Meditação & Pães Quentinhos

         Por não gostar de comer pão dormido, costumava tomar o meu café da manhã na loja de conveniência do posto de gasolina que tem em frente ao meu antigo local de trabalho. Metodicamente chegava antes do horário de pegada do expediente, batia o meu ponto e fazia o caminho mais longo em torno da quadra, aproveitando para dar uma caminhadinha matinal (seiscentos passos contadinhos de ida e volta somados), e tomava uma taça de café com pão prensado com margarina, lendo rapidamente o jornal  Correio do Povo, iniciando sempre pela coluna do Juremir Machado.
            Lembro, por que registrei aqui no blog,  que numa manhã do verão de 2010, uma das manchetes de capa do jornal era: Surpresa na Praça – Budistas meditam no meio da agitação. - A propósito, eu havia recebido no dia anterior um convite, por e-mail do Centro de Estudos Budistas Bodisativa, para participar deste evento de meditar sentado no calçadão da Rua da Praia em frente à Praça da Alfândega. Fiquei fora desta, pois já havia passado a minha fase de hippie, de sentar no chão da calçada, foi há três décadas atrás. Este tema da meditação, aliás, continua com frequência sendo matéria de revistas e documentários de televisão. Reconhecem que a ciência comprova que a técnica milenar de meditação é um poderoso remédio no tratamento de doenças cardíacas, depressão, artrite, câncer e até Aids; e os hospitais já estão usando a nova descoberta com bons resultados.
           Ao que tudo indica, a meditação e o próprio budismo estão em alta não só no Brasil, mas em toda civilização ocidental cristã, que se sente ameaçada pelo islamismo radical. Particularmente eu tenho praticado meditação quase que regularmente em casa, a cerca de cinco anos. Desde o início fiquei impressionado com a psicologia do budismo tibetano e tenho assistido, sempre que possível, às palestras do Lama Padma Santem, que é seguidor do Dalai Lama. O Padma Santem é um lama gaúcho, ex-professor de física quântica da UFRGS, gremista (ninguém é perfeito!) e que fala na linguagem “portoalegrês” e na perspectiva da nossa cultura bem humorada. Concluí aquele trabalho acadêmico, sobre os vínculos entre filosofia & psicologia, estabelecendo pelo viés da psicologia junguiana  o elo dos arquétipos da mente dos ocidentais com os conhecimentos milenares orientais da psicologia tibetana.
            Além da minha mulher e eu, que somos iniciantes fazendo o “caminhos dos ouvintes” desta peculiar religião de ateus, conhecíamos como budista no Dmae apenas o colega Júlio Brum (voraz leitor, comentarista e estimulador deste blog). O Júlio era budista de outra linhagem tibetana, não era da linha do Dalai Lama, pertencia à linha dos Karmapas. Sendo que ambos, o Dalai Lama e o Karmapa, tiveram que abandonar o Tibete, depois da invasão chinesa, e passaram a divulgar seus ensinamentos para os sedentos discípulos ocidentais dos loucos anos 60 e 70 do século passado. Novamente a história se repetia, o Júlio e eu éramos de facções políticas diferentes dentro do Partido dos Trabalhadores e na militância sindical; depois fomos de linhagens diferentes dentro do budismo. O importante é que percorremos os mesmos propósitos e as mesmas doutrinas. Júlio e eu, como pequenos aprendizes da existência humana, vamos surfando e divergindo fraternalmente nas mesmas ondas...
Todavia, a questão que permanece pendente não é do âmbito político nem teológico, é  o problema  do “pão dormido”, problema projetado desde 2011 para a minha rotina de aposentado, uma vez que não há uma padaria próxima ao edifício onde moro. Por mais que eu medite, não consigo encontrar uma solução para que os meus cafés da manhã continuassem sendo acompanhados de pães quentinhos na leitura matinal do jornal.
-Valeu Júlio Brum!

2 comentários:

  1. Bolos e pães e outras comidas fazíamos no subsolo da engenharia da UFRGS na criação da AMPA, onde meu primeiro contato foi com a turma da Convergência, onde quase fui barrado por não ser um trotskista , era mais um "Raulzista" mesmo. Aí, tempos depois, conheci um camarada, até hoje meu amigo, e grande orador, que colocava nossas idéias em ordem, apesar dos tropeços na fala. O novo budista aí comportado na foto. Nunca me dei bem com as tendências e tampouco fiz parte de alguma, apesar de achá-las fundamentais para as discussões de propostas divergentes para o crescimento de todo mundo. No budismo é a mesma coisa: o que muda são os métodos apenas. Eu e o Celso éramos de LINHAGENS distintas, mas budistas. No PT a mesma coisa. E tenho acompanhado sim o blog "Diário de um Aposentando" desde suas criaçÃo, pela importância da trajetória do colega e amigo Celso, que no seu caminhar não sugere que caminho devemos percorrer a não ser nosso próprio. Agora, tirar foto trajado de lenço e bombacha com boina de missioneiro usando sapatos de segurança do DMAE ???? Tenha dó do bagual aqui de pé no chão feito Charrua com tiara segurando os cabelos no corrugado da testa. E de brinco na orelha. Abraço meu velho. E pra Magda também.

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  2. Fui aluno de Padma Santem no final dos anos oitenta na UFRGS.Nesta época ele era conhecido como Alfredo Avelini.Ele era capaz de nos ensinar a projetar um termossifão ou uma bomba atômica.Encontrei-o à paisana e com crianças há poucos dias numa loja de bicicletas na Bento.Um abraço.

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