Estamos em
junho e continua pendente o reajuste salarial devido a partir de maio, pendenga
entre a administração que fica enrolando, repetindo que vai pagar integralmente
a inflação mas omitindo que quer pagar parcelado, e o sindicato dos
municipários que também não centra no pagamento único a sua reivindicação e sim
num reajuste acima da inflação para recuperar as perdas passadas...Aproveito
para comentar que esta prática política é uma escrita do Velho Testamento da
administração municipal, a qual já foi objeto de combate do movimento dos
municipário nos seus primórdios na AMPA, quando ainda se buscava a unidade sindical
respeitando a pluralidade partidária dos seus militantes.
Lembro que eu
entendia que, após a conquista parcial da GIT (Gratificação de Incentivo
Técnico), o surgimento da ASTEC foi a chancela de que “o sonho de unidade no
SIMPA tinha acabado”. Relembro isso com
todo o respeito aos mentores da ASTEC, na época liderados pelo cara que eu
considero que foi a mais importante liderança sindical da nossa geração de
barnabés municipais, o Luis Fernando Rigotti: bom orador, articulador carismático,
e construtor da AMPA, do SIMPA, da ASTEC e do PREVIMPA. É, é este mesmo cara que
agora, como presidente do PREVIMPA, é hostilizado pelo sindicato e pela ASTEC
por ter rasgado algumas bandeiras do movimento. Já vimos este filme acontecer
em todos os níveis e instâncias políticas deste país!...
Eu não aderi à
ASTEC na época, e nem havia me associado até às vésperas de me aposentar,
mais em razão de que começou a prevalecer a minha índole
anarquista, pois passei a desacreditar em absolutamente todas as instituições
humanas, após o desencanto com todas as organizações sociais que eu havia
ajudado a construir: Simpa e PT...O Simpa chegou a cair nas mãos de uma direita
mafiosa e o PT...é melhor nem comentar, deixar pra lá!
Mas, como
técnico científico, ainda que tardiamente, precisei reconhecer que as leis de
Newton continuavam vigorando, e que toda reação ainda é causada por uma ação. A
orientação partidarizada que o nosso sindicalismo assumiu, após a transição do
movimento plural da AMPA para o do sectarismo ideológico petista semeado no
SIMPA, fez com que o surgimento da ASTEC (e o re-fortalecimento político das várias
associações coorporativas dos servidores) fosse uma reação divisionista natural
da física dos movimentos.
Depois veio o
Sarney, o Collor,...e na dialética histórica a democracia perdeu o seu poder
mágico de mobilizar as pessoas em causas institucionais do bem coletivo baseado
na consciência de classe. Com o Muro de Berlim caiu por terra a esperança de
uma sociedade mais justa e igualitária. Como dizia a canção do Gilberto Gil: O sonho acabou, e foi pesado o sono pra quem
não sonhou...
Assimilando os
novos tempos, por sugestão da Margareta Baumgarten, então brilhante primeira
presidenta da ASTEC, no meu final de carreira tive que dar o braço a torcer e
me associar, pois reconheci que a entidade qualificou politicamente a classe dos
técnicos científicos, e que se consolidou como um fórum importante para
aprofundar o debate das questões de interesse geral dos servidores municipais
portoalegrenses. Nas lutas junto com a
categoria dos muncipários, a ASTEC completou sua maioridade mostrando ao que
veio: 18 anos de intensas atividades e mais de mil sócios!
De lá pra cá, temos visto
movimentos sociais fantásticos pelo mundo afora, especialmente os
possibilitados graças à globalização do mundo em redes de relacionamentos pela
internet. Temos visto revoluções e guerras civis repentinas em pleno mundo
árabe muçulmano, onde nada mudava a milênios; temos visto até levantes de
protestos espontâneos dos jovens “Indignados” no coração da União
Européia, lutando por democracia real no Velho Mundo. No Novo Mundo temos visto
enfretamentos da população contra o capitalismo no Movimento Ocupe Wall
Street nas praças e ruas dos EUA; temos
visto os jovens brasileiros marcharem contra os aumentos abusivos nos
transportes públicos e sofrerem violências pelas tropas de repressão,
igualzinho aos tempos de ditadura...
Inclusive
vimos aqui o Movimento dos Capacetes
Brancos, em que os Engenheiros, Agrônomos e Arquitetos da Prefeitura de
Porto Alegre levantam a cabeça e fizeram “capacetaços” em atos públicos para
protestarem pela implantação da Verba de Responsabilidade Técnica (VRT), que
visava a equiparação salarial da classe com os Procuradores do Município.
A exemplo dos
demais movimentos citados, que estão se proliferando ao redor do planeta, os
Capacetes Brancos da Prefeitura também se articulavam pela internet e atingiram
um grau de mobilização inédito na categoria, conseguindo implantar
objetivamente novas ações de lutas, tais como: Operação Liberação Zero (não
liberar: trâmites administrativos, processos, aprovações, licenciamentos,
vistorias, fiscalizações, contratos, medições, habite-se, etc.); Operação Não
Comparecer (não comparecerem em Reuniões, Conselhos, Grupos de trabalho, etc.);
Não Atendimento de Telefone Funcional (fora do horário de expediente e, em
algumas datas pré-estabelecidas pelo movimento, não atender telefones também
dentro do horário de expediente); Atos públicos de Capacetaços (preferencialmente em
eventos públicos de comparecimento do Prefeito).
Combativos, os Capacetes Brancos
conseguiram arrancar do governo uma proposta de melhoria na remuneração,
através de uma gratificação (GAM) composta de uma parte fixa mais uma parte
variável a título de produtividade, abrangendo também os aposentados. Este é
mais um sinal cultural afirmativo dos novos tempos, pois mesmo não atingindo plenamente a isonomia
salarial almejada, a conquista consagrou
como vitoriosa a bandeira de luta de redução das distorções salariais entre os
técnicos científicos de nível superior. A partir desta luta, os Capacetes
Brancos reconquistaram a capacidade de serem novamente agentes interlocutores
de suas próprias carreiras, e passam a ter poder de pautar discussões com a
Administração municipal daqui pra frente, seja quem for que estiver no poder.
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