O Caminho dos Aposentados do DMAE


Na semana anterior aos feriados de carnaval de 2013, após ter me assustado com o resultado de um dos exames de sangue do meu check-up bi-anual, uma tal de “proteína-C reativa” que deu disparada seis vezes maior que o valor de referência, corri às pressas para o Gabinete Médico do Dmae. Onde mais se telefona e poucas horas depois se está consultando com um médico(a) de confiança? Nem no caríssimo plano de saúde da Unimed!... É de relevante importância dispormos de uma assistência que possibilite, ao levantarmos pela manhã de uma noite mal dormida, com tosse, gripe ou torção muscular (etc.), podermos telefonar para o Gabinete e marcar horário com os nossos colegas médicos que nos acompanham e monitoram ao longo desta longa jornada de servidores públicos, dando manutenção em nossos equipamentos biológicos.
 Eis-me, quem diria, aposentado, dispondo desta agilidade de assistência médica, qual seja, a de consultarmos, recebermos a receita e retirarmos em poucos minutos a medicação (que já foi gratuita, mas que ainda mantém descontos valiosos e é descontado em folha só no final do mês), benefício que tem que ser computado no rol dos ganhos de quem se aposenta  pelo Dmae. Então, quando me dirigia para a minha consulta médica, encontrei o Seu Pereira, ex-colega que está aposentado há vários anos, que nunca mais tínhamos visto, que me contou estar com oitenta anos, apenas mais grisalho, mas com o mesma estampa e o mesmo riso característico...
No Gabinete Médico se encontram as diferentes gerações de servidores do Dmae, especialmente os que conseguiram se aposentar pelas leis antigas e que, pelo avançado da idade, mais necessitam de remédios com descontos. Da janela da sala onde eu trabalhava podia observar diariamente o que denominamos “o caminho dos aposentados”, na rua Gastão Rhodes, que é o caminho que leva do Gabinete Médico, onde são autorizadas as receitas, até a farmácia Panvel, conveniada para o fornecimento dos remédios, situada na mesma rua, no posto de gasolina na esquina com a Av. Ipiranga.
Comentei aqui no blog, em maio de 2010, que havia visto pela janela passar o Seu Alonso pela última vez, pois pouco tempo depois veio a notícia de que ele já estava morto e enterrado. Disse que alguns deles, quando fazem este caminho dos aposentados, aproveitam para visitar os antigos colegas remanescentes que ainda continuam cumprindo pena ou estão na ativa por opção. Muitos deles, porém, passam direto e fazem questão de não retornarem neste território interno da EME (antiga sigla da Manutenção – DVM/GEMAN), talvez por questões emocionais ou por considerarem que praticamente já não tem mais ninguém do tempo deles.
 A propósito, comentei que naquela época esteve nos visitando o Hélio Vieira de Aguiar (vulgo Azeitona), do qual eu (vulgo Grazziotin) sei o nome completo por termos trabalhados juntos na mesma sala, como técnicos industriais, por muitos anos, junto com o Ranir Zaniratti Junior (vulgo Grilo) e o Romeu Flávio Danilo (vulgo Coringa), este um gênio em mecânica que lamentavelmente o mal de Parkinson aposentou precocemente.

Também nos visitou naqueles dias e tomou “muitos cafezinhos” conosco o Engº Valmor, vindo de uma consulta com o seu psiquiatra (o homem tinha parado de fumar, mas continuava tomando café pra caramba!), ao qual a colega Catarina elogiou de viva voz como sendo o melhor engenheiro mecânico que ela conheceu no DMAE, ao que ele próprio remendou dizendo “mas depois eu enlouqueci”; e eu complementei: o louco quando sabe que é louco é por que já está curado! (O problema se refere, os antigos sabem bem, a um caso clássico de amor entre o diretor e a secretária que, tornado escândalo público, foi interrompido bruscamente e deixou seqüelas psíquicas).
Naqueles dias também eu havia encontrado o aposentado Olírio, vulgo Liquinho, no meio do caminho da Gastão Rhodes, o melhor centro-avante que o nosso time já teve (estilo Romário), que é um daqueles que nunca mais entrou na Divisão. Olírio era radio-amador e tinha uma máquina de filmagem com a qual fez a cobertura do aniversário de um ano da minha filha Luíza, relíquia entre os meus recuerdos.
-Belos anos, valeu velharia medonha da manutenção!
Naquela postagem, da qual estou fazendo uma espécie de remake, eu revelava que todo este fluxo de reminiscências me veio após termos recebido a visita do “Seu Breno das Hidráulicas”, que nos contou que ele entrou no Serviço de Água em 1949, quando ele estava terminando de servir ao exército, no tempo que os capatazes tinham autoridade pra contratar e dispensar operários. Em 1954, ano em que eu nasci, ele foi promovido como o “capataz mais jovem” até então. Funcionário que sempre foi respeitado tecnicamente por toda área operacional, se aposentou com tempo integral de 35 anos pelo DMAE e trabalhou como “contratado”, após aposentado, por mais  20 anos, até 2001. O maior orgulho do Seu Breno, conforme ele nos revelou naquele dia, é ser “o homem que mais colocou a funcionar hidráulicas”, pois todas as hidráulicas existentes ainda hoje foi ele quem preparou e deu o “start”. Este é um feito imbatível:
-Valeu Seu Breno!
- Valeu doutores Emílio, Lélia, Nilton e Beatriz! Especialmente a Drª Beatriz que acompanhou a minha Saga Prostática, quando eu desci ao Inferno dos portadores da doença de câncer, a qual feito a musa inspiradora do poeta Dante (que também se chamava Beatriz), diagnosticou que tudo não passava de uma Divina Comédia. Se Deus quiser eu não vou morrer tão cedo, vou ficar que nem o Seu Pereira, no mínimo até aos oitenta anos, trilhando o Caminho dos Aposentados:
-Valeu e continua valendo o Gabinete Médico do Dmae!




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