PLANO CONTRA O TÉDIO NA APOSENTADORIA


           Numa segunda-feira de dezembro de 2009 cheguei no Dmae com cara de sexta. Havia passado as tardes de sábado e domingo fazendo provas do ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio), a grande inovação que prometia acabar com os monstruosos concursos vestibulares para as universidades brasileiras.
Assim, meio sem querer-querendo, condicionado pela necessidade de estudar junto com a minha filha que estava batendo às portas da universidade, e motivado pelo fato estar às vésperas de me aposentar e de também estar se esgotando o prazo de validade do meu vestibular anterior, que era de 2003 para Filosofia, enfrentava  novamente a torturante loucura que é fazer uma bateria de provas de vestibular, agora ampliada  da pré-temporada do ENEM.
       Quando resolvi voltar a conquistar uma vaga na UFRGS em 2003, o meu plano era de que estaria  cursando filosofia ao me aposentar e, portanto, estaria devidamente ocupado, espantando de antemão o fantasma da síndrome do tédio, própria dos aposentados recentes. Na época eu estava com 49 anos e pretendia me aposentar aos 53 anos (já pagando o pedágio de 1 ano e cumprindo a idade mínima de 53 anos do FHC,  pois pela lei anterior eu sairia aos 52 anos de idade).
        Por isso em 2010, novamente às vésperas de me aposentar (se nenhuma outra Reforma da Previdência ocorresse como a do Lula que ampliou minha sentença de trabalhos forçados até os 56 anos!), e de também estar às vésperas de ser jubilado da UFRGS por decurso de prazo de validade, vale dizer, ser excluído como aluno de filosofia, ser compulsoriamente defenestrado, resolvi aproveitar para tentar re-editar o plano de 2003 de anti-tédio da aposentadoria, apenas que  buscando então uma vaga no curso de Letras-Espanhol.
        Assim, finalmente entrei na última volta pra bandeirada de chegada pela vitória que define o final do longuíssimo  campeonato do Grande Prêmio da Aposentadoria: 2010 seria o ano da minha alforria dos grilhões da dependência financeira do cartão-ponto! E já não era sem tempo, pois o cartão-ponto através das impressões digitais já estava sendo implantado na empresa, caracterizando ainda mais o sistema carcerário que prevalece nas relações trabalhistas dos assalariados.
        No site da UFRGS conferi ansioso o Listão dos Aprovados no Vestibular 2010: primeiro verifiquei que a minha filha estava no listão (Uau!), e depois que eu também estava (ufa!). Chamar de dupla alegria é pouco, pois a aprovação da guria vale muito, muito mais, não tem múltiplo para quantificar.
       Modéstia à parte, com este de 2010 é o quinto vestibular que consigo aprovação na UFRGS. Primeiro foi em Engenharia de Minas (1979), curso escolhido ao acaso por apresentar maior facilidade de acesso dentro das engenharias, com o objetivo de fazer o ciclo de disciplinas básicas. Casualmente o segundo foi justamente em Letras (1981)  em que eu pretendia estudar uma língua estrangeira, em um segundo curso (na época era permitido frenquentar dois cursos!), mas no qual nem me matriculei quando soube que as aulas eram lá no Campos do Vale (motivo banal: eu não tinha carro!). 
    O terceiro vestibular foi para Engenharia Elétrica em 1984, faculdade que era desde o início o meu projeto profissional, já que havia feito o curso técnico de eletrônica no Parobé. Mas acabei me desiludindo com o curso e retornei, em 1988, para o curso de Engenharia de Minas, que estava trancado, o qual se revelou muito bom de ser cursado pelos seus fundamentos geológicos. Assim, finalmente consegui me formar como engenheiro de minas em 1991, treze anos após ter ingressado na faculdade, atraso que é devido ao fato de coincidir com este período o meu intenso envolvimento com a militância política, sindical e partidária.
           Desta última vez decidi ouvir a voz da minha própria experiência  e assumir que a coisa que eu mais gostei de fazer durante toda a minha vida foi escrever. Como escrever é literatura, logo o curso é Letras! Pelo aristotélico silogismo filosófico concluo, com fundamentos lógicos, que já sei o que quero ser quando crescer: escritor.
O evento festivo da matrícula no curso de Letras  tem o seu lado melancólico, é que encerrou-se ali o meu ciclo de estudos filosóficos, e o corte deste cordão umbilical acadêmico com a filosofia deixou uma espécie de sensação de vazio no  meu peito, após o rompimento irreversível com este curso que tanto contribuiu para fundamentar de modo consistente o aspecto filosófico da vida na minha formação pessoal. Talvez o vazio se deva ao fato que agora não alimento as mesmas expectativas e carências vitais em relação ao curso de Letras do que alimentava quando iniciei na filosofia. Tomara que eu seja surpreendido e que esta licenciatura se revele tão boa de ser cursada como se revelou o curso de Engenharia de Minas, em que eu não botava a mínima fé (graças ao qual ganhei o meu sustento e que está me propiciando um  bom gozo na minha aposentadoria).
Portanto, viva 2010 (e 2011, quando de fato me aposentei)! Viva 2012, antes que se confirmem as profecias de final dos tempos no mês que vem, em dezembro, quando haverá  o alinhamento completo de todos os planetas do sistema solar com o centro da Via Láctea (fato confirmado e que ocorre a cada 26.000 anos, que estava previsto no calendário Maia desenvolvido há cerca de 3 mil anos atrás),  e que as profecias interpretam como o Fim do Mundo (inclusive as do I Ching chinês). Dizem que até Nostradamus achava que a Terra perderia seu movimento natural de rotação, podendo se inverter...Viva o hoje!
 ( Remake de 7/dezembro/2009 e 28/janeiro/2010)




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