ACOLHIMENTO DE GATOS DE RUA

Tempos atrás, quando eu e a Magda ainda trabalhávamos no DMAE, certo dia vimos um motorista de veículo terceirizado do Departamento pegando um gato que estava justamente embaixo do nosso carro. Ele nos contou que uma mulher tinha acabado de  parar o carro dela ali e desovado uma ninhada de quatro gatos e fugido, quase atropelando os filhotes. Compadecido, ele havia recolhido os outros três gatinhos e colocado atrás de umas lajes que estavam encostadas no muro da Colégio São Francisco na rua Princesa Isabel, e para lá levou este último que faltava recolher.
A Magda, que era conhecida como “gateira” por comprar rações para alimentar os gatos que povoam o pátio da Divisão onde trabalhava, me encarregou de fornecer ração para os novos órfãos, já que ela estaria ausente naquela tarde. Ela, que naquela época tinha um casal de gatos em casa (o negro Félix e a tigrada Pitchuca, sem contar a tartaruga Rafa), determinou isso porque sabia que eu sempre carregava (e ainda carrego) rações no porta-malas do carro para os gatos e cachorros do estacionamento onde eu alugo um box, perto da minha casa.
Havia, então, no meu estacionamento uma dúzia de gatos e filhotes de uma linhada recente,  além de dois cães (o Boby, um dobermann, e o velho Mickey, um cocker  que já estava na “capa da gaita”). Depois houve várias gerações de gatos: a da Fia, a do Chumbinho e a do Vacariano e Xuxa. O problema do apego no acolhimento de  animais de longevidades bem inferiores às nossas  são as perdas por doenças, cujas mortes se tornam doloridas lembranças. De toda esta bicharada, hoje só restam vivas a Pitchuca e a Xuxa, como duas gatas velhinhas e manhosas.
Mas, voltando aos novos órfãos do Dmae, eles aparentavam ser bem tratados e terem uns cinco meses de idade. Estavam em pânico ao se verem, de repente, largados no mundo para se tornarem “gatos-de-rua” e cada um por si. Então, penalizado com os bichinhos, decidi recorrer a uma das protetoras de animais mais renomada daquela nossa área de trabalho,  a “Neusa dos Bichos”, relatando o ocorrido  e a localização do refúgio dos gatos. No dia seguinte liguei declarando que  “eu tirava o chapéu pra ela”, ao saber que os órfãos estavam morando dentro do carro dela (transformado numa quitinete móvel), já que no seu apartamento há outros gatos com os quais daria briga por domínio do território se levasse os filhotes para lá. No budismo se fala muito em compaixão e desapego, mas a atitude da Neusa de dar guarita provisória aos quatro bichos, até encontrar um lar adotivo para eles, é coisa de monja muito evoluída, sacerdotisa já em estado de iluminação!
No outro dia recebi a notícia que os bichanos fizeram a transição do quitinete para o apartamento da Neusa, e que dois deles já haviam sido adotados pelos colega Luis Fernando Albrecht. A partir de então, formamos uma rede online de divulgação para acolhimento dos outros dois gatinhos órfãos, com a adesão da expert Maria Cristina Abott . Procuramos quem estivesse interessado em adotar aqueles gatinhos que, de uma situação de risco, e a partir de uma iniciativa solitária de um motorista anônimo que os acolheu, por força do destino, estavam justamente sob o nosso carro que, por sorte, somos amigos da Neusa e, por compaixão dela, os bichanos passaram de abandonados a residentes em uma casa-lar de passagem. A corrente do bem de proteção e acolhimento dos animais de rua teve um final feliz.
- Valeu Neusa Rocha!

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