De Madri voamos por sobre “os telhados de Paris”, rumo à última e a mais complicada etapa da viagem: o francês, a barreira do idioma.
Paris tem uma dúzia de lugares obrigatórios para o turista se fotografar neles, coisa que se faz tranquilamente em três dias.
Depois, decerto, é preciso três anos pra um estrangeiro penetrar na vida cult parisiense, saber o que eles comem em casa e o que fazem nos finais de semana de inverno e de verão...
Tudo ao contrário da Espanha, onde tanto o idioma quanto o estilo de vida parecem mais acessíveis aos filhos culturais do Tratado de Tordesilhas, especialmente aos brasilenhos fronteiriços hablantes de portunhol.
Logo após nos hospedarmos em Paris, saímos para dar uma volta de reconhecimento no entorno e avistamos numa reta ao longe a majestosa Torre Eiffel, já saímos nos perdendo até chegar à pé aos seus pés...
A Torre Eiffel é como uma assombração para os turistas, por todo lugar por onde se anda em Paris, de repente ela surge sempre se oferecendo para ser fotografada em novos ângulos. Lá pelas tantas já estamos fartos de tanto tirar fotos dela, imagine isso no tempo das máquinas com filmes fotográficos, que prejuízo!
O curioso é que em Paris estivemos por tudo que é lugar, navegando pelo rio Sena, no Palácio de Versalhes, no Mercado de Pulgas e no Museu do Louvre...
e não encontramos sequer uma referência elogiosa à Revolução Francesa, pelo contrário, o grande herói nacional homenageado por lá é o Napoleão.
Compreensível, suprimiram a guilhotina revolucionária e rememoram o apogeu da França imperialista da era napoleônica.
Em compensação, além do quadro da Mona Lisa, A Gioconda que Leonardo da Vinci pintou em 1503, com o seu consagrado sorriso enigmático, que o imperador Napoleão Bonaparte mandou colocá-lo nos seus aposentos....
...e da Vênus de Milo, estátua grega, que é hoje uma das estátuas antigas mais conhecidas do mundo, cuja autoria e datação permanecem controversas, e que adquiriu o status de ícone popular, sendo reproduzida como estatueta, em estampas, filmes, literatura, souvenirs turísticos e outros itens para o consumo de massa....
Então, além da Mona Lisa e da Vênus de Milo, que funcionam como atrativos de turistas, o Museu do Louvre tem uma imensa coleção de peças de arte de antiguidades gregas, egípcias e africanas que contam a trajetória humana na face da terra desde cinco milênios antes de Cristo, é sinistro.
Não se pode passar por Paris sem se beber um champanhe francês, mas no restaurante tive que trocar a pedida por um vinho branco no almoço, por causa do alto preço, e comprar o champanhe no mercadinho para beber à noite no hotel com petiscos de queijos.
Por falar em queijos, na terra das especiarias deste produto, estranhamos que nos buffets matinais dos bons hotéis em que paramos não havia presuntos, nem salames e nem mesmo queijo, era uma doceria só!
Depois descobrimos que é uma questão de costume cultural, francês não come frios no café da manhã: pode?... É o mesmo povo sofisticado que come lesma, o famoso escargot que a minha filha comeu e eu provei: nheca!
Participarmos em Paris até de um ato público de manifesto, “Marcha dos Possíveis”, contra o alto custo de vida em euros, o que nós podemos dimensionar pela cotação da moeda, o que aqui se paga dez reais lá custa dez euros, direto e simples assim.
Então, atualmente tudo custa cerca de três vezes mais caro pra nós, mas brasileiros é o que mais se encontra por toda a parte que andamos, dá mais que japonês, só não andam em bandos e até se evitam.
Os salões luxuosos do Palácio de Versalhes, que um dia a plebe rude invadiu revolucionariamente, hoje estão sempre repletos de burgueses de todos os cantos do mundo captando fotos do seu ideal de vida que seria no estilo da nobreza guilhotinada.
A classe média brasileira invadiu a Europa, especialmente Paris pelo seu nostálgico glamour chic.
Entre estes membros da classe média que estão indo atualmente à Europa, se metendo de pato à ganso, tem o grupo dos “folgados”, aqueles que juntam uma poupança todo mês e têm uma gordurinha pra queimar...e navegam tranqüilo pelo Rio Sena.
Tem outro grupo que, para manter a pose em cima dos saltos, como eu, contam os trocados no final de cada mês para não entrarem no saldo negativo e não terem que pagar juros exorbitantes aos membros da classe alta, aos banqueiros que são os agiotas donos do mundo pós-moderno sem ideologias. Estes visitam a Igreja de Notre Dame mas não dão esmolas para os corcundas pedintes do seu entorno.
O fato é que a gente fica amarrado em Paris, se prometendo um dia voltar com mais tempo, e dá vontade de chavear este compromisso acrescentando mais um cadeado aos milhares que existem na ponte François Mitterrand sobre o Rio Sena...
Agora, caindo na realidade da minha classe social, entendo perfeitamente por que se atribui o status de “realização de um sonho” ao ato de se realizar grandes viagens, faz todo o sentido quando ao voltar se totaliza os gastos e se percebe que pagamos, para duas pessoas, o valor de um carro mile zero-Km (um Clio da Renault ou um Ka da Ford) pra nos metermos de pato à ganso por três semanas.
Reconheço que um roteiro semelhante num pacote turístico pronto poderia custar mais barato, mas não seria a”minha viagem dos sonhos”, em que fui exatamente nos lugares que pretendia e fiz as coisas que queria realizar, ou seja, vivenciar nossas origens luso-espanholas e africanas, andar de trem por aquelas terras européias e me situar no ambiente das vanguardas artísticas e intelectuais em Paris.
De repente o fim da festa se anuncia, é hora da gente voltar antes de virarmos abóbora novamente. Já?...Nem compramos ainda as lembrancinhas para os parentes e amigos... Não há nem vestígios de guilhotinas, foram substituídas por obeliscos e torres nos souvenirs e nas praças.
No final da primeira semana de viagem, cansados pelo ritmo alucinado do galopar do primeiro trecho do roteiro, achávamos que dezoito dias seria tempo demais longe de casa.
Depois baixamos o galope para um trotear distraído, regado a vinhos, champanhes e muita cerveja espanhola (Olé!), e passamos a abstrair as dificuldades de adaptação com as comidas pelos dois continentes, quatro países e dez cidades que visitamos.
Mas, chegado o dia de voltarmos para o nosso saudoso feijão preto com arroz e carne, iniciamos a retirada em Paris às 5 horas da manhã, com duas conexões previstas (uma em Madri e outra em São Paulo), que pelo fuso horário no Brasil seria meia noite, e cheguamos em casa à meia noite, que na Europa seria 5 horas da manhã do dia seguinte, 24 horas depois, dá pra entender?...
Mas, retomando o que iniciei dizendo neste longo relato da minha viagem dos sonhos: Fui, vi e voltei inflado. Valeu muito a pena ter ficado endividado!
Grande Celso! Acompanhei teu diário de bordo e me senti viajando junto com vocês a Paris!!! Muito bacana !!! Aliás gostei muito das tuas idéias de criar um blog e do diário de viagens...Bem inspirador pra mim que daqui há 6 anos entrarei para a trupe dos aposentados e eu acrescentaria tbém a fotografia que tbém, assim como a poesia, conta e retrata momentos e percepções!!! Há vida então pós-aposentadoria, he,he, salve!!! Grande abraço, Angélica ( MUNICIPÁRIO UNIDO...)
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