LIVRO DIÁRIO DE UMA PANDEMIA

 




                                                DIÁRIO DE UMA PANDEMIA

Dois Anos de Covid-19

PREFÁCIO

“Diário de uma Pandemia - dois anos de Covid-19”, de Celso Afonso Lima, resgata semana a semana os principais acontecimentos dos anos de 2020, 2021 e até a metade de 2022. As medidas de isolamento impuseram a centenas de milhões de pessoas em todo o mundo modificações no comportamento e romperam o convívio social físico humano. Celso Afonso Lima desenvolveu um verdadeiro método para enfrentar o isolamento: acompanhava diariamente a imprensa, confrontava as notícias com informações balizadas, avaliava sua importância e pertinência, e escrevia! O cultivo da escrita, de uma escrita sistemática e racional, pautada por valores de convivência, pela vida, enfrentou as variadas expressões da necropolítica do governo Bolsonaro, e essa luta em que a pena é a espada, convertia-se na própria arma de Celso Afonso Lima contra a ansiedade e a solidão da pandemia.

A intensidade da pandemia favorece seu esquecimento, mas a verve de Celso não aceita entregar a experiência de mão beijada. Ao aceitar integralmente as armas da razão, Celso, desliza para outras racionalidades, incorpora reflexões indígenas, reorienta seu pensamento, refaz seu humor, toma um gole de água para aliviar sua enorme sede de justiça, e nos oferece a expressão de força e esperança em seguir sua jornada, que é nossa, de todas e todos.

O sofrimento que todos conhecemos, se não negamos a gravidade do que se passou nos dois primeiros anos de pandemia aqui no Brasil, o sentimento de ficarmos incertos sobre a nossa sobrevivência fez com que jogássemos com todas as nossas fichas, e Celso Afonso Lima jogou pesado. Suas fichas mostraram uma grande capacidade de pesquisa e avaliação, suas fichas carregaram o alto valor de sua inconformidade e, sobretudo, expressaram grande carga de esperança. Todo o diário é permeado de afeto, são textos construídos com grande esmero, cheios de informações e confrontações, escritos para leitoras e leitores sensíveis, que quisessem e queiram saber sobre a importância do autocuidado social, da democracia e a importância do Estado para a vida nas sociedades contemporâneas, uma elucidação franca e amigável.

Lembranças, amizades, leituras, músicas, a televisão, tempos de universidade, passeios de mãos dadas, seus cabelos a crescer, poesia, literatura e filosofia, tudo se acumula no texto de Celso pela sobrevivência. A inconformidade com a ameaça permanente de morte, com a estupidez do poder, com a ignorância e a irracionalidade é atenuada pela exposição dos fatos e confrontação dos argumentos, como quem se abaixa, levanta a cabeça da criança e a anima com uma explicação. Texto doloroso pelo que evoca, momento duríssimo para todos, acaba por apaziguar pela razão a angústia de continuarmos sobrevivendo ao fascismo, às milícias e à pandemia.

 

Tiago de Castilho Soares

Doutor em Sociologia Política/UFSC

Autor do livro “Désceo Machado nas chanchadas do CBN Brasil”


DIÁRIO DE UMA PANDEMIA

Dois Anos de Covid-19

 

NOTA DO AUTOR

                Quando a pandemia de Coronavírus se espalhou rapidamente pelo mundo e chegou até o Brasil, do norte ao sul do país, ficamos estupefatos com a avalanche de novos acontecimentos amedrontadores que alteravam nossas rotinas cotidianas. Os termos dominantes nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais passaram a ser o uso de máscaras, isolamento social, uso de álcool gel e fique em casa.

Já no mês de março de 2020 dominavam os telejornais as divulgações dos números de novos casos de infectados de coronavírus e de mortes diárias por causa da pandemia de Covid-19, a gripe que o vírus causa provocando graves insuficiências respiratórias. Atônitos ficávamos apreensivos diante dos gráficos que demonstravam o assustador crescimento da gravidade da pandemia em nosso país, em nossa cidade e no nosso bairro. A Covid-19 estava entre nós, onde chegou acelerada e pegando geral.

Como é do meu hábito cultural, em situações de prolongados estresses a minha terapia de autoajuda costuma ser escrever crônicas ou versos narrando os episódios e suas implicações e desdobramentos. Nesse caso percebemos todos que estávamos diante de uma calamidade pública que mudaria radicalmente nossas vidas por um longo período.

Combinando a pandemia com a conjuntura política do Brasil, sob um governo negacionista, percebi que viveríamos numa batalha inesgotável de conflitos diários contra os preceitos científicos de combate à pandemia de Covid-19, pois o bolsonarismo estava sempre negando os protocolos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotados por todos os países do mundo.

Então comecei a fazer anotações dos principais fatos ocorridos diariamente, e passei a assistir religiosamente os telejornais para receber a minha overdose diária de más notícias sobre mortes e sofrimentos pelos sintomas da Covid-19 e pela falta de acesso aos hospitais superlotados. Bem como passei a registrar as peripécias e manobras negacionistas do governo bolsonarista para minimizar o que chamava de “gripezinha”. Comecei assim a escrever este meu Diário de Uma Pandemia, para me convencer a cada dia que no dia seguinte a luta pela sobrevivência consistiria em continuar isolado de quarentena em casa.

Com a população em isolamento social e usando máscaras nas saídas essenciais de casa, naquela época tinha muita gente trabalhando em home office e fazendo lives e vídeos com suas narrativas chamadas de podcasts nas redes sociais. Foi então que, em meados do mês de março de 2020, me animei a gravar no meu celular um vídeo com eu fazendo a leitura de um texto meu sobre a Subnotificação dos casos e mortes pela pandemia no Brasil. Foi assim que me tornei uma espécie de Youtuber, passei a postar no meu canal no Youtube minhas leituras para divulgar os textos do meu Diário de Uma Pandemia.

Logo em seguida recebi uma dica de que, ao invés de fazer a leitura dos meus textos impressos em folhas de papel, eu devia usar um aplicativo de teleprompter e ler os textos diretamente na tela do celular, evitando assim os desvios de olhar e tornando mais padrão “Jornal Nacional” a comunicação com o meu telespectador, por parecer estar falando de improviso.

A partir de então, obtendo algumas visualizações nas redes sociais do Youtube, Facebook e Instagram, fiquei estimulado a continuar desenvolvendo em forma de crônicas os registros dos episódios da tragédia diária que estávamos todos vivenciando, e a divulgar a leitura dessas crônicas do Diário de Uma Pandemia em vídeos nas redes sociais.

Ao final, no terceiro ano da pandemia do Covid-19, já tinha preenchido com anotações em manuscritos cinco cadernos do tamanho de um livro, que se transformaram em 42 crônicas divulgadas em vídeos. Crônicas essas que agora estou publicando aqui, neste formato de livro, que ainda é o arquivo ideal para os textos literários serem guardados.

Faço esta publicação sobretudo por que acredito que as narrativas das ocorrências registradas neste livro, quer sejam trágicas, pitorescas, grotescas ou ideológicas, descrevem a trajetória de uma realidade inimaginável antes e inacreditável no futuro, se não estiver acompanhada da descrição evolutiva diária dos fatos ocorridos. O fato é que durante esta Pandemia de Covid-19 a nossa geração vivenciou uma realidade de um surrealismo ficcional cinematográfico. De tal forma que as gerações futuras não vão acreditar, com a devida dimensão, por tudo o que a gente passou e sofreu de angústias e medos, se não for narrado com o pânico do realismo minucioso do dia-a-dia, como o descrito neste Diário de Uma Pandemia: Dois Anos de Covid-19.

Junho de 2022

Celso Afonso Lima

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