Vivemos na sociedade do espetáculo, onde só interessa o que vira show. A política é um espetáculo tanto quanto o futebol, sendo que em ambos é criada uma partidarização simulada para prender o público como sendo desse ou daquele time ou partido. Mas os profissionais dos referidos espetáculos (jogadores e políticos) não são permanentemente de nenhum time ou partido. O ex-prefeito Fogaça, por exemplo, abandonou o pequeno PPS que o elegeu prefeito para poder usar agora como seu “avatar eleitoral” a grande estrutura do PMDB, mas taticamente deixou importantes aliados encastelados dentro da sua antiga legenda na prefeitura.
A propósito, todos recebemos um e-mail corporativo da Direção Geral do Dmae, Comunicado nº 51/10, comunicando que após uma construção que durou 5 anos, reunindo com o SIMPA, SENGE, ASTEC e lideranças do DMAE, visando a profissionalização dos cargos de gestão e a valorização dos servidores, estava dando seqüência ao esforço de modernização do DMAE ao dar entrada na Câmara de Vereadores com o Projeto de Nova Estrutura Organizacional do Departamento. Comunica, por fim, que agora a nova etapa do espetáculo será a tramitação parlamentar e no jogo de cena teatral no plenário.
Ao mesmo tempo recebemos também o seguinte e-mail do sindicato: Colega, convocamos todos(as) os servidores do DMAE para discutirmos nossas ações referente ao Plano de Reestruturação do DMAE, encaminhado a Câmara de Vereadores, sem a devida discussão com a categoria. - Informava ainda que o “espetáculo da nossa discussão” será no auditório do SIMPA e o espetáculo das nossas ações será posteriormente no Paço Municipal.
Entrando um pouco no mérito dessa discussão que agora se tornou incontornável, está na cara que o DMAE é o projeto piloto e a menina dos olhos da “Gestão Fogaça-Fortunati”, é o equivalente ao Orçamento Participativo da Era Petista. Primeiro houve a corrida pelos Prêmios de Qualidade-RS do PGQP, conquistando o de bronze em 2008 e o de prata em 2009. Mas a carta na manga mais espetacular da atual Administração é a audaciosa Reestruturação do DMAE, que pretende a redução dos 9 níveis existentes de hierarquia de chefias para apenas 5, isto através da extinção de cerca de 40% das FG´s (com direito a incorporação proporcional ao tempo de exercício até o momento da sua extinção) e mediante a compensação de instituir as chamadas GDO’s – Gratificação de Desempenho Operacional - para os chefes de equipes de rua (acabando com as incorporações de FG’s a partir de então); além de promover a redução pela metade do número de CC’s e em 40% a quantidade de Unidades Organizacionais dentro do DMAE; assim como sentencia a extinção das CC’s Mistas (com regra de transição de sobrevivência para os seus atuais detentores enquanto o forem).
Resumindo, o bordão promocional da Reestruturação do DMAE é que “sem aumentar gastos, e sem provocar perdas salariais para ninguém”, o projeto realiza a mágica de mexer na estrutura que até então era tida como “imexível” por todas as administrações anteriores, pretende mostrar que é possível modernizar a gestão pública em conformidade com os critérios internacionais de qualidade e eficiência.
Sabendo-se que a representação parlamentar obedece ao roteiro prescrito pela maioria dos vereadores, e sendo majoritária a base de apoio do atual poder executivo municipal: Adivinhem se o projeto de reestruturação do DMAE vai ser ou não aprovado? É xeque-mate!...
Por enquanto, sem entrar no coro dos contras, avalio que o projeto tem o mérito de possuir grandes sacadas para soluções dos impasses históricos no campo das “perdas e danos” salariais ocorridos nas vãs tentativas de projetos anteriores de restruturação, mas da maneira como está concebido, do ponto de vista de operação e praticidade funcional, está parecido com um Frankenstein, poderá até funcionar quebrando todos os paradigmas, mas está muito desengonçado para que se possa apostar que a criatura inventada vai se levantar e fazer o DMAE andar melhor do que esta velha e arcaica estrutura tem feito há décadas.
Resta ainda na cartola da arena de espetáculos, nos bastidores do Paço Municipal, o script com a partitura da orquestração do “Vento Negro” desta Nova Estrutura, que tem por música de fundo o Projeto de Reforma do Plano de Carreira, o qual será exigido no clímax do show, como o parafuso na cabeça do Frankenstein, para dar-lhe o poder de fazer com que todos dancem conforme a música. Com o Novo Plano de Carreira haverá o recurso de ajustes finos no aperto do parafuso que libera mais ou menos grana conforme o desempenho de cada servidor dentro da nova estrutura, será um instrumento gerencial econômico como o chicote foi da força na era colonial.
Ainda bem que já estarei fora, assistindo do privilegiado camarote dos aposentados, quando esta nova estrutura receber o sopro de vida e começar a botar os pés pelas mãos para sair do papel e dos gabinetes, onde até agora tem feito shows para platéias restritas, e cair nas valetas dos dia-a-dia de quem realmente faz a água potável rolar nos canos e lida com o fétido esgoto cloacal da cidade. Tomara que o Frankenstein funcione, posto que já se afigura como inevitável, e tomara que faça um belo espetáculo por uma longa temporada, posto que pelo meu direito de “aposentadoria com paridade” também dependerei das conquistas do pessoal da ativa e sofrerei suas perdas.
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