A LEGALIZAÇÃO DA MACONHA

Vejo sinais de novos tempos: O Uruguai aprovou a legalização da maconha e a Globo levou ao ar no Fantástico uma matéria de 18 minutos tratando do polêmico tema. Parece que a emissora resolveu contribuir para que o país encare essa questão da legalização da maconha. É uma discussão que passa a ser principalmente de saúde pública e não só de segurança e criminal.
Dois Estados nos EUA liberaram a  maconha para uso recreativo para maiores de 21 anos (Colorado e Washington), e 19 permitem a venda para fins medicinais, mediante receita médica. Cientistas já comprovaram a eficiência do THC, princípio ativo da maconha, no tratamento de náuseas e vômitos provocados pela quimioterapia, para pacientes que sofrem de glaucoma e falta de apetite. Mas os médicos nos EUA se baseiam em mais de 20 mil pesquisas para receitar maconha para até 190 enfermidades. Entre elas, estresse, insônia, ansiedade, cólicas menstruais, dores nas costas, convulsões e epilepsias. Na prática é uma liberação quase geral!
A indústria legal da maconha nos EUA já tem mercado bilionário. É a primeira vez na história que o capitalismo tem uma indústria com 100 bilhões de dólares, isso só nos EUA, sem que nenhuma marca atue nesta área. Não tem ainda nenhuma Coca-Conha, mas isso não vai continuar assim. Vários empresários americanos já estão criando as primeiras marcas de maconha do mundo, com planos de desenvolverem franquias internacionais. Até cursos profissionalizantes estão sendo ministrados para ensinar os empreendedores a plantar e a industrializar os seus subprodutos legalmente, repassando aos seus clientes a segurança de que não estão mais financiando o crime organizado.
Vários ex-presidentes americanos já declararam que fizeram uso de maconha (Bill Clinton, G. Bush e Barack Obama), também várias celebridades confessaram que já queimaram um fumo (Brad Pitt,  Angelina Jolie e Jack Nicholson).  O ex-presidente do México, Vicente Fox, defende que o país se torne um grande exportador mundial da maconha, para acabar com os cartéis da droga que já dominam um terço das prefeituras mexicanas. Por aqui, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (ostensivamente) e Luiz Inácio Lula da Silva (timidamente) são favoráveis à descriminalização das drogas. Argumentam que a política de repressão não reduziu os índices de violência ou a quantidade de usuários, pelo contrário, a repressão policial causou mais mortes de jovens que o próprio uso da droga. O tratamento mata mais que a doença. Para eles, é preciso mudar o eixo da questão, tratando o usuário, não do ponto de vista da segurança, mas da saúde pública.

Os  defensores brasileiros da legalização miram-se no exemplo de países como Portugal, em que a prisão de usuários foi substituída por oferta de tratamento médico. Em vez de enfrentar prisão e multas, o governo português permite que usuários eventuais e frequentes portem a droga em pequenas quantidades. Se alguém é pego com menos de 25 gramas de maconha ou 2 gramas de cocaína, por exemplo, supõe-se que se trata de um usuário, não de um traficante. A droga é apreendida, ele é liberado para ir para casa e recebe uma intimação para conversar com um assistente social. Se ao longo da entrevista for constatado que se trata de um dependente químico, ele é encaminhado para um tratamento médico. Senão, ele volta para casa livremente. Com esta política a violência policial e a mortalidade de jovens diminuiu bastante em Portugal.
No Brasil, desde 2006, não há pena de prisão para usuários de drogas. Pela lei, quem é apanhado com “pequenas quantidades” (não definida legalmente!) de substâncias ilícitas tem a droga apreendida, é levado à delegacia (putz!) e depois a um juiz. Ao juiz, cabe escolher entre três punições: prestação de serviços à comunidade, curso sobre os males das drogas e advertência. Não dá cadeia, mas pode dar dependendo do tipo de abordagem policial, especialmente se flagrado no tenso momento da comercialização entre fornecedor e comprador nos becos escuros do submundo. Esta descriminalização, portanto, mantém refém dos traficantes e dos policiais corruptos tanto os usuários de classe média como os jovens favelados recrutáveis como vendedores ambulantes de  entorpecentes, os quais são trucidados como vítimas dos combatentes oficiais às drogas, Tropas de Elite que só pegam os pés de chinelo.
 O Uruguai está resolvendo a problemática do combate ao tráfico pelo viés socialista, ou seja, tornando de competência do Estado regulamentar o cultivo, a distribuição e a venda da maconha em farmácias credenciadas, mediante um registro dos cidadãos usuários. Está juntando a segurança com a saúde pública. Os EUA estão resolvendo pelo viés capitalista, se apropriando através da iniciativa empresarial privada deste mercado bilionário até então cativo do narcotráfico.  Estão juntando o útil ao agradável: ganhando dinheiro e enfraquecendo o poderio econômico das facções criminosas.
Os usuários brasileiros da erva canabis não podem ter que continuar expostos às práticas criminosas dos traficantes e de policiais corruptos, para fazerem uso de um produto que sabidamente não é pior que outras drogas legalizadas, como o cigarro e o álcool. O tabaco, que o Brasil é o maior exportador mundial da folha da droga, já teve sua publicidade proibida na televisão, mas o país continua criminosamente permitindo o incentivo publicitário ao alcoolismo sob patrocínios de cervejarias. O percentual de usuários que se tornam viciados em maconha é muito menor do que os destas drogas socialmente aceitas. Este é o ponto que, com todo este respaldo de nomes famosos e das novas abordagens mundiais de descriminalização da droga, pessoas comuns como nós que já fumaram seus baseados e curtiram numa boa a Marijuana, estão manifestando indignação com esta hipocrisia.
Nós, coroas cinquentões e sexagenários de hoje, que fomos jovens da geração hippie e que vivemos intensamente aquela época de loucuras “on the road”, fomos os maiores puxadores de fumo de todos os tempos! Feito Neruda, confesso que vivi: fui artesão caroneiro que expunha  artesanatos nas praças pelas cidades por onde passava; vivenciei comunidades de hippies latino-americanos  no Uruguai (que já era o paraíso das drogas de anfetaminas)  e, é claro, me chapei um bocado!
 Nós, malucos convertidos em caretas pra ganhar a vida e constituirmos nossas famílias, temos agora a obrigação de libertar as novas gerações de malucos beleza (os nossos filhos e netos que também querem curtir a erva numa boa!) das garras criminosas dos traficantes e dos policiais corruptos:
- PELA LEGALIZAÇÃO DA MACONHA JÁ!    

3 comentários:

  1. A montagem do assunto tratado é boa, coisa de marqueteiro. Contudo, no final vê-se que o viés da abordagem é fraco: acabar com a corrupção policial e o tráfico. Não se sustenta, pois importa aqui é o malefício do uso da "cannabis sativa", defendido por psiquiatras conscientes e juízes de família. Lamentável a proposição do autor.

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    1. o uso já existe e a erva prensada e mofada do tráfico é muito mais prejudicial que a com controle de qualidade vendida em 'coffee shop's' ou 'farmácias'.. a questão aqui é redução de danos. lamentável sua visão restrita do grande espectro de motivos para legalização.

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  2. Até a Globo apoia Assista a Reportagem do Fantástico http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/07/industria-legal-da-maconha-nos-eua-tem-mercado-estimado-em-us-100-bi.html

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