SALVEM AS PROFESSORINHAS!


         “Quando alguém se aposenta o melhor é escrever, ler e ensinar, e é o que vou fazer.” – Frase do ex-primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, ao recusar vários convites para ser executivo de empresas multinacionais. Esta frase eu recortei e coloquei sobre a minha mesa de trabalho, como um paradigma de valorização do meu projeto de me dedicar a ler e escrever na minha aposentadoria. No meu caso, porém, dispenso o objetivo de ensinar, por absoluta falta de aptidão, mas reconheço o imenso valor que tem a vocação sacerdotal de ensinar. Salvem as professorinhas do meu Brasil!
        Na coluna de ontem da Martha Medeiros na Zero Hora Dominical (que às vezes, quando gosto do começo, leio até o fim e acho boas), ela se perguntava: Como é que vai ser daqui a um tempo, caso se mantenha este parco vínculo familiar com a literatura, caso não se dê mais valor a uma educação cultural? De geração para geração, diminui o acesso ao conhecimento histórico, artístico e filosófico. A overdose de informação faz parecer que sabemos tudo, o que é uma ilusão, sabemos muito pouco e os nossos filhos saberão menos ainda. Quem irá optar por ser professor não tendo nem local nem salário condizente com o ofício, nem respeito por parte dos alunos?
          O tema da educação está na pauta estadual, nacional e global. Não por casualidade, na mesma ZH-Dominical, há uma abrangente reportagem sobre o assunto que apresenta dados interessantes. No Rio Grande do Sul a governadora Yeda propôs pagar um 14º salário aos professores que atingissem metas, ou seja, queria implantar o critério meritório de valorização; e o CPERS caiu de pau em cima. Esta visão de premiar a competência pessoal e o esforço de uma escola vem do governo de São Paulo, também tucano, onde o governador Serra pagou este ano R$ 655 milhões a 210 mil servidores, uma média de R$ 3 mil para cada um, como bônus por resultados pagos pelo desempenho a professores e funcionários de escolas.
         Nos EUA, o presidente Obama, que é um entusiasta da idéia de pagar os professores conforme o desempenho, criou programas que despejam bilhões de dólares nos municípios cujas escolas adotarem esta prática. É a lógica do mercado e da produtividade: remuneração por performance.
         Pesquisas educacionais recentes indicam que o fator mais decisivo para definir o quanto uma criança aprende na escola é a qualidade do seu professor. Descobriu-se que o aluno de um professor excelente em uma escola ruim aprende mais do que o de um professor ruim numa escola excelente. Assim, a única maneira de elevar o aprendizado é ter certeza de que há um professor bom em cada sala de aula, afirmam as pesquisas.
         Avaliações internacionais apontam que se aprende pouco nas escolas brasileiras. No Brasil há um movimento de educadores e líderes empresariais pressionando pela aplicação de critérios meritocráticos no magistério. O princípio é dar aumento ao professor que faz os alunos aprenderem e punir o que não consegue.
         A polêmica sobre o método de como melhorar a educação no Brasil está instaurada, mas os especialistas lembram que as experiências ainda são raras e os resultados desconhecidos. Uma política pública neste sentido precisa garantir que os professores tenham apoio adequado para conseguirem o resultado, significa boas condições de trabalho. Outra questão é o nível de quem ingressa no magistério que não é o ideal. Como a profissão não é financeiramente atrativa, os mais talentosos, em geral, buscam outras carreiras. Para complicar, esses cursos de formação para o magistério são ruins.


         Este é o ponto onde eu queria chegar, para destacar o paradoxal que é perceber que justamente as pessoas que adorariam dar aulas para os “pestinhas” dos nossos filhos estão fora do magistério, e que elas sofrem por terem que ganhar a vida com outros ofícios até menos nobres e mais enfadonhos...Como é o caso da excelente colega e secretária da Divisão de Manutenção, a Elizete, que é apaixonada pela sala de aula e super qualificada para tal, tanto que mesmo afastada do magistério sempre buscou ampliar sua formação acadêmica, visando um dia poder retomar à carreira, se atualizou recentemente com o curso de Pedagogia - Ênfase em Multimeios e Informática Educativa. Durante um bom período ela até conseguiu conciliar as duas coisas: trabalhar no Dmae para melhorar o salário e à noite trabalhar no magistério por vocação. Mas, como de boa intenção o inferno está cheio, veio a descobrir da pior maneira possível, que não é permitido pela legislação que se exerça as duas funções: ser servidor público e professor ao mesmo tempo, mesmo que em horários diferentes!...Tendo que optar por uma delas, obviamente perdeu o magistério mais uma vocacionada professora.

         Ganhamos nós com o seu convívio alto astral como secretária dos engenheiros da DVM e eu, particularmente (que ela me tem por seu padrinho por ter sido eu quem a trouxe para a DVM em 1997, quando eu era Diretor da Divisão e a resgatei da ASSEC, onde havíamos trabalhados juntos), que agora a tenho no cargo vitalício de madrinha do meu casamento com a Magda: é a nossa Dinda (junto com o Konrad). Assim como a Lili (apelido carinhoso da Elizete na Manutenção), deve haver milhares de histórias semelhantes por este Brasil afora, pois sempre a opção por um ofício de melhor remuneração nunca é pelo de professor.
         Contudo, apesar da tendência tucana e americana de aplicar a meritocracia para valorizar e qualificar o magistério, estudos nos países com melhor educação, com destaque para a Finlândia, concluíram que os campeões em qualidade de ensino não premiam o mérito. O foco está no recrutamento. Para atrair os melhores profissionais vocacionados, os salários são altos e a carreira promissora. É tudo feito para que aquelas pessoas que se destacaram nas escolas de ensino fundamental optem pela carreira do magistério na universidade. Lá as faculdades de Educação são as mais concorridas. – Que loucura!...


         Enquanto essa realidade dos gelados países nórdicos nem em sonhos é realizável por aqui nos “tristes trópicos”, a Lili vai buscando dentro do DMAE se aproximar o máximo possível de sua vocação, tentando migrar da área operacional para a área de recursos humanos e, mais especificamente, para a área de treinamento. Agora, com a instituição da UNIDMAE – Universidade Coorporativa do DMAE – (tomara que este nome pomposo signifique alguma mudança prática na deficiente cultura de treinamento em que o departamento sempre incorreu) é notório que esta área está em alta, com status e influência na atual administração. Avalio que a UNIDMAE está com cacife político e faro qualitativo para adquirir o passe desta professorinha que está deslocada em atividades incompatíveis com os seus talentos de ensinar ao próximo, sempre com alegria e perspicácia. Mais dia, menos dia, esta guerreira vai conseguir seus objetivos e, a partir de então, passo a colocar mais fé que o pomposo nome da área de treinamento dos recursos humanos do DMAE vá significar uma mudança prática e não apenas uma maquiagem nominal.

- Valeu Elizete Fátima Maciel dos Santos!

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