RISCOS DE VIDA E OS MORTOS DA DVM

  
        Hoje, dia oito de julho, cerca de três meses depois que o jovem Vavá morreu eletrocutado na parada de ônibus, o inquérito policial remetido à justiça indiciou por homicídio culposo oito pessoas. O indiciamento envolve três engenheiros e um eletricista de uma empresa terceirizada, contratada para a manutenção da rede pública de iluminação, e dois engenheiros e dois técnicos da prefeitura (SMOV e EPTC). Segundo a perícia do Departamento de Criminalística houve falta de fiscalização do serviço de manutenção, e houve omissão de providências após o recebimento de denúncias dos usuários sobre a ocorrência de choques elétricos na parada de ônibus. Segundo o laudo do delegado, Vavá não teria morrido se não ocorresse negligência
        Em nota oficial o Prefeito afirmou que não afastará os servidores indiciados, e que aguardará até a conclusão do inquérito da Comissão de Sindicância que avalia o caso para as tomadas de providências administrativas cabíveis.
        Os pais de Vavá receberam bem o resultado do inquérito policial e acreditam que a justiça está sendo feita.
        Esta tensão apreensiva decorrente da responsabilidade técnica dos engenheiros (e técnicos de grau médio) diante de acidentes fatais, me remonta para o caso do acidente de trabalho do jovem eletricista Ubirajara Teixeira, o Bira, lá pelos anos oitenta e poucos. Não se trata aqui de responsabilidade técnica, mas de riscos técnicos de acidentes fatais no trabalho, sem que recaia sobre ninguém a responsabilidade sobre os nossos mortos. Na ocasião do acidente, eu era o técnico industrial de plantão da DVM durante o final de semana, quando fui acionado em casa, no turno da noite, pela Central de Informações do DMAE, tendo em vista que a Estação de Bombeamento de Água Bruta da Hidráulica do Menino Deus estava parada. Ao chegar ao local, fiquei sabendo pelo operador da estação que a equipe da manutenção tinha se retirado do local para levar um dos colegas ao Pronto Socorro, o qual tinha sofrido uma descarga elétrica. Sem maiores informações técnicas de qual defeito estava ocorrendo na estação, tomei os procedimentos para tentar colocar em funcionamento os grupos de bombeamento de água; de modo que sozinho resolvi fechar as chaves seccionadoras de alta tensão no poste de entrada de energia. Quando bati o último elo-fusível pude ter a dimensão da gravidade do acidente de trabalho que vitimou o Bira, pois o prédio ficou parecendo um dragão agitado, cuspindo fogo e soltando baforadas de fumaças pelas portas e janelas, até que novamente queimassem os fusíveis de alta tensão do poste onde eu estava trepado na escada e apavorado com o “cagaço”.
       Na minha prática profissional de manutenção eletro-mecânica levei muitos cagaços com altos riscos de morte, em alguns salvo pela sorte e pelo acaso, para poder estar aqui contando causos. Como o que ocorreu certa feita, quando eu e o Seu Oswaldo (vulgo Cerração, falecido pai do colega Neblina), capataz de equipe e meu primeiro mestre no trabalho de campo da manutenção, estávamos consertando uma chave de partida de um motor de grande porte da antiga USINA (quando ainda era a Estação de Bombeamento de Água Bruta unitária da Hidráulica São João e da Moinhos de Vento). Por sorte, no momento em que fomos testar o funcionamento do quadro de comando elétrico, ao invés de ficarmos com a portinhola aberta para observarmos o acionamento dos dispositivos internos, resolvemos fechar a portinhola para observamos os aparelhos de medição que estavam fixados nelas (amperímetros e voltímetros). Ao apertarmos o botão de liga, ouvimos um grande estrondo dentro do quadro e automaticamente desarmou toda a estação. Depois de corrermos até a rua no cagaço e voltarmos cautelosamente, quando abrimos a tal portinhola, diante da qual estávamos os dois com a cara exposta, vimos que pelo lado de dentro escorria metal derretido que foi projetado em decorrência do curto-circuito que ocorreu, de modo que se estivéssemos com a portinhola aberta, estaríamos fritos!...

        Naquela noite do acidente de trabalho do Bira, logo em seguida chegou o colega Barradas (já falecido), que era o engenheiro plantonista, e juntos colocamos em funcionamento a EBAB Menino Deus. Depois acompanhamos o caso, junto com a capataz Jorjão (que era uma fofura de negão de 180 Kg com “barriga de avental” - também já falecido), então chefe imediato do acidentado. Bira ficou sobre observação médica por vários dias no HPS, por apresentar queimaduras internas, devido aos gases quentes que inspirou na hora que acidentalmente provocou um curto-circuito com as ponteiras do multímetro manual, aparelho com que efetuava medições elétricas e que estava muito próximo do seu rosto. Em decorrência destas queimaduras internas o Bira faleceu, creio que poucos dias depois do acidente, sem ter chegado a sair do hospital.
        A sindicância administrativa interna do DMAE apurou que houve falha humana no manuseio das ponteiras do multímetro que provocou o curto circuito.
-Valeu Bira!

          Valeu! – Também para tantos outros colegas que partiram na ativa, sem chegarem à aposentaria, por morte causada por doença ou “de susto, de bala ou vício - num precipício de luzes entre saudades e soluços” ( Parafraseando o Caetano Veloso - Soy Loco Por Ti DVM!):


-Valeu Wander (Louquinho), Paulo Ricardo de Freitas (Pé de Vento), Araújo Fofinho), Juarez da Silva (Lagartixa), Gilberto Santos (João do Pulo), Paulo Rogério (Gato).
                                   
-Valeu Gelson Barros (Barrinho), Eduardo Calesso: mortos por doenças.
-Valeu Fábio Mentz (Scooby Doo), Roberto Garcia (Poste), Paulo Ricardo Gonçalves (Ratão): mortos por acidentes de automóveis e afogado no mar;

- Mortos por acidentes de trabalho (por choque elétrico e afogamento, respectivamente):
       Valeu Ubirajara (Bira), Cláudio Martins (Careca - que morreu afogado na EBAB Ilha da Pintada).

Valeu! – Também para o outro lado, o dos aposentados da DVM, de onde nos chegou a notícia que neste mês de julho morreu o pastor Tio Pedro (o Amiguinho), assim como tantos outros que chegaram a usufruir algum tempo da aposentadoria, mas que já partiram desta vida:

         Valeu Seu Oswaldo (Cerração), Jorjão, Tio Pedro, Bulbós (conterrâneo de Herval), Fernando (Manjerona), Alonço (Ratinho-Miau!), Iracema, Vera (Dona Flor), Hartmut, Joreci (Jacaré), Eny (Pinóquio), Noel Lucas (Mazzaropi), Ciríaco (Mangona), Carlinhos (Pai herói), James (Mão Pelada), Mário Bernardes (Pantera Cor de Rosa)!
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