Sobre o primeiro turno das eleições, como que colocando uma pá de cal sobre o assunto, digo que “faço minhas as palavras de Flávio Tavares”, publicada num artigo intitulado Mágicas da Eleição, em 10/10/10 na Zero Hora. Para dar a devida grandeza deste respaldo literário e político, resgato antes um pouco da bibliografia do citado autor.
O jornalista e escritor gaúcho Flávio Tavares, colunista político durante quarenta anos, acompanhou de perto, como jornalista e militante de esquerda, episódios que levaram ao golpe militar de 64, e à posterior repressão e à luta armada (foi o último jornalista a estar com Jango Goulart em Brasília, na queda em 1964). O Flávio já reuniu em dois livros suas lembranças. Em “Memórias do Esquecimento” nada escapa à sua crítica: a guerrilha, a imprensa, os companheiros de militância, os militares e os políticos. Analisa a sua própria conduta e aponta erros cometidos em nome da “causa” transformada em obsessão. No livro “O Dia em que Getúlio Matou Allende” – expõe fatos, observações e análises em torno de políticos e personalidades que fizeram a recente história política brasileira.
Histórica foto dos tripulantes do avião Hercules 56
(Dos 15 presos políticos trocados pelo embaixador sequestrado, seis já faleceram.)
Em pé: Luís Travassos, José Dirceu de Oliveira, José Ibrahin, Onofre Pinto, Ricardo Vilas Boas, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Ricardo Zarattini e Rolando Frati. Agachados: João Leonardo Rocha, Agonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti e Flávio Tavares. Não aparecem na foto Gregório Bezerra e Mario Zanconato, embarcados em Recife e Belém, a caminho do México.
O jornalista Flávio Tavares, de 1960 a 1968, foi comentarista político da Última Hora do Rio e de São Paulo. Preso, o jornalista integrou o grupo dos 15 prisioneiros políticos libertados em troca do embaixador americano, Charles Elbrick, seqüestrado pela guerrilha urbana em 1969. Banido do país, foi redator do jornal Excelsior, do México, e logo seu correspondente latino-americano, com sede em Buenos Aires, acumulando na América Latina e Europa as funções de correspondente internacional de O Estado de São Paulo, do qual foi, também, editorialista político nos anos 80. Foi ainda correspondente da Folha de São Paulo na Argentina.
Em julho de 1977, Flávio foi sequestrado por militares dos órgãos de repressão do Uruguai, um braço da Operação Condor, passando 195 dias preso. Libertado depois de uma campanha internacional, foi morar em Lisboa, voltando ao Brasil com a anistia de 1979.
Posto o devido peso político desta opinião, concordo primeiramente com a problemática do desencanto com a política, que ele coloca neste artigo:
Igualmente fico indignado com a manipulação dos institutos de pesquisas, pois o que era pra ser um trabalho sociologicamente científico fica transformado em atividades de publicidade:
Peço uma especial atenção para o inspirado comentário de Flávio Tavares sobre a “ânsia de um setor independente da população de sentir-se mobilizados por grandes causas”, ânsia esta canalizada para a candidatura da Marina Silva:
É importante se fazer uma reflexão séria do que significa transformar a “a eleição - a festa da democracia” num espetáculo midiático, de tal forma que atraia para o ofício muito bem assalariado de político as celebridades de todas as áreas do entretenimento público, desde os palhaços, os atores e jornalistas da TV, e até mesmo os jogadores de futebol, bastando para isso que sejam suficientemente famosos para atrair votos para si e para a legenda:
E conclui o seu artigo Flávio Tavares, com sua respeitável experiência política, sugerindo que diante das “mágicas da eleição” só nos resta torcer (com a oposição fanática das torcidas de um jogo grenal do “PT versus PSDB”) ou rezar (mesmo aos ateus que não acreditam em bruxas!):
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