Há 35 anos
atrás, quando o Partido dos Trabalhadores engatinhava no seu primeiro ano de
vida, minha geração (que tinha passado a adolescência amordaçada pelo regime de
ditadura instalado no Brasil em 1964) se
integrava ao movimento de construção de uma ferramenta partidária de lutas dos
trabalhadores, convergindo com militantes de grupos que vinham das guerrilhas
revolucionárias de resistência, com um imenso arsenal teórico sobre marxismo.
Mas a diretriz das lideranças petistas era de que nós construiríamos as nossas
próprias teorias revolucionárias no avançar do movimento. Convictos do acerto
desta diretriz de construirmos um partido de massas e não de vanguardas
intelectuais dirigentes das lutas sociais do povo, demos umas olhadelas superficiais
nos livros sobre marxismo, leninismo e trotskismo que culminaram no trágico stalinismo,
e nos jogamos na militância durante uma década no sindicalismo e nos movimentos
populares, com a bandeira da democratização do país e de organização da classe
trabalhadora: Trabalho, Terra e Liberdade!
Atravessamos
a campanha Diretas Já! na década de 1980, com a transição lenta e gradual e a
anistia geral ampla e irrestrita aos torturadores, e o PT cresceu elegendo
vereadores, depois prefeitos e governadores e até chegar com o Lula Lá como
presidente da República em 2002. O sonho impossível se realizou. Depois parecia
tudo dominado, Lula se reelegeu e elegeu também sua sucessora. Porém, cada vez
menos, se reconhecia nos governos petistas um Programa de Esquerda, uma
elaboração teórica qualquer que fosse pelo menos reformista da ideologia de
Estado Mínimo Burguês e que mobilizasse as massas por sua conquista. Nenhuma
reforma, nem política nem educacional, nada; o petismo caiu no canto de sereia
da governabilidade por um governo de coalizão. Entrou no tradicional jogo deles
de corrupção nas Estatais para comprar aliados da direita à extrema-direita pra
base de apoio do governo, até se fragilizar o suficiente para sofrer o Golpe Parlamentar
pelo Congresso Nacional e, descaracterizado de suas origens, não ter mais apoio
popular para reagir.
Por fim, três
décadas depois da fundação do PT, assistimos a Esquerda sair do governo
desmoralizada politicamente sob um massacre da mídia na opinião pública e sob
vara da politização da justiça federal. Mas, principalmente por seus próprios
erros, a Esquerda é escorraçada do poder e nos faz voltar à estaca zero na
organização das lutas populares. Assim, completamos um longo ciclo de formação
política ao assistirmos do sofá a meninada dos estudantes secundaristas resistindo
ao Golpe no #OCUPAESCOLAS.
Não fizemos as
lições de casa nos estudos lá no início sobre marxismo, leninismo, trotskismo e
stalinismo e suas atualizações teóricas sobre a luta de classes no capitalismo
dos tempos mais atuais. Faltou, por exemplo, lermos Gramsci com o seu conceito
de “Bloco Hegemônico” que diz: o poder das classes dominantes (donas do modo de
produção capitalista) sobre o proletariado é garantido pela hegemonia cultural,
através do controle do sistema educacional, das instituições religiosas e dos
meios de comunicação. Através do sistema hegemônico (de Escola Sem Partidos),
eles educam a submissão como algo natural. Por esta lacuna de formação política
de combate no petismo, pagamos caro o pato para a Fiesp!
Diria quase quatro décadas depois, comecei a participar do PT em 81 e exatamente como relatas dei uma olhada por cima nos livros sobre Marxismo e em alguns momentos os dois blocos do PT (intelectuais e basistas do movimento comunitário ou sindical) não se falavam. Todos nós tivemos culpa disto. Acredito que nossa culpa maior foi se acomodar e não enfrentar uma direção nacional que jogou o partido nos braços da corrupção estatal. Já há muito tempo tínhamos um partido de quadros e não um partido de massas infelizmente.
ResponderExcluir