Luis Augusto Fischer*, na sua coluna mensal “Pesqueiro” do Caderno Cultura da Zero Hora, escreveu meses atrás sobre como a formação de músicos e escritores amadores elevam o repertório musical e literário. No texto ele resgata a influência que as gravações de discos e a reprodutibilidade das músicas através do rádio teve para a diminuição do amadorismo na prática musical: Antes, qualquer guria tinha lá seus quatro ou cinco anos de piano e o guri de violão ou violino, o que habilitava a família no repertório de música clássica. Com o fim desse amadorismo para apresentações familiares, houve o rebaixamento na capacidade de apreciação musical; bem como uma notável diminuição do mercado para músicos.
Fischer faz uma reflexão desse amadorismo musical com as oficinas literárias, que buscam formar escritores amadores, que também fazem elevar o repertório de leituras; bem como ativam o circuito de edição. Ressalta que o assunto “oficinas literárias” tem especial relevância no estado gaúcho, onde se pratica mais este esporte do que no resto do país. Há gente consagrada que se especializou nisso, tal como o atual Secretário Estadual de Cultura, o escritor Assis Brasil, e ele próprio, Fischer, que mantém uma oficina regular faz alguns anos no StudioClio.
O cronista avalia que o escritor amador de hoje tende a ser um sujeito maduro, com profissão definida em outro campo que não a escrita, que escreve um blog... Sou eu!
Eu sempre quis, desde jovem, participar das oficinas literárias que via anunciadas no “segundo caderno” dos jornais e nas agendas cults da mídia. Todavia, por precisarmos gastar o nosso tempo adquirindo instruções de ofícios que nos possibilitem ganhar o nosso sustento, fiquei sempre à margem deste meio em cujas correntezas literárias eu sempre imaginei que gostaria de ter “deixado a vida me levar”...
Avalio que a disciplina de Leitura e Produção Textual, que eu cursei no segundo semestre de 2010 no meu curso de Letras na UFRGS, foi a oficina literária que eu almejava, quiçá fosse a primeira de uma longa série de eventos deste tipo no curso. É uma experiência instigante “escrever por encomenda” sobre diferentes temas, em modalidades variadas de textos. Especialmente se depois temos que submeter esta produção textual, em leitura oral, para os colegas de aula e à análise “cri-crítica” de uma professora que tenha conquistado credibilidade na turma, por ter demonstrado um bom domínio no desenvolvimento da dinâmica de uma oficina de produção textual.
Tentando aplicar as recomendações conceituais da professora Juliana Roquele na resenha que desenvolvi sobre a disciplina, avaliei as minhas dificuldades para satisfazer as quatro qualidades recomendadas para um bom texto. Nas duas primeiras qualidades, unidade temática e questionamento, até que eu me saia bem, mas a concretude (a descrição de fatos ou situações concretas) e a objetividade (determinação das adjetivações e subjetivações do texto), foram características que, reconheço, não consegui realizar plenamente. Sobretudo empaquei na recomendação de encurtar o texto para não se tornar cansativo.
Lamentavelmente constatei, porém, aos analisar as demais disciplinas que compõem o currículo de Licenciatura em Letras, que esta talvez tenha sido a única “oficina literária” que o curso tinha para me propiciar. Descobri que vou ficar com o gostinho de “quero mais” amargando na boca durante todo o resto do currículo, pois o Curso de Letras parece ser o mero ensino acadêmico de ler as obras dos outros, sem envolver o seu correlato que é escrever. Ou seja, será como estudar música sem nunca tocar nenhum instrumento...
A propósito, o Fischer comenta que há várias semelhanças entre músicos e escritores amadores: ambos vão em busca de público externo ao circuito familiar, nenhum dos dois pensa em se profissionalizar no metiê e há um forte componente de busca de prazer estético nas emoções que a arte proporciona... Sou eu!
Agora, com o meu sustento ganho e garantido, aposentado poderei parafrasear a canção popular e dizer: “deixo a vida me levar” pelas oficinas literárias que surgirem na cena cultural da cidade...“vida leva eu”...
* = Fischer é professor de Literatura Brasileira da UFRGS, por onde é formado em Letras e fez mestrado e doutorado (com tese sobre Nelson Rodrigues). Tem publicados vários livros de contos, crônicas, ensaios e teoria literária.
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