Manifestações de protestos na Europa: por quê?

Em 2010 houve manifestações de rua em  Paris contra a reforma de previdência que aumentava de 60 para 62 anos  a  idade de aposentadoria naquele país. Agora em 2011, também em reação aos pacotes econômicos governamentais, as manifestações de rua de jovens e estudantes se espalharam com força pela Grécia e pela Espanha, também repercutindo na Itália, Irlanda, Portugal e agora até em Londres. Ou seja, a Europa do Euro está tremendo nas bases!
O que está acontecendo com o Velho Mundo que apostou todas as suas fichas na união monetária do mercado comum europeu em 1999, e agora assiste a deflagração de crises graves em vários países do bloco, com a opinião pública se voltando contra o euro?...É como em maio de 1968, em que movimentos espontâneos, não partidários, eclodiram contra tudo e contra todos, pipocando em vários países, e que ninguém entendeu muito bem até hoje?...
As notícias dos jornais e televisões, como sempre, não são esclarecedoras nem formadoras de opinião, são meramente alarmistas e sensacionalistas. Enquanto os “indignados” espanhóis reuniam nas praças de Madri e Barcelona dezenas de milhares de manifestantes marchando contra o “pacto europeu”, desde maio até junho, eu lia e ouvia atentamente tudo o que diziam, mas os veículos de comunicação não dizem nada, nada, nada não! (parafraseando a letra de uma música dos Engenheiros do Hawaí)...
Foi enquanto o pau comia em praça pública no mês de julho na Grécia, que estava ameaçada de decretar calote na dívida externa, que de tanto catar informações  aqui e ciscar interpretações ali, consegui articular uma compreensão mínima de que bicho está pegando por lá. Trata-se do estouro da mais uma bolha do mercado financeiro, desta vez é a grande bolha do euro. Li na Zero e no Correio que a nova moeda trouxe a ilusão de riqueza: o juro baixou e, com crédito fácil e barato, as famílias compraram casas, carros e férias fantásticas. Países como Portugal. Irlanda e Grécia passaram a consumir como os alemães sem produzirem riquezas suficientes. Tanto foi que as famílias não puderam mais pagar os financiamentos e a bolha explodiu, provocando recessão e desemprego nesses países.  Uma vez resgatados emergencialmente como enfermos pelo FMI, em troca estes países se comprometeram com planos de austeridade ditados pela União Européia (UE). Assim, os países deixam de ser independentes, pois é a UE que vai determinar as reduções de salários, cortar os apoios sociais e aumentar os impostos. É mole?...
Claro que os jovens vêem um futuro sombrio pela frente. São pessimistas e acreditam que os políticos destruíram o futuro deles. O euro trouxe falta de soberania, a pobreza aumentou e a corrupção permeia a burocracia partidária no sistema de eleição por listas, onde os políticos tem mais lealdade ao partido do que ao eleitor.
O profeta da ruína do euro, o economista Edward Hugh, defende que os países devem abandonar a moeda européia unificada para recuperarem competitividade, uma vez que todos estão impossibilitados de operar uma política monetária própria. A Europa, depois de muitas décadas de taxas de fertilidade abaixo das de reposição, só tem pela frente o baixo crescimento demográfico, com aposentadorias em alta e com crescentes compromissos de atendimento à saúde. O enigma é como tornar sustentável uma previdência  para uma população de idosos sem taxar cada vez mais os jovens. A influência e o poder da Europa estão em declínio, inclusive sobre o FMI.
A Ásia e a América Latina são forças que crescem em escala global. Países como a China e o Brasil têm pela frente um futuro bem mais brilhante.
Hum...agora entendi. Mas, cá entre nós, ainda bem que o MERCOSUL abichou, não vingou, ficou cada um puxando pro seu assado e disputando beleza até que deu merda! Tem males que vem pra bem, a gente ainda é feliz e nem sabe. Somos a última geração de funcionários públicos com aposentadoria integral, talvez os últimos no planeta globalizado todo! A Dilma que não me ouça...

Um comentário:

  1. Celso, esta estória está semelhante à crise de 2008 nos Estados Unidos. Parece que quando se abre as porteiras do crédito fácil e do juro baixo, todos querem recuperar em um ano o que não viveram numa vida toda.
    Por algum tempo, a Europa esteve longe desses dramas com o Estado de Bem-estar social funcionando como um guarda-chuva contra a pobreza.
    Agora, com a imigração em massa, a globalização de suas indústrias e bancos, o emprego entrou em déficit e aumentou a concorrência.
    São problemas complexos e de solução dolorosa.
    É, com o tempo, temos de nos contentar com o que ainda não nos tiraram...

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