CHÁ DE ELEIÇÕES DE CHEFIAS NO DMAE

           Aposentado também viaja de férias, é quando a mulher e os filhos ganham este direito trabalhista. Vou aproveitar para ilustrar esta postagem com fotos das praias paradisíacas em que estivemos de férias na semana passada, pra ver quem reconhece ou quem vai ficar com vontade de conhecer...

O CHÁ DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL NO DMAE

Hoje, lendo a Revista da Astec de dezembro de 2012, fiquei sabendo que o DMAE foi a única instituição pública agraciada com o prêmio “Top Ser Humano – Categoria Empresa”, conferido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos. Desta vez o DMAE participou com o case “Gestão por Competências como ferramenta para o desenvolvimento de líderes em instituições públicas”. Diz a matéria na revista que os resultados, medidos por meio da Pesquisa de Clima Organizacional, demonstraram que evoluiu a avaliação que os servidores fazem das suas lideranças e gestores.
          A propósito,  lá pelo final de 2010 fui “convocado!” a participar de uma Oficina de Preparação para Avaliação do Desempenho Funcional, atividade promovida pela UNIDMAE (que é a antiga seção de treinamento da DVH rebatizada com o pomposo título de Universidade Corporativa do DMAE, com reitora e tudo!). O objetivo principal era “Avaliar para Desenvolver”, pois o resultado da avaliação constituiria um Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), obtido por meio de reuniões de consenso entre o gestor e  o servidor, que estabeleceriam ações de desenvolvimento com o suporte institucional da DVH, digo, UNIDMAE...
          Resumindo, o método determinava que todo mundo seria submetido a uma  avaliação por sua respectiva chefia. O questionamento do público-alvo da oficina, e o meu inclusive, era que estas avaliações seriam apenas de cima para baixo, ou seja, as chefias não iam também ser avaliadas por seus subordinados. Como este processo de avaliação estava gerando uma tensão tão grande entre avaliados e avaliadores, questionava-se a validade de fazer tanta agitação para resultar em pífios planos de treinamentos que, na melhor das hipóteses, atingiriam menos de 10% do quadro funcional. Seria como mover uma montanha para aproveitar um punhado do seu conteúdo e ainda deixar relações degradadas no ambiente pelo método!
            A réplica dos instrutores da oficina era de que, justamente por esta avaliação ser “apenas para fins de treinamento”, seria uma oportunidade de se retirar a tensão entre as partes e treinar práticas de avaliações, por ser um indicador operacional consagrado de gestão de pessoal, portanto necessário para a qualificação do DMAE. É o famoso “CHA de Competências”: Conhecer, ter Habilidade de fazer e ter Atitude de querer fazer (Conhecer-Habilidade-Atitude = CHA). Seria o momento mágico, consideram os acadêmicos da Unidmae, de aparecerem os problemas que estão embaixo do tapete do condicionamento hierárquico...
          Esta tensão entre chefias e subordinados me reportou a uma passagem marcante da história recente do DMAE, que foram as famigeradas “eleições de chefias”. Oh! Meu Deus! Não é tão recente assim, foi em 1989, já faz mais de 20 anos! Parece que foi ontem...

 AS ELEIÇÕES DE CHEFIAS NO DMAE

            Naquela época, foi no ano em que o Partido dos Trabalhadores assumiu pela primeira vez a Prefeitura de Porto Alegre (que se estenderia por longos quatro mandatos), eu era a referência petista de maior tradição na militância sindical no  DMAE. Na ocasião tive que  me contentar em indicar nomes para serem superintendentes, por que eu próprio não podia assumir por não ter curso superior completo. Por ironia, eu ainda não tinha completado o curso de engenharia justamente por causa da minha militância de entrega total à causa político-partidária, e sequer tínhamos quadros partidários para preencher os cargos naquela que foi a primeira vitória eleitoral petista.
            Contudo, eu fui trabalhar no primeiro escalão, na tropa de elite do Diretor Geral Guilherme Barbosa, compondo um grupo de assessoria especial, reunindo na mesma sala as seguintes figurinhas: O Dieter como assessor técnico (o cara que no segundo mandato assumiria como DG com a eleição do DG para vereador), o Eron Estrela como assessor jurídico, eu como assessor sindical e a Fátima Silvello como assessora comunitária.
           Passado o medo do novo, de desestabilizar a administração pública por falta de experiência dos novos quadros petistas, de repente, o DG fez um acordo com o SIMPA, vale dizer, com o colega Édson Zomar (que havia se revelado nos últimos anos como uma nova grande liderança sindical dos setores mais operários do Departamento), para a realização de eleições de chefias  em todas as Divisões do DMAE.
           Podem imaginar que alarido repercutiu pelos corredores e pavilhões do DMAE o anúncio desta decisão. A casa caiu! Imediatamente os superintendentes apresentaram pedido de demissão coletiva. Era a revolução operária que estava por chegar! Como diria o Nei Lisboa:  89 foi bala!...
            Foram realmente momentos revolucionários aqueles, houve assembléias gerais no Auditório Araújo Viana para aprovação do Regimento Eleitoral Único do DMAE, e foram estabelecidas Comissões Eleitorais eleitas em cada Divisão: Era a República Soviética do DMAE!  Até os cargos em comissão mistos ficaram sujeitos à votação. Estas comissões funcionavam como sovietes (conselhos operários), com poder de organizar internamente quem estaria vinculado a quais chefias nas quais poderia votar e ser votado, comissões estas vinculadas ao Soviete Supremo, que era a Comissão Coordenadora, com três membros indicados pelo Fórum de Representantes, um membro pelo SIMPA e o outro pelo DG. No processo eleitoral houve a eleição da  instância máxima que era o Fórum de Representantes (O Politburo), o qual era composto por delegados eleitos em Assembleias Gerais das Divisões, cujo critério de proporcionalidade era que para cada 50 funcionários da Divisão indicavam um representante. Foi uma loucura formidável!
         No DMAE as eleições foram realizadas em todos os níveis de chefia até o Diretor de Divisão inclusive, para um mandato de um ano. E, depois de eleito, se o Diretor Geral quisesse cassar o mandato de um chefe teria que submeter seus argumentos ao Soviete Supremo e a uma Assembléia Geral da Divisão do dito cujo. Era a democracia participativa do assembleísmo da Grécia Antiga funcionando no meio operário pós-moderno.
           Qualquer pesquisa de clima no quadro funcional daquela época indicaria o ambiente feito um caldeirão que ferveu muito naquele três meses  em que decorreu todo o processo eleitoral. Havia muita tensão entre as chefias em exercício, as quais se viam ostensivamente ameaçadas pelos seus subordinados que se insubordinavam por conta do movimento bolchevique de tomada do poder: através do voto os oprimidos seriam eleitos como  os novos chefes! As coligações eleitorais naturalmente que recorriam ao apoio de entidades de classe, como o próprio SIMPA, para desenvolver estratégias visando os cargos mais concorridos, como os de Seção, Serviço e Diretor de Divisão. O jogo ficou pesado em alguns locais.
          Tudo isso dava gosto de ver acontecendo, por ser até então inimaginável, e  por  vivermos permanentemente sob forte emoção revolucionária devido à tensão que havia entre as várias facções e visões ideológicas que se infiltravam com seus interesses nas disputas por espaços de cargos dentro da administração petista.
           Contudo, apesar da experiência de efetuarmos eleições de chefias em todo o DMAE ter sido muito valiosa em seus ensinamentos sociológicos, se mostrou demasiadamente intensa no acirramento dos  ânimos e desestabilizadora da rotina operacional. Certamente que não era coisa para se realizar todos os anos, como queria a índole de militância revolucionária das jovens lideranças petistas municipárias,  oriundas recentes que eram do movimento estudantil. Mas resultou sendo uma coisa para não se realizar nunca mais!
           Sei que depois dos episódios da Comuna do DMAE, voltei a me dedicar à causa de conseguir o meu canudo de curso superior completo, após ter ficado por dez anos marcando passo, por dar prioridade ao movimento de organização da classe trabalhadora na redemocratização do país. Coisa que de fato consegui com apenas mais dois anos focados no curso, me formei  em engenharia pela UFRGS finalmente! Confesso que foi duro ver oportunistas se locupletando e ver quem construiu a idéia do petismo desde a sua fundação ficar de fora, chupando o dedo e assistindo a coisa toda, pelo que tínhamos dedicados vários anos da nossas vidas, se deturpar... Mas isto já é uma outra história que me levou à minha desfiliação do PT dez anos depois, por ocasião da reforma da previdência do “Lula Lá” presidente, que eu conto um dia desses para vocês.
           Por isso, quando os novos gestores do DMAE falavam em avaliação funcional de chefias, os mais antigos tremiam nas bases e torciam o nariz, pois imaginavam que vinha confusão por aí no CHA. Agora, chá nem gelado,  prefiro a potiguar água de coco do Rio Grande do Norte, em Natal, Ponta Negra, Maracajaú, Pipa, Jenipabu...


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