UM ESTRANHO NO NINHO DO DMAE

Tudo mudou depois da reestruturação do Dmae ocorrida em 2012, nada mais é como antes. Houve total mudança dos nomes dos órgãos internos e muitas trocas de locais de trabalho com fusão de atividades distintas. Um aposentado da Velha Guarda vai ter grande dificuldade para localizar o que restou de sua antiga tribo de trabalho. A Divisão de Manutenção, tratada como um “Case Especial Piloto”, se manteve integralmente no mesmo lugar, mas deixou de  ser DVM e virou GMAN.
Outro dia, em uma das minhas já raras visita na nova GMAN, fui utilizar o banheiro do vestiário das equipes de manutenção, local reformado recentemente conforme os critério da OHSAS (sigla em inglês de Sistema de Avaliação da Saúde e Segurança do Trabalhador), e fiquei impressionado com o que vi. Normalmente os vestiários dos peões se assemelham a cenas de presídios, com toalhas velhas e fardamentos encardidos e puídos estendidos nas portas dos armários. Mas, acreditem, no “Case Piloto GMAN” estes problemas se acabaram.
 E não é só isso, agora cada funcionário simplesmente joga a toalha e os fardamentos sujo na tulha, no coletor de roupas para a lavanderia, e os recebem semanalmente de volta em seus respectivos escaninhos numerados, tudo lavado e passado no capricho. Quem imaginaria uma coisa dessas há tempos atrás?... Mas quem consegue imaginar esta realidade, não só num “Case Piloto”, mas acontecendo em todo o Dmae e, quiçá, em toda a Prefeitura?...Só pinel!


Assim, os vínculos com antigo ambiente de trabalho de um aposentado vão se rompendo, pois o inativo já faz parte de uma realidade que deixou de existir. A questão da “Assistência Médica”, por exemplo, fez com que eu mantivesse um vínculo com uma associação do Dmae, a Aeapoppa, por causa do Plano de Saúde da Unimed. Quase quarenta anos se passaram durante a minha carreira profissional, e a questão da Assistência Médica continua na mesma embromação por parte da Prefeitura. Atualmente o problema tem sido agravado com buscas de alternativas esdrúxulas, como opção de vincularem os municipários ao Instituto de Previdência do Estado (IPE) ou, pior, o Dmae patrocinar um convênio, feito nas coxas, com uma clínica particular, o Centro Clínico Gaúcho, em detrimento da Associação dos Funcionários Municipais (AFM), que há décadas presta atendimento médico aos servidores. A AFM tem conseguido manter o Hospital Porto Alegre atendendo os servidores, apesar da sonegação dos repasses das verbas devidas pelo Dmae, como órgão patronal que devia garantir os direitos trabalhistas dos municipários de terem assistência médica. Hoje, definitivamente desiludido, estou migrando para o Plano de  Saúde da Unimed conveniado com o Sindicato dos Engenheiros (SENGErs). Portanto, estou perdendo também este vínculo com o Dmae através da Aeapoppa:
- Valeu bravos colegas da diretoria da Aeapoppa, parabéns pelo exemplar trabalho de recuperação financeira da associação para garantir o plano de saúde para mais de 700 vidas!
Saiu o último Dinossauro da Manutenção do Dmae: Éramos quatro na sala, os quatro dinossauros na jaula de extinção. Com a aposentadoria do Jalba, ficamos em três. Depois, com a minha saída para o mundo encantado dos “inativos”, restaram apenas dois na cela do Jurassic Park. A Engenheira Catarina, a Madrinha da DVM, protocolou o seu pedido de aposentadoria no Previmpa em agosto/2013. Depois disso restou apenas o Álvaro como o último Dinossauro da Manutenção do Dmae, o último de nós a atingir o status de Dinossauro com D maiúsculo, ou seja, além de já ter a função gratificada de Diretor incorporada ao salário e ser letra D na progressão final do Plano de Carreira, também conquistar os direitos de integralidade e paridade com o pessoal da ativa ao se aposentar.
O último dos Dinossauros, como já comentei aqui, é um jurássico que vai comendo o mingau pelas beiradas, vai cozinhando o galo com sua risadinha de hiena esperta e sua paciência de monge tibetano e, via de regra, de tanto “rodear o toco”, como quem não quer nada, acaba sempre desencantando soluções mágicas inesperadas. Então, saibam todos, que o Álvaro protocolou  o seu pedido de aposentadoria e irá se aposentar, não só com o status de Dinossauro com D maiúsculo, mas também levando as letras E e F (Dinossauro Especial Fortificado), letras de progressão criadas como vantagens após a minha aposentadoria. Os novos Dinossauros extintos são mais graduados e mais bem pagos do que os que deixaram de ser ativos até 2011.
No evento da saideira “dedada” do Álvaro no relógio ponto biométrico do Dmae, no seu último dia de trabalho, ele me fez entender que o tal direito de “paridade com o pessoal da ativa”, conquistado em lei pelos aposentados, é uma falácia. Só agora me caiu a ficha, cerca de dois anos depois, que no pacote da Reestruturação do Dmae em 2012, além da concessão de Gratificação por Desempenho de Atividade Essencial (GDAE), passou de contrabando outra coisa. O acordo aprovado pelos vereadores estabeleceu também mudanças no Plano de Carreira: Ampliação da Progressão Funcional, criando mais duas referências (letras E e F) para serem  concedidas a quem completar 24 e 30 anos de serviço, respectivamente. Os aposentados anteriormente em “final de carreira”, por serem uma espécie já extinta de dinossauros, fósseis inativos, ficaram de fora; terão que buscar na justiça o direito à paridade com os servidores ativos para também passarem da letra D (Débil) para a F (Fortificado).
Dizíamos que o último que saísse devia apagar a luz e emparedar a “Sala dos Dinossauros”, o que  acabou de acontecer metaforicamente. Agora sou um “estranho no ninho” daquele Jurassic Park da Manutenção do Dmae, o qual estará para sempre emparedado nas lembranças e memórias das várias gerações de servidores que por lá passaram, como nas minhas centenas de crônicas memorialistas escritas aqui. Extingue-se assim o sentido e a motivação da existência deste blog “Diário de Um AposentaNdo do Dmae”, blog que por quatro anos e meio esteve entretendo vocês com historinhas deste mundo encantado perdido no tempo. Como dizia o mecânico-filósofo Alvinho: O tempo é um esmeril!

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