje, apertados em apartamentos, vivemos de reinventar uma
memória heróica em simulacros de piquetes, CTGs e acampamentos farroupilhas,
transformados em uma seita ideológica do gauchismo promovido à folclórica atração
cultural em carnavalescos desfiles.
O historiador e folclorista Barbosa Lessa é um
caso típico do fenômeno da canção popular criando o folclore. Lessa compôs
canções a partir de pesquisas, com o propósito de caracterizar a cultura do
gauchismo e fundar o Centro de Tradição Gaúcho, junto com o Paíxão Cortes (a
estátua ainda viva do Laçador), e nos CTGs consagrar o que hoje são as nossas cantorias
e danças típicas: Negrinho do Pastoreio, Quero-quero, Rancheira de Carreirinha,
Balaio, Pezinho.
Também o
Lupicínio, o “sambista de bombachas”, conseguiu emplacar pelo menos duas no
folclore: Felicidade (O pensamento parece
uma coisa à toa/ Mas como é que a gente
voa / Quando começa a pensar...) e Cevando o Amargo (Amigo boleie a perna, puxe o banco e vá
sentando / Encoste a palha na orelha / E o criolo vá picando / Enquanto a
chaleira chia / O amargo eu vou cevando / Foi bom você ter chegado / Eu tinha
que lhe falar / Um gaúcho apaixonado / Precisa desabafar / Chinoca fugiu de
casa / Com meu amigo João / Bem diz que mulher tem asa / Na ponta do coração.)
Mas afinal, o que é folclore? O folclore é a
tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições, transmitidos
de geração em geração. Dorival Caymmi é um exemplo de artista tipicamente
associado ao folclore, é um cancionista das tradições, crenças e superstições
baianas. Caymmi fez música praieira da
Bahia, caracterizando a figura marítima dos pescadores, o que colaborou para
fixar uma imagem do Brasil para o exterior e para os próprios brasileiros, com
referências à cultura baiana com suas comidas, danças e religiosidades.
Então, assim
como Barbosa Lessa, Lupicínio e Caymmi, muitos outros cancionistas populares
criaram canções que já se tornaram parte do folclore brasileiro, tais como:
Carinhoso de Pixiguinha, Com Que Roupa e
Feitiço da Vila de Noel Rosa, Aquarela do Brasil e Isto Aqui o que é? de Ary
Barroso, As Rosas Não Falam de Cartola, Asa Branca e O Xote das Meninas de Luiz
Gonzaga, Saudosa Maloca e Trem das Onze de Adoniram Barbosa...
A questão
agora é saber quantas e quais canções dos nossos ídolos recentes passarão como
do folclore nacional para as próximas gerações, tais como: Tom Jobim, Vinícius
de Moraes, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento,
Paulinho da Viola?...Quando nem eles nem nós estivermos mais por aqui, muitas
canções deles vão permanecer na roda, com certeza, né?!...
Mas quais
canções dos compositores do nativismo gaúcho vão permanecer? Canto Alegretense,
Sabe Moço, Veterano, Desgarrados, Esquilador, Gaudêncio Sete Luas, Não podemos
se entregá pros home, Cordas de Espinho e...são algumas canções em que aposto e
jogo as minhas fichas como sendo as que permanecerão no folclore para as futuras
gerações “nesta ímpia e injusta guerra”
do gauchismo com o restante do Brasil.
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