REENGENHARIA SOCIOLÓGICA NAS VILAS

Esta postagem vai em homenagem aos colegas da ASSEC (Assessoria Comunitária do Dmae) na década de 1990. Quando terminou a grande epopeia da Intervenção Municipal postada neste blog como Ocaso do Montepio, cumprida a missão voltei para trabalhar no Dmae, numa salinha apertadinha com mais três colegas na ASSEC. Este órgão era extra-oficial, pois nunca existiu no organograma oficial da empresa, mas foi um apêndice importante da estrutura operacional do DMAE na Era Petista. Foi quando a administração pública municipal percebeu a importância de se estabelecer um relacionamento mais sociologicamente profissionalizado com as comunidades carentes da nossa cidade.
           Com os novos colegas de sala, Marcos Scharnberg e o arquiteto JKonrad, fiquei trabalhando na ASSEC por alguns anos. Foi um período de intensos aprendizados mútuos através de trocas de experiências profissionais e culturais. Com os meus colegas da sala aprendi a dominar a elaboração de projetos de redes públicas de água e de esgoto cloacal, período em que inclusive cursei disciplinas de saneamento no curso de Engenharia Civil da PUC. Com os demais colegas da ASSEC trocamos muitos disquetes, fitas cassete e Cds  com músicas da preferência de cada um: eu com MPB, o Konrad com rock da antiga e o sociólogo Jorge Maciel Caputo com o repertório cubano, argentino e, sobretudo, o uruguaio. Nenhum dos três colegas citados (e sorridentes na foto) está mais trabalhando no Dmae, sendo que recentemente o JKonrad, que era cedido da SMOV, não teve sua cedência renovada possivelmente devido ao seu espírito crítico e de engajamento político. Foi descartado sem a mínima consideração ao seu histórico profissional e à contribuição qualificada que ele deu com o seu trabalho para o Departamento, com destaque para a elaboração do Plano Diretor de Esgoto do Dmae.
- Valeu amigo Jorge Konrad! 
Éramos um grupo técnico de engenharia cercado por sociólogos por todos os lados: além do Caputo tinha a Fátima Silvello, a Antônia, a Lea Maria, a Enid Backes e o figuraço do Roque, um ex-seminarista oriundo de movimentos igrejeiros junto aos colonos sem terras.   Vivíamos o período de ouro da Orçamento Participativo (OP), cuja implantação e coordenação geral no âmbito de toda a prefeitura foi feita, durante os dois primeiros mandatos petistas, pelo meu falecido irmão Gildo Lima. Nas noturnas reuniões temáticas do OP, nas mais humildes vilas e comunidades, era exigida a presença dos técnicos do Dmae, para não deixar que os sociólogos viajassem demais na maionese de seus devaneios teóricos de realização das demandas reprimidas dos mais pobres. Éramos os faróis do tecnicamente realizável.
Segundo depoimento do JKonrad, que ficou mais tempo por lá, juntamente com o Luis Fernando Albrecht, depois que eu saí em 1997 e fui ser Diretor da Manutenção, a ASSEC foi extinta no início do governo Fogaça, sob a alegação que o seu papel poderia ser desempenhado pelos setores oficiais da Estrutura do DMAE. Mais tarde se viu que isto não se realizou, pois a ASSEC não era simplesmente uma Assessoria Comunitária, ela agregava outros valores de atuação integrada com educação ambiental e participação comunitária no planejamento das ações do DMAE. Durante o meu trabalho na ASSEC, além de comer os suculentos e inesquecíveis churrascos de ripa de costela assados pelos colegas Coelho e Paulo Melo da topografia, tive a oportunidade de vistoriar e fazer levantamentos em becos, vielas e vilas que me marcaram muito, que me deram consciência das péssimas condições de vida em que vivem parcelas significativas da população portoalegrense. Em compensação pude projetar e  viabilizar a construção de muitas redes de água e de esgoto nestas comunidades da periferia carente de saneamento básico.
Antes, a Fátima Silvello e eu moramos no mesmo bairro quando éramos estudantes de sociologia e de engenharia, convertidos para as lutas sociais de redemocratização no Brasil no início da década de 1980. Nos mobilizamos no Núcleo Jardim Botânico para a construção de um  Partidos dos Trabalhadores, e para o fortalecimento da consciência de classe de toda uma geração de servidores do DMAE que passava a se organizar sindicalmente como a Categoria dos Municipários.  Belos tempos utopicamente revolucionários e amorosos aqueles!...Muito trabalhamos apaixonadamente na elaboração dos boletins, jornais e cartazes do movimento: eu entrava com o texto e ela com a arte e diagramação, desenhista criativa que era. Juntos fazíamos muito barulho!
Depois, pelos desígnios insondáveis do destino, trabalhamos  juntos na mesma sala da Assessoria do Diretor Geral Guilherme Barbosa, no início da era petista na Prefeitura, antes de voltarmos a trabalhar juntos na ASSEC, ainda como Cargos em Comissão. Os últimos contatos que tivemos, a Fátima e  eu, foi pouco tempo antes dela se aposentar do Dmae. Posteriormente soube que ela estava doente e passei a lhe enviar emails com links de acesso para este blog. Em 23/outubro/2011 soube que a “companheira Fátima Silvello” não estava  mais entre nós...Que coisa, hein?!...Espero francamente que os espíritas e os budistas tenham razão e que existam realmente reencarnações e renascimentos cármicos, para que possamos aproveitar evolutivamente as convivências que tivemos com pessoas especiais (como a Fátima) nesta nossa vida mundana.
- Belos tempos, valeu companheira Fátima Silvello!

3 comentários:

  1. Grande Abraço ao colega Celso e agradeço a grande lembrança de Fátima Silvello,minha cunhada.
    Show de Bola.

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  2. Bons tempos amigo Celso. A Fátima foi uma verdadeira lutadora social e a ASSEC uma escola para todos nós, no que me concerne agradeço as tuas palavras. Fiz no DMAE o que era minha obrigação como funcionário público fazer. Agora um vento novo sopra no meu rosto, vejamos o que novos tempos nos reservam. Grande abraço

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  3. Celso, me lembro bem dessa época, do pessoal muito festeiro e competente. Eu havia entrado no DMAE há pouco tempo, no começo dos anos 90. Saudades de todos. Um abraço.

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