AGENDA DE JULHO DE UM APOSENTADO

     A  cena cultural portoalegrense no mês de julho é uma loucura, pra quem não está acostumado não é fácil acompanhar tantas opções. Dentro do espírito de dar uma idéia do que pode fazer um aposentado com o seu tempo, relato o pouco que eu consegui fazer, por falta de tempo (acreditem!), na minha agenda de julho:
         Início de julho é final de semestre letivo na UFRGS. Terminei de ler dois livros em español do García Márquez: a Crónica de Una Muerte Anunciada, para apresentar um resumo escrito; e o Relato de Un Náufrago, para relatar em aula como prova oral da disciplina de Español I, na qual obtive aprovación con B!
Truffaut
Ciclo de Cinema: Em pleno horário de expediente, na Sala Redenção da UFRGS - Ciclo Infância no Cinema (de 1º à 29/julho): assisti grátis ao filme Os Meninos da Rua Paulo do diretor Zoltan Fabri, em que se dá a disputa de um terreno baldio por dois grupos de meninos que entram em guerra; e também grátis assisti ao filme O Garoto Selvagem do diretor Truffaut, que narra a trajetória sociológica de um menino que, abandonado na selva, se criou sem contato com ninguém até ser apreendido como objeto de estudo.
 
Engavetar o meu pedido de aposentadoria?
         A minha Antecipação Natalina (conhecida popularmente como pagamento antecipado da metade do 13º Salário em julho) esteve ameaçada, isso caso o PREVIMPA emitisse a portaria da minha aposentadoria antes do preparo desta folha de pagamento. Por este motivo, e também pela expectativa de poder receber a gratificação de R$ 500,00 que o prefeito prometeu pagar aos engenheiros, a título de VRT (Valorização de Responsabilidade Técnica) em decorrência do Movimento dos Capacetes Brancos, fiquei torcendo e pedindo para que o PREVIMPA seja o mais demorado possível no despacho do meu processo. Agora que já recebi o Abono Natalino, relaxei. Total, fazendo bem as contas, tirando o imposto de renda destes R$ 500,00 prometidos, sobra menos do que estou perdendo por estar pagando integralmente a previdência ao invés de pagar apenas sobre a parcela que exceder o teto de isenção. Então, relativamente a esta pretendida gratificação de VRT, resta saber se ela será extensiva também aos aposentados que tem direito a paridade com o pessoal da ativa, por isso sim, tô na luta!...

Debaixo do cobertor + edredom:
        Eta mês de julho frio e chuvoso este! Sabe aquelas manhãs frias e escuras que a gente não quer sair da cama por nada desse mundo?...Sabe a aquelas tardes chuvosas que a gente sempre fica imaginando como seria maravilhoso ficar sesteando até às duas ou três horas?... Pois isso tudo eu estou realizando e afirmo que este outro mundo (longe do local de trabalho) é maravilhosamente possível: basta se aposentar!
No gargarejo do Arnaldo Antunes:
        Baita show o "Arnaldo Antunes ao vivo lá em casa" de um artista performático no palco do Teatro Bourbon completamente lotado de um público encantado com a sua poética musical. Teve destacada contribuição para a criação do clima mágico do espetáculo os solos do Scandurra, que era o guitarrista do Ira!. O 6º Festival de Inverno também promoveu uma palestra do Arnaldo Antunes no Teatro de Câmara, onde o cara se mostrou um papo-cabeça articulado e consciente da arte que faz. Na minha opinião, Arnaldo e Zeca Baleiro são os melhores compositores da MPB atualmente (pena é aquela voz encatarrada do Antunes, mas ao vivo funciona tri-bem!).

       Participei da Oficina de Crônicas, do 6º Festival de Inverno, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, ministrada em cinco manhãs pelo lendário jornalista dos tempos áureos da saudosa Caldas Junior não igrejeira, o Walter Galvani. Pra se ter uma idéia da trajetória do oficinista, o homem já era jornalista quando o Getúlio Vargas morreu e quando eu nasci, em 1954. Foi patrono da Feira do Livro portoalegrense e tem vários livros publicados. Suas explanações são permeadas de causos e passagens de sua longa vivência com a escrita e com as personalidades que fizeram história e povoam nosso imaginário cultural portoalegrês.
      Criatividade não se ensina, mas é identificando as dificuldades inerentes do processo criativo e da aceitabilidade do texto em termos de oportunidade, relevância e mérito literário na forma do autor colocar a sua opinião, que vai se aperfeiçoando a técnica de se deixar expressar o talento de cada um.
        Escrever é julgar e se expor, ensina Walter Galvani. Crônica é o relato de uma visão peculiar de algo de forma a torná-lo de alguma maneira interessante para o leitor. Fazer crônicas é provocar estranheza com o trivial e simplificar o complexo, fazendo conexões das coisas e acontecimentos do mundo com os aspectos cotidianos da vida e vice-versa.
         Durante a oficina de Crônicas tivemos a oportunidade de escrever duas crônicas como exercícios de se fazer o “vôo da gaivota” para capturar o assunto, bem como para desenvolver o texto dentro de limites que exigem a sua depuração (máximo de 2.400 toques contando os espaços em branco). Reunidos numa turma que continha os mais variados profissionais (jornalistas, professores, empresários, aspirantes a escritor, doutorando em letras, advogados, e até um juiz e eu como ex- engenheiro), da oficina ficou o valioso saldo que é o fato do ministrante se propor a fazer acompanhamento posterior, disponibilizando o seu email para contatos. Ter-se disponível um mestre como orientador nos meandros da redação, não tem preço!
        Valeu Mestre Walter Galvani, a primeira oficina a gente nunca esquece.

Um comentário:

  1. Tenho uma amiga, chamada Gilda, jornalista aposentada pela UFRGS, que tem um roteiro semelhante ao teu: cultural e artístico, físico e espiritual de "alto brilho" meu camarada. Me vejo assim no futuro também meu gurú, se não dobrar a esquina antes dessa maravilhosa oportunidade de experenciar o melhor da vida. Grande abraço Celso.

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