O QUE UM APOSENTADO FAZ COM O SEU TEMPO?

Cada um que encontro vem sempre com a mesma pergunta:  O que estás fazendo com o tempo?! Falam exclamativamente como quem diz: Como estás conseguindo ser o tempo todo o senhor do teu tempo, sem ter um esconderijo onde bater o ponto e se esconder para deixar que o tempo da tua vida escoe por oito horas diárias, com um breve intervalo para o almoço, de segunda à sexta-feira?! Ui, que medo que se criou do tempo disponível na aposentadoria!...
Respondo pacientemente da mesma maneira a todos, que é uma deliciosa sensação de liberdade não precisar mais se adiar e agora ter que decidir a cada momento o que fazer com o seu tempo. Estar aposentado implica numa mudança de ritmo e de estilo de vida, em não ficar mais no superficial que a pressa exigia, sempre deixando para fazer e aprofundar as coisas depois, mais adiante...O depois já chegou, é agora: ando pelas ruas batendo fotos das cenas da vida cotidiana (como estas das garças da Av. Ipiranga)!
           A propósito, pensando como abordar este tema no blog de maneira que eu pudesse provar que é uma coisa muito boa estar-se aposentado, até brotou um poeminha que compartilhei no meu facebook, com um sugestivo título: A Prova
           “Aposentadoria integral e com paridade
            É a vida que um ateu pede a Deus
            Para que prove a sua existência e idade
            Mas crente que provará a razão dos ateus.”
Contudo, sinto que há falta de concretude nesta minha descrição de como é a vida pós-aposentadoria. Principalmente por que tenho me dado conta que somente agora o blog Diário de Obra de Um aposentaNdo chegou no âmago de sua temática principal. Até então, vínhamos tratando das expectativas tensionadas pelo medo do desconhecido do além da vida rotineira do local de trabalho, e pelo filão de postagens de memórias coletivas e pessoais contadas por mim, um personagem dessas histórias. Muitos de nós há de ter pensado que o blog já cumpriu a sua função, que já  teria se esgotado em seus surpreendentes mais de 7.500 acessos. Confesso que vinha analisando honestamente esta hipótese, mas acabo de concluir pelo contrário, que agora é que o blog pode vir a ser realmente útil para os novos “aposentaNdos”, mostrando que há vida e como é ela além do horizonte do cartão ponto. No fundo, o que as pessoas realmente estão interessadas é saber como se faz para desmistificar este mito da “figura do aposentado de pijama sentado em frente à televisão e enchendo o saco da família com sua inutilidade”.
      Esta nova etapa do blog, todavia, vai exigir que eu consiga retratar esta realidade desconhecida com concretude suficiente para que os leitores consigam visualizá-la, isso talvez exija um talento para escrever não disponível em mim. Será preciso mostrar mais do que simplesmente descrever com adjetivações a vida de um aposentaNdo, com N maiúsculo!...
Bueno, vamos lá tentar! A nova empreitada  consiste basicamente em responder a uma única questão que permeia geral todas as perguntas: O que fazer com tanto tempo livre, para não cair no tédio e na depressão?
Estou recém completando dois meses consecutivos de liberdade incondicional, maio e junho. É cedo ainda para se ter domínio de como vai funcionar a longo prazo, se em algum momento vai surgir o tal monstro do fundo do lago do tédio para me amedrontar, como quase todo mundo acredita que, mais cedo ou mais tarde, vai acontecer!...
            Penso que o medo da vida a ser vivida só acontece com quem teve medo de viver a vida já vivida antes, que a viveu confinada nas rotinas coletivas sem garantir espaço para desenvolver sua individualidade e que perdeu de vista a criança que foi. Sou daqueles, como o Saramago, que diz: Quando me for deste mundo sairei de mão dada com a criança que fui.

Concretamente, a minha estratégia  básica de preparação para a aposentadoria foi nunca ter deixado de ser um estudante universitário (sou calouro de 1979!). Depois de já formado em engenharia, quando eu estava às vésperas de me aposentar com apenas 51 anos de idade, antes de entrar em vigor a lei antiga do Fernando Henrique (que passava a exigir 53 anos de idade mínima), eu fiz vestibular para Filosofia e  frequentei este curso por sete anos, até ser ameaçado de jubilamento pela UFRGS. Assim,  quando novamente às vésperas de me aposentar com 56 anos (pelas novas leis do FHC e do Lula), em 2010 fiz novo vestibular (junto com a minha filha!), agora para o Curso de Letras, no qual estou cursando no terceiro semestre ainda as disciplinas do primeiro, posto que fazia apenas uma cadeira por semestre (o limite que era permitido em horário de expediente!).
Devido a esta estratégia básica, atualmente a minha rotina de aposentado contempla três idas ao Campus do Vale (na fronteira com Viamão!) para assistir aulas de “Español I” às 8 horas da manhã. Logo, não é como se poderia imaginar, que eu ficaria dormindo até bem mais tarde todos os dias. Assim, por três dias tenho acordado e saído no mesmo horário de sempre. Em compensação, pelo menos sobram dois dias na semana para eu dormir até mais tarde, né?... Sim, mas não até muito tarde, até às 8 ou 8,30, no máximo 9 horas, senão atrapalha o apetite do almoço que continua tendo o horário rígido estabelecido pelo trabalho da minha mulher.
        Depois das aulas costumo tomar um café-expresso enquanto leio o jornal calmamente numa cafeteria, ao invés de voltar correndo para bater o ponto, o que me dá diariamente a sensação de ser um pássaro libertado da gaiola. Não se trata de uma mera metáfora adjetiva, se trata realmente de uma emoção orgânica de liberdade sentida de fato.
        Durante pelo menos duas tardes por semana tenho procurado fazer caminhadas úteis, tipo ir até o centro para quebrar algum galho e voltar, ou ir até a Padaria da Nona, em frente ao campo do Grêmio, para comprar o lanche, ou outras voltas úteis, para evitar a monotonia de caminhar na esteira sem sair do mesmo lugar. Donde cheguei à conclusão que moro a meia hora de distância de tudo, até do cinema do campus central da UFRGS, onde já fui assistir ao filme Cidadão Kane, no festival sobre Orson Welles, em pleno horário de expediente e grátis, não é o máximo? Estou ligadão na agenda cultural matutina e vespertina da cidade...
A feitura deste blog é uma ocupação prazerosa que ocupa tempo, muito tempo! Primeiro na elaboração dos textos, como esta tarde agora em que estou escrevendo esta matéria sobre o tempo; e outro tanto do meu tempo ocupo “blogando” propriamente, ou seja, editando no blog os textos com a busca das figuras e fotos para suas ilustrações.  Escrever é a minha compulsão, e sempre o texto mais recente é o mais importante do que os outros que já foram os mais importantes ontem e anteontem, e todos tentam furar a fila de espera para postagem no blog. Muitos textos conseguem furo na publicação pela atualidade do tema, tipo o texto sobre a greve dos municipários que tinha que ser publicado na época da greve, senão perdia o impacto e o interesse de ser notícia quentinha.
Também tomei providências para oferecer outras opções de ocupação do meu tempo, tais como aumentar consideravelmente a capacidade do meu provedor de banda larga na internet, para poder acessar mais e melhores conteúdos da rede mundial; como também tratei de adquirir acesso ilimitado aos conteúdos dos canais fechados de televisão, para ter a possibilidade de finalmente conhecer o que está sendo disponibilizado nesta infinidade de canais. Por enquanto, só encontrei tempo de assistir aos jogos de futebol do meu time, o Internacional; nem ao canal TVEspañola consegui assistir ainda para reforçar minhas aulas de español.
Tudo bem, somando e subtraindo e tirando os “noves foras”, sobra algum tempo que tem que ser otimizado com racionalidade para que eu possa dar conta, gradativamente, da “Lista de 100 coisas para fazer da aposentadoria”. A Lista do Celsol eu postei incompleta aqui no blog em dezembro/2010 com 73 itens,  a  qual reapresento agora integralizada com as 100 Coisas, formatada em planilha para monitoramento legendado. Alguma poucas coisas já constam como “realizadas” e outras “em realização”, mas a grande maioria estão como “pendentes”. Com certeza muitas outras coisas surgirão querendo se agregar  à esta “versão 2” da minha Lista de Coisas para fazer:


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