DILMA, A CONTINUIDADE DO “CARA”


         Futebol e política não se discute. Cada um vota e torce para a sua agremiação preferida, e acredita que ela é a melhor de todas. Todavia, o que mais se faz e o que mais revigora as agremiações, tanto esportivas quanto políticas, é o bate-boca nos botecos  e nos locais de trabalho, é a gozação de uns sobre os outros e a revanche destas brincadeiras, conforme se vença ou perca as competições. É o ópio do povo. Mas nos troca-troca dos atletas e políticos, ninguém é de ninguém; a ideologia e a fidelidade está mais na torcida do que nos partidos e times de futebol.
         Política e corridas de cavalos não se discute, se aposta. A diferença é que em política os indecisos geralmente apostam em quem as pesquisas indicam como prováveis vencedores, e nas apostas de prados o melhor é se apostar nos azarões, os concorrentes que entram no páreo correndo por fora, pois são estes que pagam os melhores prêmios. Eu já apostei por muitos anos num azarão, que era um petiço vermelho que ostentava uma estrela no peito, o qual cresceu e passou a ser o favorito de todas as eleições.

         Com oito anos no poder, com a re-eleição indireta já garantida por mais quatros anos, e ainda com uma bilhete premiado na manga para o seu retorno por mais dois mandatos, após este mandato tampão da companheira Dilma, resolvi apostar em outro azarão para criar uma opção a este continuísmo dos mesmos no poder por prováveis 20 anos consecutivos. Apostei no primeiro turno na Marina Silva e na bandeira de tornar a sustentabilidade do planeta um movimento político de massa. A candidatura da Marina pelo Partido Verde até que fez bonito, conquistou 20 milhões de votos, determinou a existência de uma segundo turno na eleição, e inclusive chegou na frente do Serra em vários estados do país (Rio, Pernambuco, Amazônia e Amapá)!

          Para o segundo turno cheguei com a “independência crítica” proclamada pela Marina Silva que enquadrou  o Partido Verde. Marina ressaltou que há diferença entre independência e neutralidade: "Na neutralidade você simplesmente se ausenta do processo. Nós apresentamos cerca de dez pontos com 42 itens que consideramos importantes para o aperfeiçoamento da gestão pública. E isso é ter uma atitude de compromisso

          Total, da grande festa popular da democracia, resultou um senado cujo patrimônio médio dos senadores eleitos é superior a 4 bilhões de reais, e um Congresso Nacional composto de bilionários, cuja média dos patrimônios dos deputados federais eleitos é superior a 2 bilhões: são os ricos fazendo a representação democrática do povo brasileiro!
       Conforme a despolitização na disputa do segundo turno ganhava contornos de baixaria, derivando sobre dogmas de fé e conceitos reacionários sobre abortos e homossexualidades, cada vez mais eu tendia a retornar ao meu anárquico “voto nulo” da eleição anterior. Mas fiquei com o espírito aberto, e vivenciei com atenção a influência que a guerra de mensagens na internet pode exercer sobre os eleitores. A princípio eu era como a Velhinha de Taubaté (personagem do Luís Fernando Veríssimo que acreditava em tudo que o governo da ditadura dizia), eu acreditava que esta discussão sobre privatização era coisa já superada, uma vez que atualmente o que se pratica (tanto pelo PSDB como pelo PT) é a terceirização dos serviços públicos. Considerava que era apenas uma estratégia de colar uma pecha na imagem do adversário, até que recebi um email com o vídeo do próprio Fernando Henrique Cardoso declarando a influência que o Serra exerceu no seu governo para a privatização da Cia Vale do Rio Doce... Aí eu temi pelo pré-sal!

          Até a descoberta destas grandes reservas de petróleo nas profundezas das terras brasileiras submersas nas águas nada pacíficas do oceano, eu achava que não tinha mais nada da dimensão da “Vale” para ser privatizado. Mas com o pré-sal, levei medo que esta concepção privatista do Serra pudesse retornar e fazer um estrago ainda maior do que já fizeram no governo FHC. Ou seja, fui mais um dos tantos  eleitores  influenciados pela internet, este novo poderoso veículo de propaganda política nas campanhas eleitorais.
       Ainda assim, dotado da minha ‘independência crítica”, não me sentia suficientemente  representado pela candidatura petista, pelo menos não a ponto de querer me comprometer com a sua eleição. Preferia ficar na observação das tendências do eleitorado e ficar com  possibilidade de lançar mão do “voto útil” na Dilma, contra a privatização do pré-sal, caso a disputa chegasse empatada na “boca de urna”.

    Mas ocorreu que a minha filha, petista como a maioria dos jovens estudantes de sociologia, viajou para Santa Catarina no feriadão eleitoral, e me pediu para votar por ela na Dilma. O que é que não fazemos por nossos filhos?...

         Na solidão da urna eletrônica, digitar o saudoso 13 foi fácil. Mas o susto foi enorme quando apareceu a foto do Michel Temer na telinha, sacanagem! Eu vou ter que votar neste cara, neste tipo de político da pior espécie, que conseguiu ser três vezes presidente da Câmara dos Deputados, o maior covil de picaretas?  Falando sério e francamente: não seria mais de esquerda votar no Serra e no PSDB que no Temer e no PMDB?...A mesária  ao ouvir as minhas exclamações imtempstivas em voz alta na cabine indevessável até se manifestou:
-Tudo bem aí, senhor? 
           Conclui a minha votação e saí respondendo:
-Tudo bem, bem, não está...mas talvez vai ficar.
           Tudo bem, afinal ele é apenas candidato a vice-presidente (como o Sarney, de péssimas lembranças pela frustração da campanha das Diretas Já!), o Tancredo da vez é a Dilma, forjada no lulismo.
          Cumpri a promessa feita, compensei a abstenção da minha filha votando na candidata do Lula, este gênio da política que fascinou o mundo com o seu carisma simplório e autêntico de se comportar em todas os ambientes, por mais sofisticados que sejam.
         Assim o Lula definitivamente constituiu o “lulismo”, por ser ele capaz de eleger à presidência da República uma pessoa que participa pela primeira vez numa disputa eleitoral (que não seria uma candidata natural do PT), contra uma candidatura de um político experiente que já foi vereador, deputado, prefeito e governador de São Paulo e também ministro, de cujos mandatos saiu de “mãos limpas” e com uma ficha de realizações importantes para o país.

   Ao fim desta eleição, valeu pela continuidade às inovações no quadro político mundial (depois da eleição de um negro nos EUA, de indígenas que assumiram o governo de países na América do Sul, de um operário no comando brasileiro), agora é a vez da PRIMEIRA MULHER PRESIDENTE DO BRASIL!



     
         

Um comentário:

  1. Bueno, vim espiar e não consegui parar de ler. Pertinente, simples sem ser simplório, profundo mas inteligível: nem parece um filósofo :)
    Só não sei se tua hipótese de ser um mandato tampão se confirma, já que poder vicia.
    E entendo perfeitamente teu arrepio ao ver Temer na fotinho! Eu, trêmula, digitei um 15 para governador (não fosse um 15 seria um tal de Anastasia!), vi a foto de Helio Costa e saí chorando. Essa parte tomaladaca da política me dá náuseas.
    Enfim, agora já era. Saúde e sabedoria para nossa presidente, que logo ela MOSTRE que não preciso sentir este frio na espinha.
    Um abração, Verônica

    ResponderExcluir