Dentro da DVM tem uma placa indicativa de nome de rua, fixada na esquina que as paredes dos pavilhões formam no pátio da Divisão. Rua D. Pedro I - Primeiro Imperador e Proclamador da República em 1822, é o que está escrito na placa. Quantos de nós nunca perceberam a existência desta placa que desde remotas eras está ali? E quantos de nós que notamos a placa, nunca nos perguntamos porque ela está ali?
Hoje, depois de ter notado o envelhecimento do mendigo Rodrigo, que vive pelas redondezas e que, por tão longa convivência com o corpo funcional da região da Princesa Isabel, é praticamente um funcionário do DMAE, me chamou a atenção a tal placa de rua que já estava ali quando eu entrei para a Manutenção em 1978. Segundo relato do pessoal remanescentes da época do meu ingresso, but I don’t remember, eu era um hippie cabeludo, de bornal, vestia bata e calçava tamancos...
Curioso, decidi consultar o oráculo da manutenção para relembrar detalhes sobre a rua D. Pedro I. Novamente recorri à Engª Catarina, que tudo viu e tudo sabe, que me explicou que entre a Seção de Veículos e o Depósito tinha uma rua que unia a Rua Gastão Rhodes com a Rua São Francisco. As casas desta rua foram desapropriadas pelo DMAE, e a comunidade que constituía esta vila foi removida desta região. Com a demolição das casas, a placa do extinto logradouro público foi resgatada e preservada como parte da história da Divisão de Manutenção.
O mendigo Rodrigo é como uma alma penada desta comunidade da extinta rua D. Pedro I, perambulando com suas tralhas passou a vida inteira vivendo na rua, dormindo nas calçadas ao relento, delirando na sua demência geralmente amistosa, como que procurando sua possível família e casa destruída (porém sem nunca perder o tino de quanto vale o dinheiro: -Me dá cinco contos! – costuma me intimar sempre que me vê, depois de há muitos anos atrás eu, sem troco, ter-lhe dado uma nota de cinco reais).
Mas o envelhecimento do Rodrigo reflete o nosso próprio envelhecer, ele em condições infinitamente mais hostis do que as nossas de estáveis funcionários públicos, vivendo das escassas esmolas que lhe jogamos, é um heróico sobrevivente como nenhum de nós se imaginaria conseguir vivendo no reino dos seres famintos como ele viveu.
Assim, perambulando rotineiramente pela extinta rua D. Pedro I, um hippie feito barnabé e um portador de deficiência mental tornado mendigo, envelhecem como vidas paralelas no mesmo tempo e espaço, até que as paralelas se toquem no infinito de cada um, e todos voltem a se irmanar no pó de onde viemos, nos misturando inclusive com o primeiro imperador.
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