Os militantes políticos da velha
guarda torcem o nariz e dizem que, hoje em dia, existem apenas “ativistas de
sofá”, em referência à convocação de mobilizações por redes sociais como
Facebook e Twitter – expediente utilizado para organizar os atos contra o
aumento da passagem na Capital.
Sociólogos e
cientistas políticos ouvidos pelo Sul21 avaliam que a intensidade dos últimos
protestos contra o aumento da passagem sinaliza uma revolta crescente contra
políticas de restrição dos espaços públicos em Porto Alegre, na gestão do
prefeito Fortunati, e dialoga com a lógica de movimentos autoconvocados em
outros lugares do mundo, como as ocupações nos Estados Unidos e os Indignados
na Espanha. O perfil do Occupy da cidade de Barcelona, na Espanha, chegou a
reproduzir uma imagem do protesto na Capital gaúcha.
Houve um tempo
em que a militância político partidária era um destaque positivo, implicava que
o individuo tinha adquirido consciência dos mecanismos de dominação do Estado e
tinha se posto em movimento por uma maior liberdade social. Mas o trem da
história entrou no novo milênio desvendando um cenário globalizado pela
Internet sem fronteiras, onde prevaleceu o ativismo.
Nas novas
gerações a militância partidária passou a ser associado pejorativamente à uma
atividade pseudo-militar hierarquizada em algum partido político ou seita. Militância passou a ser coisa de grupos de
pessoas com cabeça feita por ideologias doutrinárias estreitas, que agem como
soldados cumprindo as ordens dos
caciques da instituições partidárias, os quais visam conquistar maiores espaços
eletivos e cargos executivos na constituição do poder de Estado.
As
manifestações públicas de protesto se caracterizaram como uma espécie de
“Occupa Porto Alegre” ou “Primavera Árabe no Bom Fim & Cidade
Baixa”, surgido em decorrência do fechamento de espaços de socialização da
juventude e com o aumento da repressão, que explodiu com o aumento das
passagens de ônibus.. É uma explosão social, que questiona, não pela via
tradicional, uma cultura que deseja que os jovens sejam segregados e confinados
em espaços fechados, sem fazer ruído.
Não só isso, que questiona a visão “carro-centrista”
da cidade, gestão que derruba árvores para abrir espaço para os carros, sem
desenvolver um transporte público eficiente que minimize o uso dos automóveis. Por
mais que os novos partidos busquem se diferenciar (com todo o respeito ao
PSOL!), está todo mundo careca de saber que tudo vai acabar na geléia geral de
sempre, apenas agregando novos nomes à panela: Sarney, Collor, Renan Calheiros,
Lula, Zé Dirceu, Dilma, Marco Feliciano... tudo junto e se misturando de mãos
dadas.
O ativismo dos
indignados jovens contra o abusivo preço das passagens, feito aglutinando
diversificados coletivos urbanos e prescindindo de grandes lideranças,
conseguiu mobilizar milhares dos até então “ativistas de sofá”, sem que as
organizações que apóiam esses protestos hegemonizem os atos.
“Sem Partido$
na Luta Contra o Aumento" das passagens de ônibus, escrito em um cartaz, não significa que não pode ter
partido político, mas que não precisa ter, e que os que apoiam a luta não
levantem suas bandeiras partidárias e sim as do movimento...para preservar a autonomia salutarmente anárquica
do ativismo político contemporâneo, que está mais para Bakunin do que pra Karl Marx.
Nenhum comentário:
Postar um comentário