Se aposentar ou não? – Você decide!

           Por estas coincidências da vida, numa mesma manhã recebi dois telefonemas sobre o ato de aposentadoria, com os quais intuí de cara que este episódio iria render uma crônica como tema deste blog. Primeiro veio a notícia que uma colega de serviço, que havia requerido a aposentadoria junto comigo, em maio de 2011, e que também estava em licença de Aguardando o Ato desde então, tinha desistido de se aposentar e estava retornando ao trabalho. Tratei logo de fazer uma entrevista por telefone com ela para saber os motivos da sua mudança de planos, depois dela ter tido a experiência de cerca de cinco meses como “aprendiz de inativa”:

- Achei que estava, mas não estava preparada para me aposentar. Levada pelas circunstâncias funcionais momentâneas, acabei me precipitando e pedindo a aposentadoria. Nos primeiros dois meses parecia que tudo corria bem, mas logo comecei a perceber que não estava me adaptando ao novo ritmo de vida. Também pudera, fui morar num lugarejo no interior do interior, só eu e o meu marido no meio do nada; a vizinhança mais próxima ficava a uma boa caminhada, assim como a padaria e o mercado. A única socialização que me restava era a visita eventual das minhas filhas; eu já andava falando até com os bichos da casa. Então comecei a ficar deprimida, triste, arrependida de ter abandonado a minha rotina de trabalho e de convívio com os colegas. Parece mentira, mas passei a sentir saudade até da rotina. Sentia falta da correria do vai-e-vem de todos os dias, de segunda à sexta, que tanto valorizam as folgas dos finais de semana. A verdade é que não planejei nada para fazer depois de aposentada e me dei mal. Por sorte, como ainda não havia sido publicado o Ato de Aposentadoria, ainda pude voltar atrás cancelando o meu pedido e retornei ao trabalho. Agora vou me preparar melhor, vou fazer um planejamento para exercer alguma atividade quando eu decidir novamente me aposentar...
           O outro telefonema que recebi naquela  manhã foi do Previmpa, comunicando que enviariam para a publicação o meu  Ato Aposentadoria; que não iriam adiar a publicação, conforme eu havia solicitado. Não se trata, como pode parecer no contexto deste texto, que eu também estivesse vacilando e querendo desistir do meu pedido de aposentadoria. O que aconteceu foi que, diante da proposta do prefeito ao Movimento dos Capacetes Brancos, de se comprometer a pagar um abono de R$ 500,00, retroativo à maio, somente aos servidores ativos de nível superior vinculados ao CREA, comecei a articular com os meus contatos para retardar burocraticamente o meu rito de passagem do quadro dos ativos para o dos inativos. Claro que eu estava torcendo para botar a mão nesta bolada, preciso urgentemente arrecadar recursos (ou economizar, que me é difícil!) para realizar  o meu sonho de aposentado: viajar para a Europa!
        Esta onda de indicadores de eficiência gerencial (de qualidade total na administração pública), está influenciando e modificando de fato a cultura do servidor público. Vejam vocês, a pouco tempo atrás, criticávamos o Previmpa por sua extrema morosidade que levava mais de um ano entre o pedido e o Ato de aposentadoria; hoje decorrido apenas cinco meses do meu pedido, eles me telefonam irredutíveis e me colocam contra a parede: “vamos enviar o teu processo para a publicação, a não ser que decidas desistir do pedido de aposentadoria e retornes ao trabalho”!


       A moral da história dos dois telefonemas é que há um momento crucial em que você pode repensar se vai continuar ou desistir do processo de aposentadoria: Você decide! Cada um sabe, ou aprende depressa durante a Licença Aguardando Aposentadoria, o que é melhor para si nesta fase da vida em que, geralmente, os filhos já bateram asas e deixaram o ninho dos pais vazio. Alguns optam, com plena convicção, só serem aposentados compulsoriamente; outros se arriscam com um salto no escuro, sendo que alguns desses se adaptam com facilidade e outros não, mas nem todos os que se arrependem conseguem perceber o seu erro em tempo hábil de cancelarem o pedido de aposentadoria. Depois do Ato publicado, não tem mais volta, tarde piastes!

PMPA na Bienal 2011:
         Mas há também os que não só planejaram como se prepararam para esta travessia, que esperaram ansiosamente por este novo ciclo de suas vidas e que passam a vivenciar intensamente cada momento com a alegria de quem obteve a libertação da sentença de apenas sobreviver e que passou a viver integralmente a sua existência. Como sinto que me enquadro neste último grupo, naturalmente que a possível bolada de grana prometida pelo prefeito para os ativos não é moeda de troca bastante atraente para me fazer desistir do “nirvana” que me é estar aposentado.

          A conclusão da moral da história dos dois telefonemas é que esta febre de eficiência do Previmpa, de minimizar o tempo de tramitação do processo de aposentadoria, deve ser contida de forma a se manter na faixa de seis meses de demora, de modo que a experiência do rito de passagem para a “inatividade” possa ser assimilado e, se for o caso, com tempo hábil para ser abortado.

2 comentários:

  1. Celso, meu camarada.
    Esse teu alerta estará servindo a muitos servidores em condições de aposentadoria hoje e aos muitos que estão chegando nessa porta e nÃo querem passar e outros que, preparados, batem e não mais olham pra trás.
    Das boas prerrogativas que dispomos como servidores públicos da PMPA, há uma de registrar aqui: é o Programa de Preparação para a Aposentadoria. Acho que todos deveríamos fazer e não ficar catando razões para não sair e ir adiando até o limite. Tem uma hora que devemos largar o trabalho e viver e para isso não se precisa de muito apelo material somente. Aliás, deveríamos viver mais do que trabalhar. Abraço

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  2. Celso, como as coisas andam correndo nesta PMPA e, especialmente, no DMAE, a saída para a aposentadoria é uma benção.
    Poucas pessoas podem dizer que estão levando seu trabalho com satisfação plena, sem críticas aos superiores ou aos colegas.
    No entanto, todos os passos importantes da vida necessitam um bom planejamento.
    Uma perspectiva para quem se aposenta na área técnica é tentar tornar-se representante de produtos ligados a sua área de atuação ou abrir seu próprio negócio de prestação de serviços técnicos.
    Aos de nível médio a busca de alguma atividade administrativa presencial ou usando o computador de casa, em horário parcial, também é interessante.
    Buscar conhecimentos novos em uma universidade ou Curso técnico, frequentar grupos de terceira idade, engajar-se em entidades que lutam por causas sociais e ambientais, apoiar e participar do Sindicato de Classe, dedicar-se ao seu credo religioso de forma mais intensa, são algumas possibilidades.
    E curtir a vida, viajar, namorar bastante, dormir até depois das oito, aprimorar aquele seu hobby juvenil(violão, fotografia, eletrônica, pintura, teatro, etc...)e viver.
    Acho que o que não se pode fazer é parar e ficar pensando como diz o Raulzito"sentado/no trono/de um apartamento/com a boca cheia de dentes/esperando/a morte chegar"

    Abs.

    Ricardo Mainieri

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